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Greve da Educação em São Paulo
Greve: Unificar trabalhadores da educação para barrar reabertura insegura das escolas em SP
Nossa Classe - Educação

No último dia 10 os trabalhadores da educação do município de São Paulo entraram em greve contra a reabertura das escolas para o ensino presencial sem condições sanitárias efetivas. Para nossa greve crescer e poder ser vitoriosa, derrotar o governo e assegurar um retorno seguro preservando as vidas da categoria e da população, precisamos mobilizar trabalhadores das escolas e a comunidade escolar; além de nos unificar com os professores estaduais de São Paulo e batalhar por democracia de base em nossos sindicatos.

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Foto: divulgação

O prefeito Bruno Covas, pupilo de João Doria (ambos do PSDB), vem impondo o retorno das aulas na rede municipal em formato híbrido, presencial e remoto, para o dia 15 de fevereiro. Após meses de pandemia - que segue descontrolada por responsabilidade dos governos, o cenário que estudantes e trabalhadores da educação encontrarão nas escolas do município de São Paulo no próximo dia 15 são escolas ainda sem condições sanitárias. Se as condições antes da pandemia não eram as melhores, já que a educação vem passando por inúmeros ataques governamentais, durante a pandemia os problemas das escolas públicas municipais saltam aos olhos.

Covas teve praticamente um ano para realizar reformas estruturais nas escolas e adequá-las para a reabertura. Porém, nem chegou perto de atender todas as unidades escolares, muito pelo contrário. A rede municipal se encontra numa situação caótica que começa com um quadro reduzido de trabalhadoras da limpeza, sendo em média de duas ou três trabalhadoras terceirizadas por escola - o que já era insuficiente em “tempos normais” e é praticamente impraticável num contexto de pandemia, pois torna humanamente impossível a realização dos protocolos de limpeza e higienização exigidos pela própria SME. Após denúncias de trabalhadoras da educação a própria prefeitura teve que assumir que cerca de 530 creches e escolas municipais não serão reabertas no dia 15 já que simplesmente não há equipe de limpeza nessas unidades.

Veja aqui: Às vésperas da reabertura Covas demitiu centenas de trabalhadoras e encerrou o contrato com a empresa terceirizada dessas escolas

Além de que protocolo sanitário vigente foi elaborado para escolas de “faz de conta”, que só existem na cabeça dos funcionários de gabinete que os criaram, que nunca pisaram em um chão de escola e pouco conhecem sobre o comportamento das crianças e adolescentes, além do contexto da rede municipal; sendo falho em muitos pontos, além de partir de uma superexploração do trabalho das trabalhadoras da limpeza.

Esse inseguro retorno acontece em meio a uma segunda onda de contaminação da Covid 19 no país, cuja responsabilidade pelo total descontrole da pandemia é partilhada pelos diferentes entes do governo. Na esfera federal o trabalho realizado para conter a transmissão do Coronavírus foi praticamente nulo, com seu discurso negacionista, Bolsonaro foi e é um dos responsáveis pela morte de milhares de brasileiros e fez com que o país voltasse a ter a triste marca de uma média de 1.000 óbitos por dia, como em meados do ano passado, no pico da primeira onda. Em São Paulo mais de 200 famílias choram a morte de seus entes queridos a cada dia. Portanto, João Dória não é uma alternativa ao discurso negacionista de Bolsonaro como vem se apresentando para o público. Realizou a mesma política nefasta descarregando a crise nas costas dos trabalhadores. Suas primeiras ações quando fechou as escolas foi realizar sistemáticas demissões do quadro de funcionários terceirizados. Enquanto falsamente antagonizava com Bolsonaro posando como defensor da vida no combate a pandemia, não somente demitiu trabalhadoras, como privou milhões de alunos de acesso à merenda. Ainda, aplaudiu todas as medidas de retiradas de direitos trabalhistas que Bolsonaro, apoiado pelo parlamento e avalizado pelo judiciário, implementou que facilitaram demissões, suspenção de contratos e redução de salários. Ou seja, estamos falando da participação dos três poderes desse regime que é fruto do golpe autuando para salvar os lucros dos patrões às custas das nossas vidas.

No próprio combate à pandemia, Doria e Covas, assim como Bolsonaro, privaram a população do acesso a testes massivos, essenciais para realizar uma quarentena racional, tão pouco deram condições reais para que os trabalhadores que não fossem dos serviços essenciais ao combate à pandemia pudessem ficar em suas casas cuidando de seus filhos. Como é o caso dos milhares de nossos colegas de trabalho que foram obrigados a seguir nas escolas – quando a estrutura física das escolas não estava cumprindo um papel social mais relevante – expondo a si e seus familiares à contaminação e infelizmente perdendo suas vidas. A realidade é que os próprios trabalhadores da saúde sofreram com a falta de EPIs adequados.

