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MORO NO FANTÁSTICO
Globo morde e assopra Moro em entrevista ao Fantástico, protegendo seu legado golpista
Ítalo Gimenes
Mestre em Ciências Sociais e militante da Faísca na UFRN

Na noite desse domingo, o ex-juiz e ex-ministro de Bolsonaro, Sérgio Moro, deu entrevista ao Fantástico sobre o desenvolvimento da sua denúncia contra a interferência do presidente na Polícia Federal. Ao mesmo tempo que pressionou o ministro pela falta de contundência no seu papel de desgastar Bolsonaro, seu legado golpista na Lava-Jato foi muito bem cuidado, preservando a parceria da Globo com os agentes do autoritarismo judicial dos últimos anos.

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O vídeo da reunião ministerial divulgado na última sexta-feira era prometido como uma bala de prata contra o governo Bolsonaro, trazendo as esperadas provas sobre as acusações de Moro sobre a interferência do presidente na Polícia Federal. Apesar de uma série de declarações aberrantes naquela reunião por parte de Bolsonaro, os militares e o ministro do governo, o vídeo não trouxe nenhuma novidade sobre as intenções do presidente de trocar o comando da PF para proteger a sua família.
Moro já havia dado um depoimento à PF após a sua saída e entregado trocas de mensagens com Bolsonaro, que tampouco revelavam a intenção do presidente de blindar investigações contra ele e sua família.

Como viemos apontando nas nossas análises, um ataque mal sucedido pode fortalecer quem está sendo atacado. A Globo, que sempre foi comprometida com a arbitragem das investigações da Lava-Jato e avalistas dos arroubos políticos de Sergio Moro quando juiz e durante a sua presença no governo Bolsonaro, realizou com ele ontem uma entrevista para o Fantástico. Para muitos, chamou atenção uma pressão contra o ministro nessa entrevista, que teve que dar explicações sobre os seus 14 meses junto a Bolsonaro e seu silêncio durante a reunião ministerial.

ANÁLISE: Como fica o governo Bolsonaro após o vídeo da reunião ministerial?

Essa pressão pode ser entendida também como um "puxão de orelha" em Moro, que diante de que seu ataque ao Bolsonaro, ao invés de desgastar a sua aliança com os militares e possibilitar uma saída institucional que fortaleceria o arbítrio golpista do judiciário, da Globo e de setores do Congresso - como seria o caso de um impeachment ou renúncia - resultou no fortalecimento, ao menos momentâneo, de Bolsonaro em aliança com os militares.

Reunião ministerial, falta de provas e a questão do armamento

A reunião ministerial foi marcada por declarações racistas e fascistas como a de Weintraub, de ódio aos indígenas e chamando a prender os ministros do STF. O ministro Ricardo Salles defendeu “passar a boiada”, em referência ao aumento de desmatamento na Amazônia, enquanto estamos “distraídos” com a pandemia, ainda enquanto Moro estava reunião. O ex-ministro da justiça desviou e justificou seu silêncio dizendo apenas que “não estava confortável naquela reunião”.

A jornalista destacou que Moro ficou 16 meses no governo, que respondeu dizendo que apenas se incomodou com problemas de agora. Moro disse que aceitou ser ministro por entender que “tinha uma missão” e que não se arrepende.

Ali a Globo tanto botou em questionamento o compromisso de Moro em sustentar Bolsonaro e sua popularidade no governo, como veremos depois no questionamento a questão do armamento, ao mesmo tempo levantou a bola para que Moro saísse como quem tinha um "compromisso de combater a corrupção", mas que foi desmantelado por Bolsonaro.

Abritta: “A pergunta que surge é se o Sr. teria guardado alguma prova justamente para não parecer que teria sido omisso em relação a alguma possível conduta criminosa do presidente durante a sua gestão”.

