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De quem é a culpa pelo aumento de casos?
Gabriel Girão

Nos últimos dias temos visto um aumento exponencial dos casos no Brasil, o que tem levado o SUS ao colapso em alguns estados e em outros à beira disso. Enquanto os governos e a mídia tentam atribuir isso ao fato de que a população estaria voluntariamente desrespeitando o isolamento, esse artigo busca mostrar quem no fundo é responsável pelo aumento de casos.

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A pandemia vem se agravando no Brasil. Em poucos dias o crescimento de casos confirmados no Brasil é exponencial. No dia que esse artigo está sendo publicado, provavelmente o Brasil superará os 100 mil casos e 7 mil mortes, com imensa subnotificação. Com isso, os governos estaduais e a grande mídia saíram a culpar o fato de que isso se daria, pois, a população não estaria respeitando a quarentena, enquanto Bolsonaro veio usar isso para reforçar seu discurso assassino de que não adianta nenhuma medida de contenção. Por fora dessa pretensa polarização - que como mostraremos mais à frente não são posições tão opostas – buscaremos aqui mostrar o que está por trás do aumento da curva de casos.

Primeiramente, temos que entender como funciona a dinâmica de expansão da pandemia. Ela se dá em crescimento exponencial, pois quanto mais pessoas estão contaminadas, significa que mais pessoas estão transmitindo o vírus e criando um efeito cascata – até que eventualmente o número de pessoas que tenha se exposto ao vírus e esteja imune seja tão alto que se possa contrabalancear isso. O isolamento social, por si só, até pode atenuar esse fenômeno, mas de forma alguma anulá-lo. Significa que nada pode ser feito? Evidente que não. A testagem massiva e o rastreamento de contaminados poderia de fato conter o aumento dos contágios. No caso do novo coronavírus isso é urgente, porque já se sabe que os pacientes começam a ficar transmissíveis antes de apresentarem sintomas e que inclusive a grande maioria dos casos são assintomáticos, apesar de serem transmissíveis.

Ver também: A aposta da imunidade de rebanho

A testagem em massa não é apenas algo que diz à saúde individual, visto que quanto mais cedo as pessoas são diagnosticadas, mais cedo podem repousar ou ter o tratamento adequado e diminuem a chance de complicações. Ela também é uma medida elementar de saúde pública, pois quanto antes isolamos os casos confirmados, menor será o potencial deles espalharem a doença. Isso sem falar que as condições técnicas atuais permitiriam efetivamente que se fizesse um plano para suprimir totalmente mais o vírus.

No entanto, os testes no Brasil são totalmente escassos. Nem mesmo os profissionais da saúde, que estão na linha de frente ao combate e são expostos ao vírus regularmente, tem direito a testes regulares. Aliás, nem mesmos todos os doentes e mortos suspeitos são testados. Imaginar conter a pandemia sem essas medidas mínimas é quase uma súplica divina.

Vamos também aqui analisar outros fatos. Que a taxa de isolamento social tem caído é um fato, e que isso pode agravar a pandemia também. No entanto qual será a principal causa disso? É evidente que os discursos do Bolsonaro contra o isolamento, aliado às correias de transmissão de sua política, como algumas igrejas evangélicas e a milícia (que no Rio obrigam o comércio a abrir) tem sua parcela de culpa. Também não podemos descartar que esteja começando a haver um desgaste psicológico na população que se vê submetida a um isolamento social prolongado sem nenhuma medida de fundo que realmente vise resolver a questão, fato que é explicitado pelas pesquisas de opinião publicadas.

No entanto, um olhar mais atento aos dados e aos fatos podem nos ajudar a entender o que realmente está por trás da queda ao isolamento social. Olhando o mapa do site inloco, que mede o isolamento em todos os estados do países, vemos como claramente os picos de isolamento são aos domingos e feriados. Esse fato é corroborado por um estudo publicado no Globo que mostrou como que no feriado do 1º de Maio, que foi um dia ensolarado e que inclusive as pessoas foram passear no calçadão das praias, a média do isolamento na cidade ficou em torno de 82%, bem acima dos 70% tidos como ideal.. Segundo a matéria, índice foi similar ao do feriado municipal de São Jorge, dia 23. Esse valor também é acima da média semanal.

No entanto, outro fato chama a atenção: o isolamento ontem no bairro de Jacarepaguá ficou em 78%, muito acima do dia anterior, onde ficou em 40%. A matéria indica a causa da queda: “Jacarepaguá alcançou índice de isolamento de apenas 40%, porque, segundo o chefe do COR, uma das câmeras captou imagens da fila na porta da Caixa Econômica Federal.” Ou seja, pessoas que estavam tentando sacar o auxílio emergencial.

Muito mais do que seu vizinho que saiu pra tomar sol, o que realmente faz o índice de isolamento ser baixo é o fato de que os grandes capitalistas fizeram de tudo para garantir seus negócios funcionando mesmo que não fossem essenciais e não deram condições para a população fazer o isolamento. Isso é que o demonstra uma matéria da Folha ontem, que mostra que 88% da construção civil continuou funcionando. Também podemos analisar no anúncio de Dória, em que se gaba por ter mantido 74% da economia de São Paulo funcionando.

