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CRISE
América Latina e o impacto do coronavírus na economia
Mónica Arancibia

A região já se desacelerava e a pandemia aprofundará o estrago. Os especialistas advertem que aumentará o desemprego e a pobreza. A crise atinge uma região atrasada e dependente onde a luta de classes emergiu no ano passado diante de anos de desigualdade.

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A crise econômica mundial causada pela pandemia, agravada pela debilidade da economia pós Lheman Brother, Terá consequências que ainda não é possível dimensionar, porém que muitos já comparam com a depressão de 30.

Neste contexto, a América Latina também é atingida pela catástrofe, porém não é um raio que caiu num céu sereno. A região atravessou "o fim do boom das commodities", a crise afetou desde 2013-2014 e mostrou o fracasso dos governos pós-neoliberais que não conseguiram reverter o atraso da dependência. Alguns países da América Latina já estavam em recessão ou já apresentavam um menor crescimento. Em 2018 a economia da América Latina cresceu 1,1% e passou a 0,1 em 2019.

A informalidade do trabalho, os empregos precários, economias primárias são características estruturais na região, problemas não resolvidos pelos governos pós-neoliberais e que provocará um maior impacto da crise.

O economista Michael Husson adverte que os países "emergentes" (como se denominam os países atrasados e dependentes)afetados pelas fugas de capital e pela queda dos preços dos produtos básicos, contribuirão para a contração da economia mundial.

Colapso das economias latino-americanas

Um informe do Banco Interamericano de Desenvolvimento mostra que a taxa de crescimento da região para 2020, dependendo do cenário (que estimaram com impacto moderado a extremo) se localizará numa faixa entre -1,8% e -5,5%.

Além disso, segundo os choques moderado e extremo, a região poderia perder entre 6,3% e 14,4% do PIB nos próximos três anos (assumindo que os números da tabela são uma média anual por três anos), acrescenta o documento.

Quais são os motivos dessa queda? As economias foram sacudidas pela queda da oferta e demanda interna e simultaneamente pela crise sanitária. Isso afetou os países independentemente do tipo de bloqueio que se aplicou. Em outro nível, houve causas esternas como o colapso do comércio mundial, a queda dos preços das matérias primas e o fluxo de entrada de capital.

A Organização Mundial do Comércio calcula que o volume do comércio mundial em 2020 baixará entre 13 e 32%, o que afetará as exportações.

A queda da demanda da China e do resto do mundo reduziu o preço das matérias primas. O colapso do preço do petróleo que chegou a valores negativos se explica pela queda da demanda, sua capacidade de armazenamento no limite, junto a "guerra de preços" entre Rússia e Arábia Saudita no início do ano.

Um questionamento sobre a profundidade do impacto na América latina é o que acontecerá com a China já que é o principal parceiro comercial de muitos dos países latino-americanos. A economia do gigante asiático teve uma queda de 6,8% no primeiro trimestre, calcula-se uma recuperação de 1% este ano ainda que estaria longe do impulso que teve pós-crise de 2008.

O menor desenvolvimento a nível global também incidirá sobre a região. Pelos efeitos do coronavírus calcula-se uma redução do Investimento Estrangeiro Direto (IED) a nível mundial entre 5 e 15 % no período de 2020 e 2021 segundo a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (CNUCD).

No entanto, o Instituto de Finanças Internacionais (IFF) registrou em março um recorde de U$S 83.200 milhões de fuga de capitais em março nos países "emergentes", ainda que no mês seguinte tenha se revertido. Segundo os dados do IFF, estima-se uma entrada de capitais ao redor de U$S 17.100 milhões em abril. Os economistas do IFF afirmaram que "apesar da melhora dos fluxos, acreditamos que a situação não está bem clara ainda em todos os mercados emergentes, já que a combinação da persistente incerteza diante da COVID-19 e o espaço limitado de políticas é um desafio para alguns".

Vidas precárias

Na América Latina "os mercados laborais da maioria dos países da região se caracterizam por uma alta informalidade", afirma um informe elaborado pela Organização Mundial do Trabalho (OIT) e a Comissão Econômica para América Latina e Caribe (CEPAL). A taxa média de informalidade é de aproximadamente 54%. Isso significa que os trabalhadores estiveram mais expostos a baixas salariais ou a ficar sem emprego durante a economia.

Ambos organismos calculam um aumento da taxa de desemprego de pelo menos 3,4 pontos percentuais, até avançar uma taxa de 11,5% no final de 2020, o que representará mais de 11,5 milhões de desempregados. Se o coronavírus se estende e os bloqueios também a situação vai piorar.

