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ELEIÇÕES SÃO PAULO
Quem são os partidos burgueses e golpistas da Frente Ampla de Boulos?
Fernando Pardal
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Nesta sexta-feira, 20, Guilherme Boulos e o PSOL lideraram o ato de lançamento de uma Frente Ampla junto a partidos burgueses como PSB, PDT e Rede, e partidos de conciliação de classes como o PT e o PCdoB, se comprometendo a fazer um governo em aliança com esses setores.

O ódio ao PSDB é um atributo necessário a todos os que querem derrotar o regime do golpe institucional. Covas ascendeu em sua carreira política no colo do BolsoDoria, e levou adiante a reforma da previdência municipal, nos moldes da reforma de Bolsonaro e Maia, atacando o conjunto do funcionalismo público da cidade. Foi parte dos escândalos da farinata, em que o PSDB de Doria entregava comida podre para as crianças das escolas municipais. Covas e Dória são golpistas que representam diretamente a burguesia na política, e responsáveis pela implementação de inúmeros ataques contra a população trabalhadora e pobre de São Paulo. Precisam ser derrotados com a força dos trabalhadores, das mulheres, dos negros e dos LGBTs, lutando nas ruas e nos locais de trabalho. Isso não pode ser feito em aliança com partidos burgueses e golpistas.

No entanto, nesta sexta-feira, 20, Boulos lançou uma Frente Ampla num evento que reuniu, além dos partidos da esquerda que já compunham a frente eleitoral de Boulos no primeiro turno (PSOL, UP, PCB), os seguintes partidos: PT, PCdoB, PDT, REDE e PSB. No evento, Boulos disse: "Nosso time recebeu um reforço sem tamanho, é outro time. Não é mais a campanha minha e da Erundina, do PSOL com a UP e o PCB. Hoje é um marco de que a gente inicia outra campanha, a campanha da frente democrática e por justiça social na cidade de São Paulo. (...) Eu tenho enorme orgulho de mostrar essa frente, que vai construir essa campanha com a gente na reta final e vai governar São Paulo junto com a gente, devolvendo a prefeitura para o povo. (...) É muita arrogância achar que alguém governa uma cidade como São Paulo sozinho. Eu não tenho essa pretensão. Quero governar com muita gente: com especialistas, gente da academia que constrói cada área. Quero governar com outras forças políticas que estão aqui, e trazer essa sensibilidade delas para o nosso governo. E que governar sobretudo com a participação do povo dessa".

PT e PCdoB são partidos que buscam se apresentar como de esquerda mas que por treze anos estiveram à frente do Estado brasileiro conduzindo os negócios da burguesia, encabeçando um projeto político de conciliação de classes com os capitalistas que abriu caminho ao golpe institucional. Mas a aliança vai além e engloba partidos como PSB, Rede e PDT, partidos diretamente burgueses.

Tanto a Rede de Marina Silva como o PSB de Márcio França foram defensores do golpe institucional que colocou Temer na presidência, e da operação Lava-Jato, pivô do autoritarismo judicial conduzida pelo reacionário ex-ministro de Bolsonaro, o então juiz Sérgio Moro. Marina Silva foi ardente defensora da prisão arbitrária de Lula, e o PSB estampa com orgulho em sua página web os discursos pró-impeachment de sua bancada. Nos ataques que são frutos do golpe, como a reforma trabalhista, da previdência, a MP da morte de Bolsonaro, tanto Rede e PSB como PDT tiveram participação ativa, todos contando com parlamentares votando pela sua aprovação. Na campanha presidencial de 2018, Marina Silva afirmou que a reforma da previdência seria prioridade se fosse eleita. Partidos, portanto, golpistas e que atuaram e seguem atuando cotidianamente em defesa dos interesses dos capitalistas, atacando diretamente direitos dos trabalhadores.

Em alguns lugares, estiveram mesmo à frente destes ataques, como com a aprovação da reforma da previdência encabeçada pelo governo de Fátima Bezerra (PT) no RN, a de Flávio Dino (PCdoB) no Maranhão, ou a de Paulo Câmara (PSB) em Pernambuco.

O PSB é o partido de Márcio França, que concorreu nessas eleições à prefeitura e chegou ao cargo de governador de São Paulo por ser vice de ninguém menos que Geraldo Alckmin, governador do mesmo partido de Covas que concorre contra Boulos. Apesar disso, Boulos insistiu nessa semana para Márcio França entrar na Frente Ampla porque, segundo ele, teria mostrado no primeiro turno ser “anti Doria”, mas apesar do chamado de Boulos, França já declarou “neutralidade”, mostrando sua verdadeira face tucana novamente. As alianças desses partidos que hoje compõem a Frente Democrática com a direita e a extrema-direita está longe de ser uma exceção: o próprio PT se aliou com o PSL, partido que elegeu Bolsonaro, em mais de 140 municípios nessas eleições. Já o PCdoB se aliou ao PSL em 70 municípios. Alianças com o PSL também ocorrem com outros partidos, como com o PSB em Rio Preto e Sorocaba, no interior de São Paulo, ou do PDT com o PSL em Campos, no Rio de Janeiro. Em Pernambuco também o PSB fez uma série de acordos eleitorais com PSL e destila um anti petismo ultra reacionário por exemplo na campanha contra Marília Arraes agora no segundo turno em Pernambuco. O PDT, enquanto apoia Boulos em São Paulo, está apoiando o bolsonarista Eduardo Braide (Podemos) no segundo turno em São Luís, no Maranhão. O próprio representante do PSB no ato da Frente Democrática, Fernando Guimarães, disse ter pertencido à “esquerda do PSDB” por 30 anos.

