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Marx sobre a Comuna de Paris de 1871: auto-organização operária e dissolução do Estado burguês
Alessandro de Moura

A análise de Marx sobre a Comuna de Paris está dividida em três partes. Foi constituída de três mensagens da Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT) escritas por Marx. O objetivo dos três documentos era orientar os trabalhadores e dirigentes da AIT, dando ciência das resoluções aprovadas no Conselho Geral da organização.

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Amanda Cinti

A Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT) criada em setembro de 1864 por Marx, Engels e diversos outros militantes revolucionários Europeus de variadas correntes políticas e teóricas (sobretudo proudhonianos, bakuninistas e blanquistas). Sua linha programática foi escrita pelo próprio Marx sob o título Mensagem Inaugural da Associação Internacional dos Trabalhadores. Assim, antes de aprofundarmos na análise de Marx sobre a comuna, cabe uma breve descrição dessa organização internacional.

A Primeira Internacional dos trabalhadores – 1964
No referido artigo Marx aponta que, de 1848 em diante, após a derrota da Primavera dos Povos (analisada por Marx em As lutas de classe na França), o lucro dos grandes capitalistas multiplicou-se consideravelmente, produzindo um "inebriante aumento da riqueza" das classes dominantes, que, por sua vez, "aumentou a concentração de terras em poucas mãos", mas, por outro lado, as massas trabalhadoras, "as classes do trabalho", continuavam em condições precárias de vida, de moradia, de saúde e de trabalho (MARX, 1864). Dentro disso, Marx compreende a fundação da Primeira Internacional como fruto de um balanço do processo de luta de classes experienciado no período 1848-1864. Então, a missão da Internacional era conectar a classe trabalhadora de diversos países para a luta internacional articulada. Segundo o autor:

A experiência passada mostrou como a falta de cuidado por este laço de fraternidade, que deve existir entre os operários de diferentes países e incitá-los a permanecer firmemente ao lado uns dos outros em toda a sua luta pela emancipação, será castigada pela derrota comum dos seus esforços incoerentes. Este pensamento incitou os operários de diferentes países, congregados em 28 de Setembro de 1864 numa reunião pública em St. Martin’s Hall, a fundar a Associação Internacional. (Marx, 1864).

Isso posto, a Associação Internacional dos Trabalhadores foi a primeira forma de Partido Internacional do Proletariado, que, como descreveu Marx, tinha por objetivo articular a política externa da classe trabalhadora, implementando a consigna "Trabalhadores de todo o mundo uni-vos", já contida no Manifesto do Partido Comunista publicado por Marx e Engels em 1848. Por meio da Internacional esperava-se: 1) articular os diversos grupos revolucionários da Europa e, 2) difundir o programa teórico-prático da revolução proletária, com táticas e uma estratégia revolucionária que orientasse claramente a tomada do poder. De acordo com Mandel [1], seriam duas as atribuições da Internacional, 1) Unificar as lutas internacionais e 2) difundir o programa revolucionários para as diversas lutas operárias em cada país:

Marx reconheceu a dupla função que a Primeira Internacional teria, efetivamente, na evolução do movimento operário internacional: por um lado, agrupar todas as organizações operárias reais existentes no mundo; por outro, infundir-lhes uma mais clara consciência comunista quanto aos seus objetivos e quanto aos meios de ação que deviam ser empregados para alcançar esses objetivos. (MANDEL, 1954).

O historiador apontou que o fato de a Internacional: “representar o movimento real dos trabalhadores como existia na época, foi de suma importância para Marx”. (MANDEL, 1954). Em 23 de novembro de 1871, depois da derrota da Comuna de Paris, Marx escreveu que “A internacional foi fundada para substituir as seitas socialistas ou semi-socialistas pela organização real da classe trabalhadora para a luta. Os estatutos originais e a declaração inaugural assim revelam-na à primeira vista”. (apud Mandel). A primeira Internacional obteve sucesso em nas duas linhas centrais defendidas por Marx:

Quase todas as organizações operárias que existiam no mundo inteiro entraram em contato e foram aglutinadas a ela: a maior parte das trade-unions britânicas, os partidos operários alemães (...), as correntes socialistas proudhonianas francesas e belgas, as organizações que surgiram do trabalho febril de Bakunin e seus amigos na Suíça, Itália e Espanha. (Mandel, 1954).

A quantidade de operários organizada na Internacional, bem como suas intervenções na luta de classes ao longo de sua breve existência, foi coroada com muitos êxitos, marcando o sucesso da tática central de seus fundadores:

A Internacional ganha influência real sobre o movimento sindical em Londres, que representa mais de 100.000 trabalhadores organizados. Ela dirige a grande agitação pelo sufrágio universal, que alcançou seu ponto culminante no verão de 1866, com uma assembleia de 60.000 pessoas no Hyde Park. Ela intervém na política mundial, envia um comunicado de simpatia a Abraham Lincoln por ocasião da emancipação de escravos. Ela adverte, em 1869, trabalhadores ingleses e americanos contra a ameaça de guerra entre os dois países. Ela protesta contra a assassinato de trabalhadores pelo exército na Bélgica. Ela organiza um protesto internacional contra a guerra franco-alemã de 1870-71.

Para Mandel, o papel mais importante exercido pela primeira Internacional foi o impulso que dera à articulação internacional das lutas dos trabalhadores. Segundo o autor: “Desde o momento em que os trabalhadores dos países da Europa Ocidental se familiarizaram com a existência da Internacional, não houve greve na qual os grevistas deixaram de dirigir a ela uma petição de ajuda e solidariedade”. (Mandel, 1954). Então, para o autor: “Nesse sentido, a AIT era uma Internacional política, uma federação sindical internacional e uma aliança de federações profissionais internacionais; ou pelo menos teve que desempenhar todos esses papéis na medida do possível”. Para além de suas tarefas estruturais, como articuladora da luta de classes objetiva, a maior provação histórica enfrentada pela Internacional foi a Comuna de Paris, que foi a primeira revolução proletária vitoriosa, sustentada durante 71 dias. Com isso, a Internacional, formada por pequenos grupos de operários dispersos pela Europa se viu diante de um dos maiores desafios do século XIX. Conforme apontou Mandel:

O sucesso mais brilhante que a Internacional obteve no campo de ação foi, igualmente, o mais inesperado de todos eles, e o menos preparado conscientemente: o advento da Comuna de Paris. Embora seja verdade que a Internacional não tenha desempenhado nenhum papel decisivo na preparação e na direção da Comuna, também é verdade que o auge do movimento operário francês, especialmente em Paris, durante os anos e meses que antecederam a Comuna, foi muito influenciado pela Internacional para que se possa considerar objetivamente que a primeira revolução proletária vitoriosa foi a conquista lógica do seu trabalho.

No contexto da Comuna de Paris, essa primeira revolução proletária vitoriosa potencializou a organização internacional dos trabalhadores. Dentro disso, entre os aspectos determinantes da primeira Internacional, Mandel aponta que:

O resultado mais positivo da ação ideológica de Marx e seus amigos no seio da AIT foi unificar as concepções políticas e doutrinárias da vanguarda operária em escala internacional (...). Antes de 1864, em torno de Marx e Engels havia apenas amigos pessoais. Depois de 1872, existiam núcleos marxistas organizados em quase todos os países da Europa. (Mandel, 1954).

