Aos trancos e barrancos poesia fora dos eixos comerciais e burocráticos. Uma janela pesada para os dias empoeirados. Tem polícia e desenho animado na praça da Catedral.
De bike, a pé ou de ônibus, com a pastinha de haicais debaixo do braço, Ciriaco lança seu poema tranquilo na terra do Sítio do Pica-Pau Amarelo e das montadoras de automóveis, mas às vezes veste a fantasia de carne de pescoço porque sabe que o lugar da poesia é na calçada. Da greve ao teatro, ele constrói paisagens surreais do cotidiano concreto. Às vaias, às favas, ao trem que carrega minério de estrela.
Su Hermosura
Não deixou o sol entrar pela janela.
(fechou os olhos para não dormir, não sonhar)
Encontrou nos labios o beijo desprotegido.
(aprendeu lapidar as cinzas e espalhar o barro)
Estilhaçou lágrimas na presença acústica do outro no espelho.
E não permitiu apresentar-se o artista cômico. Mas construiu no abismo o último riso de vida.
A garrafa térmica
A verdade grudada na sola do sapato:
O chão guarda de memória o número de pés que lhe pisaram as costas?
Entretanto, o vagalume confraterniza-se com a corrente sanguínea da lâmpada acesa. A hiena sofre uma overdose de física quântica e a projeção dos erros congela o movimento do beija-flor. Mas as crianças brincam de envelhecer e não temem quebrar vasos de porcelana e arranhar a rotina. Percebem que hoje pode não chover.
Não queremos ser
o bode expiatório
da paz - Disseram as pombas em passeata.
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