Neste domingo, 04 de abril, ocorreu uma reunião do Conselho Político Nacional do Novo Partido Anticapitalista francês, na qual ocorreu, entre outras, uma discussão sobre a situação e uma primeira troca sobre a política do NPA para as eleições presidenciais de 2022. Com o agravamento da crise de saúde levando a um novo adiamento do congresso do partido, que, portanto, não poderá ocorrer até o verão, a discussão em torno da política do NPA para as eleições presidenciais torna-se uma questão central. De fato, essa questão e as posições das diferentes correntes e sensibilidades do partido que se exprimiram antes e durante a reunião jogam luz sobre os debates de fundo sobre o projeto político e o partido que queremos construir.
Neste sentido, os militantes do NPA – Revolução Permanente propomos a pré-candidatura de Anasse Kazib, metroviário, militante do NPA e protagonista de algumas das principais mobilizações dos últimos anos, como a luta contra a reforma ferroviária de 2018, a greve contra a reforma da previdência e novamente nas mobilizações antirracistas. Se o NPA decidir sobre sua presença nas eleições presidenciais e sua candidatura até o verão, uma candidatura de Anasse permitirá, para nós, incarnar a radicalidade mostrada por setores de nossa classe e da juventude em todas as mobilizações dos últimos anos, assim como a ambição de construir um partido revolucionário dos trabalhadores à altura dos ataques em curso e futuros.
Compartilhamos a contribuição dos membros do NPA - Revolução Permanente eleitos para o CPN aos debates deste fim de semana:
Contribuição acerca da política eleitoral e suas consequências para o futuro do NPA
Optamos por centrar a nossa contribuição nos prazos eleitorais que serão discutidos na reunião deste fim de semana e que, a seu modo, concentram boa parte dos problemas e debates que hoje atravessam o partido.
A situação sanitária nos impõe um novo adiamento do Congresso do NPA, o que tem por consequência retardar qualquer possibilidade de superação da gravíssima crise que atravessa o partido, e põe um problema particular com relação à questão da participação do NPA nas eleições presidenciais do ano que vem. Várias eleições mal sucedidas e em um contexto de enfraquecimento das forças militantes do partido, a não presença do NPA pode ter como consequência sua marginalização total, ou mesmo no desaparecimento político de uma das duas principais organizações de extrema esquerda na França.
O panorama catastrófico da participação do NPA nas eleições regionais
O NPA não se encontra em boas condições para firmar um acordo interno que permita reunir o partido ao redor de uma campanha eleitoral comum, principalmente sem um debate realmente democrático. Basta olhar para o panorama catastrófico da participação do NPA nas eleições regionais, que precedem e estão conectadas às presidenciais: o NPA não se apresentará com identidade própria em nenhuma região, enquanto chapas conjuntas com La France Insoumise [partido burguês da centro esquerda reformista, encabeçado pelo ex candidato presidencial Jean-Luc Mélenchon, NdT] são montadas (na Nouvelle-Aquitaine e talvez também na Occitanie) sem qualquer discussão democrática interna nas instâncias de direções eleitas da organização, passando, inclusive, por cima da vontade da maioria dos militantes das regiões [1].
Não é insignificante que esta política tome forma precisamente nas duas regiões nas quais a cisão do partido, que uma fração da direção pretende implantar, já ocorreu [2]. É porque essa política, de multiplicar as chapas conjuntas com a LFI, desviando a tática de frente única para tentar legitimar frentes políticas com bases cada vez mais reformistas, leva diretamente à liquidação do NPA enquanto organização anticapitalista independente.
E as presidenciais?
É esta mesma política que se anuncia para as eleições presidenciais, com o risco de levar a uma cisão sem congresso da organização. Os camaradas do “Reagrupamento 3 e 4 de Outubro” [3] dizem que as presidenciais serão um teste de nossa capacidade de nos manter em um partido unificado. Isso, entretanto, não passa de fraseologia. A política que estão propondo não pode de forma alguma unir a organização e, pelo contrário, inevitavelmente levará a uma cisão: exigem que não possamos nem mesmo discutir um candidato que não venha de sua corrente, e, acima de tudo, propões uma orientação de abertura à esquerda reformista (que exclui imediatamente na prática qualquer política para a LO [O Lutte Ouvrière (LO) é um partido trotskista de tradição na França e que, junto ao NPA, compõe a extrema esquerda do espectro político francês, NdT]) e um perfil “unitário”, isto é, uma continuidade com a política desenvolvida para as eleições regionais nas duas regiões mencionadas acima. Não é de estranhar, então, que enquanto o debate sobre uma candidatura do NPA está apenas começando, certos membros do “Reagrupamento” já falem em seus textos da possibilidade de retirá-la em algum momento, em benefício de uma chapa “unitária”.