No período de existência da Internacional não se contava ainda com partidos nacionais da classe trabalhadora. Nesse sentido a Internacional foi um importante articulador partidário de nível internacional e internacionalista. Isso fomentou a organização de partidos proletários em diversos países. Como destacou Mandel: “Para resumir o significado organizativo da Primeira Internacional, pode-se dizer que foi graças à constituição da Internacional que os partidos nacionais puderam ser formados posteriormente”. (Idem).

Contraditoriamente, o que levou a derrocada da AIT foi própria a derrota da Comuna de Paris, que embora tenham potencializado a organização proletária, acabou, por conta das diversas estratégias em seu seio, com implementação das linhas proudhonianas e blanquistas na Comuna, levaram à estratégia com pouca clareza e à crise profunda da Internacional.

Depois da AIT foi formada a Segunda Internacional em 1889, com importante protagonismo de Engels, mas essa também entrou em profunda crise em 1914, quando seus líderes (sobretudo Kautsky) decidiram apoiar a I guerra e romper com o programa de “luta contra a burguesia e paz entre os trabalhadores”. Kautsky apostava todas as fichas em sindicatos e partidos de massas voltados para as disputas parlamentares, entendendo que o superimperialismo levaria a uma fase de convivência pacífica entre as diversas frações da burguesia e da classe trabalhadora. Tratava-se então, apenas de conquistar melhores posições para os representantes do proletariado nas instituições do Estado burguês. A Terceira Internacional foi formada por Lênin e Trotsky em 1919 chocou-se frontalmente contra tal perspectiva e colocou todas as forças do proletariado internacional na luta pela revolução socialista. A última Internacional Comunista, a Quarta Internacional, foi fundada por Trotsky em 1938, mas dividiu-se em diversas tendências no pós-segunda guerra.
Feita essa breve introdução sobre o papel e a função da Internacional, passamos a análise das Cartas escritas por Marx sobre a Comuna.

Primeira mensagem do Conselho Geral da Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT) - sobre a guerra Franco-Prussiana (23 de junho de 1870)

Nessa primeira mensagem Marx resgatou o objetivo central da Internacional, apontando que "a emancipação das classes trabalhadora exige sua confluência fraternal". (p. 21). Destacou que a Internacional, que já estava sob perseguição e Luís Bonaparte (Napoleão III), por ter-lhe feito oposição na sua tentativa de mudar da Constituição francesa em maio de 1870. Agora, novamente, a Internacional estava sendo perseguida, desta vez por sua posição contrária à guerra franco-prussiana, anunciada em 15 de julho de 1870.

Marx destaca que a AIT, em sua mensagem aos trabalhadores da França e da Alemanha, já denunciara o caráter de classe da guerra franco-prussiana: "sob o pretexto do equilíbrio europeu, da honra nacional, a paz do mundo é ameaçada por ambições políticas. Trabalhadores da França, Alemanha, Espanha! Unamos nossas vozes em um só grito de reprovação contra a guerra!" (AIT, apud MARX, 2019, p. 22). Essa consigna passou a ser peça chave da tradição marxista, ao invés de se envolver nas disputas fratricidas da burguesia internacional, o proletariado deveria voltar suas armas contra as sus próprias burguesias nacionais.

Em contraposição aos interesses dos dois Bonapartes da Europa (Luís na França e Bismarck na Alemanha) que deflagraram uma guerra de dinastias, a Internacional enfatizava: "queremos paz, trabalho e liberdade! (...) Irmãos da Alemanha! Nossa divisão resultaria apenas no completo triunfo do despotismo nos dois lados do Reno". (AIT, MARX, 2019, p. 22). No início do conflito, iniciado por Luís Bonaparte, Marx já previa que, independentemente de seu resultado, isso determinaria o fim governo bonapartista na França e dissolução do arco de alianças que o sustentava no poder:

Seja qual for o desenrolar da guerra de Luís Bonaparte com a Prússia, o dobre fúnebre do Segundo Império já soou em Paris. O Império terminará como começou, por uma paródia. Mas não nos esqueçamos de que foram os governos e as classes dominantes da Europa que permitiram a Luís Bonaparte encenar por dezoito anos a farsa feroz do Império Restaurado. (MARX, 2019, p. 23).

Marx sublinha que a guerra era travada como uma disputa pela hegemonia dinástica na Europa. A classe dominante francesa sentia-se intimidada pela unificação da Alemanha, inclinando-se para disputas bélicas: "O regime bonapartista, que até então só florescera de um lado do Reno, tinha agora a sua imitação do outro lado. De tal estado de coisas, o que poderia resultar senão a guerra?" (MARX, 2019, p. 23).

Frente ao ataque francês, a Alemanha se viu obrigada a se empenhar em uma guerra de defesa nacional, mas que, naturalmente, poderia desdobra-se em uma guerra ofensiva. No entanto, mesmo sendo uma guerra de dinastias, Marx analisava que a classe trabalhadora seria a maior prejudicada por uma guerra entre as duas nações: "Se a classe trabalhadora alemã permitir que a guerra atual perca seu caráter estritamente defensivo e degenere em uma guerra contra o povo francês, a vitória ou a derrota se mostrarão igualmente desastrosas" (Idem). Isso porque as massas trabalhadoras seriam convocadas para a linha de frente, sendo absorvidas em uma guerra fratricida por interesses dinásticos dos dois bonapartes da Europa que disputam o domínio europeu.

Analisando a classe trabalhadora alemã, Marx acreditou que não seria possível formar um exército para combater contra a classe trabalhadora Francesa. Isso porque: "os princípios da Internacional estão largamente disseminados e muito firmemente enraizados no interior da classe trabalhadora alemã para que se conjeture um desfecho tão triste. As vozes dos trabalhadores franceses ecoaram na Alemanha". (MARX, 2019, p. 24). Essa assertiva baseava-se nas deliberações da assembleia de trabalhadores alemães em julho de 1870: "Somos os inimigos de todas as guerras, mas acima de tudo das guerras dinásticas". Também na assembleia de Chemnitz, decidiu-se: "Atentos à palavra de ordem da Associação Internacional dos Trabalhadores: Proletários de todos os países, uni-vos, não devemos nunca nos esquecer de que os trabalhadores de todos os países são nossos amigos e que os déspotas de todos os países são nossos inimigos". (Apud Marx, 2019, p. 24). Em Berlim, a seção da Internacional declarava: "prometemos que nem o toque dos clarins, nem o rugir do canhão, nem a vitória nem a derrota nos desviará de nosso trabalho comum pela união dos filhos do labor de todos os países". (Idem).

Por fim, como diretiva, Marx enfatizava a importância da solidariedade de classe contra as classes dominante: “(…) os trabalhadores da França e da Alemanha trocam mensagens de paz e de amizade; esse fato grandioso, sem paralelo na história do passado, abre a perspectiva de um futuro mais luminoso". (MARX, 2019, p. 25). O princípio da solidariedade internacional dos trabalhadores é compreendido por Marx com aspecto central de uma nova forma de sociedade pautada nas demandas concretas dos explorados. Dentro disso, a Internacional Comunista deveria atuar como vanguarda que soldava a solidariedade de classe. Assim, "A pioneira dessa nova sociedade é a Associação Internacional dos Trabalhadores". (MARX, 2019, p. 25).

