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Quais são os limites da política de quarentena de Mandetta?
Desirée Carvalho
Gabriel Girão

Nos últimos dias, vimos a escalada dos atritos entre Bolsonaro e Mandetta, que chegaram à quase demissão do ministro. O ministro, que atua alinhado aos governadores defendendo a política de quarentena, viu sua popularidade aumentar durante a crise do coronavírus. Este setor, visto como “sensato” frente ao negacionismo bolsonarista, vem ganhando até mesmo adeptos na esquerda, como Marcelo Freixo do PSOL, que subiu a hashtag #FicaMandetta na segunda. No entanto, cabe perguntar: qual a real efetividade das políticas de Mandetta e dos governadores para enfrentar a crise do coronavírus?

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Enquanto Bolsonaro nega o problema da pandemia para defender o fim da quarentena, usando a situação alarmante de uma parcela da população que está sem renda como álibi. Entretanto não está preocupado com a vida das pessoas que já morreram e podem morrer. Seu discurso sobre a crise econômica faz demagogia com os setores mais precarizados, e quer defender os interesses de diversos grupos capitalistas que confluem com ele, como o dono do Reustarante Madero. Já Mandetta e os governadores têm como principal proposta para o combate da pandemia o isolamento social, afirmando que estão tomando essa decisão se “calcando-se na ciência

No entanto, em qual ciência esses senhores dizem se calcar?

A quarentena é, na verdade, é um método utilizado desde a idade média, quando ninguém fazia ideia do que era um vírus, e por um método simples e empírico viam que isolar as pessoas em casa diminuía a contaminação. No entanto, de lá para cá a ciência evoluiu um bocado. Descobrimos a existência de microrganismos como bactérias e vírus, fomos da Lua às profundezas do oceano e somos até capazes de sequenciar o DNA dos patógenos. Será mesmo que o método mais calcado na ciência seria repetir o que se fazia na idade média?

Dentre as “maravilhas” inventadas pela ciência, uma foi a possibilidade de fazer testes para checar os infectados. Existe uma imensa variedade desses disponíveis, alguns inclusive foram desenvolvidos e são produzidos por pesquisadores aqui no Brasil. Não à toa a testagem em massa é uma das recomendações mais elementares da OMS. Uma testagem em massa permitiria que se fizesse um isolamento racional e planejado, provendo condições decentes para o isolamento dos contaminados e inclusive rastreando os suspeitos que tiveram contato com ele. Aí estaríamos falando de se calcar na ciência do século XXI e não na ciência medieval, de uma quarentena feita às cegas como a que está sendo aplicada hoje.

Mandetta e governadores têm prometido testes que além de serem totalmente insuficientes, nem mesmo chegaram. Alegam dificuldades na aquisição mas, por exemplo, faculdades e instituições como Fiocruz estão tendo que recorrer à doações e trabalho voluntário para produção de testes e pesquisas com coronavírus.

O isolamento indiscriminado e sem testes não aponta para nenhuma saída da situação, além de também ser irreal para a grande parte da população. Muitos setores de serviços essenciais ou não têm de continuar trabalhando seja porque são obrigados pelo chefe, como vemos nas inúmeras denúncias do Esquerda Diário, como também autônomos, pois o auxílio emergencial de 600 reais é totalmente insuficiente e começou a ser pago somente hoje, praticamente 1 mês após o início da quarentena. A miséria desse sistema coloca a uma grande parcela da população o dilema entre morrer de fome ou do vírus.

Além disso, Mandetta e os governadores ignoram que milhões de brasileiros vivem em moradias super habitadas e em condições insalubres. Ou seja, o isolamento sequer é uma opção viável para uma parcela importante da população. Essas questões, nem os governadores nem Mandetta parecem querer resolver.

