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QUE ISOLAMENTO OS PACIENTES DO COVID-19 NECESSITAM?
A quarentena e o COVID-19: que tipo de cuidados deveriam ter os contaminados?
Fernando Pardal

Frente ao crescimento do contágio no Brasil, muito se tem discutido acerca da quarentena e das medidas de restrição impostas aos que foram contaminados. Mas essas medidas são eficazes? O que deveria ser feito?

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Quando o Covid-19 se tornou epidêmico na China, vimos algo inédito com a quarentena de 40 milhões de pessoas na região de Wuhan. Contudo, a quarentena desse tipo, que se generalizou em outros países, como a Itália – e muito provavelmente será o modelo adotado por governos autoritários no Brasil, como os de Doria, Witzel e Bolsonaro – está muito longe de ajudar os indivíduos contaminados.

Aqui no Brasil, ainda que as quarentenas em larga escala como a Wuhan não tenha sido adotada até o momento, já vemos medidas autoritárias que visam mascarar o fato de que os governos capitalistas estão absolutamente se lixando para nossas vidas. A principal delas é a portaria que autoriza o uso de força policial para manter indivíduos suspeitos de contaminação em isolamento ou quarentena e caso não se cumpram essas determinações estes podem ser presos.. Por um lado, essas medidas autoritárias expressam um velado uso político da pandemia para que o governo de extrema-direita de Bolsonaro reforce suas medidas policialescas e repressivas de controle da população. Por outro, são absolutamente ineficazes para controlar a disseminação e o contágio pelo Covid-19.

Essa ineficácia se dá porque essa quarentena se resume a mandar as pessoas ficarem em suas casas, sem nenhum tipo de assistência ou amparo do Estado e dos aparelhos de saúde. A primeira consequência disso é que os trabalhadores estão à mercê de perderem seus empregos e seus salários, as fontes de renda que os sustentam, na medida em que nem o Estado os ampara economicamente, nem há nenhuma medida que obrigue as empresas que lucram com sua exploração a manter seus contratos e seguir pagando seus salários.

Outro aspecto absurdo dessa quarentena ao modo capitalista é que todos sabemos das péssimas condições de vida, da insalubridade dos lares e bairros proletários. Vivemos em um país de tamanha barbárie capitalista que metade da população não possui sequer saneamento básico. Isso é apenas uma expressão das degradantes condições de vida que se encontra nas favelas, habitada pelos trabalhadores que podem ser obrigados por força policial a ficar de quarentena em casas que muitas vezes têm um ou dois cômodos onde toda uma família se espreme. O primeiro efeito dessa quarentena é, na realidade, um contágio quase compulsório do restante dos habitantes da casa, que por sua vez também espalharão o vírus.

Além disso, a forma como a medicina capitalista encara a questão é ideológica e cientificamente incorreta, na medida em que aponta o vírus como o principal problema. Sim, a pandemia tem um vírus como agente patogênico (causador da doença), mas o que faz com que na maioria dos contaminados ele seja assintomático ou se expresse com os sintomas de uma gripe comum e em outros leve à morte? Se é fato que grupos de risco, como os idosos, são mais suscetíveis, também é verdade que a imunidade baixa possui muitos outros causadores, e entre estes estão justamente todas as condições precárias de vida que são impostas aos milhões de trabalhadores brasileiros: poucas horas de sono, alimentação escassa e de péssima qualidade, entre outros. Para ser bastante concreto, estamos falando de um país em que uma doença tão elementar e evitável quanto a diarréia em 2015 representou a sétima maior causa de mortalidade infantil.

Por isso, colocar uma família trabalhadora de quarentena em sua casa, com condições precárias, e ainda ameaçando o sustento dessa família pois a demissão dos trabalhadores que faltem continua sendo o horizonte para a imensa maioria, é na verdade uma política dos governos capitalistas para seguir permitindo que a pandemia de Corona vírus mate a população mais pobre, e siga se espalhando.

Que tipo de quarentena seria necessário?

Em primeiro lugar, temos que pensar para quem é a quarentena. Como vimos em casos absurdos, como o do trabalhador que morreu infectado pelo Covid-19 sem ter sequer sido diagnosticado . E, até agora, seus familiares seguem sem terem sido testados. A política do governo é de não testar as pessoas, mas um artigo da revista Sciente aponta que 80% das transmissões são feitas por casos não documentados, ou seja, que são portadores do vírus e aptos a disseminá-lo, mas que não foram testadas ou diagnosticadas de forma alguma. Portanto, a primeira medida seria a de testes massivos em toda a população que desejar, para que todos os portadores do vírus pudessem ser mantidos em um local seguro, de quarentena.

A maioria dos contaminados não precisam ir para a UTI, mas precisam de cuidados e de isolamento para não transmitir o vírus. Estas quarentenas deveriam ser garantidas pelo Estado. O isolamento feito em locais adequados, além de conter a propagação do vírus, mantendo as pessoas afastadas até que sua carga viral fosse zerada, seria feito para fornecer os cuidados necessários para fortalecer a imunidade das pessoas contaminadas, com alimentação fortificada de qualidade, banho de sol, suplementos vitamínicos e atividades de lazer e descanso, já que o estresse também é um importante agente imunossupressor, que debilita a saúde e favorece o terreno para a doença.

Para garantir imediatamente espaços adequados para esse tipo de tratamento, seria necessário que o Estado requisitasse hotéis, SPAs e resorts, locais que já estão construídos e que poderiam ser utilizados para essa finalidade com pouca necessidade de adequação. Os próprios trabalhadores auto-organizados poderiam administrar e gerir esses locais, que receberiam os indivíduos contaminados pelo vírus pelo tempo que fosse necessário. Nesses locais também deveriam ser organizadas UTIs para receber pacientes graves, e as fábricas de eletrodomésticos de linha branca precisariam ser readaptadas imediatamente para produzir respiradores mecânicos em quantidade necessária para atender os pacientes, um equipamento cuja quantidade suficiente pode determinar a vida ou morte de muitos nesse momento.

Isso, é claro, seria feito sem nenhuma coerção policial, diferente do que propõe os governantes. A adesão se dá porque as pessoas iriam receber um tratamento adequado e digno. Para os casos graves, é necessário o aumento drástico do número de leitos hospitalares e UTIs, o que só pode ser feito com a estatização imediata de todo o sistema de saúde, o fim do teto de gastos e investimento massivo em saúde, contratação emergencial de profissionais de saúde aptos a atenderem a população.

Mas, para além da quarentena e das UTIs e dos testes massivos, seria fundamental que houvesse uma política de garantir condições adequadas de vida para toda a população, o que seria a melhor forma de impedir que o contágio tivesse consequências tão terríveis quanto a morte. Isso, é claro, é uma tarefa que só pode ser garantida em uma sociedade em que as nossas vidas não estejam à mercê do lucro de um grupo de parasitas, em que possamos trabalhar para viver, e não viver para trabalhar. A crise do Corona vírus, portanto, é mais uma demonstração de que o capitalismo não dá mais.

 
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