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O anoitecer do capitalismo tardio
Mateus Castor
Cientista Social (USP), professor e estudante de História

Esta semana começou de um jeito atípico. Uma mensagem vinda dos céus foi digna de marcar fortemente a subjetividade das massas. Seria o apocalipse? poderiam questionar os cristãos que esperam pelo juízo final. Outros, reagiram com poemas e textos reflexivos sobre a situação. De fato, tempos sombrios e obscuros, no seu sentido social ou literal, acabam por provocar lapsos de criatividade. Nessa contradição, se resguarda umas das forças mais imperiosas da história humana.

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Eram apenas três horas da tarde, pareciam ser dezoito horas da noite. A chuva que caiu provou o conteúdo mórbido das nuvens, acusadas de fake news pelo ministro dos Latifúndios, que hoje ocupa o cargo simbólico de ministro do Meio Ambiente . Estavam carregadas de morte.

Partículas orgânicas vindas de matéria orgânica e outras, que são fortes indicativos de queimadas, se acumularam nas nuvens de frente fria a ponta de impedir a passagem do sol. Este fenômeno bíblico veio como um aviso ameaçador para a humanidade: “Ainda estou aqui. Perpasso ainda todo este conjunto de edificações, invenções e coisas. Estas coisas humanas acumuladas neste centro abarrotado de humanos, que acabam por esquecer de minha existência. Ainda impero, soberana e autoritária, sob suas cabeças e destinos. A conta dos gastos será descarregada em suas costas.” ass.. Natureza.

Contraditoriamente, essa demonstração de força do mundo natural, nada mais é do que uma demonstração clara da influência humana no funcionamento do planeta, no caso, a potencialização e destruição da cobertura florestal, além da forte frente fria, tão próximo da primavera, quando já se espera um tempo mais ameno, devido aos efeitos do aquecimento global.

A influência humana, por sua vez, respeita também suas leis específicas, neste caso, enquanto uma ação tomada por alguém, ela não é nenhum pouco abstrata e generalizante. Há um sujeito claro por detrás destas queimadas e crescente destruição de ecossistemas e das mudanças climáticas. Não é a humanidade, muito menos uma consequência da suposta “natureza” humana predatória egoísta e maldosa. Se trata da burguesia.

São as classes dominantes e sua barbárie exploratória sobre o planeta os sujeitos centrais deste “fenômeno”, que tivemos o privilégio ingrato de presenciar. Para ser mais específico, com os latifundiários à frente. Os céus mostraram que as classes dominantes, embora se achem deuses no comando de tudo, são reféns das forças naturais graças à lógica imbecil que rege . A lógica destrutiva e predatória capitalista com relação às vidas humanas, também é reproduzida contra o meio ambiente e as outras formas de vida do planeta.

Porém, as trevas que presenciamos segunda-feira e as trevas que vivemos todos os dias, ambas produzidas pela fome eterna das classes dominantes por mais lucro, junto com o medievalismo neopentecostal, indicam uma luz, cujo feixe brilhante pode cegar os olhos enfeitiçados pela acumulação.

Se a humanidade, dominada por parasitas opressores, detém a capacidade de criar fenômenos naturais - através de sua economia anárquica e destrutiva - a ponto de tapar o sol em plena tarde, o que poderíamos fazer com essas capacidades sem o império do capitalismo? Uma contradição se forma com esse questionamento: a mesma força que permite essa demonstração da barbárie feita pelas mãos burguesas, pode voltar-se para o desenvolvimento de uma vida plena e saudável, tanto dos seres humanos como do conjunto da Terra.

Somos uma espécie privilegiada. Temos a capacidade de trabalhar. Não digo do trabalho alienado do capitalismo cujo objetivo é fazer dinheiro de mais dinheiro, sendo a soja, o boi, ou uma peça de carro, só um meio; o bóia fria e o operário, a origem da riqueza. A que ponto poderíamos chegar se nossa capacidade tão especial de transformar conscientemente a natureza estivesse à pleno vapor e não amarrada pela racionalidade burra da economia capitalista?

