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PSOL se prepara para estar junto com o PT em várias capitais na contramão de uma alternativa independente
Thiago Flamé
São Paulo

Em pelo menos seis capitais, PSOL e PT vão se apoiar mutuamente e em cidades importantes como Campinas. Para justificar essa adaptação, setores do PSOL vêm dizendo que essas alianças com o PT – e com PcdoB, PDT e PSB – são a forma de combater a extrema-direita.

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Em pelo menos seis capitais, PSOL e PT vão se apoiar mutuamente e em cidades importantes como Campinas. Para justificar essa adaptação, setores do PSOL vêm dizendo que essas alianças com o PT – e com PcdoB, PDT e PSB – são a forma de combater a extrema-direita.

Por trás desse discurso, está uma política eleitoralista que não coloca como centro que o real combate a extrema-direita só pode se dar com a mobilização dos trabalhadores, permanentemente boicotado pelas direções sindicais das grandes centrais como a CUT e a CTB, dirigidos justamente pelo PT e pelo PCdoB. Então a saída para enfrentar Bolsonaro seria se aliar com esses partidos que nos sindicatos impedem a luta dos trabalhadores? E é assim que se caminha na contramão de uma alternativa independente e da classe trabalhadora.

Em Florianópolis, a aliança encabeçada pelo PSOL deve reunir também PT, PCdoB, PSB, PDT e Rede. Em Belém, além do PSOL, devem estar juntos pelo menos PDT e PT, além do apoio que o PSOL deve receber do PT em Macapá. Em Recife, Manaus e Rio Branco o PSOL deve apoiar o PT, e seguem discussões tanto em Belo Horizonte como também no Rio de Janeiro, além do apoio do PSOL ao PT em cidades importantes como Campinas. Em Porto Alegre a chapa proposta pelo PSOL para unificar PT, PCdoB e o PSOL não avançou por negativa dos dois primeiros. No Rio de Janeiro, Marcelo Freixo abriu mão da disputa com o argumento de que só concorreria em uma chapa de unidade.

O PSOL, ao se coligar com o PT, abre mão de apresentar uma alternativa independente nas eleições. Mas esse seria o custo de um combate coerente ao governo Bolsonaro e a extrema direita? A política do governo Bolsonaro e de Paulo Guedes, de estraçalhar com os direitos trabalhistas e sociais, de privatização e destruição do meio ambiente representam os interesses dos setores mais concentrados do empresariado brasileiro e esse projeto não será derrotado nas urnas, mas somente através da mobilização nas ruas e com os métodos da luta de classes, como greves e mobilizações de massas. As eleições podem servir para reagrupar as forças da esquerda, apontar uma alternativa a esquerda do PT e preparar os futuros e necessários embates, mas se engana quem acredita que esse projeto, que se originou em um golpe institucional em 2016 e depois teve como desdobramento a eleição de Bolsonaro nas eleições manipuladas de 2018 pode ser derrotado através das eleições. A necessidade de uma frente única da classe trabalhadora e suas organizações na ação, nas manifestações de ruas e nas greves, não deve se confundir nunca com uma aliança eleitoral com partidos que já governaram o país e governam alguns estados e nunca romperam com os interesses dos grandes empresários.

Enquanto o PCdoB entra com tudo na política de frente ampla e busca alianças com a direita neoliberal, o PT mantém um duplo discurso. Lula faz um discurso mais radical, se colocando retoricamente como inimigo número 1 de Guedes, rechaçando as articulações com a direita tradicional e defendendo chapa própria no PT no maior número de cidades em que isso seja possível, deixando a discussão das alianças para os segundos turnos. Já Haddad e os governadores participam das articulações com a direita tradicional e mantém um discurso mais moderado. De conjunto esse duplo discurso do PT, somado à política dos governadores e a passividade nos sindicatos, é funcional a manter o governo Bolsonaro desgastado até 2022, quando o PT teria melhores chances de vencer as eleições. Nós estivemos desde o primeiro momento denunciando o golpe em 2016 e exigindo o direito do povo votar em Lula em 2018, mas nunca confundimos nosso rechaço ao golpe institucional e a extrema-direita com um apoio político ao PT. Nas condições de crise econômica e social, vemos como atuam os governos petistas e do PCdoB (para não falar de PSB e PDT!) em todos os estados em que governam, aplicando a reforma da previdência (mesmo em meio à pandemia, como fez Fátima Bezerra no RN), inclusive reprimindo protestos dos servidores públicos. Já PSB e PDT, ambos os partidos, por exemplo, junto com a Rede, deram votos a favor do projeto de privatização do saneamento apoiado por Guedes e Maia.

Sobre o debate das prévias do PSOL em São Paulo

Em São Paulo, neste final de semana, se darão prévias para definir quem vai encabeçar a chapa do PSOL para a prefeitura e pela importância nacional do processo e as polêmicas abertas entre os dois principais campos do partido a nível nacional, o processo é bem ilustrativo do debate no interior deste partido. Também o apoio que Boulos tem tido nas pesquisas de opinião, cerca de 10%, mostra que existe espaço para que se construa uma alternativa de esquerda ao PT.

