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Perseguição política no Chile
Dauno Tótoro, jovem dirigente do PTR perseguido pelo governo chileno, dá entrevista a grande jornal
Redação

La Tercera entrevistou o dirigente do Partidos de Trabalhadores Revolucionário (organização irmã do MRT). Foi acusado pelo governo de Piñera por “incitação à subversão”. Aqui reproduzimos a matéria completa traduzida.

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Diz que ficou sabendo pela imprensa da queixa apresentada contra si pela Intendência após uma assembleia realizada da Universidade de Chile onde disse publicamente que espera a “queda de Piñera”. Em entrevista com La Tercera PM, um dos maiores jornais do Chile, o dirigente do Partido dos Trabalhadores Revolucionários defende suas declarações e faz duros questionamentos aos partidos que pactuaram o acordo por uma nova Constituição, em especial a Frente Ampla.

“Queremos que caia Piñera, queremos que caia este governo e suas cinzas. Levantar uma Assambleia Constituinte livre e soberana, e que não existe nenhuma instituição do Estado acima dela”.

Dauno Tótoro Navarro (26) disse estas palavras no último 25 de outubro durante uma assembleia realizada na Universidade de Chile, um pouco antes de uma massiva manifestação que reuniu mais de um milhão de pessoas nas ruas de Santiago. Garante que ontem, ou seja, quatro semanas após ter defendido esta frase em um espaço público, ficou sabendo que a Intendência havia registrado uma queixa contra ele por “incitação à subversão” no marco da Lei de Segurança Interior do Estado. Nesta manhã também ficou sabendo que o Sétimo Tribunal de Garantia de Santiago tinha declarada inadmissível a ação judicial.

“Para mim isso é um ato de sensatez porque a medida do governo era uma tentativa de ameaça contra a liberdade de expressão. Nos parece muito importante porque minha opinião política é perseguida e não é apenas a minha opinião, também é a opinião de milhares que se expressaram nas ruas pedindo a renúncia de Sebastián Piñera”, disse Tótoro para a La Tercera pouco depois de tomar conhecimento da resolução do tribunal e adiciona que recebeu “ameaças de grupos de extrema-direita” por estas declarações.

O nome de Dauno Tótoro, formado em História pela Universidade de Chile, é conhecido nos círculos universitários e entre as agrupações que se definem como extrema-esquerda. Em 2011 participou ativamente das mobilizações estudantis e posteriormente passou a integrar as fileiras do Partido de Trabalhadores Revolucionários, um grupo trotskista fundada em 2017 e que esteve constituída legalmente até as últimas eleições, quando competiu como candidato a deputado pelo distrito 10 (Nuñoa, San Joaquín, Santiago), nas quais obteve 1,57% (7.355 votos).

O dirigente também é filho do novelista, diretor de documentários e ex-dirigente estudantil da Pontifícia Universidade Católica do Chile Dauno Tótoro Taulis que lançou em outubro o livro “Plan Camelot” que relata a convivência de espiões provenientes de ambos blocos da Guerra Fria em Santiago.

Durante a explosão social, o dirigente político do PTR tem participado ativamente nas mobilizações sociais, utilizando suas redes sociais e a plataforma Izquierda Diario para denunciar os casos de repressão e abuso policial e também tem sido um duro crítico do acordo por uma nova Constituição sustentado por um grupo transversal de partidos políticos que abarca de setores da Frente Ampla até a UDI. Há alguns dias, por exemplo, twittou que o deputado Gabriel Boric deveria “ter vergonha de falar de Gustavo Gatica (jovem estudante que foi ferido por balas nos dois olhos) sentado junto à direita”.

