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CORREIOS
Greve dos Correios: as lições da luta contra os ataques de Bolsonaro, militares e juízes
Natalia Mantovan
Flávia Telles

A greve nacional dos trabalhadores dos Correios chegou a completar 35 dias de enfrentamento aos planos privatistas e de ataques de Bolsonaro, Paulo Guedes e dos militares. Os ecetistas organizaram uma verdadeira resistência operária à extrema direita e se depararam com a sanha de ataques do judiciário, representada na audiência do TST que manteve 50 ataques ao acordo coletivo. A força dos trabalhadores também foi sufocada pelo isolamento consciente das burocracias sindicais que dirigem a categoria levando ao final da greve. Mas o que significou a greve nacional dos Correios e quais lições podemos tirar?

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Foram 35 dias que uma única categoria no país mostrou uma verdadeira resistência nacional ao plano de ataques e reformas da extrema direita de Bolsonaro e dos militares, que dirigem a empresa através do general Floriano Peixoto. Os ecetistas se enfrentaram com 70 ataques ao acordo coletivo vigente que têm 79 cláusulas. Entre eles, ataques que significam retirada de salário e benefícios conquistados com lutas históricas da categoria.

A greve nacional dos Correios mostrou que existe um pacto hoje entre todos os setores do regime político brasileiro, Bolsonaro, militares, o Congresso reacionário de Rodrigo Maia e o judiciário expresso pelo STF e TST: querem arrancar o couro da classe trabalhadora com a precarização do trabalho e avançar mais decisivamente com a privatização de uma das maiores estatais brasileiras para servir aos interesses privatistas internacionais, atacando também à população que utiliza esse importante serviço público.

Isso explica o pronunciamento do Ministro Fábio Farias, oligarca do Rio Grande do Norte, de que privatizar os Correios “está na ordem do dia” e que existem 5 empresas já interessadas em abocanhar a estatal a preço de banana, uma delas a gigante norte-americana Amazon, a DHL, FedEx e a Magazine Luiza, todas com denúncias de super exploração e condições de trabalho ultra precárias. O ministro ainda teve a coragem de criticar a greve dizendo que os trabalhadores não poderiam paralisar serviços de entrega na pandemia. Totalmente hipócrita, já que estamos falando de uma das categorias essenciais que se manteve trabalhando na pandemia sem proteção adequada, o que levou a contaminação e morte de centenas de trabalhadores.

Bolsonaro, militares, congresso e o judiciário atacaram direitos históricos dos trabalhadores dos Correios

Durante os 35 dias de greve os ecetistas se enfrentaram com uma total intransigência do governo e da empresa em negociar, o que ficou bastante claro na própria audiência do TST. Mesmo a ministra Kátia Arruda teve que reconhecer que foi a primeira vez que viu uma empresa propor a retirada de todas as cláusulas e direitos.

Ives Gandra, reconhecido inimigo dos trabalhadores e preferido dos militares para assumir o STF, foi quem levou a decisão, atuou para manter todos os ataques econômicos à categoria, propondo manter 20 cláusulas sociais sem impactos financeiros e cortar as demais 50 do acordo coletivo, um ataque sem precedentes aos ecetistas que aguardavam a decisão reunidos em milhares no prédio central dos Correios em Brasília.

Os 50 ataques do acordo coletivo significam na prática: corte no valor do vale-alimentação e refeição, aumento do desconto para o trabalhador e extinção do vale nas férias e no natal. Redução de 70 para 30% na gratificação das férias, diminuição do tempo do auxílio-creche e corte no auxílio para quem tem dependentes com deficiências, além disso a licença maternidade que poderia ser de até 180 dias passará a ser apenas de 120 dias, um ataque importante às mães trabalhadoras.

Além desses ataques a decisão do TST retirou as cláusulas que previam: integração e valorização dos aposentados, promoção do enfrentamento ao racismo, da diversidade humana, e violência contra a mulher, mostrando que o ataque aos trabalhadores prevê avançar também contra mulheres, negros e LGBT’s. Além da retirada dos itens de: garantia ao emprego estudante, licença adoção, programa Casa própria, período de amamentação, itens de proteção de doenças e no caso de baixa umidade do ar, transporte noturno, vale cultura, gratificação de quebra de caixa, entre outros.

Também há ataques ligado a organização política e sindical dos trabalhadores, como a exclusão das cláusulas de liberação de dirigentes sindicais, repasse das mensalidades do sindicato e a exclusão da cláusula da CIPA, Comissão Interna de Prevenção de Acidentes. Alguns desses ataques não podem ser diretamente excluídos pela decisão do TST, já que constam em lei ou em outros regulamentos da empresa, como a CIPA por exemplo, mas é um claro movimento de desproteção trabalhista e de abrir espaço para ainda mais retirada de direitos. Uma verdadeira reforma trabalhista específica para os trabalhadores dos Correios que aprofunda a precarização do trabalho em curso desde o golpe institucional.

A enorme força dos trabalhadores se deparou com o esforço consciente das burocracias sindicais em boicotar e isolar a greve

A greve nacional dos Correios demonstrou força para enfrentar os ataques, mesmo fazendo greves quase que anualmente por conta dos ataques históricos que vêm sofrendo e que já vinham sendo colocados nos governos do PT, essa foi a maior greve da categoria nos últimos anos, que se expressou em fortes atos em São Paulo, Minas, Rio de Janeiro, Brasília, e na ocupação de centros estratégicos da empresa, como no Centro de Triagem de Indaiatuba, em São Paulo e acampamento no Centro de Distribuição na região metropolitana de Salvador, na Bahia. E essa força poderia ser um enorme ponto de apoio para enfrentar os planos de reformas de Bolsonaro.

