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REINO UNIDO
Boris Johnson ameaça eleições gerais para impor o Brexit sem acordo
Artur Lins
Estudante de História/UFRJ

A crise no Reino Unido em torno de sua saída, negociada ou não, da União Europeia (UE) ganha novos contornos. Nessa segunda (2), fontes de Downing Street, a residência oficial do primeiro-ministro e ocupada há poucos meses pelo conservador de extrema-direita Boris Johnson, anunciaram de forma especulativa que é bem possível que até esta quarta-feira o atual primeiro-ministro convoque eleições gerais antecipadas.
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O objetivo da tática, segundo as fontes, seria para conquistar a maioria absoluta (dois terços) que os conservadores tinham antes do fracasso eleitoral de Theresa May em junho de 2017, enquanto por outro lado, o movimento da ala de ultradireita do Partido Conservador se constitui como reação à intenção de conservadores “rebeldes” em aprovar junto com a oposição, nessa segunda, dia em que o parlamento retorna a funcionar depois do recesso de verão, uma moção impedindo o hard brexit, isto é, a saída sem acordo promovida por Johnson e a ultradireita xenófoba em geral.

A atitude autoritária de Johnson em fechar o parlamento por mais de um mês – e convenhamos lembrar, com o consentimento da rainha Elizabeth II – tem como objetivo dificultar os parlamentares da oposição, já fragmentada e tendo como único denominador comum a saída com algum tipo de acordo, em impedir o hard brexit do primeiro-ministro no dia 31 de outubro, data limite estipulado pela UE para que o Reino Unido aceite o acordo costurado com a ex-primeira-ministra Theresa May, e que havia sido rejeitado mais de duas vezes no parlamento.

No entanto, a incerteza se acelera com o retorno do recesso parlamentar, com a possibilidade bem concreta de conservadores rebeldes se alinharem com a oposição a favor de um soft brexit, forçando Johnson a convocar as eleições e colocar na prática a sua intenção desde o início em que chegou ao poder: polarizar o país sobre a saída da UE “com ou sem acordo” no dia 31, para se colocar como a figura política que unificaria os leavers (partidários da separação, porém não necessariamente de direita) e a ultradireita britânica, neutralizando, por outro lado, o crescimento exponencial do Partido do Brexit de Nigel Farage, organização nacionalista e xenófoba que viu seus votos crescerem muito nas últimas eleições para o parlamento europeu, enquanto os conservadores tiveram uma performance pífia.

Não à toa, o discurso de Boris Johnson no dia em que o parlamento foi suspenso foi de candidato eleitoral, prometendo não só o hard brexit com a sua medida antidemocrática, mas também outras promessas de caráter social em sua fala demagógica. Boris Johnson sabia da dificuldade que seria impor a saída sem negociação tendo em vista a experiência de sua correligionária nesses últimos dois anos de mandato catastrófico e por não chegar ao poder pelo voto popular. Um primeiro-ministro sem legitimidade e defendendo uma saída que não seria aprovada de jeito nenhum pela configuração do atual parlamento resolveu tentar a retomada do controle legislativo, mesmo que se aproveitando de uma manobra autoritária.
No entanto, a população percebeu claramente o nível autoritário da medida de Johnson e com o apoio da rainha. Por outro lado, também ficou evidente a decadência da democracia capitalista quando as classes dominantes necessitam de medidas mais duras para contornar suas crises, em que mesmo um parlamento carcomido como o britânico, veículo das políticas imperialistas britânicas, pode ser deixado de lado caso não coopere com os seus planos.

Diante do impasse político, econômico e social vivido pelos britânicos desde a crise de 2008 e agravada nesse momento com o brexit, em que a autoridade estatal e dos partidos tradicionais se enfraquece frente às massas, a solução da ultradireita do país enfrenta resistência. Nesse final de semana, em diversas regiões do Reino Unido milhares de pessoas foram às ruas protestar, tendo em Londres a maior das concentrações contra o fechamento do parlamento. Apesar do caráter contraditório das manifestações, em que é muito presente a bandeira azul da UE, instituição que agravou as condições de vida dos trabalhadores como antídoto para sair da última crise, muitos manifestantes protestam pela democracia, citando em palavras de ordem a manobra de Johnson como tentativa aberta de “golpe de estado”. Veem claramente como é absurdo um governante sem legitimidade passar por cima dos mecanismos minimamente representativos da democracia burguesa. Até mesmo o presidente do parlamento, chamado tradicionalmente de Speaker, o conservador John Bercow, qualificou o movimento de Johnson como um “escândalo constitucional”.

Contudo, a crise permanece, pois mesmo se a oposição avançar numa moção de desconfiança ao governo para derrubar Boris Johnson, as condições para a formação de um novo governo entre os próprios partidos de oposição seriam bastantes difíceis, tendo em tela o nível alto de fragmentação programática, sendo mais provável a convocação de novas eleições gerais. No entanto, o recado da população nas ruas é um bom sinal de que há disposição de luta com potencial de massas na defesa dos direitos democráticos mais elementares, sendo defendidos com os tradicionais mecanismos da luta de classes e não apenas pela via institucional.

 
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