Segunda mensagem do Conselho Geral da Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT)sobre a guerra franco-prussiana (setembro de 1870)

Nesse documento, Marx apontou justamente a mudança do caráter da guerra por parte da Alemanha: como previsto, a guerra deixava de ser defensiva e tornava-se ofensiva. Bismarck, o chanceler de ferro, constatando sua superioridade bélica, decidiu tomar parte dos territórios da França e impor pesadas indenizações de guerra após ter conseguido prender Luís Bonaparte, junto com seu marechal Patrice Mac-Mahon e mais 83 mil de seus soldados franceses em Sedan (região de fronteira com a Alemanha). Uma vez dominado o exército francês, Bismarck recusou-se a assinar um tratado de paz e iniciou um cerco militar a Paris em 19 de setembro de 1870, seu objetivo imediato era a anexação de Alsácia e Lorena.

Entre as justificativas de Bismarck para anexação constava que a região havia pertencido ao povo germânico até 1648 (Sacro-império) e que era importante para a defesa estratégica do território alemão. Marx destacou que Bismarck representava pautas e interesses da classe média e da opinião pública alemã nessa reconquista territorial. Enfatizou que, embora a anexação traga vantagens defensivas para a Alemanha, a mudança de fronteiras sempre tende a gerar novos descontentamentos, que, por fim, produzem novos conflitos numa espiral sem fim:

(...) Se os limites tiverem de ser fixados por interesses militares, as reclamações não terão fim, pois toda linha militar é necessariamente defeituosa e pode ser melhorada pela anexação de uma porção adicional do território circundante; e, além disso, limites jamais podem ser fixados de modo definitivo e justo, pois têm sempre de ser impostos ao conquistado pelo conquistador e, por conseguinte, carregam consigo a semente de novas guerras. (MARX, 2019, p. 29).

Nessa disputa, reafirmando a linha estratégica da primeira carta à AIT, Marx defende a paz sem anexação e o reconhecimento da república francesa implantada após a prisão de Luís Bonaparte em Sedan. Marx destaca que os próprios trabalhadores alemães, organizados no Partido Social Democrata Alemão, se pronunciaram (em 5 de setembro de 1870) contra a anexação de Alsácia e Lorena pela Alemanha:

(…) E estamos conscientes de que falamos em nome da classe trabalhadora alemã. No interesse comum da França e da Alemanha, no interesse da civilização ocidental contra a barbárie oriental, os operários alemães não tolerarão pacientemente a anexação da Alsácia e da Lorena. (...) Estamos fielmente ao lado de nossos companheiros operários, em todos os países, para a internacional causa comum do proletariado! (Idem, p. 31).

No entanto, Marx explicita as dificuldades para a nascente república francesa em conseguir conter o avanço alemão. Por outro lado, destaca que faltava força à classe operária alemã para impor tal perspectiva ao governo e sua base de apoio na burguesia e na classe média alemã. Se a classe trabalhadora alemã estivesse suficientemente fortalecida e organizada, Bismarck teria suas forças paralisadas.
Entre os problemas para a resistência da República francesa estavam o próprio caráter do novo regime, que era fruto de uma derrota internacional da monarquia seguido de um vácuo de governo. Esse processo não foi um desdobramento de uma revolução antimonárquica. Segundo o autor: "(…) Essa República não subverteu o trono, mas apenas tomou o seu lugar, que havia vacado. Ela foi proclamada não como uma conquista social, mas como uma medida nacional de defesa". (MARX, 2019, p. 32). Acrescenta que os governantes premiados com República "(…) tem pavor da classe trabalhadora", o que, por sua vez, torna impossível resistir ao avanço alemão. Assim, Marx apontava que "A classe trabalhadora francesa se move, portanto, sob circunstâncias de extrema dificuldade. Qualquer tentativa de prejudicar o novo governo na presente crise, quando o inimigo está prestes a bater às portas de Paris, seria uma loucura desesperada. (...)”. (p. 32). Isso porque, para Marx, a classe trabalhadora encontrava-se enfraquecida pelos anos do governo Bonaparte.

À vista disso, o autor defende que seria preciso que os trabalhadores franceses se reorganizem antes de qualquer investida mais profunda e decidida contra a República que acabava de surgir por força das circunstâncias. De imediato, para a classe trabalhadora, a República poderia implicar maiores liberdades organizativas e fortalecimento de sua atuação como classe. Conforme Marx:

Que eles aperfeiçoem, calma e decididamente, as oportunidades da liberdade republicana para a obra de sua própria organização de classe. Isso lhes dotará de novos poderes hercúleos para a regeneração da França e para nossa tarefa comum – a emancipação do trabalho. De seus esforços e sabedoria depende o destino da República. (p. 32).

Ou seja, o autor indicava que o melhor para a classe trabalhadora francesa seria buscar a auto-organização e não se envolver com os chamados de guerra e mobilização do governo, mas ao mesmo tempo buscar aumentar sua própria força e articulação.

Embora defenda uma organização paciente por dentro da República francesa, tal diretiva não pode ser compreendida como uma defesa da passividade do proletariado, pois esta mesma mensagem à Internacional termina com um alerta à classe trabalhadora: "(…) se permanecerem passivas, a terrível guerra atual será apenas o prenúncio de conflitos internacionais ainda mais mortíferos e conduzirá em todos os países a um renovado triunfo sobre os operários pelos senhores da espada, da terra e do capital". (MARX, 2019, p. 33).

A guerra civil na frança (30 de maio de 1871)
3ª Mensagem do Conselho Geral da Associação Internacional dos Trabalhadores

Esse terceiro documento escrito por Marx é o balanço definitivo dos 71 dias da Comuna de Paris. A análise foi dividida em quatro seções, na primeira foram analisados os objetivos do grupo dirigente da República; Thiers, Trochu, Jales Frave etc. Marx caracteriza esse grupo como uma articulação de arrivistas, falsários e corruptos ao serviço das classes dominantes. São, sobretudo, mercenários anti-proletários. A frágil república era dirigida por corruptos e arrivistas.

Na primeira seção Marx aponta que, assim que foi proclamada a República na França, em 4 de setembro de 1870, deu-se novo curso à vaga aberta no governo. Adolphe Thiers (ex-ministro de Luís Felipe e cruel repressor das massas), juntamente com o general bonapartista Louis Trochu rapidamente apresentaram-se como representantes da nova república. Como as lideranças da classe trabalhadora tinham sido atiradas nas prisões por Bonaparte ao longo dos anos revolucionários marcados pela Primavera dos povos, os arrivistas Thiers e Trochu foram tolerados no poder vago, mas apenas com o propósito de uma articulação emergencial de defesa nacional. No entanto, a defesa da república requeria armar a classe trabalhadora, o que por sua vez enfraquecia o bando de Thiers:

Paris não podia ser defendida sem armar sua classe trabalhadora, organizando-a em uma força efetiva e treinando suas fileiras na própria guerra. Mas Paris armada era a revolução armada. Uma vitória de Paris sobre o agressor prussiano teria sido uma vitória dos operários franceses sobre o capitalista francês e seus parasitas estatais. Neste conflito entre dever nacional e interesse de classe, o Governo de Defesa Nacional não hesitou um momento em transformar-se em um Governo de Defecção Nacional. (MARX, 2019, p. 35).

