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Apesar dos mais de 105 mil mortos, Bolsonaro tem aprovação recorde. Por quê?
Gabriel Girão

Auxílio emergencial e pacto do regime são alguns dos principais fatores.

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Jair Bolsonaro consegue sua melhor avaliação desde que iniciou seu mandato, em Janeiro de 2019. É o que aponta pesquisa realizada pelo Datafolha nos dias 11 e 12 de agosto por telefone. Segundo a pesquisa, 37% dos brasileiros consideram seu governo ótimo ou bom, acima dos 32% que o achavam na pesquisa anterior, feita em 23 e 24 de junho.

Os que achavam a gestão ruim ou péssima caiu de 44% na última pesquisa para 34% nesta. Os que apontam como regular foi de 27% para 23%.

Sobre a validade da pesquisa, de um instituto ligado ao grupo Folha e toda a problemática que pode ter relacionado ao seu método, não entraremos em questão.

O que pode explicar essa mudança?

O fator auxílio emergencial é uma das explicações a este recrudescimento. Uma política que toca setores sensíveis da classe trabalhadora, principalmente os precários, que puderam ter um respiro financeiro com o auxílio. Ironicamente Bolsonaro e sua trupe econômica, liderada por Guedes, eram favoráveis a apenas 200 reais de auxílio. E agora “celebra” a subida nas pesquisas baseada num projeto em que era contrário e que até então, também deseja por fim a todo instante.

Sobre essa questão econômica, temos que ver como isso se liga com a questão sanitária. No marco da imensa precarização da vida e do desespero com a pobreza e o desemprego, somado ao fato do número de mortes diárias ter se estabilizado - ainda que num patamar altíssimo, 1000 por dia há mais de 2 meses - faz com que cada vez mais os setores precários comecem a comprar o discurso de Bolsonaro que minimiza a crise sanitária em prol da "economia". Uma hipocrisia, evidentemente, visto que a única coisa que Bolsonaro quer salvar são os lucros dos empresários.

Outra questão também que influencia que se liga à questão acima é no quesito "combate" a pandemia. É evidente que Bolsonaro é o principal responsável pela calamidade sanitária que vivemos hoje e que caso seu plano tivesse sido implementado teríamos uma situação muito pior hoje. A situação chega num nível em que o Ministério da Saúde não disponibilizou nem metade da escassa verba prometida. No entanto, temos que olhar essa questão no marco da pretensa oposição que se desenvolveu no inicio da pandemia, entre o Bolsonaro "irracional" e os governadores e o STF que defendiam quarentenas como "racionais". No entanto, como viemos denunciando desde o início, a quarentena de forma isolada é totalmente insuficiente para combater o vírus, além de que ela foi flexibilizada pelos próprios governadores sem nenhum critério. O resultado vemos hoje nos mais de 100 mil mortos. Porém, essa pretensa oposição onde os governadores e o STF foram aplaudidos tanto pela mídia quanto por vários setores da esquerda fez com que de certo modo, muitos setores não vejam que Bolsonaro tem culpa pelas mortes.

Outro fator de relevância é a mudança de tática tanto de Bolsonaro como de seus oposicionistas do Congresso e STF para lidar com a crise política. A trégua que veio após o ápice da crise em política em maio, agora se transforma em pacto. Ambos os lados baixam o tom e também com Bolsonaro avançando para negociar com o centrão para sua governabilidade. Também é evidente a atuação de Rodrigo Maia para apaziguar as crises no governo e blindar o executivo, como vimos recentemente em sua reunião com Bolsonaro e Guedes em que todos saíram defendendo o teto de gastos, ou em sua aparição no Roda Viva onde diz que Bolsonaro não cometeu crime.

A mídia hegemônica, sobretudo Globo e Folha (que realizou a pesquisa) cumpriram seu papel. Antes, quando formavam uma pretensa oposição a Bolsonaro, aliados aos governadores, Congresso e o STF, o atacavam em nome de seus interesses próprios, posando como "paladinos da democracia". Agora, após o novo pacto, mudaram para ser uma oposição "propositiva". As propostas, é claro, caminham no sentido de atacar ainda mais os trabalhadores e de avançar na privatização e na entrega de recursos naturais aos empresários e ao imperialismo, em nome da "responsabilidade fiscal".

