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LUTA DE CLASSES NA AMÉRICA LATINA
Paralisação nacional na Colômbia contra a Reforma Tributária de Duque
Marie Castañeda
Estudante de Ciências Sociais na UFRN

Hoje aconteceu uma forte paralisação nacional na Colômbia contra a nova reforma tributária do reacionário presidente Duque e o desastre econômico, sanitário, social e perseguição aos ativistas. Duque busca precarizar ainda mais a vida da população, aplicando novos tributos às rendas dos trabalhadores e retirando isenções a alimentos, enquanto a pobreza chega a 38,7%durante o 3º pico da pandemia, transformando o país vizinho no 3º em número de mortes em todo o mundo. A fúria da classe trabalhadora, da juventude e indígena se fez sentir nas ruas enfrentando a repressão.

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A situação da classe trabalhadora colombiana e dos setores populares, assim como dos povos indígenas, é escandalosa. Enquanto andam aos montes dentro de ônibus lotados para trabalhar, mais de 58% da população vulnerável vive em moradias com superlotação, buscando cotidianamente desviar da COVID-19 e da fome. Hoje sua ira se fez sentir em ações emblemáticas, como a derrubada da estátua do colonizador Sebastián de Belalcázar pelas mãos dos indígenas Misak.

A demagogia da burguesia e seu medo de um novo 21 de novembro de 2019, faz com que sua mídia e seus representantes políticos, como a prefeita de Bogotá, Claudia López, ataquem veementemente as manifestações, esta deu declaração afirmando que as manifestações neste momento da pandemia são um atentado à vida. A resposta foi contundente: uma jornada marcada pela paralisação das atividades de petroleiros, caminhoneiros, professores, trabalhadores rurais, operários da mineração, jovens estudantes, etc.

Atentado à vida é a situação miserável na qual se encontra o sistema sanitário colombiano e também da capital, enquanto atacam ainda mais o poder de compra dos baixíssimos salários e 48,7% da população vive na informalidade, se expondo ao covid ameaçada pela fome, ganhando seu pão dia após dia. O ódio aos trabalhadores é tamanho, que o Ministro da Fazenda Carrasquilla chegou a afirmar que a população não teria do que reclamar, já que uma dúzia de ovos está disponível por 1.800 pesos colombianos, o que causou ainda mais raiva e o devido deboche, já que a dúzia de ovos está por 12 mil pesos colombianos.

A burguesia colombiana evidentemente não quer arriscar um outro 21 de novembro de 2019, quando a onda da luta de classes que percorria a América Latina teve um momento de maior tensão na Colômbia em uma paralisação nacional, com manifestações e greves massivas, nem voltar a setembro do ano passado, onde a terrível perseguição militar e para-militar a ativistas foi respondida com manifestações massivas inspiradas pelo movimento Vidas Negras Importam nos Estados Unidos. A gota d’água para fazer explodir a mobilização que promoveu a destruição de 54 dos 130 Comandos de Atenção Imediata, subdelegacias que aterrorizam as periferias e povoados, 17 destes foram incinerados, junto com muitos carros policiais, foi a terrível execução policial do taxista Javier Ordoñez.

A Colômbia é o país mais perigoso para ser ativista ambiental, com assassinatos sistemáticos de líderes sociais e massacres indígenas. Desde a assinatura do Acordo de Paz de 2016, não cessou o terror e a intimidação, já foram assassinados mais de mil dirigentes sociais e defensores dos direitos humanos, 226 ex guerrilheiros que pertenciam às FARC e haviam aceitado a conciliação. A cada 72 horas um indígena é assassinado na região do Cauca, onde o que reina são os paramilitares e o tráfico. Entre 1984 e 2010, 3000 sindicalistas foram assassinados, contribuindo para a baixíssima sindicalização, com um controle populacional pelo governo de direita ou de extrema-direita baseado em uma repressão feroz.

O aumento exponencial da pobreza, o assassinato de ativistas, massacres inéditos, a aprovação do uso do glifosatos e os altos gastos militares já gestavam uma fúria na população, a Reforma Tributária veio como elemento que não poderia deixar passar. Contra o direito de se manifestar e a favor da exposição desnecessária à pandemia, a justiça colombiana também deu seu parecer, determinando a suspensão das manifestações a partir do Tribunal Administrativo de Cundinamarca, mas não foram capazes de barrar as mobilizações.

A extrema direita e a direita se dividem sobre como implementar os ataques contidos na Reforma Tributária, buscando conter o que sucede nas ruas, com o presidente Ivan Duque (Centro Democrático) buscando mediar a situação com o Partido do Cambio Radical, que está na presidência do Senado.