Esta política não é majoritária na organização, e o risco desse ultimatismo é explodir o NPA, o que em nada ajudará a conseguir apoio e arrisca impor como única possibilidade puxar voto em outro partido ( em Mélenchon [do La France Insoumise, NdT] ou Arthaud [do Lutte Ouvrière, NdT] dependendo das afinidades de cada um). É difícil pensar que neste contexto – e dado o fenómeno de voto útil que inevitavelmente ocorrerá na esquerda – os camaradas que hoje já participam de chapas onde a LFI é a força dominante estarão menos sujeitos à pressão unitária que pesará sobre toda a esquerda às vésperas da eleição presidencial.
Outra política é possível
Existe, contudo, uma outra política possível, a de buscar encarnar não a unidade de uma certa esquerda dita “radical”, mas, ao contrário a verdadeira radicalidade que emergiu da intensa luta de classes que atravessa o país desde 2016. O imaginário “revolucionário” que emergiu com o movimento dos Coletes Amarelos, a nova geração militante que foi forjada nos combates diversos e que se interpenetraram: as greves, as mobilizações feministas, o movimento antirracista e contra a violência policial, o movimento pelo clima.
A escolha desse perfil implicara, claro, na elaboração de elementos de programa que aportem respostas radicais e transicionais para o conjunto destas questões. Necessitará, igualmente, ima política inclusiva de todas as sensibilidades e correntes do NPA, o que implicará, por sua vez, buscar de forma objetiva o melhor candidato para encarnar um perfil deste tipo, independentemente da sensibilidade à qual pertença.
É neste sentido que colocamos em discussão no partido a pré-candidatura de Anasse Kazib, metroviário, membro do CPN e figura da linha de frente de algumas das principais mobilizações dos últimos anos. A candidatura de Anasse tem várias vantagens:
• Será representativa de uma nova geração de militantes operários combativos, que vimos emergir desde 2016. Deste ponto de vista, e embora seja militante do partido, esta candidatura teria de facto um perfil de “candidatura do movimento social”.
• Anasse não é um desconhecido, é, pelo contrário, reconhecido e apreciado nos meios mais diversos e conhecido por uma fração “de massas” graças a suas intervenções midiáticas, o que torna mais fácil e ele se impor em um debate político.
• O camarada é, também, com essa experiência acumulada, habituado aos debates televisivos e às polêmicas com políticos de direita, o que constitui evidentemente um aporte para ser candidato.
• Trata-se, ainda, de um camarada que concentra em sua pessoa uma forte e subversiva mensagem, no que se trata não apenas de um jovem trabalhador, mas também de um descendente de imigrantes do Maghreb, investido nas mobilizações antirracistas e anti-islamofóbicas dos últimos anos, o que responde de forma potente à onda iniciada pelo movimento Black Lives Matter e à aspiração de múltiplos jovens de bairros populares de sentirem-se representados.
Longe de ser uma candidatura testemunhal, a candidatura de Anasse poderia ser uma alavanca para fomentar os esclerosados debates internos do NPA com a única força viva que pode salvá-lo em um sentido revolucionário: as conquistas e os atores da luta de classes dos últimos anos. Poderia assim constituir o ponto de partida para a construção de um Partido Revolucionário de Trabalhadores [4] capaz de atrair para suas fileiras as centenas de trabalhadores e jovens que se politizaram e radicalizaram no curso dos últimos anos e de tentar estar à altura dos desafios que o período que se abre, um período de crise profunda do capitalismo e de inevitáveis explosões sociais, para o qual a construção de uma ferramenta revolucionária, que não seja marginal, e ao mesmo tempo independente da esquerda institucional, será decisiva.
O fato de, apesar da crise do NPA, tenham se somado diversas lideranças operárias (na RATP, na Total, na indústria agroalimentar), especialmente a partir da luta contra a Reforma da Previdência, mostra que há espaço real para uma política deste tipo e para tentar recompor, injetando esse "sangue novo", uma esquerda revolucionária plantada na classe e à altura dos acontecimentos.
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