Praticamente passado um ano do início da pandemia o quadro que temos é novamente dos sistemas de saúde do país próximos do colapso, quando não asfixiados como a situação terrível em que Manaus e o estado do Amazonas iniciou o ano. Bolsonaro corta o auxílio emergencial num momento de desemprego recorde e alta dos preços. Enquanto isso Doria agora faz demagogia utilizando a vacina, mas não garante vacinas nem para os trabalhadores da linha de frente da saúde, tão pouco para os idosos ou pessoas com comorbidades, a população mais vulnerável diante do COVID-19.

É nesse contexto que Covas e seu secretário de educação, Fernando Padula, estão impondo a reabertura inseguras das escolas. Fato que a categoria reconhece que significará aumento de contaminações e mortes em toda a comunidade escolar. Por isso a greve dos trabalhadores da educação é uma denúncia e um enfrentamento contra todo esse cenário caótico, cuja responsabilidade é dos governos totalmente submetidos aos interesses dos patrões. Nesse sentido, se trata de uma greve em defesa da vida e que o professorado entende a legitimidade. Porém, pesa muito para a categoria o reconhecimento de que os alunos e suas famílias sofrem por estarem privados de condições dignas de vida, sofrendo pelo desemprego, a fome e a violência policial, além da pandemia. Não à toa vemos o aumento da evasão escolar, onde muitos alunos estão tendo que trabalhar, na sua maioria em cima de bicicletas, para trazer renda para suas famílias. Sem contar o drama de muitos que não conseguiram acessar minimamente o ensino remoto, pois Covas jamais garantiu esse acesso. Agora vivem o dilema entre ficar com seus filhos em casa ou sair para trabalhar ou procurar emprego. Quadro agravado pelo fim do auxílio-emergencial.

Não bastasse a ausência de segurança sanitária das escolas, o ensino híbrido propagandeado por Covas e seu secretário de educação Fernando Padula é outra falácia. Durante a propaganda eleitoral, Covas anunciou que as escolas seriam equipadas com dispositivos de transmissão simultânea das aulas presenciais para os alunos em suas casas. O que por si só pode significar um grande ataque à educação por representar um avanço da perspectiva do EaD para tempos pós pandemia; além de controle sobre o trabalho docente. Mas mesmo isso é apenas propaganda. Os equipamentos que chegaram nas escolas, sequer foram instalados. Mas se implementado - precariamente com certeza pois sabemos que não se pode esperar nada desse governo inimigo da educação pública - o ensino híbrido na prática vai significar para os professores um aumento da carga de trabalho, pois terão que se desdobrar para atender os alunos presencialmente e manter paralelamente o ensino remoto; sem contar todas as tarefas burocráticas já impostas como o preenchimento do diário digital (SGP) - um sistema ineficiente que como todos sabem é mais um calvário na vida dos professores. Nós professores sabemos muito bem que o ensino remoto não supre o papel do ensino presencial, por isso batalhamos que os alunos possam retornar sim para as escolas, porém com segurança sanitária, porém enquanto isso não é realidade precisamos que os alunos e professores tenham condições para o ensino remoto, à começar pela distribuição dos tablets para população que só foram citados durante a campanha de Bruno Covas, como parte de sua propaganda eleitoral.

Entretanto, sabemos que não é um retorno inseguro que irá resolver ou amenizar esses problemas. Na verdade, a consciência dessa realidade coloca os professores em uma posição de também lutar em defesa das vidas dos alunos e suas famílias, batalhando pelo direito a uma renda para todos trabalhadores que os permitam ficar em casa e cuidar de seus filhos - garantindo a todos o direito ao isolamento social; além do acesso a testes massivos; e de um plano científico de vacinação universal definido e controlado pelos trabalhadores da saúde; além de acesso pleno ao ensino remoto, o que implica em distribuição de dispositivos de acesso e internet, ainda que saibamos que o ensino remoto não substitui o ensino presencial.

Unificar com os professores estaduais em luta é tarefa fundamental da nossa greve

Sabemos que lutar por tudo isso demanda uma verdadeira unidade com os demais trabalhadores não apenas das nossas escolas, unificando efetivos, contratados e terceirizados (exigindo sua imediata efetivação; mas também de outras categorias, como os trabalhadores da saúde, que mostram força para lutar. Como por exemplo no Hospital Universitário da USP, onde efetivos, contratados e terceirizados dão exemplo de luta pela vacinação de todo o quadro do hospital. A comunidade escolar, junto com os trabalhadores da saúde, pode realmente decidir quando e como as escolas poderão ser reabertas já que são eles que realmente conhecem a realidade de cada bairro e cada escola.

Veja aqui: Paralisação de trabalhadores do hospital da USP conquista 800 doses de vacina. É preciso garantir a vacinação das terceirizadas!

Portanto, nesse momento em que as escolas em diferentes redes, inclusive as particulares, estão sendo reabertas e explodem os casos de contaminação, é nossa tarefa número um batalharmos por nos unificar com todas as professoras e professores estaduais de São Paulo que também estão batalhando contra o retorno inseguro das escolas. Uma unificação como essa pode ser base para unificar com trabalhadores da rede particular de ensino e num segundo momento com trabalhadores de diferentes categorias no país. Conscientes de que nossa luta não se limita aos problemas enfrentados na educação, mas pelo conjunto dos trabalhadores, dos quais fazem parte os familiares de nossos alunos.