Isso levou o governo provisório a equilibra-se na dubiedade, o medo da classe trabalhadora por um lado, e o medo da restauração monárquica por outro. De início mostraram-se dispostos a capitulação e a entregar a república em troca da libertação de Bonaparte: "O primeiro passo que eles deram foi despachar Thiers em uma turnê errante por todas as cortes da Europa, a fim de implorar por uma mediação, oferecendo a permuta de uma república por um rei". (Idem, p. 35).
O general Trochu avaliava como uma loucura tentar resistir ao avanço do exército alemão e ao cerco de Paris. Não via outra alternativa que não fosse a capitulação como forma de atender as exigências de Bismarck. Conforme apontou Marx: "Assim, na própria noite da proclamação da República, o ‘plano’ de Trochu era conhecido por seus colegas e consistia na capitulação de Paris". (p. 36). Não havia então, verdadeiramente, qualquer intenção de um governo de defesa nacional e sim um plano de capitulação nacional. O chamado à defesa nacional era apenas uma moeda de troca nas negociações de capitulação.

No entanto, nacionalmente, em discurso oficial de mobilização, Thiers, Trochu e Frave diziam à classe trabalhadora que estavam dispostos a resistir à subjugação alemã, que não aceitariam a ceder os territórios exigidos e nem os Fortes de defesa. Faziam isso para manterem-se à frente do poder na república porque era essa a demanda social e política. No entanto, enquanto nacionalmente se diziam bravos defensores da república, negociavam primeiramente a rendição a Bismarck. De acordo com Marx, mesmo com um discurso de mobilização nacional: "Jules Favre confessava que eles estavam a se ‘defender’ não dos soldados prussianos, mas dos operários de Paris". (p. 36). Então, a nascente república era dirigida por capturadores e arrivistas anti-proletários, que simplesmente encenavam a "farsa da defesa" como forma de controlar os ânimos nas classes trabalhadoras. Marx aponta que os principais dirigentes da Republica estavam envolvidos em diversos casos de corrupção, desvio de dinheiro público e enriquecimento ilícito perdoado pelos seus pares. A continuidade da guerra, tendo à frente um governo de capitulação e uma massa de trabalhadores armados deu o tom ao longo conflito político. Conforme analisou Engels em sua introdução às análises de Marx:

(…) O Império desmoronou como um castelo de cartas, a República foi novamente proclamada. Mas o inimigo permanecia às portas; os exércitos do Império estavam ou definitivamente cercados em Metz ou aprisionados na Alemanha. Nesse momento crítico, o povo autorizou os deputados de Paris eleitos para o antigo corpo legislativo a atuar como “Governo da Defesa Nacional”. Isso foi concedido tanto mais prontamente quanto, para a finalidade da defesa, todos os parisienses capazes de manejar armas haviam sido alistados na Guarda Nacional e armados, de modo que, agora, os trabalhadores constituíam a grande maioria. Mas rapidamente aflorou a oposição entre o governo, constituído quase exclusivamente de burgueses, e o proletariado armado. Em 31 de outubro, batalhões de trabalhadores atacaram a prefeitura municipal e aprisionaram uma parte dos membros do governo; mediante traição, quebra da palavra por parte do governo e intervenção de alguns batalhões pequeno-burgueses, eles foram novamente postos em liberdade, e a fim de não precipitar a guerra civil interna em uma cidade já sitiada por potências bélicas estrangeiras, o governo de então foi deixado em seu lugar. (ENGELS, 2019, p. 190).

De acordo Marx e Engels, a farsa da resistência só foi completamente desvelada em 28 de janeiro de 1871, quando Otto Bismarck e Jules Frave assinaram um acordo de armistício que estabelecia a capitulação de Paris, atendendo todas as exigências da Alemanha, como a indenização de 200 milhões de francos pela guerra, entrega dos fortes de Paris, entrega da artilharia e material de guerra. Além disso, a França deveria convocar a eleição de uma Assembleia Nacional para deliberar sobre a saída ou continuidade da guerra. De acordo com Engels: “Finalmente, em 28 de janeiro de 1871, a faminta Paris capitulou. Porém, com honras até então inéditas na história das guerras. As fortalezas foram rendidas, as muralhas externas desarmadas, as armas dos Regimentos de Linha e da Guarda Móvel entregues, os próprios soldados considerados prisioneiros de guerra”. (ENGELS, p. 190). Ainda, de acordo com Marx, a "(…) capitulação estipulou que a Assembleia Nacional devia ser eleita dentro de oito dias, de maneira que em muitas partes da França as notícias da eleição iminente chegaram somente em sua véspera". (MARX, p. 43).

Essa capitulação "deu início à guerra civil que eles agora tinham de fazer, com a ajuda da Prússia, contra a República e Paris" (Idem, p. 43). Assim, "No caminho dessa conspiração erguia-se um grande obstáculo - Paris. Desarmá-la era a primeira condição de sucesso, e assim Paris foi intimada por Thiers a entregar suas armas". (MARX, p. 44). As massas trabalhadoras que compunham a Guarda Nacional continuaram armadas, sem aceitar o armistício de 28 de janeiro, por força das armas em mãos, acabaram intimidando as tropas alemãs que cercavam a França, mas não lograram ocupar Paris. Isso por sua vez colocava em xeque o poder de comando do Governo Provisório De acordo com Engels:

(…) a Guarda Nacional conservou consigo suas armas e canhões e apenas cumpriu o armistício firmado com os vencedores. E estes mesmos não ousaram entrar triunfalmente em Paris. Eles só ousaram ocupar uma borda muito pequena de Paris, que além do mais consistia, em sua maior parte, de parques públicos, e isso por uns poucos dias! E durante esse tempo, aqueles que por 131 dias haviam mantido seu cerco à capital foram eles mesmos cercados pelos trabalhadores armados de Paris, a vigiar atentamente para que nenhum “prussiano” pudesse ultrapassar os estreitos limites daquela borda cedida aos conquistadores estrangeiros. Tal era o respeito que os trabalhadores de Paris inspiravam naquele exército diante do qual todos os exércitos do Império haviam deposto suas armas; e os aristocratas rurais [Junker] prussianos, que lá estavam para fazer vingança no centro da revolução, foram obrigados a pôr-se em pé respeitosamente e saudar justamente essa revolução armada! (ENGELS, pp. 190-191).

Nesse processo, de acordo com Engels: “agora Thiers, o novo chefe de governo, percebeu que o domínio das classes proprietárias – dos grandes proprietários de terra e dos capitalistas – estaria em permanente perigo enquanto os trabalhadores de Paris conservassem as armas em suas mãos. Sua primeira medida foi uma tentativa de desarmamento”. (ENGELS, p. 191). As tropas de Versalhes foram enviadas para desarmar Paris no dia 18 de março de 1871, mas fracassaram, houve inclusive confraternização de tropas. O Governo Provisório viu-se incapaz de impor seus interesses. Frente a isso, "Thiers e Jules Favre, em nome da maioria da Assembleia de Bordeaux, solicitaram sem o mínimo pudor a imediata ocupação de Paris pelas tropas prussianas". (MARX, p. 46).