Além disso, o PDT é também o partido de Góes, governador do Amapá, que comanda uma criminosa repressão contra os protestos da população que luta contra a absurda falta de energia elétrica que já dura mais de duas semanas, por fruto da privatização da companhia de luz do estado. No Rio de Janeiro, como parte do governo interino do reacionário Cláudio Castro (PSC), o secretário de Ambiente e Sustentabilidade, Thiago Pampolha, do PDT, nomeou um dos policiais responsáveis pelo monstruoso assassinato de Cláudia Ferreira como superintendente de combate aos crimes ambientais. E não é só o PDT que é conivente com o racismo assassino: Sérgio Hacker, marido de Sarí Corte Real, a patroa de Mirtes que permitiu que o jovem Miguel morresse, é prefeito de Tamandaré (PE) e disputou a reeleição pelo PSB.

Boulos mostrou entusiasmo em construir um governo em comum com esses setores não apenas durante o evento, mas também inclusive com setores mais à direita dentro desses partidos, como é o caso de Tabata Amaral, que votou a favor da reforma da previdência e se declarou publicamente contra o direito ao aborto para as mulheres (como Marina Silva da Rede), apoiando a manutenção de uma lei reacionária que condena milhares de mulheres à morte por abortos clandestinos todos os anos.

Inclusive em São Paulo esses setores atuaram na contramão da defesa dos interesses dos trabalhadores: a Rede votou a favor da reforma da previdência de Doria, que ataca direitos de servidores e os serviços públicos, e o PSB votou na Câmara dos Vereadores a favor de diversos ataques da gestão Doria/Covas, tais como anistia aos imóveis irregulares, da reforma administrativa municipal, dos convênios com as creches privadas, das concessões privatizantes dos parques, cemitérios, terminais de ônibus, da privatização do Anhembi.

Desde o primeiro turno apresentamos um debate com os eleitores de Boulos criticando sinalizações e acenos para setores empresariais, sua promessa de reforçar a Guarda Civil Metropolitana e até mesmo o acordo em cumprir decisões judiciais que reprimam ocupações. Todas essas sinalizações não eram fatos isolados, mas sim elementos coerentes de uma estratégia que, buscando ocupar um espaço eleitoral que antes pertencia ao PT, se apresentar como uma administração progressista e "viável" dentro dos moldes do regime político vigente, abandonando até mesmo questionamentos elementares para a esquerda, tais como à Lei de Responsabilidade Fiscal, que destina parte importante do orçamento para especuladores e banqueiros. E isto tudo, para piorar, em meio a um regime golpista, com um crescente grau de autoritarismo e direitização.

A constituição de uma frente com esses partidos, que esses poucos exemplos já deixam claro serem representantes de interesses patronais e diametralmente opostos aos dos trabalhadores, mulheres, negros e LGBTs, atua no sentido de bloquear a possibilidade de combater tudo o que a candidatura de Covas representa. Não significa um passo adiante no sentido de organizar as forças sociais capazes de combater a direita e o regime, mas, pelo contrário, um passo a mais no sentido de se adaptar a esse regime golpista, limitando a atuação a administrar o Estado e em acordo com os partidos que aprovam ataques contra os trabalhadores.

Estamos juntos a todos os que querem enfrentar o regime do golpe institucional e seus agentes diretos, como Bruno Covas. Mas precisamos lutar contra o regime do golpe institucional e todos os partidos políticos que o defendem. Não podemos apoiar politicamente uma frente com partidos burgueses e golpistas que aprovam e aplicam esses ataques, e que aplaudem o autoritarismo judiciário. Não é possível reverter o retrocesso desse regime golpista repetindo o mesmo caminho que o PT trilhou para abrir caminho a ele.

Chamamos os setores do PSOL que defendem a necessidade da independência de classe, como o Bloco de Esquerda que reivindica a Frente de Esquerda e dos Trabalhadores da Argentina, a também se posicionarem nesse sentido. Seguiremos lutando com todas as nossas forças para construir a mobilização independente da nossa classe e de todos os oprimidos para enfrentar e realmente derrotar Covas, Doria, Bolsonaro e todo o regime do golpe - e nesse caminho, batalhando pela construção de uma organização revolucionária firmemente erguida sobre a independência de classe.

 
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