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ANÁLISE SETORIAL ECONOMIA
Desigualdades regionais e setoriais: como está a economia brasileira em meio a crise? PT.1
Simón J. Neves

O Brasil passou, neste segundo trimestre, por seu pior trimestre em toda a história, segundo as previsões, devido a quarentena e as medidas de combate a pandemia da Covid-19. No primeiro trimestre, houve uma contração de 1,5% do PIB. Em abril, último mês disponível, o PIB contraiu 9,3% em relação ao mês anterior, segundo o Monitor do PIB do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV). Os impactos não foram, no entanto, iguais em todos os setores.

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No 1º trimestre, o consumo das famílias, responsável por cerca de dois terços do PIB, já havia se contraído em 2% em relação ao 4º trimestre de 2019. Em abril, houve um recuo de 7,7% em relação a março, mostrando o aprofundamento da crise. A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), dado que é fundamental pois mostra o nível de investimento privado e que, portanto, terminará por regular a quantidade de emprego e renda gerados, que havia crescido 3,1% no 1º trimestre, recuou 23% em abril, na comparação com maio. Outro dado importante é que, em abril, o investimento representou apenas 12,1% do PIB, o nível mais baixo da série histórica iniciada em 2000. Abaixo estão alguns dados comparando a variação do PIB no 1º trimestre e em abril.

Indústria

O Brasil passa, há anos, por um processo de perda de importância da indústria no PIB e, principalmente, na pauta exportadora, como já mostramos aqui. Dentro da própria indústria, ganham peso a indústria extrativa e os setores da indústria de transformação de baixo valor agregado.

Dentro disso, a indústria é particularmente atingida no atual período de pandemia. Segundo dados da Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física (PIM-PF), do IBGE, de maio, a produção industrial havia caído 11,2% no acumulado do ano, em relação ao mesmo período de 2019. O período da pandemia e da quarentena, a partir de março, é quando se acelera esta contração, pois no primeiro bimestre a queda havia sido de apenas 1,3% em relação ao primeiro bimestre de 2019.

Os setores mais atingidos são os de bens de consumo duráveis, com uma queda de 37,1%, e o de bens de capital, com uma queda de 21%. Os bens de consumo duráveis dependem de renda da população e também de disponibilidade de crédito para que sejam produzidos, enquanto os bens de capital dependem da disposição dos capitalistas de investir em futuros empreendimentos e acabam sendo medidores da atividade econômica futura.

Se todos os setores da indústria sofreram quedas nos meses de março, abril e maio, é importante notar alguns poucos ramos que consistentemente obtiveram resultados positivos ou aqueles que foram os que mais caíram. São eles:

Vê-se, assim, que os ramos que mantiveram seu crescimento são, basicamente, aqueles que vendem produtos de primeira necessidade como alimentos e produtos de limpeza, cuja demanda aumentou na pandemia, especialmente álcool gel. Outros setores que conseguiram ter resultados positivos em alguns meses foram os de celulose e papel e o de fumo.

Enquanto o setor mais atingido é o automobilístico, pelo fechamento das concessionárias, mas também pela falta de renda que aflige grande parte da população, o que torna a cara operação de comprar carros um impeditivo neste momento. O outro setor mais atingido foi o de vestuário e calçados, por causa do fechamento de lojas e da queda das vendas no varejo. A queda na produção será maior que as vendas, visto que a maioria das lojas cancelou seus pedidos por já ter estoques.

É possível destrinchar as diferenças regionais na produção industrial pelo país também. Rio de Janeiro, Goiás, Pará e Mato Grosso tiveram resultados constantemente melhores que a média nacional nos meses de março, abril e maio, na comparação com os mesmos meses de 2019. Enquanto isso, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Ceará e Amazonas apresentaram as piores quedas na mesma comparação. É importante entender também São Paulo, principal polo industrial do país.

Entre os produtos que puxaram as quedas ou subidas, são quase os mesmo que aparecem na lista dos mais que cresceram ou que mais caíram a nível nacional. Indústria têxtil e de vestuário, indústria automobilística, indústria de máquinas e de bens de capital e indústria de bebidas puxaram as quedas. As que cresceram foram a indústria de alimentos e, em alguns casos, a indústria extrativa e a de combustíveis.

A situação é bastante similar quando analisamos o acumulado do ano, entre janeiro e maio de 2020, na comparação com o mesmo período de 2019. Nesses dados acumulados, o que puxa para cima os dados dos dois únicos estados positivos do país (RJ e PA) é principalmente a indústria extrativa, de petróleo, gás natural e coque no Rio, e de minério de ferro no Pará. Além disso, destaca os produtos derivados de petróleo no primeiro estado e a indústria siderúrgica no segundo.

Nos estados que sofreram a maior queda, destaca-se as quedas nas indústrias de bebidas e de áreas que sofreram uma queda geral, como equipamentos de transporte e eletrodomésticos. Além disso, pode-se destacar a queda da indústria extrativa de petróleo e gás natural no Espírito Santo e a queda na produção de produtos de informática, eletrônicos e ópticos no Amazonas, onde fica a Zona Franca de Manaus.

