Imagem: Jorge William/ O Globo
Há um embate em aberto dentro do governo Bolsonaro acerca dos ritmos das reformas. Guedes e sua turma querem avanço e implementação das reformas para já. E o presidente indica que colocará "em banho maria" a reforma administrativa.
Até mesmo a avaliação de pessoas próximas a Bolsonaro, encarregadas de destrinchar e avaliar a proposta, os ministros da Secretaria-Geral da Presidência, Jorge Oliveira; da Controladoria-Geral da União (CGU), Wagner Rosário; e da Advocacia-Geral da União (AGU), André Mendonça, é de que a reforma abriria brecha para entregar a empresas privadas a gestão de áreas estritamente públicas.
Jorge Oliveira também avaliou que carreiras tidas como fundamentais para o Estado, como as jurídicas e as diplomáticas estão ameaçadas. Ou seja, até mesmo no interior do governo que aprovou a mais brutal reforma contra os trabalhadores em décadas e que está sedento para atacar ainda mais, há resistência dos disparates ultra-liberais de Guedes.
Também a ala militar do Planalto, segundo O Globo, principalmente pelos generais Luiz Eduardo Ramos, ministro da Secretaria de Governo, e Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) estaria insatisfeita com a proposta e seus impactos.
Não é o caso dos grandes jornais brasileiros, que fazem coro até o final do projeto de Guedes que devastará direitos. Junto com a Reforma trabalhista, a previdência, esse ataque é parte dos objetivos do golpe. Vejamos a posição de alguns:
Estado de São Paulo:
Quando a grande mídia evoca os "especialistas" e os "economistas", para editoriais é sempre importante desconfiar. Quem são esses, quantos são e se há de fato um consenso sobre o assunto. No caso, o jornal entrevistou apenas uma economista, Ana Carla Abrão, sócia da consultoria Oliver Wyman, e essa é a opinião dela. Mas a matéria trata como uma demanda social, algo que é de opinião de uma pessoa e também do Estadão. Vejam como se referem a oscilação do governo a reforma administrativa:
"A posição errática do presidente Jair Bolsonaro sobre as principais reformas enviadas ao Congresso já é vista por economistas – dentro da equipe econômica e fora do governo – como um risco para o processo de retomada do crescimento, que pode acabar se transformando, mais uma vez, em um “voo de galinha”.
O Globo:
O Globo lançou algumas analises sobre essa disputa no interior do governo. O jornal teria tido contato com o gabinete de Guedes para embasar que Bolsonaro estaria sendo "corporativista". O curioso é que esse linguajar é próprio do jornal dos Marinho e é de conhecimento público a posição que defendem da principal batalha do Brasil seria "contra as corporações". No caso, a opinião de alguém inaudito se confunde com a posição do próprio jornal:
"No Ministério da Economia, a avaliação de pessoas próximas a Guedes é que o discurso do timing político é apenas uma desculpa para blindar os servidores públicos. Ou seja, que o Planalto estaria atuando de maneira corporativista para evitar regras que podem alterar, entre os outros pontos, o regime de contratação e planos de carreira."
Folha de São Paulo
A Folha é a que adota a postura mais ofensiva dos 3 maiores jornais brasileiros. Com o seguinte título ’Parasitas’ de Guedes só existem porque as regras em vigor permitem defende que o problema do Ministro da Economia é o "linguajar".
Ou seja, sobre a polêmica frase de Guedes, o conteúdo está absolutamente correto, o problema é de forma. A posição do jornal, afinal de contas, é que os funcionários públicos seriam mesmo parasitas mas não precisa falar isso abertamente. O problema do Ministro seria uma questão de excesso de sinceridade. Os 3 parágrafos a seguir resumem as descaradas declarações da Folha:
"O gasto com servidores quase não cabe mais na receita obtida com a elevada carga tributária, a maior entre as economias emergentes. Na prática, o governo vem se tornando cada vez mais um enorme RH, responsável por recolher impostos e pagar salários."
"Mas quando usou o termo “parasitas” para falar da relação entre os servidores e o “hospedeiro” (o Estado) há alguns dias, o ministro da Economia, Paulo Guedes, foi extremamente infeliz."
"Mas, de fato, há um crescimento acelerado nas despesas obrigatórias (funcionalismo, Previdência e programas sociais) e cortes acentuados nos investimentos imprescindíveis para manter a máquina pública funcionando."
Reforma Administrativa: a continuidade dos objetivos do golpe institucional de 2016
Após a enorme repercussão pela fala do Guedes chamando os servidores de parasitas, o mesmo teve que recuar e dizer que foi mal interpretado. Que na verdade, ele se referia ao Estado e não aos servidores. Uma demagogia enorme para tentar evitar que a Reforma fosse adiada.
Apesar dessa demagogia, o que se apresenta é um "consenso" entre as distintas alas do regime, que vai desde o Executivo, o Congresso Nacional até os governadores da Oposição, e especialmente a mídia burguesa, para descarregar a crise economia nas costas do povo trabalhador. É a continuidade do golpe institucional, que através da Operação Lava Jato, buscou interferir no regime brasileiro à serviço dos interesses imperialistas de aumentar as taxas de exploração no país.
Em cada um destes momentos, foi nítido que apesar de suas diferenças entre si, a mídia teve uma posição unificado de apoio ao golpe institucional e de cada reforma que foi sendo apresentada, inclusive muitas vezes criticando o governo por sua demora, sua incapacidade de articulação ou ainda suas polêmicas intervenções ideológicas que dificultavam acelerar suas aprovações, o que era um dos principais e verdadeiros objetivos que escondia o suposto "combate a corrupção".
Esse consenso ficou ainda mais evidente com os governadores do PT aplicando seu projeto de país no Rio Grande do Norte e em outras regiões do Nordeste com a aprovação da Reforma da Previdência Estadual. Por mais que haja diferença entre estas distintas alas, o acordo geral é que sejam os trabalhadores, e não os capitalistas, o que tenham que pagar este ônus.
Como já denunciamos no Esquerda Diário aqui, a Reforma Administrativa é um enorme ataque a todo funcionalismo público, e também as próprias demandas da população como saúde, transporte e educação. Precarizando, demitindo, censurando e perseguindo os servidores, o governo também irá piorar as já lamentáveis situações dos serviços públicos no país.
Por isso é necessário que nos coloquemos contrários a mais este ataque e que as centrais sindicais, especialmente a CUT que tem um enorme peso nessa categoria, se mobilize para disputar a opinião pública e o apoio do resto da classe trabalhadora contra esta medida, impondo uma batalha contra à propaganda do governo que irá martelar a sociedade com o discurso de "privilégios" dos servidores, enquanto são os políticos, os juízes, procuradores, militares de alto escalão que usufruem dos verdadeiros privilégios. A defesa do funcionalismo público não pode ser uma luta corporativa, pois trata-se da defesa dos serviços públicos, da saúde, da educação, dos transportes, todos sob o mesmo alvo da precarização do governo.
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