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História USP
O papel do historiador: debate com a mesa "Crise e História" organizada pelo CAHIS
João Salles
Estudante de História da Universidade de São Paulo - USP
Kenzo

Na última segunda-feira (26), o Centro Acadêmico do curso de História da USP (CAHIS) deu início a IV Semana de Ofícios do Historiador, tratando-se de um evento onde há uma série de atividades voltadas à discussão do papel que cumprem os profissionais, assim como diversas questões referentes à área, a partir de sua mesa de abertura, intitulada como “Crise e História — a conjuntura brasileira e a práxis do historiador”.

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Para o debate, foram convidados o professor titular do curso de História da USP, Jorge Grespan, assim como, João Carvalho, mestre em História Social pela USP, doutorando em História Social pela UFMG e Vivian Mendes, presidenta estadual da UP, membra da Comissão de Mortos e Desaparecidos da Ditadura pela Comissão Estadual da Verdade.

A discussão da mesa passou por diversos apontamentos referentes ao papel que o historiador poderia cumprir em meio a uma “crise”, como apontada pelo professor Grespan, inerente a uma contradição histórica que é o Capitalismo e suas expressões, cujas respostas são apontadas pelo historiador enquanto seu ofício. Assim, como diversas das perguntas do público também questionaram os seus limites ou como tal relação seria posta em prática.

João Carvalho abordou questões referentes ao papel do historiador em romper com os limites da academia, justamente para cumprir o papel de agente transformador. No entanto, apesar de se colocar abertamente pela organização política da juventude e da ligação do ofício com as ideias do marxismo, citando o próprio Marx e Walter Benjamin, o mesmo não se aprofundou sobre quais as bases para atuação nos dias de hoje. Para tanto, acreditamos que seria necessário apontar um horizonte de atuação concreto que dê conta de cumprir o papel que o mesmo defende ser necessário.

Vivian Mendes partiu de sua experiência na luta por justiça e memória aqueles que morreram na luta contra a ditadura militar no Brasil. Apesar de não ser historiadora de formação, apresentou uma perspectiva importante sobre história e memória, no sentido coletivo e social. E, apesar de críticas feitas à dita esquerda institucionalizada que se nega a dar os combates no sentido de defender a história de nossos mortos, sua perspectiva de atuação disse muito mais sobre os caminhos institucionais do que propriamente apontar um horizonte revolucionário para a atuação do historiador.

Nós da Juventude Faísca Revolucionária, também acompanhamos a mesa e intervimos através de diferentes perguntas ao longo da discussão, porém, gostaríamos de aproveitar este artigo também para nos situarmos neste debate tão importante e imprescindível aos estudantes de História que aspiram tomar o ofício de historiadores e qual é a nossa perspectiva diante deste tema.

Em primeiro lugar, partimos de uma análise de que tal crise e suas diversas contradições também afetam diretamente o processo de atuação do historiador. Afinal de contas, as análises históricas não são apenas fruto de pesquisas e reflexão abstratas, mas também se situam em meio a um determinado contexto que pode influenciar determinadas conclusões dependendo de cada situação, sobretudo, partindo de que muitas vezes é a partir de lições históricas que conseguimos superar questões e problemas referentes ao nosso tempo.

Dessa forma, o ofício do historiador também assume um papel político diante de grandes debates que são feitos pela humanidade. Porém, acreditamos que não deve haver separação entre o ato de se pensar nessas respostas e o que se fazer diante delas em mãos. Na realidade, cumprir com tal papel até o final passa também por atuar diante de processos históricos, o que em nossa visão, sobretudo pela qualidade de suas consequências, nos coloca o desafio de também atuarmos na luta de classes.

Isso, pois são através destes processos que a História dispõe seu seguimento em meio a transformações profundas da sociedade dependendo do grau de expressão deste tipo de processo, seja em uma simples greve estudantil ou operária, ou uma revolução propriamente. Por isso, para cumprir tal ofício, não basta tecer análises enquanto ferramentas soltas para outros sujeitos. O historiador também é um sujeito político, tão sensível à realidade como outros setores.

Algo que, na situação política atual é cada vez mais evidente, quando percebemos inúmeros ataques destinados a nossa área de atuação, seja através da pesquisa com os recentes cortes orçamentários à Ciência, como também as diversas reformas que seguem sucateando a educação e suas distintas instituições de ensino e seus funcionários. Algo que, inclusive as entidades representativas deste ofício como o próprio CAHIS também devem se posicionar e atuar no enfrentamento a essa situação, assim como tantos outros problemas que impactam o conjunto da juventude e dos trabalhadores.

Essa relação não se trata apenas de uma mera atuação voluntarista por parte deste ofício, mas acreditamos que a História nos traz lições fundamentais para esses combates e tantos outros. Já se sucederam inúmeras experiências de atuação política das classes ao redor do mundo e muitas delas nos apoiamos para enfrentar a situação atual, frente ao próprio governo de Bolsonaro e Mourão, assim como o regime degradado e cada vez mais antidemocrático, como fora apontado em uma das falas dos convidados.

Nesse sentido, experiências como a própria Revolução Russa que completou seus 104 anos, os enfrentamentos da Oposição de Esquerda e da Quarta Internacional diante da ascensão de regimes bonapartistas e do combate ao fascismo, ou mesmo experiências derrotadas como a Comuna de Paris apontam diversas pistas que nos permitem atuarmos para dar respondermos não só a atual conjuntura, mas a crise que perpassa o nosso ofício.

Para isso, também é necessário nos apoiarmos na superação dos próprios erros do passado, para não reproduzi-los novamente. Algo que acaba sendo extremamente urgente diante da reabilitação de diversas atuações e estratégias que já se provaram enquanto fracassadas como o próprio reformismo, se pensarmos na atuação dos partidos Social-Democratas ao longo do século XX, ou frente a constante busca em se aliar em diferentes sentidos com a burguesia, como se sucede pela via de partidos como o PT, PCdoB e mesmos diversos outros setores que se opõem à esquerda deles, passo que o próprio stalinismo cometeu através de sua integração em diversas frentes populares com a burguesia, culminando em derrotas imensas a classe trabalhadora, inclusive no Brasil tendo chegado a apoiar a ditadura de Getúlio Vargas que flertava com o nazi-fascismo abertamente.

Tais tarefas também dependem de um método que permita buscar fazer essas ligações, algo que só o marxismo revolucionário pode cumprir e que defendemos o seu legado hoje, que para nós é a defesa aberta do trotskismo enquanto fio de continuidade das experiências revolucionárias do século XX. Seja através de contribuições históricas e, sobretudo, a partir delas, atuamos na realidade em meio aos diferentes processos de luta onde seguimos lado a lado aos trabalhadores, enquanto futuros historiadores ou sendo os mesmos propriamente.

 
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