Seção II

Em tal situação, Marx aponta, se "A Paris armada era o único obstáculo sério no caminho da conspiração contrarrevolucionária. Paris tinha, portanto, de ser desarmada. Nesse ponto, a Assembleia de Bordeaux era a sinceridade em pessoa". (MARX, 2019, p. 46). A princípio, os conspiradores capitulacionistas da Assembleia Nacional exigiram que a população depusesse as armas e as entregasse ao governo, não se preocupando em discutir o verdadeiro motivo do desarmando. Mas, a deposição de armas foi tomada pela população de Paris como a entrega da própria revolução:

O confisco de sua artilharia devia evidentemente servir como o prelúdio do desarmamento de Paris e, portanto, da Revolução de 4 de setembro. Mas essa revolução tornara-se agora o estatuto legal da França. A República, sua obra, foi reconhecida pelo conquistador nas cláusulas da capitulação. Após a capitulação, ela foi reconhecida por todas as potências estrangeiras e a Assembleia Nacional foi convocada em seu nome. A revolução operária de Paris de 4 de setembro era o único título legal da Assembleia Nacional reunida em Bordeaux e de seu poder executivo. (MARX, p. 47).

Mesmo a Alemanha, em posição de guerra contra a França, reconhecia o risco imposto pelos trabalhadores parisienses com armas nas mãos. Era a única chance de resistência do povo francês ao avanço alemão. Por isso, o armistício previa o seu desarmamento imediato. A Paris da Guarda Nacional era o coração da República nascente. Sem ela não haveria qualquer possibilidade de resistência:

A Assembleia Nacional, dotada de plenos poderes para acertar as condições da paz com a Prússia, foi apenas um episódio daquela revolução, cuja verdadeira encarnação continuava a ser a Paris armada que a havia iniciado, que por ela sofrera um cerco de cinco meses, com seus horrores da fome, e que fez de sua prolongada resistência, apesar do plano de Trochu, a base de uma obstinada guerra de defesa nas províncias. (MARX, Idem).

Então, para população, entregar ou não as armas à Assembleia Nacional, significava dar como derrotada a revolução ou seguir aprofundando-a:

E Paris tinha agora de escolher: ou depor suas armas diante das ordens insultantes dos escravocratas de Bordeaux, reconhecendo assim que sua revolução de 4 de setembro não significara mais do que uma simples transferência do poder de Luís Bonaparte para seus rivais monárquicos, ou seguir em frente como o paladino francês do autossacrifício, cuja salvação da ruína e regeneração seriam impossíveis sem a superação revolucionária das condições políticas e sociais que haviam engendrado o Segundo Império e que, sob sua égide acolhedora, amadureciam até a completa podridão. Paris, esgotada por cinco meses de fome, não hesitou nem um momento. Heroicamente, resolveu correr todos os riscos de uma resistência contra os conspiradores franceses, mesmo com o canhão prussiano a encará-la a partir de seus próprios fortes. (pp. 47-48).

No entanto, mesmo optando por resistir à capitulação implementada pela Assembleia Nacional, Marx aponta que a Paris armada queria evitar a guerra civil, mantendo-se em posição defensiva frente a Assembleia, evitando revidar e se impor firmemente ao bando de Thiers: "Ainda assim, em sua aversão à guerra civil a que Paris estava para ser arrastada, o Comitê Central continuava a persistir em uma atitude meramente defensiva, apesar das provocações da Assembleia, das usurpações do Executivo e da ameaçadora concentração de tropas em Paris e seus arredores". (MARX, 2019, p. 48). A Guarda Nacional não entendeu que a tentativa de confisco dos canhões, em 18 de março na praça Vendmor, já era o início da guerra civil em Paris. Com o fracasso da tentativa do confisco das armas, Thier convocou a guarda nacional, formada por 300 mil homens, a se unir ao seu governo. No entanto, apenas trezentas pessoas atenderam ao seu chamado. (p. 48).

18 a 28 de março: fuga do governo provisório e início da Comuna de Paris

Conforme apontado, as tropas enviadas para desarmar Paris no dia 18 de março, ao invés de tomar as armas da Guarda Nacional, acabaram persuadidas pela população parisiense, o que por sua vez, deu-se lugar à confraternização das tropas do governo com as massas dos revolucionários. O general Lecomte ordenou quatro vezes ao seu exército que se abrisse fogo contra as mulheres e crianças na linha de frente, mas seu exército se negou e, por fim, fuzilou o general contrarrevolucionário, o mesmo destino teve o general Clément Thomas no mesmo dia. Esse episódio de 18 de março “terminou com a derrota do exército e a fuga do governo para Versalhes, tendo todo o conjunto da administração recebido ordens para abandonar seus postos e acompanhar o governo em sua fuga”. (MARX, p. 67). Esse episódio marcou o início da Comuna: "A gloriosa revolução operária de 18 de março apoderou-se incontestavelmente de Paris. O Comitê Central era seu governo provisório". (p. 48). Assim: "Na aurora de 18 de março de 1871, Paris despertou com o estrondo: “Viva a Comuna!”. (MARX, p.54).

Marx comemora a corajosa instauração da comuna (oficialmente decretada no dia 28 de março de 1871), mas, ao mesmo tempo, o autor aponta que os revolucionários foram complacentes demais ao não prender os militares do governo que na “crise dos canhões” se opunham à confraternização e ordenavam massacrar Paris naquele 18 de março. As tropas voltaram tranquilamente para seus postos para se reorganizar contra a Comuna. Enquanto isso, “Simulando negociações de paz com Paris, Thiers ganhou tempo para preparar a guerra contra ela”. Para o Marx, o correto a se fazer seria prender a reação e marchar para Versalhes, ampliando a comuna. O autor aponta que, a partir desse dia, a burguesia reacionária, representada no Grupo da Ordem, temia uma imediata retaliação armada do proletariado. Como isso não ocorreu, esses elementos mais reacionários entenderam que os revolucionários eram vacilantes, e assim, se reorganizaram, inclusive dentro de Paris, para um ataque armado contra os revolucionários. Para Marx, isso ficou evidente já no dia 22 de março de 1871:

Em 22 de março, uma turba revoltosa de emperiquitados partiu dos bairros luxuosos, tendo em suas fileiras todos os petits crevés e, à dianteira, os homens notoriamente mais íntimos do império – os Heeckeren, os Coëtlogon, Henry de Pène etc. Sob o covarde pretexto de um protesto pacífico, esse bando, portando secretamente armas de duelistas, pôs-se em marcha, agredindo e desarmando as patrulhas e sentinelas da Guarda Nacional que encontravam pelo caminho e, ao desembocar na rue de la Paix, aos brados de “Abaixo o Comitê Central! Abaixo os assassinos! Viva a Assembleia Nacional!”, tentaram passar através do armado cordão de isolamento, a fim de tomar de assalto o quartel da Guarda Nacional na praça Vendôme. (MARX, 2019, p. 50).

