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EDITORIAL MRT
A ausência de princípios da oposição e da esquerda nas estratégias para as eleições de 2020
Redação

As notícias que surgem das negociações da longínqua eleição de 2020 não são nada boas para os que querem um verdadeiro enfrentamento aos ataques. Independência de classe e uma estratégia baseada na luta de classes são dois fatores ausentes na oposição e na esquerda hoje.

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Para entender a ausência de princípios nas estratégias da oposição e da esquerda para as eleições de 2020, é preciso resgatar o fato de que partidos de conciliação de classes, como o PT e o PCdoB, que têm um discurso para se colocar no campo da esquerda, sequer foram capazes de tirar lições sobre como essa estratégia de conciliação permanente levou o país ao golpe institucional e ao governo Bolsonaro.

O Esquerda Diário desde o início se posicionou contra o golpe e ainda exige imediatamente a liberdade de Lula, mas é preciso apontar que o PT e o PcdoB não aprenderam nada com a experiência de que a conformação de alianças de todo tipo com diversos setores da direita tradicional foi o que abriu espaço para a eleição de Bolsonaro: as políticas de fortalecimento de setores ligados ao agronegócio, às igrejas evangélicas, à bancada da bala, além de criarem uma nova elite rural, fortaleceram o peso das milícias, e são hoje justamente esses setores que compõem parte significativa da base mais sólida do bolsonarismo e da agenda ultra reacionária e conservadora. Esses setores, plantados pelo PT, brotaram articulando e apoiando o golpe institucional, a prisão de Lula, a manipulação do processo eleitoral e a eleição de Bolsonaro, e hoje querem eliminar não somente PT e PCdoB, mas principalmente avançar contra os trabalhadores de conjunto e suas organizações.

Passo a passo, essa direita foi ganhando espaço e hoje, a situação é a seguinte: o projeto de destruição da educação pública, em especial das universidades, está em curso. A reforma da previdência deu um novo salto no nível do ataque com a inclusão de estados e municípios no Senado. A Amazônia segue em chamas. Os Correios e uma série de estatais ameaçadas de privatização. Está marcado o leilão da maior venda do petróleo da história do país, a preço de banana. Não é necessário enumerar mais ataques às condições de vida (além dos enormes ataques aos direitos democráticos). Bolsonaro e os capitalistas estão impondo a agenda de ataques para submeter o país aceleradamente a uma maior superexploração e espoliação dos capitalistas nacionais e estrangeiros. Nela, estão unidos Bolsonaro, Maia, Toffoli & Cia, com o objetivo de descarregar a crise nas costas dos trabalhadores e do povo pobre, por mais que tenham rusgas em suas disputas de espaço de poder.

Em meio a esse cenário, há manifestações de resistência, como a recém terminada greve dos trabalhadores dos Correios, a luta estudantil de maio e que vem novamente se expressando em jovens se organizando no movimento estudantil, ou como também no massivo rechaço à destruição da Amazônia. Esses são alguns exemplos que expressam a crescente insatisfação com o bolsonarismo e o plano de ataques. Mas se trata de resistências parciais que surgem apesar das suas burocráticas direções políticas, ainda que altamente controladas por elas. Direções essas que não somente não impulsionam nenhum plano de luta, mas sequer propõem iniciativas de organização do movimento para futuros combates.

Essas resistências expressam as energias que seguem existindo para enfrentar os ataques e a extrema direita, mas se depender do PT e PCdoB - que controlam enormes centrais sindicais no país como CUT e CTB, e estão também nas direções majoritárias de organizações estudantis como UNE e UBES - o país seguirá cegamente na disputa entre extrema direita e direita, esperando 2020 e mesmo 2022.

O PCdoB e o PT negociaram a reforma da previdência com seus governadores. Flávio Dino, do PCdoB, negociou nada menos do que a Base de Alcântara. Rui Costa, do PT, saiu na Veja apoiando Ciro e se colocando contra a hierarquia da luta pela liberdade do Lula. Se trata de um movimento de todos os atores do espectro de oposição ao Bolsonaro, incluindo PT e PCdoB, dando um giro à direita, tentando se localizar eleitoralmente como moderados para capitalizar o desgaste de Bolsonaro.

Aparece também como “oposição” o PDT de Ciro Gomes e Tábata Amaral, que a cada dia dá uma nova demonstração a que veio. Ciro Gomes se posiciona como conselheiro do bolsonarismo, assim como a Rede de Marina Silva. Junto ao PSB, cederam vários votos para a reforma da previdência. Articulam frentes supostamente “por direitos” com setores ainda mais à direita. Mas até aqui não deveria ser novidade, pois se trata de partidos burgueses (definição elementar que setores da esquerda querem esquecer sua importância), como PSB e Rede.

É preciso imediatamente tirar as lições e superar as ilusões na conciliação de classes

Todos aqueles que querem de fato combater os ataques, devem superar definitivamente suas ilusões na conciliação de classes e esses porta-vozes, que controlam as entidades do movimento de massas e querem repetir em 2020 as alianças espúrias de todo tipo, sem qualquer critério elementar de classe e nem mesmo de não se coligar com golpistas. Menos ainda se pode acreditar em qualquer alternativa burguesa como “opção” frente à extrema direita. É preciso tirar lições do que foram essas experiências de alianças, das experiências de completa subordinação e entrega dos nossos recursos e interesses.

Nesse sentido, não podemos deixar de apontar o quão lamentável é o caminho onde se coloca PSOL, que por um lado aparece como alternativa à esquerda do PT, mas entra entusiasmado no vale-tudo eleitoral, repetindo os erros do PT. Freixo sentou para “dialogar” com Janaína Paschoal, com intenções de dialogar com a base diretamente golpista. Eles, junto à toda a maioria do PSOL, já declararam que estão dispostos a fazer alianças eleitorais em 2020 sem nenhum princípio elementar de classe. Para eles, além de PT e PCdoB, cabe partidos burgueses diretamente, como o PSB, PDT e Rede. Da parte do PSOL que se declara abertamente reformista ou democrata, como Marcelo Freixo, Ivan Valente ou Guilherme Boulos, é esperado. Mas o mais surpreendente é a submissão à essa política de correntes que se reivindicam trotskistas, socialistas ou que têm alguma origem de tradição que se reivindica revolucionária, contra a conciliação de classes.

É o caso do MES, corrente de Luciana Genro, da Resistência ou Insurgência, que parecem ter abandonado princípios básicos como a independência de classe e adotam a mesma política de alianças da maioria do PSOL. Não se trata de princípios abstratos que se deve defender por puro dogmatismo, mas da única possibilidade de construir uma verdadeira resistência à extrema direita e um pólo político no país que possa se preparar para quando surjam processos da luta de classes e radicalização. Estão à direita inclusive de intelectuais como Vladimir Safatle, que questionou esse tipo de “diálogo” e colocou que é necessário “dividir para unir”, ainda que sem uma estratégia pela positiva.

Da nossa parte, seguimos batalhando pela independência de classe e uma estratégia baseada na luta de classes, que busque superar o eleitoralismo e a conciliação de classe petista que levou à esquerda à atual situação. É esse tipo de adaptação que nos fez chegar à atual situação, diferentemente da esquerda argentina, onde o PTS e a FIT constituíram um polo de independência de classe. Lamentável ter que, até com correntes que tem origem no trotskismo, temos que voltar a falar do beabá: é necessário independência de classe. Precisamos urgentemente superar essa etapa onde a esquerda se dispõe sempre a girar à direita, ao invés de radicalizar num sentido revolucionário. Há bons exemplos do outro lado da fronteira, na Argentina, de outro caminho a seguir.

 
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