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LUTA ANTIFACISTA E ANTIRRACISTA
Quilombo Vermelho: "A luta antirracista e antifascista contra Bolsonaro não é pra sermos dirigidos por Maia"
Redação

Conversamos com dirigentes do Quilombo Vermelho, organização militante de negros e negras, sobre os recentes atos que vimos nesse final de semana com continuidade durante a semana e que apresentaram uma confluência entre a luta antirracista e antifascista. Veja a seguir a entrevista com Marcello Pablito, Letícia Parks e Flávia Telles.

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Conversamos com dirigentes do Quilombo Vermelho, organização militante de negros e negras, sobre os recentes atos que vimos nesse final de semana com continuidade durante a semana e que apresentaram uma confluência entre a luta antirracista e antifascista. Veja a seguir a entrevista com Marcello Pablito, Letícia Parks e Flávia Telles.

Esquerda Diário: Como vocês veem esse recente impulso da luta de classes com a emergência de diversos atos antirracistas e antifascistas pelo país?

Marcello Pablito: Já vinhamos assistindo a iniciativas de atos aqui no Brasil, tanto antifascistas como antirracistas em repúdio a manutenção dos assassinatos policiais no país, mas foi a partir do exemplo da fúria negra que eclodiu nos EUA que a alternativa da mobilização da luta de classes retornou como contraposição a passividade que vinha então, em muito garantida pelas centrais sindicais. A confluência entre essas duas lutas é bastante natural num país que tem Bolsonaro na cabeça do Estado, que lidera uma base social que vinha ocupando impune as ruas e que faz bizarrices reacionárias como o ato imitando a Klu Klux Klan que vimos em Brasília. Assim como nos EUA, onde temos Trump a frente, outro racista aberto com longo histórico. Mas o racismo explícito desses líderes da extrema-direita não se detém na incitação à violência policial. A política genocida de cada um deles com o completo descaso em relação ao enfrentamento do coronavírus, Bolsonaro ainda mais que Trump, resulta na morte em primeiro lugar dos negros e negras fruto da posição social que ocupam, das condições de vida mais precárias, dos trabalhos mais precários.

Letícia Parks: Sim, em relação a isso, a combinação das crises sanitárias, econômicas e políticas resulta num explosivo caldo social. Já falávamos que a situação de barbárie social, com crescimento do desemprego, com a falta de ação dos governos para garantir os empregos, a renda e a vida das pessoas levaria fatalmente a explosões sociais. É preciso lembrar que a crise do coronavírus catalisou uma crise do sistema que já vinha sendo gestada, com a reforma da previdência levando as pessoas a trabalharem até morrer, com a reforma trabalhista precarizando as relações de trabalho, com os cortes na educação e na saúde desmontando a seguridade social. O coronavírus expôs as fragilidades desse sistema capitalista. Tudo o que faltava era um estalo para desatar essa fúria, algo que tivemos com o brutal assassinato de George Floyd nos EUA.

Flávia: Não à toa são os negros que protagonizam esse levante. Cada um desses ataques que a Letícia mencionou golpearam em primeiro lugar as camadas negras da sociedade. A reforma trabalhista por exemplo fez avançar ainda mais a precarização do trabalho. O Brasil já tinha uma grande parcela da juventude negra desempregada que recorria aos serviços de entrega como ganha pão, trabalhando em jornadas extenuantes para receber uma miséria. Hoje, durante a crise com as pessoas sem alternativas, a procura por esses trabalhos precários cresceram e fizeram diminuir ainda mais os salários. É desse contexto de barbárie social que estamos falando, em que se soma ainda por cima o terror nas periferias levado pelas operações policiais que apenas em 1 semana provocaram 4 mortes, João Pedro, João Vitor, Rodrigo Cerqueira e Juan Oliveira.

ED: Junto a essa disposição de luta que verificamos, através da mobilização, também vimos se concretizarem alguns manifestos e chamados de unidade contra o governo. Como vocês avaliam essas iniciativas?

