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OPINIÃO
Lula na Globonews: pacto, ajuste e 2018
Leandro Lanfredi
Rio de Janeiro | @leandrolanfrdi

Lula na Globonews: a Globo com uma agenda, e um Lula tenso com outra agenda e preparando sua campanha eleitoral.

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Depois de muita propaganda da Rede Globo sobre a entrevista do ex-presidente Lula em seu canal de notícias na rede à cabo, a entrevista foi um tanto frustrante. Mal parecia uma entrevista, com o entrevistador comentando algo e o entrevistado falando outra coisa, e aparentemente cada um seguindo um script separado e acordado.

Um jogo de cartas marcadas entre o entrevistador Roberto D’Ávila e o líder do PT. Mesmo assim, diferenças com a política econômica levada à frente por Dilma e Levy apareceram, bem como uma novidade, a afirmação que a crise econômica seria também decorrentes de erros do PT. Em meio a tudo isto, viu-se um Lula tenso e armando um discurso eleitoral.

Primeiramente analisaremos este jogo de uma entrevista sem continuidade entre entrevistador e entrevistado para depois marcar as novidades ditas por Lula.

Cartas marcadas

As cartas marcadas da entrevista mostraram como tanto o entrevistador como o entrevistado tinham uma agendada previamente acordada e que tornava a entrevista um tanto estranha. O entrevistador comentava coisas críticas a Dilma, a Lula e ao PT, cumprindo a pauta da Rede Globo mas não se importava se Lula respondia ou não. Lula por sua vez, ignorava estes comentários e seguia falando do que queria dizer. E para terminar a entrevista de meia-hora, a Globo News propôs uma pauta estranha às “temáticas quentes” a discutir com Lula, como corrupção, impeachment, Cunha, Levy: propôs educação. Neste tópico, Lula pode citar muitos números e falar como um verdadeiro candidato em campanha eleitoral.

Transpareceu neste jogo de cena, um acordo da família Marinho e Lula. “Nos deixe ironizarmos você, Dilma e o PT na TV, que lhe deixamos falar o que bem entender, até fazer uma propagandazinha”, este parece ter sido o acordo de bastidores.

Lula: "Levy é problema de Dilma", mas Lula traçou plano alternativo para os ajustes

Com estas palavras, Lula se esquivou de opinar sobre as mil e uma especulações que ganham os noticiários do país. Estaria Lula armando para derrubar Levy sim ou não? Independentemente de se declarar partidário da saída do atual ministro, Lula traçou alguns comentários sobre a economia que marcam uma diferença em relação a como ela está sendo conduzida agora.

Tal como a resolução da CUT e depois a resolução do diretório nacional do PT, o ex-presidente traçou uma política econômica baseada em crédito, falando que era necessário usar os bancos públicos e incentivar os privados a cederem crédito e assim “moverem a roda gigante da economia”.

Esta política, já utilizada em 2009-2014, está fortemente contestada pelo aumento do endividamento do Estado brasileiro, fortes questionamentos ao favorecimento político de “empresários amigos” no BNDES e pela incapacidade de utilizar a Petrobras fruto dos escândalos de corrupção, neste mesmo esquema de endividamento.

O próprio Lula admitiu que parte da crise atual é oriunda de erros em conduzir subsídios por muito tempo e em escala muito grande, e sua solução seria mais do mesmo: em troca de um aumento na disponibilidade de créditos consignados, por exemplo, um aumento nos subsídios e auxílio aos bancos, que lucrarão duplamente na jogada. E com o endividamento em alta, uma política que consistiria em aumentar o mesmo não deixaria margens para semelhante afrouxamento monetário e ampliação do crédito, isto, num contexto de sinais de aumento na inadimplência da população e riscos nas contas públicas como em Estados que suspendem pagamento como é o caso do Rio Grande do Sul e agora do Rio de Janeiro, no que tange ao menos às universidades públicas. Ou seja, mais um discurso, muito mais que uma possibilidade real, que possa ser implementada em grande escala.

Esta política com um tom “keynesiano” não garante salários e empregos aos trabalhadores mas somente os lucros dos empresários. Em todos estes anos de fartos subsídios os lucros (sobretudo dos banqueiros) bateram recordes, mas a quase totalidade dos empregos criados pagavam menos de 1,5 salário mínimo, agora, em tempos de vacas magras (e que tossem), não há de se esperar que uma política como esta surta efeitos benefícios aos trabalhadores.

