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França: Macron usa assassinato de um professor para sua campanha islamofóbica
Diego Sacchi

O presidente Macron liderou a homenagem ao docente assassinado que se transformou em uma exaltação dos poderes estatais. O governo persegue as organizações que combatem o racismo.

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Em um ato na Universidade Sorbonne, em Paris, aconteceu um um breve funeral oficial para o professor decapitado logo após ele ter mostrado caricaturas de Maomé em uma aula sobre liberdade de expressão. O presidente Emmanuel Macron liderou a homenagem que se transformou em uma exaltação dos poderes estatais no qual o caixão de Samuel Paty foi carregado nos ombros da Guarda Republicana.

Na sexta-feira (16), Samuel Paty foi atacado e assassinado, em um ato abominável, por um jovem que buscava castigá-lo por mostrar uma caricatura de Maomé. O jovem de 18 anos foi assassinado a tiros pela polícia.

O assassinato gerou uma grande comoção em todo o país e foi aproveitado pelo governo que buscava gerar um clima de “unidade nacional” que por trás dos apelos para uma batalha por “liberdade de expressão” lançou uma verdadeira ofensiva reacionária e islamofóbica.

“Ele foi morto porque os islamistas querem nosso futuro. Eles separam os fiéis dos infiéis. Paty só via cidadãos”, declarou Macron no evento da Sorbonne.

Em suma, Macron joga com a retórica da unidade nacional, opondo o campo da liberdade e do iluminismo ao campo do obscurantismo e da violência. O objetivo é recuperar a legitimidade perdida, mas também implementar sua política reacionária.

Como parte dessa retórica “contra o islamismo”, esta semana o governo francês decidiu avançar contra a CCIF (Coletivo contra a islamofobia na França), uma associação que luta contra a islamofobia, e Baraka City, uma ONG que ajuda mulçumanos que vivem em situação de precariedade. Além de querer dissolver essas associações, o ministro do Interior também se destacou por sua declaração de cunho racista na televisão. “Sempre me surpreende entrar em um supermercado e ver que existe uma parte daquela cozinha comunitária, é assim que começa o comunitarismo”, disse o ministro, referindo-se de forma depreciativa aos costumes da comunidade muçulmana.

A associação Baraka City foi notificada na terça-feira, dia 20 de outubro, pela noite a vontade do Ministério do Interior de dissolvê-la, dando-lhe apenas 5 dias a partir dessa data para responder às reclamações levantadas. Os dirigentes da associação devem agora entregar sua defesa ao próprio ministro do Interior, Gerald Darmanin, que não esperou para chamá-los de “inimigos da República”, antes mesmo de assinar o decreto de dissolução.

Por trás do véu unitário da liberdade de expressão, o governo ataca a comunidade muçulmana. No início de outubro, o presidente apresentou uma lei que permite, em particular, “supervisionar” as associações e, portanto, dissolver qualquer associação que não responda aos valores que o governo entende como “Republicanos”.

O governo francês utiliza o assassinato de Samuel Paty para colocar em marcha seu projeto reacionário e reforçar a discriminação contra muçulmanos. Mas também ataca a todos os que tentam defender os muçulmanos ou denunciar a islamofobia com o argumento de que essa ação é se comprometer e colaborar com os islamistas.

O governo e as forças políticas de direita atacam as organizações que rechaçam a islamofobia utilizando a expressão genérica “islamista-esquerdista”. Por isso, em nome da batalha pela liberdade de expressão e contra o islamismo, o governo busca silenciar as vozes dissidentes e fechar o debate. Aurore Bergé, vicepresidenta dos deputados do partido de Macron, se negou a assistir à homenagem a Samuel Paty, para não estar “ao lado de pessoas que criaram um clima favorável a estas ideologias, ou que de qualquer forma deixaram de combatê-las”.

Porém, as causas da onda de ódio que estamos presenciando são, de fato, o resultado da política do governo que mantém a divisão. A polarização social está cada vez mais exacerbando a violência, como ilustra a agressão racista de duas mulheres com véu próximo a Torre Eiffel. Esta agressão mostra os resultado do clima gerado pela guerra lançada pelo governo. Além de denunciar o chamado “islamo-esquerdismo” de organizações e personalidades de esquerda, o governo ataca também a imprensa, como Médiapart, contra a qual o ministro Darmanin apresentou uma queixa.

De fato, o governo sabe muito bem que sua política pode ter consequências em outro terreno, o da luta social, e que deve evitar a todo custo que se expressem vozes dissidentes. Especialmente aqueles que puderem expressar a raiva dos bairros populares, como foi o caso em particular do Comitê Adama, que conseguiu levantar um importante movimento contra o racismo e a violência policial.

Em uma situação na qual os muçulmanos e os jovens dos bairros populares são cada vez mais estigmatizados, para eles não há nem liberdade, nem fraternidade, nem igualdade. É o setor mais precário o que sofre na linha de frente as desigualdades do sistema imperial francês.

 
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