Também aos trabalhadores que não podem ficar de quarentena, não são providas as condições de segurança e higiene necessárias para que evitem se contaminar. Algumas prefeituras e estados limitaram a quantidade de pessoas nos transportes públicos, mas não apresentaram nenhum plano de emergência que garanta a locomoção dos trabalhadores em segurança. Assim, fica a cargo deles próprios aguardar ônibus ou trens mais vazios. E aos casos suspeitos, não são garantidos testes e liberação remunerada do trabalho. Não faltam denúncias de locais que têm trabalhadores com sintomas, mas que não conseguiram testar e estão sendo obrigados a ir trabalhar.

Especialmente criminosa é a situação aos profissionais de saúde Por estarem na linha de frente ao combate ao coronavírus, são muito mais expostos e vulneráveis ao vírus. Além disso, muitas vezes têm de trabalhar sem os equipamentos de proteção individual necessário e sem testes, o que não apenas coloca sua saúde em risco, mas como a de seus familiares e da população em geral! O resultado é visto, com notícias de trabalhadores da saúde morrendo da doença e vários outros contaminados. E muitas vezes são obrigados a se calar diante dos problemas com o do assédio moral, que está ocorrendo em vários hospitais.

Soma se a falta de condições de trabalho adequada as notícias de atraso de salário, dos trabalhadores do Rio.

E qual é a única proposta que dão para isso? Alguns leitos a mais em hospitais de campanha. Além dos leitos serem em quantidade insuficiente e desses hospitais terem estruturas precárias, só ficarão disponíveis no final do mês, ou seja, semanas após o colapso do sistema.

No entanto, temos atualmente mais leitos de UTI no sistema privado do que no SUS sendo que apenas 25% da população tem acesso à saúde privada. Por que até agora não vimos o Ministério da Saúde mover um dedo para colocar os leitos privados disponíveis para toda a população? Talvez possamos buscar a resposta no histórico do nosso ministro, um famoso lobista da saúde privada.

Diante de tudo o que foi colocado, é inegável que o isolamento, tal como está sendo feito, é irracional e impossível de ser mantido por tempo indeterminado. Contudo, a proposta de flexibilização das medidas de isolamento sem um plano racional com testes massivos, tal como expressado pelo vice governador do RJ em entrevista essa semana na Rádio BandNews FM: simplesmente medir pelo aumento no número de internações, é uma receita para o caos. Visto que o tempo de incubação do vírus é de cerca de 2 semanas, quando o número de internações começar a aumentar, será provavelmente tarde para que se faça alguma coisa.

Por isso nós do Esquerda Diário estamos fazendo uma campanha para que o estado garanta testes massivos que tornem a quarentena efetiva e para que possamos usar todos os recursos disponíveis no combate a essa pandemia.

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Neste #diamundialdasaude saudamos a todas e todos os profissionais da saúde, que em todo o mundo estão na linha de frente do enfrentamento à pandemia! Esses médicos, enfermeiros, auxiliares, técnicos e pessoal administrativo e da limpeza é quem está pondo suas vidas na linha para lutar pela vida, muitas vezes tendo que lidar, ainda, com as precárias condições dos sistemas de saúde erodidos por décadas de desmonte, sucateamento e cortes neoliberais por parte dos governos capitalistas. Mas agora, em face à pandemia, profissionais de saúde ainda têm que lutar pelo direito ao mais básico dos equipamentos de proteção, e insumos para tratar seus pacientes. Apoiamos completamente suas lutas! É nesse quadro que seguimos exigindo a realização de testagens massivas na população, com testes para todos que queiram, como única real medida para um enfrentamento científico e racional à doença, com ênfase na testagem dos trabalhadores na linha de frente! Expressamos ainda, que estes testes, assim como o processamento de seus resultados e a planificação do enfrentamento à doença deve estar nas mãos dos próprios trabalhadores da saúde, e não dos governos burgueses, que se importam, em primeiro lugar, em salvar o lucros dos grandes empresários! Saudamos todos os trabalhadores da saúde! E exigimos #TestesMassivosJá! #CadêOsTestes #TestesParaTodos #profissionaisdasaude #saudepublica #saude #medicina #enfermagem #SUS #sistemaúnicodesaúde #politica #covid #covid19 #covid_19 #covidbrasil #coronavírus #coronavirusbrasil #corona

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O #FicaMandetta e as tarefas da esquerda

Com medo do negacionismo de Bolsonaro, muitos setores começaram a ver em Mandetta e nos governadores uma alternativa. Esse sentimento inclusive atravessou a setores da esquerda, como Marcelo Freixo, que levantou a hashtag #FicaMandetta na segunda feira.