Em nossa história, fomos sujeitos de grandiosas artimanhas diante das dificuldades. Aprendemos a controlar o fogo, adestramos plantas e animais para nossa sobrevivência. Com nosso cérebro desenvolvido, aprendemos a controlar as cordas vocais e a língua, produzimos assim a fala. Conseguimos fazer de uma pedra e um pau, um machado; fazemos da terra e seus minérios, edifícios gigantescos; da água, sol e vento, fizemos energia elétrica; dos lobos selvagens, transformamos em cães obedientes.

Por que diabos estamos temendo justamente a capacidade que nos destaca? Capacidade que nos deu a oportunidade de desenvolver as mais diversas culturas e chegar aos pontos mais inóspitos. Humanos são verdadeiros mestres em modificar o ambiente para suas próprias necessidades, não estamos sujeitos à vida limitada pela nossa constituição genética e instintiva, somos produto de uma acumulação histórica de relações sociais e aprendizados, em constante evolução e transformação.

Mas não. Tudo isso nos é arrancado. Tudo isso nos é escondido e negado. As amarras da irracionalidade do lucro não permitem que a humanidade seja sujeita de si. As classes dominantes precisam manter viva a sua justificativa de existência: explorar e destruir para acumular e dominar. A contra cara disto tudo é a classe trabalhadora, aquela que representa o grupo social que se destaca por ser a fonte produtiva mais desenvolvida de toda humanidade, o motor que faz o capitalismo andar. Isso é, como Marx diz, a injustiça em sua excelência.

Não há outra alternativa que não seja esmagar este sistema se queremos de volta dias ensolarados.

Mesmo chicoteada, humilhada, alienada e forçada à ignorância, é a classe trabalhadora a única classe que pode olhar para o feixe de luz que se sobressai em meio ao crepúsculo nebuloso e não cegar seus olhos, pelo contrário, absorver esperança. O horizonte de um futuro emancipado, de uma vida plena de sentido, são combustível que dão energia para milhões acordarem às segundas-feiras e verem a noite cair às três horas da tarde.

Infelizmente, as massas ainda são dominadas por uma saída utópica pregada pela burguesia e seus representantes, pela ascensão social e econômica, colocando como objetivo adentrar as fileiras da classe dominante. Ou então, os mais humilhados, seguem a metafísica para alcançar um paraíso eterno inexiste após a vida, aí está a força da religião e o motivo dela e seus líderes crescerem nas crises.

Podemos, contudo, apresentar um horizonte humano, que não seduz pela vida eterna nos Céus e tão pouco pela pequenitude da mentirosa saída meritocrática, da riqueza paradisíaca vendida pela burguesia. Pelo contrário, nossas idéias tem a força de convencimento por sua fraqueza temporária, mutável e histórica, essencialmente humana, mas a única que pode tira as correntes dos pulsos sofridos das massas: o comunismo.

É o único sonho que, no final das contas, deseja que o ser-humano seja aquilo o que ele é, nas palavras de Marx:

“A crítica arrancou as flores imaginárias dos grilhões, não para que o homem suporte grilhões desprovidos de fantasias ou consolo, mas para que se desvencilhe deles e a flor viva desabroche. A crítica da religião desengana o homem a fim de que ele pense, aja, configure a sua realidade como um homem desenganado, que chegou à razão, a fim de que ele gire em torno de si mesmo, em torno de seu verdadeiro sol. A religião é apenas o sol ilusório que gira em volta do homem enquanto ele não gira em torno de si mesmo” Crítica da Filosofia do Direito de Hegel, Introdução.

A classe dominante nada mais é do que as nuvens frias tomadas por cinzas da exploração capitalista que fizeram do dia, uma noite apreensiva. É ela que insistentemente encobrem o futuro da humanidade que já poderia ser digno e próspero, com sua irracionalidade e sede insaciável pelo lucro. Por isso, nada mais justo que derrubarmos essa classe.

Para uma espécie que detém a capacidade de transformar a natureza tão intensamente - e o fez durante toda a sua história - transformar radicalmente seu próprio meio ambiente, a sociedade capitalista, é inevitável. Podemos deixar os extintos mais irracionais do Capital direcionar nosso destino, ou impedir conscientemente a completa destruição pelas forças anárquicas da economia burguesa. Essa encruzilhada nada mais é do que uma tarefa histórica e exige que nos organizemos e partamos para a prática.

Como Rosa Luxemburgo já disse, “socialismo ou barbárie”

 
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