Sem ir mais longe, a jornalista questiona a falta de provas na acusação de Moro contra Bolsonaro, pois se ele as tem, ao contrário de como foi com o julgamento de Lula, não pode simplesmente revela-las porque certamente está implicado nelas, tendo abafado possíveis crimes de Bolsonaro durante a sua permanência no governo.

Para não comprometer mais Moro, a jornalista aceitou a sua resposta demagógica de que “revelaria se houvesse alguma situação ilícita”, e que estava desapontado com o esvaziamento da pauta do combate a corrupção no governo e suas alianças com políticos do Congresso.

Moro também tentou se desvincular das declarações aberrantes de Bolsonaro que defendia o armamento da população – inclusive com silencio cúmplice dos militares que comandavam aquela reunião. “Em nenhuma circunstância se pode concordar que o armamento sirva de alguma forma para que as pessoas possam se opor de forma armada a medidas sanitárias”.

A jornalista Poliana Abritta questionou: “Mas foi justamente isso que o presidente Bolsonaro defendeu na reunião, que a população fosse armada, inclusive com intuito de se rebelar contra governadores e prefeitos, e o Sr. estava alí presente.” Moro se limitou a dizer que “não há espaço ali para o contraditório”.

A jornalista lembrou que “no dia seguinte [dessa reunião] saiu uma portaria assinada pelo Sr. e o ministro da Defesa, aumentando a possibilidade do cidadão comprar munição de 200 cartuchos por mês para 550 por mês. Essa conduta pelo Sr. foi resultado dessa pressão que o presidente fez na reunião?”

Moro: “Certamente, não queria que isso fosse utilizado como subterfúgio para desviar a questão da interferência na PF”

Abritta: “O Sr acha que valia a pena a troca?”

Moro: “Isso veio a pedido do presidente, e eu entendi naquele momento que não tinha condições de me opor a isso por que já existia essa querela envolvendo a PF.”

Uma desculpa completamente demagógica por parte do ex-ministro que defendeu um decreto de Jair Bolsonaro de maio do ano passado que propunha maior liberação de armas para a população. Foi autor do Pacote Anti-Crime que previa o excludente de ilicitude para legalizar a impunidade policial para matar a população pobre e negra nas periferias. Quanto a isso Moro estava bem “consciente” de sua missão no governo em confluência com a base bolsonarista. Ali a Globo deu uma oportunidade para Moro se blindar contra possíveis usos dessa parte aberrante de Bolsonaro defendendo armamento na reunião ministerial, que pudesse comprometê-lo também, diante de tanto tempo defendendo, ainda que com diferenças, o armamento da população.

Um legado [golpista] a salvar

Em nenhum momento foi questionado o papel do ex-juiz no avanço autoritário dos últimos anos. Moro foi protagonista das acusações com base em vazamento de mensagens, áudios, conduções coercitivas combinadas com delações premiadas, no momento do golpe institucional contra a ex-presidente Dilma, que pudesse aprofundar as reformas e ajustes fiscais iniciadas por ela contra os trabalhadores e o povo pobre. E também no momento da prisão arbitrária de Lula em 2018, que junto a outras medidas arbitrárias do STF e ao TSE, era uma manipulação daquelas eleições em favor de um candidato que desse continuidade direta ao legado econômico do golpe. Bolsonaro não era exatamente o que estes representantes da alta burguesia brasileira e imperialista esperavam, mas foi o fruto indesejado destinado a eles para conduzir os seus interesses no país.

Após a saída do ex-juiz de Curitiba do atual governo, a Globo assumiu um papel de “advogado” de Moro defendendo a sua acusação contra Bolsonaro, mesmo após o vídeo da reunião ministerial da última sexta-feira. Com isso buscavam proteger o legado golpista dos anos de atuação da Lava-Jato que tanto lhes beneficiou, assim como a Folha, Estadão, como árbitros da situação política junto ao incremento autoritário do poder Judiciário, tendo em seu controle os vazamentos de áudios e delações, e que agora busca se reestabelecer desgastando Bolsonaro e sua relação com militares que sustentam seu governo, sobretudo pela via do STF.