Pablito: Os avanços autoritários de Bolsonaro colocam uma enorme pressão da sociedade por uma ampla unidade em combate a ele. Acompanhamos nos últimos dias uma ampla camada de pessoas se autodeclarando antifascistas, pessoas dos mais variados espectros ideológicos. É nesse marco que precisamos debater qual a estratégia para seguir nossa luta, se aliando com inimigos de classe, que tomaram parte dos ataques aos trabalhadores que mencionamos, as reformas da previdência e trabalhista, ao desmonte neoliberal da educação e saúde, até mesmo do genocídio da população negra. Ou buscando um caminho de independência de classe, que busque fortalecer essa disposição de luta através da auto-organização da classe trabalhadora, impulsionando a luta antirracista e contra o autoritarismo de Bolsonaro e dos militares em cada local de trabalho. A luta antirracista e antifacista contra Bolsonaro não é pra sermos dirigidos por Rodrigo Maia.

Letícia: É muito importante mesmo esse debate estratégico que o Pablito coloca. É evidente que esses manifestos tem um destinatário. Esse movimento se vincula às propostas de impeachment que vêm sendo debatidas, com as quais se espera convencer parte do congresso mais reacionário dos últimos anos a dar o aval para tirar Bolsonaro, canalizando nosso ódio contra Bolsonaro para colocar no seu lugar um general defensor da ditadura militar, como é Mourão. Ou então, nas tentativas que alimentam a ilusão de que o STF do golpe institucional, do apoio às reformas da previdência e trabalhista, o judiciário que mantém 40% da população encarcerada sem julgamento (em sua maioria negros) possa defender os direitos democráticos dos trabalhadores e especialmente das massas negras. Como essas medidas podem ser uma alternativa em defesa das vidas negras?

Flávia: De fundo, vemos a movimentação para se constituir uma Frente Ampla que englobe até setores burgueses, inimigos de classe dos trabalhadores e do povo negro. Assim como foi inadmissível a presença de Rodrigo Maia, Witzel, Doria e FHC no palco do 1o de maio, não podemos aceitar que esses reacionários que possuem suas mãos sujas do sangue negro possam pousar como alternativas a Bolsonaro.

ED: Na visão de vocês qual seria essa saída independente dos trabalhadores em contraposição a essa frente ampla?

Pablito: Primeiramente é necessário debater qual a unidade de que necessitamos para derrubar Bolsonaro e Mourão. A unidade de que precisamos deve se pautar pela independência de classe, unindo todos os trabalhadores junto dos setores oprimidos, negros, mulheres, LGBTs, imigrantes. Para isso, é preciso exigir de cada sindicato, e das centrais como CUT e CTB, que rompam com a política que descrevemos acima, e tomem medidas para a organização dos trabalhadores que estão sendo massacrados em cada local de trabalho. E nós batalhamos por essa unidade na luta também apostando que é por dentro dela que pode se abrir espaço para o desenvolvimento de uma perspectiva revolucionária, que é a única capaz de resolver estes problemas de fundo, passando da revolta das ruas à revolução.

Letícia: Uma unidade como essa é uma ferramenta muito mais potente do que uma unidade com setores burgueses para conter a crise dentro da institucionalidade desse regime degradado em que vivemos. Uma frente única como essa poderia avançar para responder não só a crise política do governo, mas a crise do regime como um todo. Seria um importante ponto de apoio para agitarmos a necessidade de uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana, para não apenas trocarmos as peças do jogo, mas mudarmos suas regras, dnado um basta à violência policial e o racismo, impor as medidas necessárias contra a pandemia, a falta de saúde, segurança no trabalho e renda e ameaça de desemprego.

Flavia: Uma unidade por um programa classista como esse não teria lugar figuras reacionárias como a que mencionamos. Além disso um processo como a Assembleia Constituinte Livre e Soberana ajudaria a classe trabalhadora a fazerem experiência com o máximo a que a democracia burguesa pode assegurar, preparando as bases de um governo operário rumo ao socialismo que pusesse fim a toda as opressões e a exploração capitalista.

 
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