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PIB
PIB cresce 7,7% no 3º tri, abaixo do esperado pelo mercado
Simón J. Neves

Crescimento é na comparação com o 2º trimestre, quando houve queda de 9,6%. A projeção de setores do mercado financeiro era de crescimento próximo dos 9%.

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(Eduardo Peret/Agência IBGE Notícias)

Na comparação com o terceiro trimestre de 2019, a queda foi de 3,9%. E quando se compara os 3 primeiros trimestres de 2020 com o mesmo período de 2019, a queda do PIB é de 5%. Os dados são das Contas Nacionais Trimestrais, divulgadas hoje (3/12) pelo IBGE.

Longe da recuperação esperada por setores do mercado, as expectativas para o quarto trimestre são ainda mais fracas, entre outras razões pelo impacto da diminuição no valor do auxílio-emergencial, e os prospectos para 2021 também não se mostram animadores, pois a retirada do auxílio-emergencial pode terminar tendo grande peso na economia.

Indústria e serviços puxam aumento

Ao contrário dos trimestres anteriores, quando a agropecuária havia atuado contra a queda do PIB, no terceiro trimestre este setor sofreu uma queda de 0,5%. Essa queda já era esperada pelo ciclo da safra da soja. A indústria de transformação, responsável por 11,8% do valor adicionado em 2019, e o comércio, responsável por 12,9% do valor adicionado no ano passado, cresceram 23,7% e 15,9%, respectivamente. De maneira coerente com isso, a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) teve um crescimento de 11% no trimestre, e o consumo das famílias cresceu 7,6%, além do aumento de 3,5% no consumo do governo, fruto dos gastos extras deste ano, e do estado de emergência que permite ao governo federal não seguir o teto de gastos.

O investimento, dessa maneira, chegou a 17,3% do PIB, contra 13,7% no mesmo trimestre de 2019. É importante levar em conta que a menor base de cálculo ajuda a inflar este número. A FBCF, principal componente do investimento, foi 7,8% menor do que no terceiro trimestre de 2019, e o consumo das famílias teve uma queda de 6%. A indústria caiu 0,9% e os serviços, que representaram 73,5% do valor adicionado total em 2019, caíram 4,8%. Nesta comparação, a agricultura volta a ser o fator positivo, com um crescimento de 0,4%. Entre os subsetores, destaca-se o crescimento do setor financeiro (6%).

Perspectivas para o futuro

A “recuperação” no terceiro trimestre já era esperada, frente à queda enorme do 2º trimestre, e dada a reabertura da economia e o próprio auxílio-emergencial. No entanto, terminou sendo consideravelmente abaixo do esperado pelo mercado, o que abala as expectativas de uma recuperação mais rápida, vendida por Paulo Guedes, que disse que o Brasil está vivendo uma recuperação em “V”.

O Índice de Confiança Empresarial (ICE), elaborado pelo Ibre/FGV, que agrega os índices de confiança da indústria, dos serviços, do comércio e da construção, sofreu a segunda queda mensal seguida em novembro, e uma queda maior do que a de outubro. O Índice de Expectativas (IE) também sofreu duas importantes quedas seguidas, numa demonstração de que nem mesmo o setor empresarial tem confiado no conto de fadas de Guedes da recuperação rápida.

Na desagregação por setor, vê-se que no setor de serviços, o de maior peso no PIB, repete-se o padrão de queda das expectativas empresariais, apesar do leve aumento na utilização da capacidade instalada em novembro. No entanto, em novembro, 49,2% das empresas de serviços, e 63% das que prestam serviços às famílias, citaram a falta de demanda como um fator importante para a não-expansão de negócios, em um impacto da diminuição de renda causada pela diminuição do auxílio-emergencial.

O Índice de Confiança do Comércio também sofreu duas grandes quedas seguidas em outubro e novembro. Na construção, queda em novembro após alta em outubro, e foi registrada uma queda na utilização da capacidade instalada em novembro na comparação com outubro. A exceção fica por conta do Índice de Confiança da Indústria, que teve duas altas seguidas nos últimos meses, ainda que a alta de novembro seja bastante menor que a de outubro. O nível de utilização da indústria manteve-se estável em novembro na comparação com outubro, e levemente superior a setembro.

Completando o quadro de expectativas, o Indicador de Incerteza da Economia (IIE-Br), também elaborado pelo Ibre/FGV, voltou a subir em novembro após seis quedas seguidas. Está em um nível bastante alto, indicando que há grande dificuldade em prever os próximos acontecimentos na economia nacional, fator que se liga a queda na confiança empresarial.

Inflação, auxílio-emergencial e a “volta” do fiscalismo

O último Boletim Focus prevê uma queda de 4,5% no PIB nacional para 2020, a quarta melhora seguida, e um crescimento de 3,45% do PIB em 2021. Mesmo que este cenário se concretize, a economia brasileira ao final de 2021 ainda estaria abaixo de seu nível ao final de 2019. Uma previsão recente da OCDE é menos otimista.

Segundo esta previsão, a queda em 2020 seria de 6%, seguida por um crescimento de 2,6% em 2021 e um retorno a níveis próximos aos pré-pandemia apenas no final de 2022.

Como já foi citado, o corte do valor do auxílio-emergencial teve um peso importante na renda no Brasil. Segundo a pesquisa Pnad-Covid, do IBGE, de outubro, a mais recente, o valor médio do auxílio recebido por domicílio caiu de R$ 902 em setembro para R$ 688 em outubro. Com isso, a renda média efetivamente recebida pelos domicílios também caiu, passando para R$ 1310. Neste mesmo mês, o rendimento médio dos trabalhos foi 6,4% menor que o habitual, o que resultou que a massa de rendimentos do trabalho fosse cerca de R$ 12,47 bilhões menor que o habitual.

Isso se soma ao aumento do desemprego, que chegou a 14,1% no mês, e o enorme contingente de trabalhadores que se encontram fora da força de trabalho para criar um cenário de recuperação mais difícil do consumo. Como se não bastasse, a inflação vem crescendo, e o governo Bolsonaro aplicou bandeira vermelha na conta de luz, o que só fará acelerar este processo. Com a bandeira vermelha, diversos setores do próprio mercado preveem que o IPCA deverá fechar 2020 acima de 4%, mas este número por si esconde a variação da inflação entre os diferentes setores. De acordo com uma Carta de Conjuntura de novembro do Ipea, a inflação para os alimentos deve fechar 2020 acima de 16%.

Em meio a esse cenário de queda da renda dos trabalhadores, chegam as notícias de que a dívida pública teria atingido 90,7% do PIB, ultrapassando o antigo “número mágico” do FMI. Foi o suficiente para que diversos setores da burguesia e do mercado financeiro voltassem a pressionar por uma política fiscalista mais radical, com a abolição do auxílio-emergencial em 2021 e que não haja nada em seu lugar, bem como pela aceleração da aprovação da agenda de reformas, como a reforma tributária. Após a “gastança” de 2020, a volta à austeridade e ao teto de gastos seriam fundamentais em 2021, mesmo que a pandemia e os problemas sociais e econômicos decorrentes dela não vão desaparecer no dia primeiro de janeiro.

Como foi feito ao longo de todo o ano de 2020, a burguesia busca descarregar os custos da pandemia e da crise econômica nas costas dos trabalhadores, cortando sua renda e seu poder de compra, para garantir o pagamento da fraudulenta dívida pública que serve para enriquecer os banqueiros.

 
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