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As mães da ocupação do terreno da USP: o 8 de Março será de quais mulheres?
Redação

“A minha filha não mora comigo, meu filho mora com meu ex-marido, meus filhos tão todos espalhados. Eu queria juntar a minha família”, aponta uma mãe da ocupação. Todos os anos, a reitoria da USP com seu escritório “USP Mulheres” faz homenagens vazias ao 8M em suas redes, enquanto na prática permitem que centenas de demissões de terceirizadas da universidade ocorram e ainda ameaçam de reintegração de posse o terreno da USP que foi ocupado por centenas mães sem moradia.

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Logo entraremos em março e dia 8 celebraremos mais um Dia Internacional das Mulheres. Mais um dia em que relembramos todos os anos de opressão, feminicídio e misoginia que o capitalismo tenta nos fazer acreditar que ele mesmo superou. O 8 de março nasceu como uma data de luta das trabalhadoras e deve ser lembrado desta forma, e não ser usado de forma demagógica por aqueles que nos oprimem. Todos os anos, a reitoria da USP com seu escritório “USP Mulheres” faz homenagens vazias ao 8M em suas redes, enquanto na prática permitem que centenas de demissões de terceirizadas da universidade ocorram em meio à pandemia e ainda ameaçam de reintegração de posse o terreno da USP que foi ocupado por centenas mães sem moradia.

A ocupação do Buracanã, terreno da USP na favela São Remo, que foi abandonado há mais de 30 anos e que deveria ter sido usado para moradias populares, continua por mais uma semana. E quem são as famílias que ocupam esse terreno? São mães negras, algumas chefes de família e solteiras, mas todas trabalhadoras. São mulheres que, até mesmo antes da pandemia, têm que lidar com o salário mínimo insuficiente e, quando não lidam com o desespero do desemprego, lidam com jornadas de trabalho extensas junto ao cuidado de seus filhos e famílias.

E as mães que ocupam o terreno da USP precisam lidar com a ameaça de repressão da polícia enquanto pedem por moradia digna. Uma moradora, mãe negra de 7 filhos, relata o descaso do governo de São Paulo e da reitoria da USP que, enquanto suas famílias sofrem, se preparam para seus discursos cínicos que celebram as mulheres: “nós pra eles não passa de bandido, ladrão. Mães e pais de família, que todos vocês que tão aqui com a mão na massa vê que a gente é de origem humilde. Se eu entrar hoje pra passar dentro do hospital eles me tarjam como uma pessoa de alta periculosidade. Enquanto todo mundo aqui dessa comunidade, a São Remo, fundou essa universidade, a maior universidade da América Latina”.

Em tempos de pandemia, a situação das mães da favela da São Remo é ainda mais incerta, ameaçadas constantemente pelo desemprego e ainda pelo medo de se infectar. O auxílio emergencial que foi instituído em 2020 já era insuficiente para que elas pudessem sobreviver, mas hoje até mesmo a incerteza do auxílio paira sobre as trabalhadoras. E o que resta às mulheres que fundaram essa universidade é o abandono do Estado, é uma luta constante contra a incapacidade do regime de garantir os direitos mais básicos, luta contra o desemprego, luta para conseguirem trabalhar ao mesmo tempo que cuidam de seus filhos. As mulheres da São Remo são trabalhadoras, que trabalham duas vezes mais para manter um sistema que se beneficia da sua opressão e que nada tem a oferecer a não ser as tristezas e as preocupações de se amanhã terão de ocupar outro terreno para que possam sobreviver.

A ocupação do terreno da USP é consequência dos ataques constantes do governo Dória e de Bolsonaro e as demissões em massa que não impediram. As demissões da USP e as lutas contra demissões dentro da própria universidade é expressão da agenda do Estado de cada vez mais exploração, e exploração em particular das mulheres trabalhadoras. Foram as terceirizadas da Odonto que lutaram contra as suas demissões e foram as funcionárias da saúde do HU que foram linha de frente na luta contra a pandemia e na reivindicação de vacinas para todos os funcionários do hospital. E hoje são as trabalhadoras que estão ocupando esse terreno da USP que lutam por um teto e, mais que isso, por uma vida digna. Por empregos que satisfaçam as necessidades de suas famílias, por um salário mínimo que seja suficiente, por jornadas que sejam realistas e por sonhos que possam ser realizados.

Essa mãe ainda relata: “A minha filha não mora comigo, meu filho mora com meu ex-marido, meus filhos tão todos espalhados. Eu queria juntar a minha família”. A comunidade da São Remo pede um suspiro, por dignidade e uma vida que seja boa de ser vivida. “O Estado não consegue garantir moradia digna e ainda acabou com o meu estudo, porque eu faço EJA a noite, minha faculdade de psicologia aplicada que eu quero fazer, professores ótimos que eu tenho, pessoas excelentíssimas, mas sem suporte”. Será que é reservado às mulheres da São Remo e a todas as trabalhadoras apenas a exploração? Apenas a incerteza do amanhã, sonhos não realizados e uma vida que se resume a horas e mais horas de trabalho?

As mães da São Remo dizem que não! O 8 de Março será das mulheres da São Remo, das trabalhadoras paulistanas e das trabalhadoras brasileiras. O nosso 8 de março luta pelo fim do sistema que nos oprime, luta por moradia digna, por igualdade salarial entre homens e mulheres, pela efetivação de todas as terceirizadas, por empregos para todas as trabalhadoras e trabalhadores, por creches para todas as demandas.

Negamos os discursos que Dória, Bolsonaro e a USP trazem no dia das mulheres para abafar as consequências devastadoras do capitalismo misógino e fingir uma melhoria, suas palavras não nos servem. Lutamos contra o seu regime golpista bonapartista, por uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana que contemple todas as trabalhadoras e pelo fim desse regime que só oferece incertezas. O nosso 8 de março será de esperança e pertencerá às mulheres trabalhadoras.

 
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