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ELEIÇÕES NA CÂMARA
Criticando Haddad, Folha busca disciplinar PT para frente ampla de centro-direita com Maia
Fernando Pardal

Haddad pediu demissão como colunista da Folha, em resposta a editorial do jornal que taxa PT de sectário ao disputar a condução de uma frente ampla anti-bolsonarista em 2022. Frente às disputas por um campo de conciliação de classes, a esquerda deve rechaçar as diferentes variantes do regime golpista e lutar por uma alternativa independente dos trabalhadores.

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Foto: Marlene Bergamo

O jornal da família Frias, um dos principais da burguesia nacional, em seu editorial criticou o PT ao defender “uma aliança de centro-direita” em torno de Rodrigo Maia e Baleia Rossi para derrotar o candidato de Bolsonaro (Arthur Lira – PP) à presidência da Câmara. Para o jornal, o PT conceder um “apoio tácito” a Lira seria uma prova da “miopia política” do PT.

É cada vez mais presente nos debates da política institucional a ambição da criação de uma frente ampla anti-bolsonarista nas eleições de 2022, e nas eleições de 2020 se viram os primeiros ensaios de peso para isso, como na chamada “frente democrática” de capitaneada por Boulos e o PSOL em São Paulo, que pela primeira vez colocou o PSOL à frente de uma grande coligação com partidos burgueses como REDE, PDT e PSB, bem como os partidos de conciliação que por mais de uma década estiveram no governo conduzindo os negócios da burguesia brasileira, o PT e o PCdoB.

A disputa de forças em torno desse projeto tem continuidade agora nas eleições às presidências do Congresso, principalmente na eleição da Câmara e com a frente de centro-direita encabeçada por Rodrigo Maia, a qual o PT já declarou seu apoio e que até mesmo a líder do PSOL na casa, a deputada Sâmia Bonfim (MES/PSOL) defendeu apoiar sob o argumento de combater o “perigo real” do candidato de Bolsonaro, o deputado Arthur Lira.

Aproveitando a oportunidade, a Folha de S. Paulo, principal jornal da burguesia nacional, decidiu encostar o PT na parede em seu editorial, no qual se apoia em Ciro Gomes para taxar o PT como “sectário” e afirmar que Fernando Haddad lança o nome de Lula como candidato a 2022 procurando repetir o que ocorreu em 2020 e se postular como substituto do ex-presidente diante da arbitrária proibição de sua candidatura protagonizada pelo autoritarismo judiciário do STF. O editorial apareceu após uma polêmica entre a colunista do Estadão Eliane Catanhede, que defendeu a manutenção da condenação arbitrária de Lula, e Haddad, que rebateu a jornalista.

Após a divulgação do editorial da Folha em que Haddad é qualificado como o “poste” de Lula, o petista, por sua vez, respondeu pedindo demissão do cargo de colunista do jornal e afirmando que a Folha “demonstra pouca compreensão com gestos de aproximação e sacrifica as bases de urbanidade que o pluralismo exige”. As tais “bases de urbanidade” de Haddad já ficavam claras durante as eleições em 2018, em que o petista se esforçava para costurar um pacto com a direita golpista que estava por trás da remoção de Dilma do cargo e da prisão arbitrária de Lula para o impedir de se candidatar. Ali se mostrava, mais uma entre tantas vezes, que a conciliação com golpistas e burgueses está na essência do PT, que por isso não pode jamais ser considerado como uma alternativa política para os trabalhadores e os que buscam combater tanto a extrema-direita bolsonarista como o regime político que é fruto do golpe institucional.

Quando a direita golpista dá um passo decidido para se colocar à cabeça da frente ampla anti-bolsonarista, disciplinando não apenas o PT, mas inclusive importantes setores do PSOL a se subordinar a seu comando na Câmara, a Folha aproveita o espaço para tentar ampliar a subordinação petista se valendo do discurso de Ciro Gomes contra o partido.

O movimento que vemos hoje no Brasil se apoia também no debate internacional que desponta após as eleições presidenciais nos EUA e, em particular, após a invasão do Capitólio por um bando de apoiadores de Trump. Não à toa, o próprio editorial da Folha recorda, como um argumento a mais para exaltar o “sectarismo petista”, a crítica feita por Gleisi Hoffmann ao presidente eleito do Parttido Democrata, Joe Biden. Nos EUA, após o poderoso movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam) incendiar o país, o Partido Democrata – um poderoso partido imperialista que apoiou o golpe no Brasil e com um histórico racista incontornável – procura domesticar a luta de classes e canalizar esta pela via institucional.

