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CRISE POLÍTICA
Protestos massivos na Guatemala contra o presidente Giammattei e o Congresso
La Izquierda Diario

Milhares de guatemaltecos se manifestaram nesse sábado em frente ao Palácio Nacional da Cultura, a sede do governo nacional no centro da capital, para expressar seu rechaço ao governo do presidente Alejandro Giammattei e ao Congresso da República.

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EFE/Esteban Biba

A Guatemala se agita. Mais de 10.000 pessoas foram ao Centro Histórico da capital do país, em frente à sede do Governo, onde fizeram sentir seu repúdio a Giammattei, após 10 meses de mandato, e à aprovação às escondidas do orçamento de 2021 essa semana, tudo para favorecer negócios sujos.

Os acontecimentos se dão no marco de um descontentamento generalizado contra o governo do partido de direita Vamos, com a crise econômica agudizada pela pandemia e com as consequências da devastação causada pelas tempestades dos furacões Eta e Iota. Há uma raiva que fermenta desde as camadas mais baixas de um povo que sai a protestar diante da situação indignante. Uns poucos se enchem de dinheiro enquanto outros sucumbem na miséria.

A manifestação foi impactante e um setor dela adentrou o edifício do Congresso, incendiando algumas partes do mesmo. De acordo com alguns meios de comunicação do país, os acontecimentos ocorreram em um primeiro momento sem a reação da Polícia Nacional Civil (PNC), certamente se sentindo acuada, mas que logo interviu com força, lançando gases lacrimogêneos para dispersar e reprimir o protesto.

Na Guatemala se abre um cenário complexo. A crise chegou a níveis que o próprio vice-presidente pediu ao presidente que renunciasse ao cargo e que se nomeasse uma junta de notáveis, até que o Congresso nomeasse sucessores, sendo que assumiram o governo em março. Existe uma inconformação do povo, desesperado por estar governado por máfias encasteladas nos três poderes do Estado, de forma que o espectro do Peru parece rondar a Guatemala.

De acordo com um editor do jornal El País, “a manifestação foi convocada contra o que na Guatemala se conhece como ‘O pacto de corruptos’, uma aliança entre políticos, um setor da iniciativa privada e as máfias do narcotráfico que estiveram no centro do poder nacional até a renúncia do presidente Otto Pérez Molina, em 2015, em meio a acusações de corrupção que precipitaram sua prisão. O pacto retomou o protagonismo esse sábado depois que o Congresso aprovou um orçamento que, além de não atender as necessidades da população, estava claramente destinado a satisfazer os interesses particulares das máfias no poder”.

A convocatória para a manifestação desse sábado foi lançada durante a semana por diversas organizações e coletivos, dezenas de entidades, incluindo artistas, que se somaram devido ao mal-estar generalizado da população com a aprovação, na quarta-feira, do orçamento de Estado para 2021.

Dito orçamento foi aprovado de madrugada pelo Congresso da Guatemala, de maneira obscura, e sem que o todo dos 160 deputados tivessem acesso ao documento. São orçamentos para recuperar negócios torpes, diminuindo a parcela destinada aos setores essenciais como educação, saúde, moradia e outras necessidades sociais.

Denúncias de diversos meios apontam os Conselhos Departamentais de Desenvolvimento (CDC), que são órgãos administrados por governadores e prefeitos, como o destino de uma porcentagem inusitada do orçamento. Dos quase $100 bilhões de quetzales do orçamento total (cerca de U$D 13 bilhões), os CDC têm destinados para si quase $4 bilhões, o dobro do assinalado nos anos anteriores. Muitos analistas consideram que foi a moeda de troca com os deputados distritais para a imediata aprovação do orçamento.

A repressão policial já deixou várias pessoas feridas, segundo o que se confirma até o momento. A maioria das palavras de ordem lançadas pelos manifestantes no centro da Cidade da Guatemala vão contra Giammattei e o presidente do Congresso, Allan Rodríguez, que pertence ao mesmo partido político que o presidente, o Vamos.

Setores importantes da juventude, sobretudo os estudantes, protestaram contra as medidas de austeridade e contra o que percebem como um governo corrupto que toma medidas pelas costas do povo. A Unidade Revolucionária Nacional Guatemala, um partido de centro-esquerda com representação parlamentar, emitiu um comunicado no último 20 de novembro (sexta-feira) em que chama suas bases e o povo guatemalo a protestar contra o orçamento de 2021. Afirmam que “com os três poderes do Estado infestados de corrupção e atrelados aos interesses de grupos de poder paralelo, não existe nenhuma possibilidade de justiça nem combate à corrupção ou impunidade, apenas o protesto e a resistência social, amparados pelo artigo 45 da constituição que os legitima.

O mandatário guatemalo reagiu, em tom de ameaça e enquanto acionava a polícia, através de uma mensagem em suas redes sociais, em que indicava que “se tem o direito de manifestação conforme a lei”, mas que “porém não podemos permitir que se vandalize a propriedade pública ou privada”. Indicando a repressão.

As instituições se encontram profundamente questionadas e o executivo cruzado por disputas internas. Em outras palavras, há uma crise de conjunto no regime, surgido sem grandes mudanças nos velhos acordos de paz, mas que manteve em essência todo o esquema repressivo, de pobreza extrema, precarização total, marginalização de povos maias originários, tudo da etapa que precedeu a situação convulsiva que se mantém.

Na sexta-feira à noite, após Giammattei elogiar novamente o orçamento, seu vice-presidente, Guillermo Castillo, afirmou em coletiva de imprensa que o país não está “bem” e pediu a Giammattei que renunciasse em bloco para “oxigenar” a nação centro-americana. Os desacordos entre o presidente e seu vice se tornaram maiores com o passar do tempo, desde que assumiram os cargos há 10 meses.

São amplas as diferenças entre Castillo e Giammattei há alguns meses, mas várias versos e o próprio vice apontam que um órgão estatal chamado Centro de Governo é o principal desencontro de ambos.

O Centro de Governo se converteu no eixo do Governo Giammattei, assim como seu diretor, Luis Miguel Martínez Morales, um engenheiro de 31 anos sem experiência como funcionário público, convertido em homem de confiança do presidente.

O diretor do Centro de Governo aparece constantemente em inaugurações estatais com Giammattei e também o acompanha em assuntos diplomáticos dentro da Guatemala, como na visita do presidente hondurenho, Juan Orlando Hernández, essa semana, no mesmo nível do chanceler, Pedro Brolo.

Martínez Morales, segundo o próprio governante, é um amigo “de muitos anos” e é de sua “absoluta confiança”. Ademais, o mandatário elogiou seu trabalho em diversas ocasiões.

Porém, o portal de investigação digital Plaza Pública publicou em setembro uma reportagem em que denunciava as ligações empresariais entre Giammattei e Martínez como sócios desde 2018 em uma empresa formada em 2015, da qual se desprendem outros integrantes dela nomeados em cargos no Estado, como o advogado Luis Alfredo Pineda Loarca, diretor do Registro de Propriedade.

A Guatemala se soma aos protestos transcorrem países como a Costa Rica na região da América Central, tudo no marco de uma situação cada vez mais convulsiva no continente, como vem se expressando em países como Chile, Colômbia, Peru, Equador, Argentina entre outros. Seguindo essa tendência, a América Central e o Caribe entrariam na dinâmica dessa nova situação latino-americana, onde os trabalhadores e os setores populares saem a dizer “basta!” em meio à pandemia, que a burguesia e os governos estão aproveitando para avançarem com seus ajustes.

 
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