A Guarda Nacional dispersou-os com uma salva de tiros, sendo que, de acordo com o autor: "Uma carga foi bastante para pôr a correr, em fuga desesperada, aqueles estúpidos fanfarrões". (Idem, p. 51). Mas, novamente, as tropas da Guarda Nacional deixaram que partissem tranquilamente. Marx relembra que, por muito menos que isso, Thiers mandou massacrar manifestações proletárias pacificas em 1848: "O Comitê Central de 1871 simplesmente ignorou os heróis da “manifestação pacífica”, de tal modo que, dois dias mais tarde, eles puderam se apresentar ao almirante Saisset para aquela outra manifestação, agora armada, que culminou na famosa debandada para Versalhes". (p. 52).

Marx ressalta que essa magnanimidade dos operários armados com relação às investidas contrarrevolucionárias foi um dos maiores erros da Comuna de Paris. Deveria se ter prendido, julgado e condenado os bandos reacionários ativos. O correto seria ter revidado à investida das tropas de Thiers nos dias 18 e 22 de março. Sobretudo porque Versalhes não tinha tropas para resistir ao exército da Comuna: "Em sua relutância em continuar a guerra civil iniciada por Thiers e sua investida impetuosa contra Montmartre, o Comitê Central cometeu, aí, um erro decisivo ao não marchar imediatamente sobre Versalhes, então completamente indefesa, pondo assim um fim às conspirações de Thiers e seus ’rurais’". (p. 52). Ao invés de avançar contra os adversários, que já não tinham tropas suficientes, a Comuna seguia permitindo que se reorganizassem livremente, permitindo inclusive que participassem das eleições internas da comuna no dia 26 de março.

Novamente, a complacência dos operários de Paris não encontrava reciprocidade Thiers, que negociou com Bismarck a libertação dos militares presos na Alemanha. A partir disso organizou um cerco contra a Comuna e passou para os bombardeamentos no do dia 2 de abril, os comunards resistiram, houve confrontos e 1.500 soldados da comuna foram capturados. De acordoo com Marx: "A primeira leva de prisioneiros parisienses transferida a Versalhes foi submetida a atrocidades revoltantes (...) Os soldados de linha capturados foram massacrados a sangue-frio". (p. 52). No dia 7 de abril, como forma de parar os massacres, a Comuna ameaçou “proteger Paris contra as proezas canibalescas dos bandidos versalheses e de exigir olho por olho, dente por dente”. (p. 53). Mas isso nunca foi levado a pratica, assim não se freou Thiers e o bando da Assembleia Nacional e suas tropas:

(…) o fuzilamento de prisioneiros foi suspenso por um tempo. Mas tão logo Thiers e seus generais dezembristas perceberam que o decreto da Comuna sobre represálias não era mais que uma ameaça vazia, que até os gendarmes espiões detidos em Paris com o disfarce de guardas nacionais estavam sendo poupados, assim como os sergents de ville pegos portando granadas incendiárias, reiniciou-se então o fuzilamento em massa dos prisioneiros, prosseguindo ininterruptamente até o fim. As casas em que se refugiaram os guardas nacionais foram cercadas por gendarmes, inundadas com petróleo (que aparece, aqui, pela primeira vez nesta guerra) e, em seguida, incendiadas; os corpos carbonizados foram recolhidos mais tarde pela ambulância da imprensa, em Les Ternes. Quatro guardas nacionais que se renderam a uma tropa de soldados montados em Belle Epine, em 25 de abril, foram posteriormente fuzilados, um por um, pelo capitão, homem de confiança de Gallifet. Scheffer, uma de suas quatro vítimas, a quem se havia dado como morto, arrastou-se até os postos avançados de Paris e testemunhou esse fato perante uma comissão da Comuna. (p. 53).

Seção III

No Manifesto de 18 de março lançado pelo comitê da Comuna na “crise dos canhões já se defendia a instauração de um governo formado pelos trabalhadores:

em meio a fracassos e às traições das classes dominantes, compreenderam que é chegada a hora de salvar a situação, tomando em suas próprias mãos a direção dos negócios públicos (...) Compreenderam que é seu dever imperioso e seu direito absoluto tornar-se donos de seus próprios destinos, tomando o poder governamental. (Apud Marx, 2019, p. 54).

Em 28 de março o proletariado parisiense ciava oficialmente um Estado operário independente, paralelo ao Estado burguês sediado em Versalhes. Mas, de acordo com Marx, os trabalhadores concluíram não bastava ocupar o poder político em Paris mantendo sua estruturação burguesa, era necessário destruí-la. Não se tratava de "transferir a maquinaria burocrático-militar de uma mão para outra, como foi feito até então, mas sim em quebrá-la, e que esta é a precondição de toda revolução popular efetiva no continente. Esse é, também, o experimento de nossos heroicos correligionários de Paris. [2]" (MARX, 2019). A Comuna de Paris apontou quais os caminhos para a destruição da máquina estatal burguesa. Evidenciando assim que: "a classe operária não pode simplesmente se apossar da máquina do Estado tal como ela se apresenta e dela servir-se para seus próprios fins". (Idem, p. 54). Marx destaca que a estrutura do Estado foi moldada desde os tempos da monarquia absoluta, adentrou ao controle do Parlamento controlado diretamente pelas classes proprietárias. Foi dessa estrutura que a burguesia se apoderou para a manutenção da dominação do capital sobre o trabalho. Para fundamentar a defesa da destruição do Estado burguês, Marx aborda desde o surgimento do Estado moderno, na monarquia absoluta, até o momento de tentativa de dissolução dele na Comuna:

O poder estatal centralizado, com seus órgãos onipresentes, com seu exército, polícia, burocracia, clero e magistratura permanentes – órgãos traçados segundo um plano de divisão sistemática e hierárquica do trabalho –, tem sua origem nos tempos da monarquia absoluta e serviu à nascente sociedade da classe média como uma arma poderosa em sua luta contra o feudalismo. Seu desenvolvimento, no entanto, permaneceu obstruído por todo tipo de restos medievais, por direitos senhoriais, privilégios locais, monopólios municipais e corporativos e códigos provinciais. A enorme vassoura da Revolução Francesa do século XVIII varreu todas essas relíquias de tempos passados, assim limpando ao mesmo tempo o solo social dos últimos estorvos que se erguiam ante a superestrutura do edifício do Estado moderno erigido sob o Primeiro Império, ele mesmo o fruto das guerras de coalizão da velha Europa semifeudal contra a França moderna. Durante os regimes subsequentes, o governo, colocado sob controle parlamentar – isto é, sob o controle direto das classes proprietárias –, tornou-se não só uma incubadora de enormes dívidas nacionais e de impostos escorchantes, como também, graças à irresistível fascinação que causava por seus cargos, pilhagens e patronagens, converteu-se no pomo da discórdia entre as facções rivais e os aventureiros das classes dominantes; mas o seu caráter político mudou juntamente com as mudanças econômicas ocorridas na sociedade. (pp. 54-55).

No período da revolução industrial, da hegemonia burguesa, o Estado evidenciou seu caráter de classe na manutenção da dominação e exploração da classe trabalhadora:

No mesmo passo em que o progresso da moderna indústria desenvolvia, ampliava e intensificava o antagonismo de classe entre o capital e o trabalho, o poder do Estado foi assumindo cada vez mais o caráter de poder nacional do capital sobre o trabalho, de uma força pública organizada para a escravização social, de uma máquina do despotismo de classe. Após toda revolução que marca uma fase progressiva na luta de classes, o caráter puramente repressivo do poder do Estado revela-se com uma nitidez cada vez maior. (MARX, 2019, p. 55).

