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EDUCAÇÃO
"Não tem como dar aula em EAD para quem mal tem o que comer!” Professora do RS sobre proposta de Leite
Diego Nunes

Eduardo Leite vem numa ofensiva muito forte contra as escolas e os educadores gaúchos. Sem oferecer estrutura alguma exige, por meio da SEDUC, que professores realizem cursos online, bem como encaminhem planos de ação e aulas programadas pela internet às CREs e aos alunos respectivamente para garantir a efetividade, ou seja, o pagamento. A questão é que muitos professores nem internet estão conseguindo manter mais com o salário de miséria, defasado em mais de 100%, congelado já há 5 anos e parcelado pelo mesmo período. Veja a denúncia dessa professora, que prefere não se identificar, ao relatar a situação em que estamos colocados:

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“(...) estamos sendo pressionados pela Secretaria da Educação, nas chamadas aulas programadas, no qual nossos alunos, que são de uma comunidade carente não tem acesso, nós, Professores não temos como atender 600 alunos um a um por dia, levando material, ou mandando mensagem, fora a solicitação das fotos das crianças executando as atividades e de nós Professores fazendo os cursos de formação, sem nenhum suporte da mantenedora, meu celular, minha internet, meus dados móveis, não sabemos dar aula online, EAD, não somos tutores, somos Professores, na íntegra da Palavra, formamos pessoas e o que fazemos não pode ser descartável, a LDB não prevê esse tipo de Educação, essa plataforma determinada pela mantenedora, não sabemos usar, não fomos treinadas, não temos dinheiro para pagar a banda larga, estou usando os dados móveis do meu filho, que tem um plano da empresa dele, entendem? Nossa mantenedora solicitou um plano de ação para os dias letivos! Que dias letivos? Tenho sala de aula nessa plataforma sem nenhum aluno, como irei justificar a ausência ou a presença do aluno nessa modalidade? Exigir foto? Minha? Dos meus alunos? Direito a imagem! Preciso assinar um contrato de direito de imagem e dos nossos alunos também! Não sou animadora de torcida, blogueira, sou Professora de Biologia, preciso mostrar, orientar, olhar meus alunos e senti-los, percepção, amor, empatia, saber das dificuldades, seus dramas, não tem como dar aula em EAD, para quem mal tem o que comer! Exigir de crianças isso é desumano eles não estão preparados para essa autonomia toda! Mal sabem amarrar os sapatos! Mas, Governo não é para isso! Números! Somos apenas números! De gastos com a nossa folha, gastos com materiais de escritório! Gastos com a merenda! Não tem como lavar as mãos com sabão na escola pública! Não tem verba pra isso! Nossa merenda se não me engano é 0,36 centavos por aluno! Quem come com esse valor? Nossos gestores diretores de Escolas sendo cobrados, Professores e Funcionários no limbo, e nossos alunos também!!!”

É uma tremenda hipocrisia e um faz de conta de que tudo ocorre normalmente à distância durante a quarentena. Pois não ocorre. Muitos alunos não tem sequer computador ou um celular com capacidade de dados, quem dirá internet em suas casas, o que têm são armários vazios e fome. E muitos dos que possuem acesso não compreendem as atividades e não conseguem tirar dúvidas.

Mês após mês Eduardo Leite realiza cortes absurdos e ilegais nos salários dos educadores, como o corte de ponto durante a legítima greve do magistério que atravessou o ano, ou erros grotescos, sempre para menos, no pagamento das férias. Nessa semana mais uma bomba: os professores que recebiam difícil acesso, por trabalharem nas escolas mais distantes e periféricas, terão um corte nesse benefício de até mil reais. Alguns professores terão seu salário reduzido praticamente pela metade.

Circulam nas redes sociais e nos grupos de whats entre os professores e funcionários uma sensação de impotência muito grande, um desalento, relatos de crises de ansiedade e depressão. Enquanto isso o CPERS Sindicato, com sua direção burocrática (PT e PCdoB) continua a empreender uma luta meramente jurídica, seguindo a lógica de frente ampla da esquerda nacional. Nesse cenário cada vez mais caótico é que cada educador e educadora precisa parar para pensar em sua formação e seu papel diante da realidade. As escolas são levadas à frente junto com as comunidades pelos professores e funcionários, não por pessoas que dentro de seus gabinetes não fazem ideia de como o mundo é fora da sua bolha. Nós professores e professoras, funcionários e funcionárias é que temos em nossas mãos o fazer pedagógico, que nesse momento exige de nós pensarmos em saídas que envolvam a solidariedade de classe, pois somos educadores dos filhos da classe trabalhadora. O conjuntos dos ataques à classe trabalhadora como a carteira verde e amarela, a MP da morte de Bolsonaro é inseparável dos ataques à educação. Está cada vez mais evidente que eles querem trabalhadores mais precarizados e alienados e para isso precisam mexer na educação, o que envolve fechar escolas e diminuir o acesso a educação para a classe mais pobre.

É um plano macabro de precarização e fechamento de escolas para que nós e nossas comunidades paguemos pela crise capitalista. Que agora com COVID vai se acelerar. Precisamos nos dar conta do que significa isso ligado aos outros ataques contra a classe trabalhadora. A miséria e o desemprego estão num horizonte muito próximo para milhares de pessoas. Mais do que nunca é preciso pensar em uma saída classista e independente, alertando e organizando nossas comunidades inclusive para não apenas resistir, mas sobreviver a tudo isso e juntos impor nossa vontade em defesa de nossas vidas. Eis o atual papel dos educadores, para além de pensar em conteúdos programáticos ou cumprimento de burocracias institucionais. Toda nossa ansiedade, tristeza e depressão precisa voltar a ser revolta, e essa revolta precisa de organização, e não bastam apenas textos de denúncia, como este. É pensando nisso que nós do Esquerda Diário criamos comitês para debater e pensar em medidas de ação pela base, bem como dispor deste diário para dar voz as denúncias da nossa classe. Nossas vidas valem mais que os lucros deles!

 
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