Se Bolsonaro segue como praticamente o único defensor explícito de Trump no mundo, grande parte da burguesia nacional busca imitar o Partido Democrata para tentar subordinar e disciplinar a esquerda e os movimentos sociais brasileiros por detrás de uma frente ampla eleitoral anti-bolsonarista. E o PT, como partido que não apenas ainda detém peso político institucional importante, mas também dirige a maior central sindical do país, tem um papel a cumprir nesse projeto de domesticação da revolta dos trabalhadores que a Folha, como porta-voz de sua classe, quer exigir que seja seguido.

Haddad, após as eleições presidenciais marcadas pelo golpe decidiu aceitar o convite para ser colunista de um jornal que foi apoiador entusiasta do golpe de 2016 e, de maneira um pouco mais sutil, de Bolsonaro no segundo turno de 2018, de olho na “frente ampla” que não conseguiu reunir em torno de si naquelas eleições. Ele “intuía que o governo Bolsonaro traria graves consequências ao país, o que exigia da parte de todos uma disposição ainda maior ao diálogo”, segundo afirma em sua carta de despedida do jornal.

Mais uma vez, ao se valer da imagem que ainda desfruta entre as massas como a de um partido de esquerda que se originou das greves operárias do ABC, o PT presta um imenso desserviço aos trabalhadores e a todos os explorados e oprimidos ao ajudar a confundir o caminho que precisamos construir para derrotar o regime golpista e o bolsonarismo. E, ao abrir mão de qualquer independência política frente às forças golpistas, abriu o caminho para a crítica da Folha de que o problema estaria no “sectarismo” do PT.

Essa disputa – bem como o trágico alinhamento progressivo de importantes setores do PSOL não apenas ao petismo, mas agora até mesmo a frentes políticas com golpistas convictos como Rodrigo Maia e Baleia Rossi – acirra os obstáculos para a esquerda revolucionária, cujo propósito deve ser o de levantar uma alternativa de independência de classe, contra qualquer variante desse regime golpista e qualquer aliança com patrões e seus partidos, que se paute pela organização independente dos trabalhadores e pelos métodos da luta de classes. Que lute não apenas por uma posição política independente em 2022, mas que fundamentalmente trace como seu horizonte estratégico a construção de uma militância efetiva entre os trabalhadores, e em aliança com cada mobilização progressiva e democrática como as lutas das mulheres, negros e LGBTs, disputando nesses movimentos uma perspectiva revolucionária que possa responder a cada demanda sentida pelos explorados e oprimidos.

As frentes amplas com setores golpistas como Maia e a Folha não podem fazer mais do que enfraquecer cada luta desses setores, que partidos como o PT veem como um “empecilho” para construir as pontes com esses “aliados”. O velho argumento de que é necessário rebaixar qualquer tipo de programa para que sejam possíveis “gestos de aproximação”, como diz Haddad, é a base desses acordos, e é encoberto pelas acusações de “sectarismo” ao PT, que, como sabemos, nos anos em que esteve no governo fez de tudo para abafar as lutas sociais em nome da manutenção de suas alianças com a direita que esteve à frente do golpe, e da qual busca hoje a todo custo se reaproximar. Um exemplo concreto, que hoje recobra sua atualidade, foi a traição do PT aos trabalhadores quando foi fechada a fábrica da Ford em São Bernardo do Campo e a CUT, com peso histórico na fábrica e em toda a região, simplesmente abriu mão de organizar qualquer luta, qualquer resistência, meramente negociando as demissões com a patronal.

Essa direita de Baleia Rossi e Rodrigo Maia é a mesma direita que leva a frente projetos que nos atacam e que o próprio bolsonarismo não teria força para emplacar sem seu apoio, como a reforma da previdência e, agora, a administrativa. Tanto Lira quanto Rossi votaram 90% das propostas de Bolsonaro no Congresso, e o vice Hamilton Mourão já disse que o governo vai dialogar com quem quer que ganhe, pois depende deles para passar os novos ataques e reformas contra os trabalhadores na Câmara.

Quando o PSOL “condiciona” seu apoio a Baleia Rossi a compromissos contra esse tipo de ataque não faz mais do que criar ilusões de que seria possível qualquer tipo de acordo ou diálogo com esses partidos que são nossos inimigos irreconciliáveis, pois seu motivo de existência é defender os interesses dos capitalistas que nos impõe a miséria e barbáries sociais como as mais de 200 mil mortes em decorrência da pandemia, que poderiam ser drasticamente reduzidas se fossem os trabalhadores que governassem em nome dos interesses da grande maioria.

Se o PT utiliza seu imenso peso no movimento sindical e sua capacidade de contenção dos movimentos sociais a favor de negociar em melhores termos suas alianças institucionais, o papel da esquerda revolucionária é fazer o oposto, lutando por uma política eleitoral que expresse a independência de classe e que esteja a serviço não de subordinar as lutas sociais e dos trabalhadores, mas de fortalecer estas, que devem ser o eixo estratégico fundamental, pois são a única forma com que podemos derrotar não apenas o bolsonarismo, mas o regime do golpe que lhe deu origem.

 
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