Os primeiros passos para a destruição do Estado burguês

Marx caracteriza a Comuna de Paris como uma forma de antítese do Império de Bonaparte, como a construção de uma "República social", uma contraposição organizada contra a dominação burguesa, imposta pela classe operária em autogoverno. Em sua reafirmação como poder proletário, foi necessário destruir as bases da dominação burguesa, desmontar a estrutura do exército burguês e substituí-lo pelo povo armado:

Paris, sede central do velho poder governamental e, ao mesmo tempo, bastião social da classe operária francesa, levantara-se em armas contra a tentativa de Thiers e dos “rurais” de restaurar e perpetuar aquele velho poder que lhes fora legado pelo Império. Paris pôde resistir unicamente porque, em consequência do assédio, livrou-se do exército e o substituiu por uma Guarda Nacional, cujo principal contingente consistia em operários. Esse fato tinha, agora, de se transformar em uma instituição duradoura. Por isso, o primeiro decreto da Comuna ordenava a supressão do exército permanente e sua substituição pelo povo armado. (p. 56).

Além do exército, a polícia também perdeu seu caráter de perseguição e repressão à classe trabalhadora e a seus movimentos políticos. A própria polícia também se tornou revogável: "Em vez de continuar a ser o agente do governo central, a polícia foi imediatamente despojada de seus atributos políticos e convertida em agente da Comuna, responsável e substituível a qualquer momento". (MARX, 2019, p. 57). Com isso, Paris se viu "livre do exército permanente e da polícia – os elementos da força física do antigo governo". (p.57). Além de desmontar as instituições burguesas de repressão física que agiam permanentemente contra a classe trabalhadora, buscou-se também suprimir o poder político da Igreja que dava sustentação espiritual a dominação de classe:

(…) a Comuna ansiava por quebrar a força espiritual de repressão, o “poder paroquial”, pela desoficialização [disestablishment] e expropriação de todas as igrejas como corporações proprietárias. Os padres foram devolvidos ao retiro da vida privada, para lá viver das esmolas dos fiéis, imitando seus predecessores, os apóstolos. (MARX, 2019, p. 57).

A Comuna também suprimiu os cargos parlamentares de longa duração, todos os cargos deveriam ser revogáveis a qualquer momento:

A Comuna era formada por conselheiros municipais, escolhidos por sufrágio universal nos diversos distritos da cidade, responsáveis e com mandatos revogáveis a qualquer momento. A maioria de seus membros era naturalmente formada de operários ou representantes incontestáveis da classe operária. A Comuna devia ser não um corpo parlamentar, mas um órgão de trabalho, Executivo e Legislativo ao mesmo tempo. (…). (Idem, pp. 56-57).

Também foram abolidos os altos salários nos poderes públicos, bem como os salários miseráveis do proletariado:

Dos membros da Comuna até os postos inferiores, o serviço público tinha de ser remunerado com salários de operários. Os direitos adquiridos e as despesas de representação dos altos dignitários do Estado desapareceram com os próprios altos dignitários. As funções públicas deixaram de ser propriedade privada dos fantoches do governo central. Não só a administração municipal, mas toda iniciativa exercida até então pelo Estado foi posta nas mãos da Comuna. (Idem, p. 57).

Ainda, a Comuna instituiu o ensino gratuito, laico e universal, acessível a todos: "Todas as instituições de ensino foram abertas ao povo gratuitamente e ao mesmo tempo purificadas de toda interferência da Igreja e do Estado. Assim, não somente a educação se tornava acessível a todos, mas a própria ciência se libertava dos grilhões criados pelo preconceito de classe e pelo poder governamental". (p. 57).
Marx aponta que outra tarefa da Comuna era a descentralização do Poder em Paris: "o antigo governo centralizado também teria de ceder lugar nas províncias ao autogoverno dos produtores". (p. 57). Mas na iminência dos 71 dias de Comuna essa tarefa não pôde ser realizada: "No singelo esboço de organização nacional que a Comuna não teve tempo de desenvolver, consta claramente que a Comuna deveria ser a forma política até mesmo das menores aldeias do país e que nos distritos rurais o exército permanente deveria ser substituído por uma milícia popular, com um tempo de serviço extremamente curto". (p. 57).

Com todas essas incursões sobre as instituições sociais, Marx aponta que: "O regime comunal teria restaurado ao corpo social todas as forças até então absorvidas pelo parasita estatal, que se alimenta da sociedade e obstrui seu livre movimento. Esse único ato bastaria para iniciar a regeneração da França". (p. 59). Como foi articulada pela cidade, pelo poder operário: "regime comunal colocava os produtores do campo sob a direção intelectual das cidades centrais de seus distritos, e a eles afiançava, na pessoa dos operários, os fiduciários naturais de seus interesses". (p. 59). Aponta ainda que a Comuna tornou a administração estatal mais barata:

A Comuna tornou realidade o lema das revoluções burguesas – o governo barato – ao destruir as duas maiores fontes de gastos: o exército permanente e o funcionalismo estatal. Sua própria existência pressupunha a inexistência da monarquia, que, ao menos na Europa, é o suporte normal e o véu indispensável da dominação de classe. A Comuna dotou a República de uma base de instituições realmente democráticas. Mas nem o governo barato nem a “verdadeira República” constituíam sua finalidade última. Eles eram apenas suas consequências. (MARX, 2019, p. 59).

O que tornou possível todos esses avanços foi justamente o poder operário na organização da sociedade, a forma política de autogoverno do proletariado que levava à emancipação política e econômica do trabalho em relação à dominação burguesa: "Eis o verdadeiro segredo da Comuna: era essencialmente um governo da classe operária, o produto da luta da classe produtora contra a classe apropriadora, a forma política enfim descoberta para se levar a efeito a emancipação econômica do trabalho". (p. 59). A Comuna construiu na prática a emancipação de classe eliminando seus parasitas, transformando todos os homens em produtores: "A Comuna, portanto, devia servir como alavanca para desarraigar o fundamento econômico sobre o qual descansa a existência das classes e, por conseguinte, da dominação de classe. Com o trabalho emancipado, todo homem se converte em trabalhador e o trabalho produtivo deixa de ser um atributo de classe". (p. 59). O autor destaca que a revolução proletária de Paris foi também fruto do protagonismo das mulheres parisienses:

(...) as verdadeiras mulheres de Paris voltavam a emergir: heroicas, nobres e devotadas como as mulheres da antiguidade. Trabalhando, pensando, lutando, sangrando: assim se encontrava Paris, em sua incubação de uma sociedade nova e quase esquecida dos canibais à espreita diante de suas portas, radiante no entusiasmo de sua iniciativa histórica! (p. 66).

Ainda, Marx aponta que a Comuna tinha aspirações ainda mais profundas:

A Comuna, exclamam, pretende abolir a propriedade, a base de toda civilização! Sim, cavalheiros, a Comuna pretendia abolir essa propriedade de classe que faz do trabalho de muitos a riqueza de poucos. Ela visava a expropriação dos expropriadores. Queria fazer da propriedade individual uma verdade, transformando os meios de produção, a terra e o capital, hoje essencialmente meios de escravização e exploração do trabalho, em simples instrumentos de trabalho livre e associado. (MARX, 2019, p. 60).