A maioria do PSOL apoia a candidatura de Boulos, enquanto o MES defende a candidatura de Sâmia Bonfim. Os defensores de Boulos apontam as maiores chances de um bom resultado eleitoral na chapa com a Erundina (que foi prefeita de SP no final dos anos 80) , enquanto os defensores de Sâmia apontam a diversidade expressa na chapa de Sâmia e o perfil independente do PT que daria essa chapa para o PSOL em São Paulo e chegam a argumentar sobre a necessidade uma alternativa de esquerda anticapitalista

Nenhum dos dois setores estão contra realizar alianças com o PT (como outros partidos, como PCB e UP também não estão, ainda que nas suas publicações partidárias seja difícil encontrar suas definições a respeito. Ainda assim a resolução da UP sobre o Rio de Janeiro indica sua posição nessa questão). No entanto, as candidaturas apresentam perfis diferentes.

Boulos aparece muito mais identificado com a trajetória do PT, não só pela composição com Erundina e pela reivindicação da sua gestão entre 1989 e 1992 como a melhor que São Paulo já teve, mas também por que mais de uma vez afirmou que se Haddad aceitasse se lançar candidato, retiraria sua pré-candidatura.

E o MES, de Sâmia Bonfim, nos últimos anos na sua busca de não aparecer vinculado com a imagem de corrupção do PT, terminaram apoiando indiretamente a Lava Jato de Sergio Moro. É verdade que desde o início do governo Bolsonaro, vêm num processo de rever posicionamentos anteriores e buscando uma nova localização que não impossibilite as alianças com o PT (como tentaram, sem sucesso, em Porto Alegre). Apesar deste perfil diferente, as estratégias entre ambas são confluentes, como mostra a participação de Boulos e também de figuras nacionais do MES da live da frente ampla, que reuniu setores da direita neoliberal, com setores do PT, PCdoB e PSOL. No debate nas pré-candidaturas em São Paulo, a crítica ao PT esteve ausente, tanto nas falas de Boulos como de Sâmia. Ainda que a pré-candidatura de Sâmia aborde a enorme crise que estamos vivendo, e fale timidamente de ruptura com o capital, nem suas propostas e nem sua estratégia vão nesse sentido.

Esse debate, em São Paulo, está atravessado também pelas discussões a respeito do Fora Bolsonaro e impeachment. A direção do PSOL acompanhou a postura vacilante do PT em relação ao impeachment, enquanto o MES se orgulha de ter adotado desde o início essa política. O problema é que qualquer alternativa com independência de classe deveria partir de levantar uma política contra Bolsonaro que não signifique a posse de um governo Mourão nem o fortalecimento do Congresso de Rodrigo Maia e do STF. Precisamos unir a esquerda socialista para preparar uma grande mobilização de massas, que seja capaz de enfrentar todo o sistema político e fazer com que os capitalistas paguem pela crise. Uma grande mobilização para que seja o povo que decida os rumos do país e não o STF ou Rodrigo Maia. Frente a este sistema político a serviço dos capitalistas, a única saída realista possível é lutar para derrubar todo o regime político, herdeiro do pacto com os ditadores e ainda mais degradado pelo golpe institucional. Não basta trocar os jogadores com novas eleições e menos ainda com um impeachment ou renúncia que dê lugar a Mourão.

É importante que uma parcela do eleitorado petista esteja buscando uma alternativa ao PT e disposta a votar no PSOL. Essa força social seria uma excelente base para dar passos decididos na construção de uma força material de mobilização para construir uma resposta de independência de classe frente à crise em curso, fortalecendo essa batalha no terreno eleitoral, batalhando por superar pela esquerda o PT, a burocracia e a esquerda institucional. No entanto, como aqui apontamos, as propostas de Boulos e Sâmia, ainda que tenham diferenças entre si, não apresentam um projeto que esteja à altura dos anseios deste importante setor social.

É preciso romper as alianças com o PT (e com PCdoB, PDT, PSB e Rede)

Reivindicamos como exemplo para a esquerda brasileira, a Frente de Esquerda e dos Trabalhadores, a FIT, da Argentina, que vem se constituindo num importante pólo de aglutinação da esquerda classista e revolucionária, levantando um programa de ruptura com o capitalismo e obtendo importantes resultados eleitorais.

Como disse Lívia Tonelli na plenária municipal do PSOL de Campinas, na qual o MRT participou como convidado:

“Considero um grande erro o PSOL se aliar ao PT. (…) O caminho é o oposto. É preciso defender mudanças profundas e radicais: queremos a estatização de todo o sistemas de saúde, auxílio emergência de 2000 reais para atender as necessidades básicas, o fim da polícia que assassina negros e estupra mulheres nas periferias, entre outras medidas. Foram as imensas mobilizações anti-racistas no coração do imperialismo, que golpearam o asqueroso Trump. É no levante dos milhares de trabalhadores por aplicativo que tem estar depositado nossas fichas. Nós opinamos que esse tem que ser o caminho. Se aliar com os de baixo, e não com velhas fórmulas que já provaram seu fracasso, porque a política do PT que foi impotente contra a extrema-direita.”

 
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