A entrevista fica marcada por um “morde e assopra” contra Moro, buscando manter intocada o seu pretenso “compromisso com a verdade e no combate a corrupção”. A fraqueza das acusações contra Bolsonaro resultou em um fortalecimento momentâneo do seu governo, que preocupa esses atores autoritários da mídia e do judiciário que buscam disputar as rédeas do regime com esse protagonismo que vem ganhando os militares. Contudo, a Globo, Folha, Estadão, repetem toda a semana nos seus editoriais que os militares devem cumprir o seu “papel constitucional” e deixando esse governo. De nenhuma forma irão se opor ao arbítrio que essas forças herdeiras da ditadura se atribuem de garantir “a lei e a ordem”, aberta a todo tipo de interpretações de força.

Nesse sentido que não podemos confiar que o STF, a imprensa ou os governadores que se opõem a Bolsonaro e ensejam a sua queda do governo, seja por uma renúncia ou processo de impeachment, buscam de fato barrar esse avanço autoritário dos militares, crescente a cada passo de desenvolvimento da crise política. O próprio PT, ainda que busque se afastar de Moro, busca retirá-lo dessa aliança entre a velha direita, para poder se colocar ao lado dessa frente ampla "contra Bolsonaro" junto a Globo e o Judiciário, defendendo o impeachment, para se provar como quem pode melhor conservar as instituições autoritárias desse regime golpista.

Lamentavelmente que setores da esquerda, como correntes do PSOL e mesmo do PSTU, se colocam como defensores dessa saída como impeachment, ou mesmo eleições gerais, propondo colocar a luta dos trabalhadores e setores populares atrás do protagonismo desses agentes autoritários do regime a decisão sobre a saída de Bolsonaro.

Mesmo com essas disputas com essa aliança Bolsonaro-militar, o STF, o Congresso, a Globo, defendem juntos medidas como a MP da Morte, o resgate aos bancos e empresários, a custas de maiores ajustes fiscais contra as condições de vida dos trabalhadores e da população pobre. Ainda que questionem o negacionismo de Bolsonaro em relação a pandemia e a sua odiosa indiferença com as mortes que estão ocorrendo, legitimam as ações dos governadores que não garantes testes, EPIs, leitos, respiradores, que também tem suas mãos sujas de sangue.

O ódio contra Bolsonaro não pode significar um fortalecimento desses velhos agentes do golpe institucional e do arbítrio judicial que fortalecem a perseguição a organização política dos trabalhadores e levaram a aprovação da terceirização irrestrita, a validação dos acordos individuais por redução de salário e suspensão de contrato pela MP da Morte de Bolsonaro. Apenas uma política independente dos trabalhadores, para que estes se organizem politicamente para conduzir o país para fora dessa pandemia, pode nos dar uma saída política que ponha abaixo todo esse regime golpista e barre o fortalecimento dos militares.

Por isso nós do Esquerda Diário fazemos um chamado a todos os setores da esquerda socialista que defendamos juntos o Fora Bolsonaro, Mourão e Militares, sem nenhuma confiança em saídas como impeachment ou eleições gerais, que apenas legitimariam as velhas instituições da democracia degradada e corrupta desse regime. Chamamos a que construam levantes conosco a bandeira de uma assembleia constituinte livre e soberana, com medidas de emergência de combate à pandemia, que devem inclusive a taxação das grandes fortunas, reconversão produtiva com a estatização das grandes empresas sob controle dos trabalhadores para produzir neste estado de crise, abrindo vagas de emprego e produzindo para que quem precisa fazer quarentena receba no mínimo um salário de R$ 2 mil, e com a produção de respiradores, leitos, financiamento de pesquisas para vacinas e tudo o que é necessário para combater a crise sanitária.

 
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