Marx aponta que a classe trabalhadora parisiense em luta contra o velho regime, tinha clareza das dificuldades de se colocar em prática um plano social transicional:

A classe trabalhadora não esperava milagres da Comuna. Os trabalhadores não têm nenhuma utopia já pronta para introduzir par décret du peuple [por decreto do povo]. Sabem que, para atingir sua própria emancipação, e com ela essa forma superior de vida para a qual a sociedade atual, por seu próprio desenvolvimento econômico, tende irresistivelmente, terão de passar por longas lutas, por uma série de processos históricos que transformarão as circunstâncias e os homens. Eles não têm nenhum ideal a realizar, mas sim querem libertar os elementos da nova sociedade dos quais a velha e agonizante sociedade burguesa está grávida. (MARX, p. 60).

Marx destaca que, com a Comuna, “pela primeira vez na história, os simples operários ousaram infringir o privilégio estatal de seus “superiores naturais”.(p. 61). Assim se instituía pela primeira vez a “República do trabalho”. Marx, infere que nesse processo, a classe trabalhadora demonstrou sua capacidade exercer hegemonia social sobre outros setores da sociedade: “essa foi a primeira revolução em que a classe trabalhadora foi abertamente reconhecida como a única classe capaz de iniciativa social, mesmo pela grande massa da classe média parisiense – lojistas, negociantes, mercadores –, excetuando-se unicamente os capitalistas ricos”. (p. 61). Isso porque, os setores de pequenos proprietários e classes médias viram “que havia apenas uma alternativa, a Comuna ou o Império, qualquer que fosse o nome sob o qual este viesse a ressurgir”. (p. 61). O mesmo valia para os camponeses, a vitória da Comuna era sua esperança contra os “rurais” das classes dominantes. Entre os benefícios da Comuna para os camponeses, Marx destaca:

(...) A Comuna teria isentado o camponês da maldita taxa, ter-lhe-ia dado um governo barato, teria convertido os seus atuais sanguessugas – o notário, o advogado, o coletor e outros vampiros judiciais – em empregados comunais assalariados, eleitos por ele e responsáveis perante ele. Tê-lo-ia libertado da tirania do garde champêtre [guarda rural], do gendarme e do prefeito, teria posto o esclarecimento do professor escolar no lugar do embrutecimento do pároco. E o camponês francês é, acima de tudo, um homem de cálculo. (...). (p. 62).

Por tais aspectos, Marx considera que a Comuna conseguia representar “todos os elementos saudáveis da sociedade francesa”. Por isso afirmava-se como “o verdadeiro governo nacional, ela era, ao mesmo tempo, como governo operário e paladino audaz da emancipação do trabalho, um governo enfaticamente internacional”. (MARX, 2019, p. 63).

Seção IV

Nessa última seção Marx enfoca no confronto final e na repressão à Comuna. Conforme apontado, após a fuga do governo de Thiers e do exército para Versalhes, passou-se a articulação da contrarrevolução para esmagar a Comuna. O governo lançou um chamado às províncias para formar um novo exército, mas os trabalhadores do campo e das cidades recusaram o apelo. Thiers também apelou a Bismarck, solicitando a libertação dos militares presos ao longo da guerra. Solicitava a libertação dos prisioneiros unicamente com objetivo de reprimir Paris. Só assim Thiers conseguiu compor um forte exército capaz de derrotar a Paris operária. De acordo com Marx: “Quando o momento decisivo estava próximo, disse – à Assembleia: “Serei impiedoso!” – a Paris que ela estava condenada; e aos seus bandidos bonapartistas, que estes tinham licença estatal para vingar-se de Paris como bem o entendessem”. (p.72). No dia 21 maio de 1871 as tropas de Versalhes invadiram Paris, encontraram na resistência de Paris homens, mulheres e crianças dispostos a morrerem pela Comuna, os confrontos duraram 8 dias. De acordo com Marx:

E assim foi. A civilização e a justiça da ordem burguesa aparecem em todo o seu pálido esplendor sempre que os escravos e os párias dessa ordem se rebelam contra seus senhores. Então essa civilização e essa justiça mostram-se como uma indisfarçada selvageria e vingança sem lei. Cada nova crise na luta de classes entre o apropriador e o produtor faz ressaltar esse fato com mais clareza. Mesmo as atrocidades da burguesia em junho de 1848 se esvanecem diante da infâmia de 1871. O abnegado heroísmo com que a população de Paris – homens, mulheres e crianças – lutou por oito dias desde a entrada dos versalheses reflete a grandeza de sua causa tanto quanto as façanhas infernais dessa soldadesca refletem o espírito inato da civilização da qual eles são os mercenários defensores. Esta gloriosa civilização, cujo grande problema é saber como se ver livre, finda a batalha, das pilhas de cadáveres que ela produziu! (pp. 72-73).

Marx compara o massacre à Comuna aos massacres no Império Romano no período dos triunviratos:

Para encontrar um paralelo para a conduta de Thiers e seus cães de caça temos de voltar aos tempos de Sula e dos dois triunviratos de Roma. Os mesmos morticínios em massa a sangue-frio, o mesmo desdém, no massacre, pela idade e pelo sexo, o mesmo sistema de tortura dos prisioneiros, as mesmas proscrições, mas agora de uma classe inteira, a mesma caça selvagem dos líderes na clandestinidade para evitar que qualquer um deles conseguisse escapar, as mesmas delações de inimigos políticos e privados, a mesma indiferença pela chacina de pessoas inteiramente estranhas à luta. Há somente uma diferença: os romanos não dispunham de mitrailleuses para despachar em massa os proscritos e não tinham “a lei em suas mãos”, nem em seus lábios o brado de “civilização”. (p. 73).

Marx aponta que a repressão e assassinato em massa na Comuna foi um dos mais violentos da história até então. Enquanto o massacre ocorria (e depois dele), o governo, o Partido da Ordem, os rurais e a burguesia, além do assassinato em massa de cerca de 30 mil trabalhadores, ainda se dedicaram a caluniar a Comuna e seus apoiadores: “Em cada um de seus sangrentos triunfos sobre os abnegados paladinos de uma nova e melhor sociedade, essa abominável civilização, baseada na escravização do trabalho, afoga os gemidos de suas vítimas em uma gritaria selvagem de calúnias reverberadas por um eco mundial. A serena Paris operária da Comuna é subitamente transformada em pandemônio pelos cães de caça da “ordem”. (p. 74).

Ainda sobre a resistência, Marx apontou que: “O povo de Paris morre entusiasticamente pela Comuna em quantidade não igualada por nenhuma batalha conhecida da história (...). As mulheres de Paris dão alegremente as suas vidas nas barricadas e no campo de fuzilamento (...). A moderação da Comuna durante os dois meses de seu governo indisputado só se iguala ao heroísmo de sua defesa”. (p. 74). Marx finaliza o documento sublinhando que “A Paris dos trabalhadores, com sua Comuna, será eternamente celebrada como a gloriosa precursora de uma nova sociedade”. (MARX, 2019, p. 79). Viva a Comuna de Paris!

Bibliografia
MARX, K. Guerra civil na França. Boitempo, SP. 2019.

 
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