A Reforma Tributária vem chamada de Lei de Solidariedade Sustentável, aumenta as taxas em produtos e serviços e aumenta a porcentagem de contribuintes, incluindo três milhões de trabalhadores a mais entre os taxados que por hora estavam isentos. Impõe uma taxação de 19% nos serviços públicos de energia, esgoto e gás, assim como elimina as isenções que existiam sob alimentos básicos, uma junção de ataques certeiros à serviço de pagar as dívidas imperialistas, como por exemplo o crédito flexível solicitado ao Fundo Monetário Internacional no mês passado, em 11 bilhões de dólares. Estes ataques se somam à reforma trabalhista sancionada no ano passado, do decreto 1174. Sua serventia à burguesia imperialista é explicitada de diferentes formas, como por exemplo no empréstimo garantido à empresa aeronáutica Avianca Holdings, de 370 milhões de dólares vindos do Fundo de Mitigação de Emergências, enquanto faltam leitos de UTI em todo o país.

A submissão ao imperialismo estadounidense se dá em diversos marcos que asfixiam a população, tanto em matéria econômica, geopolítica, quanto militar, já que se mantém na ofensiva contra Nicolás Maduro, quanto garante a permanência de uma unidade militar de elite dos Estados Unidos no seu território.

A isso se combina a contínua subida autoritária do governo de Duque, com crimes contra ambientalistas, líderes sindicais e camponeses, cometidos sob a tutela do seu governo e empregando tanto forças legais, como ilegais. A polícia nacional colombiana é estruturalmente vinculada ao Ministério da Defesa e já foi denunciada diversas vezes pelos subornos associados ao narcotráfico.

Neste cenário, as novas gerações de trabalhadores e estudantes sabem que não devem nada a este sistema miserável e a este governo autoritário e se impôs o chamado à paralisação nacional que ocorreu hoje, com as centrais sindicais CUT, CTC e CGT convocando, assim como entidades estudantis, de aposentados, movimento camponês e indígena.

A Prof Drª Angela Facundo, coordenadora do Departamento de Antropologia e do PPGA-UFRN, declarou ao Esquerda Diário:
“Quem acompanha os acontecimentos políticos na Colômbia sabe da profunda crise política, social e econômica que vive o país. Assistimos com espanto ao assassinato quase diário de lideranças sociais, à prática da letalidade policial e do exército, voltada especialmente contra jovens negros e pobres, ao aumento impressionante do número de massacres de camponeses e indígenas e ao seu deslocamento forçado, ao incremento da violência associada ao gênero ou à sexualidade em todos os territórios, à retomada da pulverização aérea com glifosato; e isso só por mencionar alguns dos fatos mais gritantes da realidade nacional. Nesse cenário, duramente piorado pela pandemia de Covid-19, o governo Duque apresentou sua terceira reforma tributária. Usando o eufemismo de “Projeto de lei de solidariedade” pretende resolver o déficit fiscal aumentando o imposto sobre as vendas I.V.A., diminuindo o valor dos ingressos que são taxados com imposto de renda, diminuindo o repasse para os estados e regiões e aumentando os impostos de empresas de pequeno e médio porte. O projeto isenta as grandes fortunas, os bancos e os mega investimentos. Numa economia de guerra, marcada pela corrupção e pelo descaramento com que a classe política se concede benefícios econômicos enquanto diminui o investimento social, as poucas promessas de subsídios e benefícios para os produtores são recebidas com desconfiança e receio. Se opondo a mais um golpe contra à vida e a dignidade, as organizações indígenas, afro-colombianas, estudantis, sindicais, populares, feministas, camponesas e sociais convocam uma greve geral por tempo indeterminado que começa no dia 28 de abril. Pela vida, pela dignidade, pelo território, pela soberania.”

Nós da Rede Internacional de Diários La Izquierda Diario declaramos toda nossa solidariedade aos trabalhadores e ativistas colombianos que hoje se enfrentam nas ruas com o governo de Iván Duque. Os colombianos não estão sozinhos, no Chile hoje os portuários venceram o ataque de Sebastián Piñera e ontem empregados e desempregados marcharam em bloco unitário na capital argentina, e na Patagônia Rebelde trabalhadoras da saúde seguem fechando rodovias impondo perdas milionárias aos magnatas do petróleo. No Brasil, operárias metalúrgicas terceirizadas e diretas da LG se manifestaram na principal avenida de São Paulo como expressão dos pequenos focos de luta que acontecem no país. Enquanto Biden e o Partido Democrata fazem demagogia verde e encarceram crianças latino-americanas e caribenhas e buscam avançar na submissão da América Latina, os exemplos de luta e organização dados pelos trabalhadores nos quais demonstram que são estes os que movem o mundo a partir das suas localizações estratégicas são fundamentais para preparar as batalhas e a construção de partidos revolucionários em cada país que possam batalhar pela auto-organização democrática da classe trabalhadora, pela hegemonia daqueles que nada possuem além da sua força de trabalho. Por isso, contra cada miséria imposta e como parte de prometermos que cada bala atirada vai voltar, como canta o rapper chileno Zonyko, convidamos todos os nossos leitores a assistirem o lançamento do Manifesto "O Desastre Capitalista e a Luta por uma Internacional da Revolução Socialista" neste sábado as 18:30, pelo canal de youtube do Esquerda Diário.

1º de Maio: Ato de apresentação do Manifesto por uma Internacional da Revolução Socialista

 
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