Ao se colocar esse papel de apoio acrítico a Mandetta, esses setores esquerda não apenas legitimam um privatista responsável pela situação de calamidade a que chegamos aqui, como também sua resposta totalmente insuficiente. Basicamente nos diz que o que resta a fazer é confiar num ministro do Bolsonaro que só apresenta como solução, além de um isolamento indiscriminado, chá, canja, casaquinho e reza, como ele mesmo disse em uma entrevista. Inclusive, mesmo a questão do isolamento também é condicionada às negociações de bastidores, como se demonstrou no recuo do ministro essa semana.

Diferente disso, nós do Esquerda Diário acreditamos que a resposta deva vir da classe trabalhadora. Ainda que o isolamento dificulte as mobilizações, vemos como a população se organiza de forma criativa com panelaços e através das redes sociais. Também existem muitos trabalhadores de serviços essenciais que não podem ficar de quarentena. Por isso desde já a população necessita exigir:

Testes Massivos Já! Pela testagem massiva para estabelecermos uma quarentena racional, segura e planificada

Disponibilização de hotéis e acomodações de qualidade para o isolamento!

Disponibilização urgente de mais leitos de UTI e respiradores! Imposto sobre grandes fortunas e não pagamento da dívida pública, disponibilizando esses recursos para a saúde!

Pela unificação e centralização do sistema de saúde privado e público, sob controle dos trabalhadores!

Proibição das demissões! Renda mínima de 2000 reais a todos os autônomos e desempregados!

Os trabalhadores da saúde não podem naturalizar a situação que estão passando. É necessário que se organizem já e exijam:

Pela imediata disponibilização de EPI’s e instruções sobre prevenção ao coronavírus a todos os trabalhadores da saúde! Que se instalem comissões de higiene e saúde para que os trabalhadores controlem as medidas!

Por testes massivos regulares aos trabalhadores da saúde! Licença remunerada e garantia de benefícios a todos os trabalhadores do grupo de risco ou que apresentarem sintomas!

Iguais direitos e condições a todos trabalhadores da saúde! Pela contratação imediata de todos os terceirizados sem necessidade de concurso! Pelo fim da terceirização!

Contratação de trabalhadores da saúde desempregados e estudantes da saúde nos últimos anos já em condições e salários dignos! É um absurdo que em um país com 11 milhões de desempregados (número que tende a aumentar nessa crise) os trabalhadores da saúde tenham que ser submetidos à jornadas extenuantes! Os trabalhadores necessitam estar em condições físicas em mentais para fornecer o atendimento adequado! Pela redução da carga horária dos trabalhadores sem a redução do salário!

Enquanto faltam leitos, respiradores, testes e insumos básicos há trabalhadores tendo que produzir coisas totalmente supérfluas ou fábricas sendo fechadas e trabalhadores demitidos. Por isso é necessário que a imediata reconversão da produção e da economia para o combate à pandemia! No entanto, nas mãos da burguesia, jamais poderá haver uma reconversão eficientes pois colocarão seus lucros sempre em primeiro lugar, portanto é necessário que ocorra sob o controle operário! Apenas os trabalhadores, com o auxílio de especialistas da saúde poderão decidir o que e como produzir!

Também é necessário que em cada local de trabalho funcionando se formem comissões de segurança e higiene, para garantir as condições adequadas e que inclusive garantissem aos grupos de risco e trabalhadores contaminados e com sintomas o isolamento!

Diante da catástrofe que se avizinha, nem os burgueses moderados como Mandetta e companhia, muito menos os negacionistas que se alinham atrás de Bolsonaro poderão dar uma resposta que seja capaz de evita-la. Apenas um plano de guerra organizado pelos trabalhadores pode responder a crise do coronavírus

 
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