O informe sustenta que na América Latina se calcula que 42,4% do emprego se encontra em setores de alto risco e outros 16,5% em setores de risco médio-elevado, e nestes setores há o risco de uma maior redução nas horas de trabalho, cortes salariais e perdas de emprego.

A queda nas taxas de emprego não é nova, e os organismos reconhecem que o débil crescimento na América Latina provocou a criação de empregos de baixa qualidade na região, ou seja, empregos precários. A taxa de desemprego alcançou 8,1% em média nos países da região. Isso significa aproximadamente 26,3 milhões de desempregados.

Os organismos advertem que "espera-se um marcado deterioramento da qualidade do emprego, devido ao aumento da informalidade e da redução das jornadas laborais e dos salários". Se adiantam as reformas trabalhistas que de fato estão realizando os capitalistas aproveitando-se da crise?

As demissões e cortes salariais impactarão na renda. A CEPAL estima que a taxa de pobreza poderá aumentar até 4,4 pontos percentuais e a de pobreza extrema em até 2,6 pontos percentuais em relação a 2019. Sendo assim, a pobreza aumentaria em 34,7% entre a população latino-americana (214,7 milhões de pessoas) e a pobreza extrema em 13% (83,4 milhões de pessoas).

Outra saída é possível

Os Estados em várias partes do mundo anunciaram pacotes milionários para conter uma queda ainda mais profunda da economia, a "ajuda" se concentrou em salvar os capitalistas.

Segundo um estudo da Universidade de Colúmbia, nos Estados unidos, que analisou 168 países, estimou que s pacotes representam uma média global de 3,7 do Produto Interno Bruto. O primeiro lugar é ocupado pelo Japão com 21% do PIB. No caso da América Latina o gasto ronda os 2,4% do PIB.

Um informe do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) analisou os recursos totais anunciados pelos governos (que inclui gastos diretos, redistribuição, empréstimos aos bancos e outros fatores, e o montante ronda os 4,1% do PIB latino-americano. Porém, se exclui-se as medidas de empréstimos às empresas, a "ajuda" se reduz a 2,7% do PIB.

Na Argentina um estudo da economista Agostina Constantino calculou que 72% do gasto público da quarentena se destina a empresas.

No Chile foram registrados aportes aos bancos e a grandes empresas como Latam, o grande comércio, empresas de transporte, concessionárias de autopistas, entre outros.

No fim de março no Brasil estimou-se que somente 6% do valor dos pacotes de estímulo se destinaria diretamente à população, a grande maioria se destinou a grandes empresas.

No Peru também houve grandes resgates aos bancos e aos empresários.

A resposta dos Estados não evitará a piora das condições de vida do povo trabalhador, mal estar que esteve de fundo nos levantamentos que ocorreram na região em 2019.

A luta de classes emergiu na América Latina. No Chile e no Equador tiveram jornadas revolucionárias. No primeiro caso contra anos de desigualdade, herança da ditadura de Pinochet que mantiveram todos os governos por mais de 30 anos, cujo lema se transformou em "Não são 30 pesos, são 30 anos!" (em referência ao aumento do preço do transporte público que incendiou as mobilizações), e no Equador contra as medidas de ajuste exigidas pelo FMI.

Também teve rebelião popular em porto Rico, onde tiraram o governo questionando o domínio colonial norte-americano, no Haiti houve revoltas contra o governo; paralisação nacional e multitudinárias manifestações na Colômbia, greve dos trabalhadores públicos na Costa Rica; e a luta na Bolívia contra o golpe reacionário recorreu a região.

As causas profundas deste processo como a desigualdade, a pobreza e o desemprego que se aprofundará pela crise, junto aos esforços das patronais de aproveitar a pandemia para avançar por via de fatos como ataques às condições de vida, reformas trabalhistas e previdenciárias, são combustível para que a revolta volte a irromper.

Diante da catástrofe que submerge na América latina é necessário uma saída da outra classe que não virá das mãos dos Estados capitalistas que, como se observa, destinam seus esforços a salvar o grande capital.

São necessários medidas urgentes como subsídios ou "salários de quarentena", aplicar impostos às grandes fortunas, licenças mantendo 100% das remunerações, contra as suspensões com cortes salariais e as demissões, exigindo sua proibição. Também propomos o desconhecimento soberano das dívidas externas, uma hipoteca nos países dependentes, a nacionalização dos bancos sob controle dos trabalhadores, e o monopólio estatal do comércio exterior. Um programa anti-imperialista e anticapitalista.

A tarefa estratégica é a luta por um Governo de Trabalhadores e a Federação de Repúblicas Socialistas da América Latina.

 
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