Serviços e Comércio

Com a queda do peso da indústria no PIB, o setor de serviços é o que mais tem crescido nos últimos anos, e já responde por mais de 70% do valor adicionado gerado no país. Na comparação entre o 1º semestre de 2020 e o último semestre do ano passado, caiu mais que a indústria, porém em abril, quando as medidas de isolamento social estavam impostas, sua queda, apesar de grande, foi menos da metade da queda da indústria.

Analisando a Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), elaborada pelo IBGE, para os meses de março, abril e maio, ou seja, os meses atingidos pela quarentena, é possível ver quais são os impactos em cada um dos grandes setores e quais os subsetores mais atingidos.

Dessa maneira, vê-se que os serviços prestados as famílias, principalmente, e o setor de transporte foram os mais afetados na atual crise. O setor de outros serviços e o de serviços de informação e comunicação foram os que conseguiram se sair melhor. A seguir, veremos os subsetores mais atingidos, e a qual setor eles pertencem.

Estes setores mais atingidos são os de hotéis e restaurantes, bem como serviços de catering, eventos esportivos, academias e vendas de cursos. Na área de transportes, os transportes rodoviários de passageiros e de cargas, o transporte metroferroviário, o transporte aéreo de passageiros e a operação de aeroportos foram os mais atingidos.

É importante notar que no acumulado do ano até maio, há uma queda de 7,6% nos serviços em relação ao mesmo período do ano anterior.

A nível regional é possível ver que os estados do Nordeste tem sido os mais atingidos no setor de serviços, em especial o estado de Alagoas. Fora dali, se destaca o mal desempenho do estado do Rio Grande do Sul. Por outro lado, Rondônia apresentou crescimento, na comparação com o mesmo período do ano anterior, em todos os três meses de quarentena, chegando a crescer mais de 9% em maio. É o único estado a apresentar resultado positivo no acumulado do ano, na comparação com os cinco primeiros meses de 2019, com um crescimento de 4,1%. Além disso, o estado do Mato Grosso apresentou resultados positivos em maio, e os estados do Mato Grosso do Sul e Tocantins ficaram acima média em abril e maio.

A nível nacional, na comparação mês a mês, o mês de abril é o que apresenta a maior queda. Na comparação com o mês imediatamente anterior, março apresenta queda de 6,9%, contra uma de 11,9% em abril, e contração de 0,9% em maio. No acumulado do ano, foi em abril também que se registra a principal queda, e é quando se entra no terreno negativo no acumulado de 12 meses.

Nos serviços relacionados ao turismo, fonte de renda importante para diversos estados, é possível ver um princípio de recuperação no mês de maio. Após uma queda de 29,8% em março, na comparação com fevereiro, e outra queda de 54,5% em abril, a nível nacional, em maio houve um aumento de 6,6% nas atividades turísticas, com apenas 2 estados (São Paulo e Ceará) dos 12 pesquisados apresentando resultados negativos. Em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, os números de maio foram cerca de 25% maiores do que os de abril. No entanto, ainda são muito menores que os do ano passado. O volume de serviços turísticos foi 65,6% menor no país em maio do que em maio de 2019, ainda que abril tenha sido pior. Os estados mais atingidos são Ceará, Distrito Federal e Bahia, com quedas de 75,1%, 73,5% e 73%, respectivamente. Pernambuco apresenta queda de 70,9%. No acumulado do ano, a queda já beira os 30% no Brasil.

No comércio varejista, o acumulado do ano até maio no país apresenta uma queda de 3,9% em relação a 2019, e que sobe para 8,6% quando se inclui o comércio varejista ampliado. Dos 10 setores pesquisados, apenas 2 cresceram neste acumulado: o setor de hiper e supermercados, bebidas, fumo e produtos alimentícios (+5,2%) e o de artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (+2,9%). Ou seja, setores essenciais mesmo na quarentena e em uma pandemia. É possível ver os setores mais atingidos pela crise, de acordo com a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), elaborada pelo IBGE.

Um dado importante, no entanto, é a recuperação em todos os setores em maio na comparação com abril, devido as reaberturas que se deram neste mês. O aumento no comércio varejista foi de 13,9% e, no varejista ampliado, de 19,6%.

Na comparação com o ano passado, é possível destacar alguns estados que conseguiram ter quedas menores, enquanto outros tiveram quedas bastante acentuadas no volume do comércio varejista.

O estado de Rondônia apresenta uma contradição. Um dos estados mais atingidos em abril, tanto na comparação com o ano passado quanto na comparação com março, foi o estado onde o comércio mais cresceu em maio em relação a abril. Além disso, estados como Paraná, Goiás, Mato Grosso e Santa Catarina apresentaram uma recuperação mais rápida em maio. Pará, Distrito Federal, Rio Grande do Norte e Tocantins foram os de recuperação mais lenta, ainda que tenham sido positivas.

 
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