Outro elemento central para garantir o isolamento dos informais seria a renda mínima. No entanto, o projeto aprovado na câmara não apenas prevê um valor de apenas 600 reais, como, apesar de ter sido aprovado no final de março, só começou a ser pago recentemente. Ou seja, além de ser um valor bem baixo, ainda por cima demorou bastante tempo para ser pago. Com isso milhões de pessoas tiveram que sair para a rua trabalhar para ganhar o seu sustento. Se não bastasse isso, conseguir sacar o auxílio é uma saga. Confusão e filas cheias marcaram o pedido. Houve relatos inclusive de pessoas tendo que dormir na rua para conseguir local na fila. Não à toa, como a própria matéria do Globo mostra, o isolamento em Jacarepaguá diminuiu por isso.

Mesmo aos trabalhadores que podem ficar em casa de home office, não lhe és fornecidos os meios para que possam realmente se isolar. Os supermercados e farmácias vivem lotados, muitos não tem delivery e quando tem, são limitados e a taxa é cara.

Por último cabe dizer que segundo o mapa citado anteriormente, o estado com a menor taxa de isolamento é o Mato Grosso do Sul. Isso não é por acaso. Desde 13 de abril, o Ministério da Saúde, ainda sob os áuspices de Mandetta (que inclusive é dessa região), liberou que cidades pequenas reabrissem. Essa lei, conforme foi uma exigência direta do agronegócio para garantir seus lucros, como mostramos nessa live, Agronegócio esse que tem um dos seus epicentros nesse estado. um dos primeiros a abrir as cidades pequenas e que tem várias cidades abertas. No entanto, os números oficiais do estado são de menos de 300 casos e 7 mortes, o que evidencia uma imensa subnotificação, se não uma ocultação deliberada de casos.

O plano dos capitalistas é nos deixar morrer

Como mostramos acima, a culpa do aumento da curva não é da população que “não respeita” o isolamento e sim dos governos e patrões, que não fornecem testes da forma adequada nem os meios para que a população possa isolar, ainda obrigando vários trabalhadores a manter-se em jornadas exaustivas, inclusive os não essenciais. Não faltam denúncias de trabalhadores do grupo de risco não sendo liberados, e até de trabalhadores com suspeita sendo obrigados a trabalhar, algo que tem resultado em muitas mortes.

Enquanto os governadores e a mídia falam que a única coisa que se tem a fazer é ficar em casa. No entanto, ignoram que essa opção é irreal pra maior parte da população e também escondem que não existe nenhuma medida de fundo, fora esperar que a população crie imunidade de rebanho e que isso reduza o número de contágios. Algo que ninguém sabe muito bem quando vai acontecer e que com certeza vai deixar seu rastro em milhares de vidas.

Portanto, é absurdamente hipócrita e quase um escárnio as campanhas de conscientização do respeito à quarentena por parte dos governadores, quando eles mesmos não permitem que imensas parcelas da população façam isso. Inclusive, sabem que no plano deles é interessante que o vírus mantenha uma taxa de circulação pois isso possibilita que a imunidade de rebanho se construa mais rápido. Não à toa, dias depois de reclamar das pessoas indo no Ibirapuera, Dória anuncia que pretende reabrir e que a taxa 50% de isolamento era “aceitável”, sendo que dia antes falava sobre a importância de manter a taxa acima de 70%. E não a toa o prefeito do Rio prorrogou a quarentena apenas para o meio de maio, quando, segundo ele, os hospitais de campanha já estarão prontos. Isso evidencia como o único “plano” pra gerenciar a doença é aumentar a capacidade de empilhar doentes em estruturas precárias como hospitais de campanha.

Partindo dessas limitações é que Bolsonaro faz uma imensa demagogia contra o isolamento social. Assume abertamente o que tanto seu plano quanto o dos governadores vão resultar: que a maioria da população vai contrair o vírus. No entanto, faz isso apenas para justificar seu plano assassino de reabrir imediatamente que vai levar a um colapso ainda maior do sistema de saúde e aumentar muito a crise sanitária.

Por isso, ainda que tenham suas diferenças, tanto Bolsonaro quanto os governadores não propõem coisas muito diferentes do que nos expor massivamente ao vírus, variando apenas na intensidade.

Por isso os trabalhadores e a população não podem ficar reféns dos planos assassinos dos capitalistas e precisam se mobilizar desde já, conforme as condições da pandemia permitam, para exigir um plano de emergência no combate.

Esse plano deveria começar com testes massivos para poder isolar o quanto antes os contaminados. Também é urgente a estatização imediata dos leitos privados, não é possível que enquanto tenha fila nos leitos do SUS o sistema privado fique ocioso essa medida deve vir junto da centralização de todo o sistema de saúde (público e privado) sob o controle dos trabalhadores. Enquanto o ministro da saúde diz que não sabe aonde adquirir respiradores e que a produção nacional é insuficiente, há várias fábricas de veículos que poderiam ser reconvertidas para a produção de respiradores mas que estão ociosas e demitindo trabalhadores. Por isso é necessário um imediato plano de reconversão industrial sob controle operário para produzir os insumos necessário ao combate da pandemia!. Isso deveria vir junto a contratação imediata de profissionais de saúde para o combate à pandemia!

Também é necessário garantir o isolamento a todos! Quarentena remunerada a todos os trabalhadores de serviços não essenciais! Pelo imediato pagamento do auxílio emergencial e aumento dele para 2000 reais! Proibição imediata das demissões!

Nossas vidas valem mais que seus lucros!

 
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