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O papel das escolas e dos professores na pandemia, no RJ
Luiz Henrique
Professor da rede estadual em Resende, RJ

A disputa entre Dória e Bolsonaro pela vacina, e a distribuição desorganizada e demagógica da poucas doses disponíveis, servem para tentar mascarar que de fato não há nenhum planejamento para enfrentar o coronavírus e que sequer haverão vacinas disponíveis para a imunização da população. Não podemos esperar pela boa vontade daqueles que querem descarregar a crise em nossas costas, é preciso lutar por um plano emergencial de enfrentamento a pandemia agora e tanto as escolas, quanto os professores, podem ter um papel importante.

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Estima-se que as quase 13 milhões de vacinas disponíveis hoje no Brasil, seriam suficientes sequer para atender pouco mais 40% do chamado grupo prioritário (trabalhadores da saúde, pessoas de 75 anos ou mais, pessoas com mais de 60 anos que estejam em casas de repouso ou clínicas geriátricas, população indígena e povos e comunidades ribeirinhas). Para agravar a situação, a capacidade de produção de vacinas no Instituto Butantã chegaria no máximo a 1 milhão por dia, e na Fiocruz a 700 mil por dia, ambas dependendo de matéria prima importada da China, que hoje se encontra retida, claramente uma represália da burocracia de Pequim aos ataques xenofóbicos da família Bolsonaro e de seus ministros, em especial o das relações exteriores, Ernesto Araújo. Ou seja, mesmo em condições favoráveis, os Institutos levariam mais de um ano para produzir vacinas suficientes para todos os 210 milhões de habitantes do país, levando em conta inclusive os problemas com a distribuição das doses. Em outras palavras não há vacinas suficientes para a população.

Este fato, somado ao colapso da saúde, que em Manaus as cenas das pessoas morrendo por asfixia nas UTIs ganhou mais visibilidade, mas que de fato ocorreram também em outros municípios da região norte, produziu o maior desgaste na imagem de Bolsonaro desde o começo de seu governo, com sua aprovação despencando de 37% para 26% em apenas uma semana. Foi uma queda grande o suficiente para faze-lo entrar na corrida pela vacina, levando-o inclusive a cair no ridículo de negar seus discursos contra a coronavac. No entanto, mesmo que seja para fazer demagogia, ele chega tarde na disputa pela vacina e amargará um preço político por isso, já que com a derrota de Trump o Brasil encontra-se numa situação de relativo isolamento internacional, pelo menos em relação aos consórcios feitos para combater a pandemia. No marco de que não há um planejamento do governo para enfrentar minimamente o covid, e que mesmo durante a pandemia a política de sucateamento do SUS avançou (com o Rio de Janeiro sendo o estado mais afetado), a tendência é que se abram crises maiores em 2021, que podem levar tanto a mais ataques, como também a uma expressão maior da revolta contra esse governo. O que este cenário mostra é que não haverá tmuita estabilidade no Brasil este ano, e por isso mesmo é importante que estejamos organizados e preparados para as lutas que certamente virão.

A mídia e alguns setores da burguesia, e até da esquerda, atribuem esse caos a uma “incompetência” de Bolsonaro e de seu ministro-general, Pazuelo, mas na verdade essa crise é muito mais profunda do que isto, é resultado da própria organização do capitalismo brasileiro, que não se importa em sacrificar a vida de centenas de milhares de trabalhadores para manter o lucro dos empresários. Neste sentido é uma ilusão muito grande alimentar nos trabalhadores a ideia de que um burguês do cacife de Dória seria um aliado “tático” da esquerda na luta contra Bolsonaro. Na verdade João Dória uma engranagem fundamental no regime do golpe, promovendo vários ataques aos trabalhadores durante a pandemia, inclusive impondo o retorno as aulas.

O papel dos professores e das escolas neste contexto

A partir daí, é preciso debater que as escolas podem ter um papel importante, seja pela possibilidade de congregar trabalhadores de diferentes categorias nas comunidades escolares, seja pela possibilidade de funcionarem como centros comunitários a partir do qual ações de combate ao COVID podem ser tomadas. Para além de uma pedagogia reducionista programática, o papel social da escola e da educação deve ser resgatado neste momento, inclusive para combater o seu esvaziamento simbólico que vem sendo construído ao longo de muitos anos de políticas neoliberais. Ao contrário do que dizem muitos “especialistas” da educação privatista, o problema da Educação na pandemia é que além de não estarem aprendendo os conteúdos curriculares, os estudantes ainda estão à mercê da irracionalidade capitalista, que lhes tira qualquer planejamento e clareza do que ocorrerá com sua trajetória escolar, impedindo inclusive que eles façam a conexão entre o que estudam na escola e a crise social que estão vivenciando.

Por isso, é fundamental neste momento que os esforços dos professores estejam concentrados em agregar as comunidades escolares através das formas possíveis e dentro da realidade local, para estabelecer um plano de como reorganizar a vida escolar, exigir imunização universal e estabelecer um diálogo que possibilite a denúncia de todo o caos imposto na pandemia pelos governos, e também fortalecer os laços de solidariedade interna que aprofundarão vínculos importantes para as lutas que virão, bem como o fortalecimento da noção de que os trabalhadores organizados podem fornecer soluções mais eficazes a crise sanitária do que os políticos demagogos do regime do golpe institucional. Para que esta proposta se efetive, é fundamental que as direções sindicais que elas cumpram o seu papel, que é o de organizar estas campanhas em cada escola, transformando estas lutas localizadas em processos maiores, possibilitando inclusive a articulação entre diferentes categorias.

