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MILICIAS BOLSONARISTAS
Bolsonaro busca apoio nas reacionárias tropas policiais para enfrentar política dos governadores
Ítalo Gimenes
Mestre em Ciências Sociais e militante da Faísca na UFRN
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No começo da última semana, um PM de Salvador foi morto após um aparente surto em que começou a atirar para o alto no Farol da Barra, próximo a uma área residencial, por outros agentes da PM baiana. Com o rosto pintado de verde e amarelo, gritava palavras de ordem sobre a “honra” da corporação.

Bolsonaristas como as deputadas Bia Kicis (PSL-DF), Carla Zambelli (PSL-SP), e até o filho Eduardo Bolsonaro viram a oportunidade para tentar trazer à superfície a base de apoio do presidente nas reacionárias forças policiais e movê-las a um motim contra as medidas de isolamento social parcial e toque de recolher dos governadores, atacando o petista Rui Costa.

A intenção de Bolsonaro era criar um pretexto que justificasse algum tipo de intervenção na Bahia ou que pudesse se alastrar para outros estados, enquanto pressionava o STF para que autorizasse a implementação do estado de sítio ou defeso contra as medidas de isolamento social.

Mas o tiro saiu pela culatra. A morte do surto do cabo Wesley Goés não levou ao motim que ele esperava. Foi expressão da dificuldade de Bolsonaro de fazer a PM se rebelar não apenas por questões corporativas, salariais, como teve relativo sucesso no Ceará em 2020, mas para guerrear contra seus adversários políticos. Não está claro se há rechaço suficiente entre os policiais contra as medidas de isolamento que Bolsonaro pudesse canalizar politicamente.

Depois disso, Bolsonaro demitiu o general Fernando Azevedo do Ministério da Defesa para tentar colocar no seu lugar um representante das Forças Armadas mais favorável a envolver as tropas do Exército para intervir nos estados contra o isolamento. Mas a saída de Azevedo resultou na saída de todos os três comandantes das três forças armadas, e a passagem do comando do Exército para alguém publicamente favorável às medidas de isolamento social, o general Paulo Sérgio.

Como desenvolvemos nesse artigo, esse movimento foi uma jogada agressiva de Bolsonaro que, encurralado pela pressão do Centrão, da alta cúpula militar, junto aos governadores, que obrigaram a moderar sua política negacionista para a pandemia, levou a disputa para o terreno de forças militares, se apoiando nos setores bolsonaristas das baixas patentes da polícia e do exército. Foi uma semana após a pressão por parte de um setor empresarial que, preocupados que o aumento da rejeição do governo pudesse resultar em maior descontrole social, como visto recentemente no Paraguai, contra a sua condução genocida da pandemia, e que levou a que esses setores do regime atuassem no sentido de disciplinarem a sua política da pandemia.

Bolsonaro demonstra que não vai ficar passivo diante da necessidade de ceder posições, olhou para os seus sólidos 25% de base de apoio, composta por esses setores das PMs, e tentou um contra-jogo. O presidente ainda conta também com uma série de deputados estaduais, sobretudo nos estados do Nordeste, que vão fazer política para que suas tropas se convençam de entrar nessa disputa contra as medidas de fechamento.

É o caso não só do Capitão Wagner (PROS-CE), que no Ceará foi cabeça chave do motim policial de fevereiro de 2020, que mostrou a tentativa de Bolsonaro ativar tropas paramilitares contra governos de oposição. Mas também, no mesmo estado, do deputado Cabo Sabino (Avante), do Soldado Noélio (PROS), que se colocam abertamente contra o isolamento social. Na Paraíba também o deputado Cabo Gilberto Silva (PSL), em 2020 levou a PM a realizar uma “greve branca” contra o governador João Azevedo (Cidadania), acusando-o de ter desrespeitado um acordo de reajuste salarial. Em Pernambuco o presidente da Associação de Cabos e Soldado (ACS), expulso da PM em 2017, afirma que há “revolta nos quartéis” contra as medidas restritivas. E na Bahia, deputados estaduais Soldado Prisco (PSC) e Capitão Alden (PSL) foram repercutiram os discursos dos deputados federais bolsonaristas acerca da morte do soldado Goés. Também no Espírito Santo, governado pelo Renato Casagrande (PSB), estado palco de um terrível motim policial em 2017, há ainda o deputado estadual Capitão Assunção (Patriota) falando que as medidas de isolamento social jogam os policiais “contra os trabalhadores”.

Se terão condições de convencer camadas mais amplas de policiais de se insubordinarem com os seus comandantes e, por essa via, os governos estaduais e suas medidas de isolamento social, será um teste de forças. É de se esperar ainda que Bolsonaro possa encontrar resistências nas cúpulas das PMs locais, que podem ver sua autoridade ameaçada nesse tipo de empreitada.

Outra tentativa nesse sentido é o projeto reacionário do deputado federal Victor Hugo (PSL-GO), de altera o Sistema Nacional de Mobilização, mecanismo de exceção na constituição herdeiro da ditadura, para permitir que o presidente possa decretar medidas como estado de sítio e derrubar as medidas de isolamento dos governos estaduais. A medida ainda passa ao presidente o comando sob as polícias militares estaduais. Contudo a medida encontra resistência inclusive entre parlamentares da própria bancada da bala, sinal de que há interesses dentro das corporações policiais com os quais Bolsonaro terá de lidar.

Uma política que se enfrente com Bolsonaro, os militares e todos os atores do regime do golpe, só será efetiva se for capaz questionar a raiz os fundamentos dessa instituição reacionária e miliciana que é a polícia no Brasil. O exemplo da revolta anti-racista nos EUA, o Black Lives Matter, que passou a defender desfinanciamento e até a abolição da polícia, mostra que é possível e necessário dar um fim a todas as polícias, pois são os cães de guarda dos interesses da burguesia e de sua propriedade. É uma incubadora de elementos reacionários funcionais à manutenção da herança escravista da exploração do trabalho, garantida sob base do massacre racista nas periferias e prisões. Ou seja, estão a serviço de interesses opostos aos da classe trabalhadora e suas organizações, e nesse sentido dizer que são parte da classe trabalhadora, como fazem setores do PSOL, PSOL e nem falar o PT, está na contramão da única estratégia que pode derrotar a extrema-direita e os golpistas, a da auto-organização dos trabalhadores contra o Estado e o conjunto das suas instituições.

 
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