Surpreso sobre corrupção na Petrobras: como sempre Lula não sabia de nada

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que as denúncias de corrupção na Petrobras foram um "susto" para ele, assim como para todo mundo. "Foi um susto pra mim e pra todo mundo. Me parece que a história dessa quadrilha não é nova, é muito antiga. As pessoas que estão participando dessa quadrilha têm mais de 30 anos de Petrobras. São pessoas que entraram na Petrobras nem no governo Fernando Henrique Cardoso nem no meu, entraram nos anos 1970, 1980, e muitos técnicos muito competentes", afirmou em entrevista exibida nesta noite.

Lula voltou a alegar que foi o presidente que mais visitou a Petrobras e que não tinha qualquer informação sobre desvios. Sobre as suspeitas de envolvimento de petistas em corrupção, Lula voltou a dizer que o problema está no sistema de arrecadação que afeta todos os partidos, argumentando que não há cofre limpo de uma legenda e cofre sujo de outra. "Espero que um dia Deus, vendo tudo que está acontecendo no Brasil, carimbe na testa das pessoas o que ela vai ser, se vai ser ladrão, se não vai ser, se vai ser honesto, porque, veja, você não sabe."

Chamando para o pacto de governabilidade mas sem se comprometer

Em um momento da entrevista, Lula é questionado pelo entrevistador se não era o momento de fazer um pacto de governabilidade. O entrevistador foi enfático, dizendo “você nunca foi um político ideológico, foi de resultados, você continuou a política econômica de FHC” não deveria procurar Fernando Henrique, Marina, continuou o âncora. Lula não lhe contestou a afirmação sobre sua notória falta de ideologia e afirmou que para traçar um pacto, seriam necessárias duas coisas: que os líderes de fato representem seus partidos e que exista vontade de governo em traçar este pacto.

Ou seja, desconfiado de que se sentar com FHC não necessariamente conseguiria por esta via “pactuar” algo com os tucanos e ainda, deixando claro que talvez Dilma e o PT, apesar de se manterem nas cordas com baixíssima aprovação, não querem este pacto. Uma certa dose de pressão pública sobre Dilma para que ela o deixe conduzir a “grande política” ao sabor dos pactos com deus e o diabo que Lula sempre habilmente traçou?

Um Lula tenso mas se preparando para 2018

Na entrevista, Lula falou rapidamente de sua possível volta ao cenário político, com virtual candidatura em 2018. Ele reafirmou que não gostaria de ser candidato e que só retornará se o projeto construído pelo PT estiver ameaçado. "Espero que o Brasil evolua tanto que eu não precise voltar. A única condição para eu voltar é se alguém apresentar um projeto de governança que destrua tudo o que nós construímos", afirmou.

À modo de conclusão

Escolher dentre várias mídias possíveis, a Rede Globo, é mais uma mostra do velho pragmatismo de Lula que tenta se mostrar, mais uma vez, como o político conciliador que serve a todos amos ao mesmo tempo, e por isto, não deve ser tão atacado já que pode sempre ser útil à burguesia para conter setores da classe trabalhadora.

Mostrando-se propenso a pactos em meio a uma série de declarações na imprensa de qual político seria capaz de “unir o país”, o ex-presidente tentou mostrar, novamente, suas aptidões para tal, e como em sua condução da economia do país, os empresários poderão lucrar "como nunca antes na história".

Lula armou nesta entrevista um discurso "popular" de educação, sobretudo para os mais pobres, um discurso que prepara o terreno eleitoral e beneficia a Frente Brasil Popular, que está saindo em defesa do "projeto do PT" e da figura de Lula, enquanto, Dilma (apoiada por Lula), prepara o ataque neoliberal (a gosto do PSDB e do conjunto da direita) para a privatização da Petrobrás. Num contexto político em que o mesmo governo do PT, que também aplica ataques como o veto ao aumento das aposentadorias, cria o PPE e corta gastos sociais, vem sendo blindado por outra Frente, a Frente Povo Sem Medo (composta por MTST, PSOL, CUT e UNE), que se cala diante destes ataques contra os trabalhadores, veja mais aqui.

Aos trabalhadores que enfrentam os amargos efeitos da crise nenhuma palavra sobre suas greves, como a greve dos petroleiros, somente, a afirmação do que já se sabe: não foram os trabalhadores que criaram a crise. Mas somos nós que a pagamos com o ajuste fiscal que Lula, inclusive, defendeu como "responsabilidade" dos governos. Esta parte Lula omite para gosto dos empresários que ele quer atrair, para voltar assim, a ser um candidato forte e que sirva inteiramente aos interesses dos capitalistas e dos ricos.

 
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