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Gritaram-me negra!
Odete Assis
Mestranda em Literatura Brasileira na UFMG
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Gritaram-me negra
Tinha sete anos apenas,
apenas sete anos,
Que sete anos!
Não chegava nem a cinco!
De repente umas vozes na rua
me gritaram Negra!
Negra! Negra! Negra! Negra! Negra! Negra! Negra!
“Por acaso sou negra?” – me disse
SIM!

Mas foi num sussurro escondido pelo mito da democracia racial. A menina que cresceu sendo chamada de moreninha, a adolescente que tentava buscar a origem dos cabelos crespos, do tom de pele, do porque nos livros de história não falavam sobre pessoas como o seu avô.

Para a classe dominante: parda. 

Porque tentaram apagar minha história, impedir que eu me reconhecesse na luta do meu povo. Queriam me afastar da potência dos quilombos, das revoltas negras que atravessaram as cidades desse país.

O máximo que aceitaram era incorporar alguns elementos da nossa cultura, pra dizer que o racismo não existia.

Mas todos os dias eu sentia, eu via. Na criança assassinada pela bala da polícia, na empregada doméstica explorada pelos patrões, no salário 40, 60% menor.

Então foi quando eu descobri que a história da humanidade é a história da luta de classes, quando eu acompanhei a greve dos garis que sacudiu o Rio e o país em pleno carnaval. 

Quando eu li nas páginas de um livro que a precarização tem rosto de mulher e me emocionei com os depoimentos daquelas trabalhadoras terceirizadas, muitas que estavam ao meu lado todos os dias, mas ao invés de ser nos bancos das salas de aulas, elas apenas limpavam o chão, proibidas de falar com os estudantes. Eu reconheci nelas a história da minha mãe, da minha tia, da minha avó.

Foi assim, enquanto eu descobria o marxismo revolucionário. Descobria que a classe que tudo produz é a que tudo pode transformar, que eu também me reconheci como negra. 

Que esse grito, virou meu grito de guerra. E que para lutar contra o racismo, eu também preciso lutar contra esse sistema capitalista que usa da nossa cor para nos dividir. Contra essa extrema direita abjeta, contra esses golpistas que querem retirar todos os nossos direitos.

Não tem perdão! Não é mágoa, é ódio de classe e isso nunca vai ser possível conciliar. Por Marielle, por Cláudia, por Evaldo. Pela juventude cujo futuro é pedalar por horas para levar o alimento para casa, pelas 300 mil vidas perdidas. Esperar não é uma opção. É preciso lutar agora.

Mas para isso, era necessário estratégia. Estratégia que encontrei nos escritos de Trótski e dos revolucionários que fundaram a Quarta Internacional. Que tão sensivelmente expressavam a força da luta negra e a batalha para que nessa poderosa organização internacional dos trabalhadores, os negros estivessem na linha de frente da luta contra o capitalismo e o racismo. 

Hoje quem grita negra sou eu!

Como um grito de guerra para reafirmar a minha cor, a minha identidade, a minha história. Negra, trotskista e revolucionária.

E convido a todos a conhecerem muitas outras potentes histórias, a fazerem grandes debates, a se fortalecer com mais uma ferramenta de combate com o livro Mulheres Negras e Marxismo.

 
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