Os vínculos do Partido de Trabalhadores Revolucionários

Tótoro assegura ao La Tercera PM que nas fileiras do Partido de Trabalhadores Revolucionários militam “centenas de pessoas” e que este grupo tem raízes em cidades como Valparaíso, Temuco, Antofagasta e Arica. Nestas cidades foram organizados “cordões” e “comitês de emergência e resguardo” a partir dos quais convocam a insistir nas mobilizações e em uma greve geral indefinida. Nesta linha, adiciona que desde sua formação cultivou uma proximidade com coordenadoras de estudantes secundaristas da Região Metropolitana, junto a organizações sindicais e estudantis, como por exemplo o Colégio de Professores. Nas últimas semanas apoiaram também as manifestações dos funcionários do Hospital Barros Luco.

O grupo mantém proximidade com figuras internacionais como o ex-candidato à presidência argentina e deputado do Partido dos Trabalhadores Socialistas, Nicolás del Caño, quem receberam durante a visita que fez ao Chile na semana passada, nos marcos da explosão social que agita o país.

Durante o último fim de semana, o partido organizou e participou ativamente do Encontro da Juventude Anticapitalista e Revolucionária em Valparaíso.

Quando questionado sobre a via proposta pelo grupo para sair da crise política e social que o país enfrenta, Tótoro responde: “Acreditamos que é necessário fortalecer o movimento. Acreditamos que a mesa de Unidade Social e as federações estudantis e sindicais devem convocar assembleias de base nos locais de estudo e trabalho para fortalecer o processo de mobilização. Que sejam levantadas coordenações nos distintos sindicatos, federações estudantis e escolas para que o movimento crie raízes e ganhe força para assim fazer frente aos feitos repressivos e também preparar uma greve geral”.

Participação no plebiscito: “É uma possibilidade que cogitamos”

La Tercera PM (LTPM): Várias figuras da Frente Ampla se solidarizaram publicamente com você. Qual relação você mantém com eles?

Dauno Tótoro (DT): Sou absolutamente crítico ao papel da Frente Ampla, que sentaram com os partidos do governo e a ex Concertación para chegar neste acordo de cúpula (por uma nova Constituição). Temos recebido a solidariedade destes setores, que sabemos que são setores democráticos, que não aceitarão que sejam utilizadas medidas autoritárias. Agradecemos o apoio e a solidariedade expressas.

LTPM: Você participou ativamente das mobilizações estudantis de 2011. Por que não viu neste setor uma representação?

DT: Desde 2011 sou ativista estudantil e de Direitos Humanos e via na Frente Ampla algo que se confirma hoje, que tem uma estratégia de alianças com partidos que são representantes de empresários de Chile e administradores da herança da ditadura militar, como o PS, o PPD e inclusive chegando a acordos com a própria DC. É uma perspectiva que não compartilhamos sob nenhum ponto de vista.

Por isso não somos parte da Frente Ampla, mas nestes momentos, em que pesem nossas diferenças legítimas, podemos nos unir neste ponto em comum para fazer frente à repressão e à perseguição política.

LTPM: Caso a cidadania vote a favor de uma nova Constituição do plebiscito de abril, vocês como Partido de Trabalhadores Revolucionário participarão ou ficarão à margem deste processo?

DT: Teríamos que avaliar. Eu fui candidato a deputado em 2017 e acreditamos que estes espaços eleitorais são uma tribuna, uma vitrine para mostrar uma voz política distinta da Frente Ampla e crítica dissidente dos partidos tradicionais da direita e Concertación. Teremos que avaliá-lo em seu devido momento.

LTPM: Já pensou se vai se candidatar em uma das eleições do próximo ano?

DT: Estamos abertos a toda participação eleitoral nestes momentos. É necessário que emerja uma voz alternativa a Frente Ampla e ao Partido Comunista. Uma voz que se proponha ser claramente anticapitalista. Estamos nessa disposição e trabalhamos neste sentido. E que a voz que emergiu nas últimas semanas de que “Renuncie Piñera” também tenha espaço em alguma destas instâncias. Nossa prioridade hoje é estar nas ruas. É uma possibilidade que cogitaremos.

 
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