Veja aqui: Os desafios da greve dos professores de SP contra a imposição do retorno inseguro

Apenas com uma perspectiva de unidade entre os trabalhadores, com independência de classe, será possível realmente fazer frente a Bolsonaro e Mourão, Doria, Covas e o conjunto desse regime podre do golpe. E conquistar, por exemplo, junto com os trabalhadores da saúde, a quebra das patentes das vacinas, condição sem a qual não há perspectiva em curto prazo para termos vacinadas não apenas as professoras e professores como todo o conjunto da população.

Lutar por democracia em nosso sindicato e construir um polo antiburocrático das oposições

Para nossa greve avançar e ter condições de alcançar seus objetivos, ela precisa superar as contradições da forma como foi construída pelas direções sindicais. Isso passa por denunciar o papel que cumprem essas direções no município que é de apartar a própria categoria das decisões dos rumos de nossa greve. Que como temos clareza é legitima, porém que sequer pôde ser votada pela categoria em assembleia, sendo na verdade convocada pelas cúpulas das direções dos diferentes sindicatos no município (SEDIN, SINDSEP, APROFEM, SINESP e SINPEEM). É emblemático como o maior sindicato da categoria, sob a batuta ilegítima de Claudio Fonseca e atual direção, não apenas realizaram eleições fraudulentas no último período, num momento em que a categoria chorava seus mortos, como justamente esteve à frente do SINPEEM para pavimentar o caminho dos ataques de Bruno Covas à educação e seus trabalhadores no último ano, em especial com a Lei 17.437/20 (PL 452/20). Cláudio Fonseca e sua direção estão à frente de forma ilegítima do SINPEEN, tendo tomado posse depois de um processo eleitoral onde 90% da categoria se absteve e literalmente fecharam as portas do sindicato na cara da categoria. Não realizaram nenhuma reunião de REs ou assembleia desde o início da pandemia. Ou seja, impediram que a categoria pudesse contar com a estrutura do sindicato para enfrentar os ataques.

Claudio Fonseca, à época da aprovação do PL 450/20, enquanto vereador pelo Cidadania que é base de apoio do PSDB de Bruno Covas na câmara, chegou inclusive a votar favoravelmente ao ataque em reunião da comissão de constituição e justiça. Portanto também é responsável, ao lado de Covas, pelas mazelas que toda nossa categoria enfrenta agora e ainda teve a pachorra de chamar de fascistas professores em greve que exigiam uma assembleia da categoria para tomar os rumos dessa mobilização nas mãos.

Para a categoria ter em suas mãos os rumos da sua própria luta e garantias de poder lutar sem medo de pagar suas contas e se alimentar frente as ameaças e efetivação de corte de ponto, precisamos, junto com denunciar o papel traidor de burocratas como Cláudio Fonseca, exigir que se realizem verdadeiras assembleias ainda que nesse momento de forma remota, mas com representantes eleitos em cada escola, junto com comandos de greve em cada região; e que tenhamos um fundo de greve.

Fazemos um chamado urgente às organizações e coletivos da esquerda e da oposição, a constituir um polo antiburocrático com independência de classe, que coloque como tarefa combater a burocracia, batalhando pela unificação e coordenação das lutas da educação, em conjunto com a comunidade escolar, bem como pela mais ampla democracia no sindicato.

Mesmo com a traição e abandono das direções sindicais burocráticas, que acompanham a linha das Centrais com CUT e CTB, que hoje paralisam os sindicatos fazendo uma grande frente com os partidos (PT e PCdoB)que hoje se aliam com o centrão e até com Bolsonaro no Congresso. nossa categoria já mostrou a força que tem. Protagonizamos greves imensas e vitoriosas. Estivemos nas ruas, nas portas de nossas escolas, mobilizando nossos bairros um sem número de vezes. Contra o Sampaprev, enfrentamos os governos de Haddad e Doria com milhares de trabalhadores da educação nas ruas. No ano passado, contra os planos de reabertura de Covas e Bruno Caetano vimos que escolas de todo o município se organizaram, escreveram cartas para a comunidade e elegeram representantes para participar das lives com o secretário de educação e denunciar seu plano assassino de reabertura insegura das escolas. Exemplos vitoriosos de auto-organização que podemos nos inspirar nesse momento de luta que vivemos.

Amanhã, segunda (15), retornam às aulas presenciais em nossas escolas e agora precisamos nos mobilizar e debater com cada trabalhador das escolas, ampliar as trocas com a comunidade escolar, buscando dialogar com as famílias, mostrar a realidade das escolas, contrapondo-se às mentiras propagadas pelos governos e a mídia burguesa, batalhar para organizar ações, reuniões e assembleias com a comunidade, sempre com medidas de segurança, e quando não for possível presencialmente, de forma virtual - tudo em torno do fortalecimento de nossa luta por condições sanitárias para o retorno presencial.

Apenas assim é possível derrotar os planos do PSDB, barrando o retorno inseguro e assegurando a vida da população, sem contrapor essa prioridade com o direito à educação dos filhos da nossa classe.

 
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