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COLUNA
Uma juventude como a da Rosa Luxemburgo
Vitória Camargo
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No próximo 5 de Março, na sexta-feira, Rosa Luxemburgo fará 150 anos. Estaremos há 150 anos do nascimento da nossa águia da revolução, da maior das dirigentes revolucionárias mulheres, daquela que, junto a Lenin e Trotski, conquistou seu posto entre os grandes marxistas do século XX com polêmicas agudas, força inabalável e imensa vontade revolucionária. Agora, há cerca de um ano de isolamento da juventude universitária na pandemia, falaremos aqui de sua juventude.

Longe de alçá-la a ícone de museu, a atualidade dos combates de Rosa certamente deve inspirar as jovens gerações que se defrontam todos os dias com a irracionalidade capitalista atroz nesta crise. Particularmente, escrevo esta coluna com ódio acumulado, muito provavelmente compartilhado, ódio que dá nó na garganta e embrulha o estômago. Ódio que move contra cenas como as vítimas de Covid sendo tratadas debaixo d’água no Acre, sendo amarrados a macas por falta de sedativos no Amazonas, e escrevo com ódio porque soube há pouco que, em Campinas, uma menina, Ana - pouco mais nova que a idade de Rosa quando se decidiu pelo socialismo -, uma estudante de 13 anos, teve sua vida ceifada pelo retorno inseguro das escolas, vítima do desprezo dos governos capitalistas.

O ódio atroz, se não encontra estratégia, se não é capaz de conspirar, prever, solucionar grandes questões, oferecer um fim pelo qual combater, pode rapidamente se transformar em desmoralização. Quando usamos a expressão de Trotski, que diz que a juventude é “caixa de ressonância” da luta de classes, capaz de ecoar, aprofundar ou abrir caminho a conflitos mais profundos, muitas vezes vem submersa a essa definição o sentido apaixonado, conspirativo e “rebelde” próprio dessa fase da vida. O potencial subversivo da juventude que já se provou inúmeras vezes na história é o extremo oposto da desmoralização que por vezes abate gerações mais velhas que acumulam derrotas.

A Rosa não fugiu a isso. Desde cedo, foi enormemente “indisciplinada” (aos olhos do regime escolar), como muitos sabem, deixando de ganhar medalha de mérito acadêmico por isso, apesar de ser a melhor aluna. Evidentemente, a Rosa não aceitava figuras de autoridade por si mesmas, como se por serem reconhecidas tivessem de ser aplaudidas às custas até mesmo do marxismo - vide o próprio Bernstein, intelectual reconhecido de seu partido, quando este decidiu defender o reformismo (utopia reacionária), e ela era uma jovem enfrentando-o. A Rosa costumava “espezinhar” seu professor em sala de aula, fazendo perguntas que ele não conseguiria responder, e ela mesma responderia, com a mais fina dialética e precisão.

Porque o fugaz, o enfrentado, o “rebelde” da juventude da Rosa tinha enorme profundidade. Nunca foi sinônimo de “sem causa”, vazio de conteúdo, de estratégia. Frolich, em sua biografia, diz sobre os tempos de Rosa e seus amigos em Zurique: “Esses jovens emigrados trabalhavam incansavelmente em suas disciplinas universitárias, mas pensavam menos em seu porvir pessoal do que no porvir da humanidade. (...) Discutiam incansavelmente sobre filosofia, sobre darwinismo, sobre a emancipação da mulher, sobre Marx, sobre Tolstoi, debatiam sobre a sorte dos Obstchina, os restos do comunismo agrário russo, sobre as perspectivas e a significação histórica do desenvolvimento capitalista na Rússia, (...) sobre mil “questões” e sempre sobre um só tema: a revolução”.

Afinal, se tentassem tirar a conclusão de que se pode ser comunista sem ter assimilado os conhecimentos acumulados pela humanidade, cometeriam um enorme erro, como dizia Lenin à Juventude Comunista. E tudo isso, essa paixão por explicar a mecânica e os rumos da sociedade burguesa internacionalmente (internacionalistas, sempre), como a própria Economia Política que Rosa chegou a ensinar em escola de quadros da Socialdemocracia, esse gosto pela mais fina arte, pela literatura, pela música, pela botânica, pelo som dos pássaros e pelos grandes debates, permeados por prognósticos, polêmicas e, sobretudo, gana revolucionária, eram parte da fibra de uma geração que frequentemente retornava às prisões, que carregava a dureza do combate, a seriedade de seus esforços como projeto de vida dedicado a um projeto muito maior do que qualquer ascensão individual, munida de armas teóricas e ideológicas das mais candentes de seu tempo.

Há um ano de pandemia, a juventude que simpatiza com o comunismo, que tem sede de Marx, não pode se inspirar em nada menos do que o espírito de Rosa e seus amigos, reunidos, com sede de tudo, e sede somente da revolução. Aos stalinistas, cujo dogmatismo persecutório e contrarrevolucionário significou o oposto dessa juventude, tirem suas garras de Rosa.

Apesar de não podermos sentar nos bancos da faculdade para “conspirar” contra o regime golpista, a contradição é que a pandemia aprofunda essa necessidade. Podemos e precisamos dar vazão ao ódio, pensando estratégia, política e os grandes debates, e à beleza da vida, da arte e da cultura que os capitalistas querem nos roubar, aprofundando nossas aspirações. Não fragmentemos, atomizados, o subversivo da juventude. Assim apostamos e nos preparamos para a luta de classes, nosso farol.

 
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