Os professores podem cumprir um papel importante, se elevam suas vozes contra os absurdos que vem ocorrendo na Educação em meio à pandemia. O desastre do Enem é um exemplo disso. Os educadores de todo o país deveriam ter se unido para denunciar que os estudantes sejam obrigados a se aglomerar após praticamente um ano inteiro de escolas fechadas e uma demagógica e fracassada tentativa de ensino a distância em todos os estados. Tivemos um alto percentual de exclusão dos estudantes mais pobres, sem acesso a dispositivo digitais ou internet, onde milhares de estudantes passaram a trabalhar para ajudar as famílias, que viram o orçamento cair e a inflação dos produtos básicos de consumo aumentarem em 2020, é um simplesmente um elemento de revolta muito grande na população para ser ignorado pelos professores. É simplesmente escandaloso que o ministro da educação de Bolsonaro, Milton Ribeiro, tenha afirmado “que foi um sucesso”, quando na verdade metade dos estudantes sequer puderam participar da prova no primeiro dia. Desde o primeiro momento os professores deveriam ter se colocado contra a realização da prova, dando visibilidade a este ataque aos estudantes em uma campanha generalizada em cada escola e local de trabalho.

No entanto, os grupos que dirigem o SEPE RJ, em sua maioria correntes do PSOL como US, Resistência e os rachas da antiga Insurgência, bem como os demais partidos PT, PC do B, PSTU e PCB, insistiram em uma linha de defender unicamente pautas imediatas a partir de uma tática de “pressão institucional”, parlamentar e judicial, como aliás ficou muito claro na audiência do dia 21/1 com o secretário de educação de Cláudio Castro, o empresário Comte Bittencourt. Não se trata aqui de deslegitimar a atuação do sindicato por darem importância para as pautas imediatas ainda que nenhuma ação efetiva tenha sido encaminhada para garanti-las, mas sim de que estas direções, ao não construírem ativamente campanhas politicas a partir das pautas da classe (e não apenas da categoria), esvaziam o sindicato de sentido mais político, contribuindo inclusive para alimentar a passividade da categoria. Desta forma abrem mão de organizar campanhas com outros setores, como estudantes e trabalhadores da própria comunidade escolar, diante de uma imensa crise social e sanitária, para construir uma confiança em atores menores do regime, representantes da burguesia e na justiça cada vez mais autoritária.

Para além de reclamar nas redes sociais da “passividade” da categoria, para a qual a própria direção sindical também colabora, incluindo aí muitos que se reivindicam anarquistas, autonomistas ou independentes, seria mais produtivo concentrar no diálogo com outros setores que estão sentindo na pele os efeitos mais diretos da política de Bolsonaro e se levantando em indignação ao governo Bolsonaro, como por exemplo a demissão dos trabalhadores da FORD, as mobilizações dos entregadores, domésticas, toda a luta dos trabalhadores da saúde que estão na linha de frente do combate a pandemia e ainda assim continuam sofrendo duros ataques do governo, tanto na questão salarial quanto na insalubridade das condições de trabalho. Estas são bandeiras políticas que os professores podem e devem tomar para si, construindo uma verdadeira alternativa, com independência de classe e que poderia realmente incendiar o espírito de setores significativos da classe trabalhadora.

Uma saída para a Educação se liga a uma saída para a crise nacional

É fundamental que os setores mais conscientes dos professores ultrapassem as barreiras das categorias (barreiras que só interessam a burguesia e as burocracias sindicais) e tomem para si a demanda dos trabalhadores em toda parte. Somente desta forma pode ser forjada uma unidade na classe trabalhadora que seja capaz de colocar, de forma consequente e não utópica, um programa real de ruptura com este sistema que está aí. Um programa que conecte as demandas imediatas dos trabalhadores com as lutas maiores contra os capitalistas, exigindo, por exemplo, condições à imunização universal da população, um SUS 100% estatal e sob controle dos trabalhadores, formação de comitês científicos com trabalhadores da linha de frente da saúde para administração dos laboratórios da universidades para que estes produzam insumos e tecnologias que ajudem efetivamente no combate ao COVID, quebra de patentes de medicamentos dos conglomerados farmacêuticos. Além disso, é preciso combater os ataques com a proibição das demissões durante o tempo que durar a pandemia e auxílio emergencial no valor no valor da média salarial anterior a pandemia, que era de R$ 2.400,00, reconversão de indústrias, como a Ford, para a produção de leitos e equipamentos para a rede de saúde pública, e uma Petrobras 100% estatal e sob controle dos trabalhadores para financiar saúde e educação de qualidade para a população.

Para isso além do Sepe, a CUT e a CTB devem sair da sua paralisia e organizar a frente-única dos trabalhadores para enfrentar todos os ajustes e ataques como as reformas neoliberais do golpismo e desfazendo as privatizações autorizadas pelo STF, e colocado um plano contra as demissões da Ford. Além disso, não se pode ignorar que um impeachment hoje levaria ao poder Mourão, que não é menos reacionário que Bolsonaro. É preciso canalizar a raiva contra o governo para uma saída de fundo, que mude as regras do jogo, com uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana.

Estes seriam pontos de um programa verdadeiramente consequente de enfrentamento a crise provocada pela gestão burguesa da economia, que hoje é personificada no governo ultrarreacionário de Bolsonaro com os militares, de combate não só aos trabalhadores, mas também a todas as minorias. Mas que amanhã pode ser personificado também por outro agente da burguesia, como o Dória, por exemplo. Estes seriam pontos de um programa verdadeiramente consequente de enfrentamento a crise provocada pela gestão burguesa da economia, que hoje é personificada no governo ultrarreacionário de Bolsonaro com os militares, de combate não só aos trabalhadores, mas também a todas as minorias. Mas que amanhã pode ser personificado também por outro agente da burguesia, como o Dória, por exemplo.

 
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