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BOLSONARO E PSL
Os rachas na extrema direita e a disputa pelos milhões do PSL
Thiago Flamé
São Paulo

Essa semana que passou esteve marcada pela forte disputa no interior do PSL e pelas ameaças de Bolsonaro em deixar o partido pelo qual se elegeu. Um dos últimos lances dessa disputa foi o pedido do clã Bolsonaro de abertura das contas do partido dos últimos cinco anos.

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A crise no PSL foi desatada pelo próprio Bolsonaro, que disse a um simpatizante com quem conversava sobre as eleições de 2020 “esquece o PSL, esse Bivar já está queimado” - se referindo ao presidente do partido. A crise escalou e Luciano Bivar, no dia seguinte a um jantar com Sergio Moro, declarou que Bolsonaro já estaria na prática fora do partido, e para provocar mais demitiu a advogada de Bolsonaro do partido. O presidente declarou que não sairia do PSL por vontade própria – como que dizendo que Bivar teria que expulsá-lo.
 
Mas a crise prosseguiu. Menos da metade dos parlamentares do PSL assinaram carta de apoio ao presidente, enquanto a maioria do partido apoiou Bivar, que respondeu com retaliações contra alguns deputados bolsonaristas, que foram excluídos de comissões, algumas delas relevantes. Não bastasse isso, as sondagens que o bolsonarismo realizou junto com TSE para verificar a possibilidade dos deputados romperem com o PSL sem perder o mandato parlamentar não tiveram boa acolhida no tribunal.
 
O momento para desatar essa crise talvez não tenha sido o melhor para o inquieto clã presidencial. Passou por duas humilhações seguidas. Seu líder do norte, Trump, simplesmente lhe virou as costas e numa decisão que deixa Bolsonaro no ridículo, deixou de indicar o Brasil a integrar a OCDE – no lugar disso indicou a Argentina. Depois de tanto se rebaixar aos EUA, essa era a única contrapartida que poderia exigir por tanto dobrar o joelho. E ainda ficou em minoria no partido que escolheu para chamar de seu.

A princípio a atitude do Bolsonaro parece simplesmente uma loucura. Mas existe método na loucura, ainda que as vezes seja difícil encontrá-lo. Três fatores que se cruzam ajudam a entender os objetivos por trás da atitude de Bolsonaro.
 
O mais estratégico deles é a disputa entre a Lava Jato e o Bolsonarismo, que tensiona esse casamento de conveniência entre Sergio Moro e Bolsonaro e dinamiza os rachas em um partido lançado ao estrelato nas últimas eleições, mas que é não passa de uma colcha de retalhos da extrema direita. A nomeação de Aras como Procurador Geral da República foi um ponto forte da ruptura de Bolsonaro com a Lava Jato. A crise tomou contornos maiores com a disputa pela candidatura em São Paulo. Joice Hasselmann, bem próxima da Lava Jato (ainda que busque manter pontes com o centrão), foi preterida pelo clã, que desatou uma disputa ferrenha pelo domínio do partido em São Paulo. Ao lado de Hasselmann, se colocou o senador Major Olímpio, talvez um dos lavajatistas mais tresloucados que tem travado ríspidas polêmicas com Eduardo Bolsonaro. Na esteira da disputa em São Paulo, sete deputados do PSL anunciaram a intenção de deixar a sigla e se filiar ao Podemos, sigla que tem se mostrado aberta a acolher o lavajatistas órfãos do bolsonarismo, como já fez com uma senadora do PSL, a Juíza Selma que adotava o apelido “Moro de saias”. Nem Hasselmann nem Olímpio co-assinam o pedido de informações financeiras do partido que Bolsonaro encabeçou nessa sexta.
 
Atravessa essa disputa os interesses do aparato do próprio PSL e dos futuros candidatos a prefeitura por este partido. Essa cúpula não é aliada da Lava Jato, mas está aberta a uma aproximação que poderia lhe livrar das acusações em função do laranjal do PSL. Afinal, já é publico e notório que para a Lava Jato corrupto são só os políticos que não se submetem aos desejos de Moro e Dallagnol. Ao mesmo tempo, na medida em que vai perdendo o verniz de incorruptível que a aliança com Sergio Moro lhe garantia, essa crise com a maioria do PSL ajuda Bolsonaro a se distanciar do escândalo do laranjal, mesmo que seja ele que sustente o Ministro do Turismo e que o escândalo comece a respingar em sua própria candidatura.
 
