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TERRORISTA É O ESTADO
Terrorismo é a ação da polícia: resposta ao artigo de Kim Kataguiri
Flávia Toledo
São Paulo

Em seu texto (“Passe livre para o terrorismo”), Kataguiri alardeia que a presença de black blocs nos atos contra o aumento das tarifas de ônibus e metrô chamados pelo MPL estaria gerando um “cenário caótico” e “medo generalizado” na cidade de São Paulo.

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Ao longo do texto, o coordenador do Movimento Brasil Livre, a nova cara da direita brasileira, tenta a todo custo mostrar como são “violentos” os manifestantes que se levantam contra os abusivos R$3,80 para utilizar ônibus e metrô. Chega a dizer que “Parece que os protestos do MPL têm uma espécie de licença moral e poética para o crime.” Sobre a polícia e sua ação nas manifestações, o colunista nada fala.

Se retomarmos apenas os cinco atos que ocorreram esse ano, percebemos que a argumentação de Kataguiri falsifica imensamente a realidade. Desde o primeiro grande ato contra o aumento das tarifas, o que se viu foi uma intensa repressão policial, com enorme utilização de bombas de gás lacrimogêneo e efeito moral, balas de borracha e perseguição aos manifestantes que buscavam rotas seguras de fuga, tentando sair das manifestações. Já foram dezenas de feridos, incluindo idosos e mulheres grávidas que nada tinham a ver com os atos, além de prisões arbitrárias e ao menos um caso de flagrante forjado, registrado em vídeo, em que policiais implantaram artefato explosivo na mochila de um manifestante.

Mas nada disso interessa a Kataguiri. Toda a violência policial comprovada por inúmeras filmagens, utilizada e reivindicada por Alckmin e Haddad pra proteger os lucros da máfia dos transportes, todo o cenário de guerra causado pela polícia é ignorado pelo colunista da Folha. A ele só interessam as ações isoladas de pequenos grupos que, incomparáveis à enorme carga de violência que o Estado, por meio da polícia, tem tentado tornar natural nas ruas da cidade. E tudo isso sem falar dos factóides que a mídia burguesa e o colunista espalham por aí.

Para piorar o seu texto, Kataguiri faz um chamado à repressão ao igualar o movimento contra as tarifas a “terrorismo” e perguntando se esses manifestantes “passarão”. Ao olharmos para a intensa repressão dos últimos atos, fica claro que o termo “terrorismo”, se deve ser aplicado a essas situações, só pode definir a conduta da polícia, e não dos manifestantes.

O “medo generalizado” da população se dá na fila do banco, na catraca do ônibus, no supermercado; medo generalizado de o salário não dar conta de custear a vida, já que os preços só fazem subir. E a quem reclama, bombas e balas de borracha.

O cinismo de Kim Kataguiri se explica pela necessidade de proteger a todo custo os lucros de uns poucos sobre as costas de muitos. Ele não vai debater seriamente o direito à cidade, a carestia de vida, o ataque a direitos elementares dos cidadãos porque não dá pra justificar sem sensacionalismo e mentiras um aumento abusivo de tarifas para um transporte precário e um salário que se desvaloriza mais e mais.

Kim Kataguiri e seu Movimento Brasil Livre se reivindicam liberais, ou seja, defendem a mínima intervenção estatal na economia, um Estado mínimo que permita que o mercado se ajuste e regulamente a seu bel prazer. Na prática, essa defesa significa dar carta branca para uma exploração cada vez maior dos trabalhadores, salários cada vez menores, condições cada vez mais precárias de trabalho, tudo para que os patrões sigam lucrando mais e mais.

Mas como todo defensor da propriedade privada, o discurso de “menos Estado” vai apenas até onde o Estado poderia frear em alguma medida a obtenção anárquica de lucro. Quando o Estado intervém para defender a propriedade privada, principalmente por meio das suas forças repressoras, já não há incômodo na sua presença ostensiva.

Quando Kim Kataguiri não fala uma única palavra sobre a repressão policial, ele se coloca abertamente ao seu lado. Quando não traça uma crítica sequer à polícia que está entre as que mais mata no mundo, ele declara seu apoio à política genocida do Estado. A repressão policial às manifestações da juventude e dos trabalhadores para calar a indignação contra os ataques não o incomoda, pois serve como defesa da propriedade privada e dos lucros absurdos dos patrões. O genocídio da população negra, pobre e periférica levada à frente pelas polícias interessa a ele, pois é um instrumento de controle da população e de manutenção do racismo institucionalizado que superexplora a população negra e joga pra baixo o salário médio de toda a população. Se não o interessasse, haveria ao menos uma linha de repúdio à violência policial em seus textos.

Mas não. Para Kim Kataguiri, que joga com roupas aparentemente novas o velho jogo da direita para se alçar como uma figura em meio à crise política que se abriu no país, tudo vale para defender o direito ao lucro e à propriedade. Vale se aliar a figuras das mais reacionárias e opressoras da política brasileira, como Bolsonaro, para angariar apoio ao seu projeto de impeachment. Vale se aliar aos defensores de intervenção militar, que representa o cerceamento completo dos direitos democráticos da população.

Pois foi isso que vimos nos atos convocados por ele e demais grupos da “nova direita”: ainda que se coloquem contra a intervenção militar, marchavam lado a lado com defensores de torturadores, com figuras que atacam duramente o direito das mulheres, de negros, LGBTs.

E ao tentar se diferenciar das figuras que flertam claramente com o fascismo, demonstra mais uma vez como é falacioso o seu discurso de “defesa da população brasileira”. Em artigo publicado na HuffPost Brasil, Kataguiri afirma: “Eu não quero perseguir judeus. Pelo contrário: acho que Israel é um oásis de civilização e tolerância num mar de barbárie e retrocesso.” Essa é a velha cara jovem da direita brasileira, alguém que considera o Estado genocida de Israel, que massacra diariamente a população palestina, um “oásis de civilização e tolerância”.

Essa é a verdadeira “licença poética”: para que os patrões possam explorar livremente os trabalhadores, nenhuma intervenção estatal. Mas nada a dizer sobre a dura intervenção policial e militar cotidianamente nas periferias ou nas manifestações. Quando o Estado intervém fardado, aí tudo bem. Merece até uma selfie.

E por falar em selfie, seria interessante perguntar a Kataguiri por que não gritou, raivoso, aos manifestantes pró-impeachment que “não existe almoço grátis” quando estes tiveram o direito de usufruir do “passe livre” ao final de sua manifestações, sem que tomassem bombas e tiros. Talvez não o tenha feito para não se indispor com uma base que, nas próximas eleições, possivelmente verá nos membros do MBL uma boa possibilidade de voto por meio das dezenas de filiações em diversos partidos da direita que o grupo vem impulsionando...

 
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