Mas a força dos ecetistas encontrou pela frente um obstáculo para que a categoria atuasse unificada: as direções burocráticas e ossificadas que estão em seus sindicatos, representadas pelas duas federações, Fentect dirigida pela CUT e a Findect dirigida pela CTB e também as demais centrais, como UGT, Força Sindical e CSB, que não fizeram absolutamente nada por essa luta, pelo contrário, depois de já passado os ataques fizeram uma nota unificada pedindo ao judiciário autoritário de Ives Gandra que reavaliem a decisão. Todas essas direções também anunciaram que vão fazer notas unificadas agora, para testemunhar a retirada de direitos, quando na prática atuaram na greve para dividir a categoria.

A Findect, que é dirigida pela CTB do PCdoB, além de desmontar a greve em locais centrais como São Paulo e Rio de Janeiro, onde boicotou atos de rua, fez apenas assembleias online esvaziadas e não organizou a base de trabalhadores a estarem nas ações da greve, cumpriu o papel criminoso de nem ao menos convocar os trabalhadores para ir à Brasília no dia da audiência do TST, dividindo a categoria e chamando uma “vigília virtual” para assistir online os ataques históricos passarem, além de não chamar nenhuma categoria onde dirigem, como metroviários de SP, para se solidarizar com a luta dos ecetistas.

Já a CUT, dirigida pelo PT, atuou para isolar a greve, não chamando nenhuma outra categoria onde dirige, como professores da rede pública em SP, petroleiros, bancários, que também estão sofrendo ataques e planos de privatização, a se unificarem com os ecetistas. Nem ao menos 1 dia de luta unificado, isolando assim a forte resistência dos trabalhadores dos Correios. Por isso, chamamos às organizações, sindicatos, candidaturas e mandatos da esquerda, como do PSOL, PSTU e PCO, para que colocassem toda sua força e visibilidade à serviço da luta dos trabalhadores dos correios, exigindo das burocracias que rompessem o isolamento, o que não aconteceu, se adaptando assim a inércia das centrais sindicais.

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Essa é uma expressão que o PT e PCdoB, ainda mais diante das eleições, buscam apenas galgar suas posições no podre regime político brasileiro que é herdeiro do golpe, fazem acordos com partidos burgueses para buscar espaços no parlamento e institucionais, e por isso se apresentam como mediadores ou controladores do nível de alcance que podem ter as lutas operárias. Nas direções dos sindicatos atuam como freios para travar a luta dos trabalhadores que pode questionar de conjunto os planos privatistas e de reformas. Assim, também atuam como parte do pacto nacional para fazer com que sejam os trabalhadores a pagarem pela crise e nos estados que governam passam ataques, como a reforma da previdência.

A força dos ecetistas deve servir para preparar os futuros enfrentamentos da nossa classe

A greve nacional dos Correios chegou ao fim depois da intransigência do governo e da empresa e do desmonte das direções sindicais, mas mostrou que a classe trabalhadora não está derrotada e que tem disposição e força para enfrentar o futuro de ataques e reformas.

Os ecetistas desafiaram o falso discurso de privilegiados colocando os uniformes amarelos e azuis nas ruas de todo país, não para levar cartas e pacotes, mas para levar nas mãos um exemplo a toda classe trabalhadora brasileira, de que a única resposta possível é a nossa organização e mostrando à população que não é normal não ter direitos.

É preciso tirar agora as lições corretas para nos prepararmos para os enfrentamentos que virão, como a própria privatização dos Correios anunciada pelo ministro golpista e as reformas, como a reforma administrativa, e isso passa por entender o esforço consciente dessas burocracias, dirigidas por partidos de conciliação de classes, em derrotar a luta dos trabalhadores e a necessidade de lutar para superá-las construindo uma alternativa de independência de classe.

Esse é o desafio que nós do MRT, que impulsionamos candidaturas em São Paulo, Contagem e Porto Alegre com o objetivo principal de fortalecer a luta da classe trabalhadora para se enfrentar contra todo esse regime político, nos damos. Por isso, atuamos nessa greve com nosso portal, o Esquerda Diário, sendo a única mídia que levou solidariedade ativa, nos atos, nas ocupações, em Brasília, mostrando apoio da população e organizando uma cobertura midiática em apoio aos trabalhadores. Também atuamos exigindo sempre que as centrais sindicais rompessem a paralisia e chamassem um dia de paralisação nacional em defesa dos empregos e direitos, unificando a classe trabalhadora para se enfrentar com Bolsonaro, seu general Floriano Peixoto e as reformas, como a reforma administrativa.

Para dar uma saída que possa fazer com que seja o povo e não esses poderes que decidam os rumos do país, nós defendemos uma Assembleia Constituinte, livre e soberana, para debater os grande problemas do país e batalhar pela revogação das reformas que atacam os trabalhadores, o fim das privatizações e avançar em todas as medidas para que sejam os capitalistas e não os trabalhadores que paguem pela crise, avançando assim num governo de trabalhadores de ruptura com o capitalismo.

A heroica greve nacional dos Correios terminou, com importantes perdas para os trabalhadores, mas a força que organizou a forte resistência trabalhadora a Bolsonaro, militares e juízes, esses sim os verdadeiros privilegiados, deve seguir e se preparar para os enormes enfrentamentos que virão da nossa classe ao futuro de miséria que o capitalismo quer nos impor.

 
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