Por último, e não menos importante, o que está em jogo nessa disputa toda são as centenas de milhões do fundo partidário que estarão disponíveis ao PSL para injetar nas eleições de 2020. O discurso pode ser de nova política, mas os interesses por trás das disputas na extrema direita são tão velhos… É bem pouco provável que Bolsonaro se lance em uma aventura de romper com seu atual partido – e deixar para trás centenas de milhões – a menos de um ano das eleições municipais. O que quer o presidente é tirar do controle de Bivar esse dinheiro e também evitar que a verba irrigue as candidaturas pró Lava Jato.

De outro ponto de vista a escolha do momento por Bolsonaro tem algo de calculado. Escolheu essa batalha quando o STF adiou a continuidade de julgamentos que tem significado derrotas sucessivas para a operação e suas forças, bem como o debate sobre que nível de liberdade pode ser concedido a Lula está temporariamente adiado pelo STF. Ou seja, Bolsonaro abre essa crise enquanto a operação segue debilitada tanto por fatores internos como fatores americanos, como desenvolvido neste artigo e não há clara definição entre todos os setores golpistas que tem buscado colocar freios e limites nas ambições imperiais do bolsonarismo, aqueles que temos chamado de bonapartismo institucional, e que quererem derrotar a Lava Jato e deixar Bolsonaro ainda mais refém das articulações no Congresso ainda calculam quanto que conseguem fazer isso sem conceder igual vitória a Lula, como desenvolvemos mais neste artigo. Esse é um problema que tem tirado o sono de Gilmar Mendes e Rodrigo Maia e seus aliados na cúpula do judiciário de do Congresso, que se preparam para as eleições municipais de 2020 e a situação de Lula é um fator chave para conferir maior legitimidade para as eleições e ao mesmo tempo manter portas abertas para outra configuração política que preserve as conquistas econômicas do golpismo ao custo de alguma reversão de suas conquistas políticas.

Essa crise que Bolsonaro inicia, e parece controlar, se dá num momento delicado e pode sim fugir ao seu controle. O presidente da extrema-direita está em meio a uma operação política delicada e arriscada, que é ir rompendo com a Lava Jato e buscar recompor suas relações com o chamado baixo clero da Câmara de Deputados, que é onde ele sempre pertenceu. Para isso vai utilizar os mesmos que rechaçou em campanha. Bivar, se consegue apoio dos lavajatistas, pode se transformar em um obstáculo para o clã bolsonarista. Uma crise inventada para ser funcional aos seus interesses, pode terminar descontrolada e causar danos maiores ao governo. Enquanto os filhos Eduardo e Flavio Bolsonaro já saíram a campo para colocar panos quentes na escalada de tensões, Bolsonaro e Bivar seguem escalando os decibéis. Se por um lado o presidente passou a exigir publicamente – ameaçando exigir judicialmente – uma auditoria nas contas do PSL desde 2014, o presidente do partido respondeu com a ameaça de expulsão de novos deputados e com a ameaça de uma devassa nas contas de campanha do próprio Bolsonaro – que poderia trazer muito desgaste e servir munição contra o presidente.

Nas próximas semanas e dias veremos se a disputa vai escalar, ou se Bivar e o bolsonarismo vão chegar a algum tipo de compromisso – coisa que hoje por hoje parece distante. O compromisso hipotético de Bivar e Bolsonaro não resolverá a divisão mais profunda que move forças para além deles e seus interesses imediatos. Em um país onde não há expectativa de novo e sustentado crescimento econômico as condições de continuidade de uma crise que também é política e social seguem bastante vivas. As batalhas por cada instituição, da PGR à PF, e inclusive de seus próprios partidos são momentos "calmos" ou "parciais" em meio aos tempos ainda muito incertos e abertos a novas formas de sentir e pensar, à esquerda e à direita. 

 
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