Assim Bolsonaro diminui o seu desgaste, pelo menos momentaneamente, pela mídia hegemônica e o regime. Essa clara mudança é um dos fatores que podem explicar esta mudança na rejeição e aprovação.

Uma recuperação débil em bases precárias

Ainda que a recuperação de popularidade seja significativa, temos que olhar as bases precárias em que se apoia. Um dos principais motores dessa recuperação, o auxílio emergencial, está previsto para acabar esse mês. Enquanto ganham corpo no governo discussões sobre aumentar os gastos estatais com a extensão do auxílio ou a criação do Renda Brasil, há uma imensa pressão do mercado financeiro para limitar os gatos. Portanto, será um desafio para o governo manter a popularidade sem o auxílio.

Pra além do auxílio, a verdade é que o país pós pandemia se encontrará imerso em uma crise fiscal. A pressão é enorme por mais ataques aos trabalhadores, como a reforma administrativa e quiçá uma nova reforma da previdência, além de cortes nos serviços públicos, como o corte de 4 bilhões previsto para a educação no próximo ano. Isso evidentemente encontrará resistência de muitos setores. A isso se soma uma certa expectativa que as reaberturas econômicas e a diminuição da pandemia possam gerar a recuperação econômica e do emprego, fato que é ainda é muito incerto em que medida vai ocorrer, sendo previsto um repique do desemprego em setembro. Esses elementos podem ser importantes fatores que detonem mobilizações contra o governo.

A própria crise política, que agora arrefece com o pacto, pode voltar. Um ascenso de lutas ou um aprofundamento da crise econômica, além de impactos políticos internacionais (como a eleição nos EUA por exemplo) podem alterar a situação de forma significativa a cena política, inclusive causando rompimento o pacto em curso e aumento as disputas e os ataques entre os atores do regime.

Lições para a luta contra Bolsonaro

Como viemos denunciando no Esquerda Diário, os Governadores, o Congresso e o STF não são qualquer opção ao negacionismo bolsonarista. Aplaudir e submeter a luta contra Bolsonaro a qualquer um desses setores, como fizeram setores da esquerdas e as centrais sindicais, é pavimentar o caminho da derrota.

Esses setores, apesar da pretensa oposição que vimos no início da pandemia, não apresentaram nenhum plano real de combate à pandemia, se resumindo a decretar quarentenas isoladas e recomendar que a população ficasse em casa. Tampouco qualquer medida que pudesse garantir os empregos e a renda. Isso é válido tanto para governos de direita como Witzel e Dória e até para os governos petistas. Dessa forma, deixaram o caminho aberto para que Bolsonaro explorasse de forma demagógica o desespero dos setores precários. Além disso mostraram que, quando necessário, são capazes de rapidamente entrar em acordos e pactos para blindar o governo. Chegamos ao absurdo de ver Fátima Bezerra (PT-RN) falando que Bolsonaro tem compromisso com a população.

Ver também: É verdade que os governadores do Nordeste combateram bem a pandemia?

Nesse sentido, é urgente que a classe trabalhadora lute por um programa de emergência contra a pandemia e em defesa do emprego e da renda. Exigindo um plano de testagem massiva para o rastreamento e isolamento dos casos e uma quarentena racional e um auxílio emergencial com o valor de pelo menos R$ 2000 reais que um trabalhador empregado formal antes da pandemia.

Os ataques aos trabalhadores são realizados em base a justificativa da responsabilidade fiscal e porque querem deixar intactos os lucros dos banqueiros e empresários, por isso é fundamental a proibição das demissões pelos empresários, um plano de obras públicas e a divisão de horas de trabalho entre todos os trabalhadores desempregados, sem redução da renda. Além disso o não pagamento da dívida pública que é um verdadeiro roubo de todas as nossas riquezas produzidas no país para o mão dos banqueiros nacionais e internacionais.

Os trabalhadores podem confiar somente em suas próprias forças, através da auto-organização operária para impor comissões de Saúde e Higiene (que decidam as condições de trabalho de cada local) e para barrar os ataques e demissões, assim como estão fazendo os trabalhadores da LATAM no Brasil e na América latina.

Ante a crise política, é necessária levantar Fora Bolsonaro, Mourão e militares, dando uma resposta de fundo que questione o regime de conjunto, lutando por uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana onde seja a maioria da população que sofre espremida entre a pandemia e o desemprego, que possa decidir os rumos do país!

 
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