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JUVENTUDE
Entre a disposição de luta da juventude e a necessidade de um outro projeto de sociedade
Odete Assis
Mestranda em Literatura Brasileira na UFMG

Um balanço sobre as manifestações do 13 de agosto e as perspectivas para a juventude e a classe trabalhadora brasileira frente aos ataques de Bolsonaro.

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Foto: Gustavo Carneiro

Novamente saímos às ruas protagonizando manifestações em mais de 90 cidades, em todos os estados do país e no Distrito Federal. Com esse artigo queremos discutir com cada companheira e companheiro, que assim como eu, se mobilizou neste dia 13, mas se deparou com atos menores que as últimas mobilizações protagonizadas pela juventude do nosso país. Por que isso aconteceu? Como podemos usar a energia daqueles que querem se enfrentar com os ataques do governo para fortalecer nossa luta? Como podemos discutir com aqueles que se desmoralizaram pela batalhas não dadas, e agora não veem perspectivas para seguir? Esses profundos questionamentos são parte das inquietações de muitos jovens e trabalhadores pelo país, ainda mais diante da mais nova absurda declaração de Bolsonaro de que pretende “varrer os comunistas” do nosso país.

A aprovação da reforma da previdência na Câmara dos Deputados fortaleceu Bolsonaro para apresentar o Future-se, representando bem claramente o projeto de país totalmente subordinado que ele defende, um país onde as pesquisas e as universidades devem ser privadas, atendendo somente aos interesses dos grandes empresários, especialmente os imperialistas. Apresentando uma nova medida provisória, a MP 881, que avança na reforma trabalhista e poderá acabar com a folga aos domingos. Essa votação também permitiu que ele pudesse vomitar ainda mais absurdos, zombando da memória dos nossos mortos durante a ditadura militar, homenageando seu “herói” Carlos Brilhante Ustra, questionando o assassinato de um líder indígena, entre tantas outras aberrações que ele segue declarando todos os dias. Permitiu avançar juntamente com Sérgio Moro no autoritarismo, com a medida 666 que permite a extradição de estrangeiros, a invasão de policiais em uma reunião de mulheres do PSOL e a tentativa de transferência de Lula, que segue preso arbitrariamente. Afinal, se Bolsonaro leva adiante o plano de ajuste econômico contra a classe trabalhadora, para a burguesia está tudo bem se ele fala um ou outro absurdo, basta se apresentar, às vezes, com um cara mais democrática formalmente se opondo a essas declarações.

Motivos não faltavam para sairmos nas ruas, dando um recado claro a esse governo. Mas porque então a juventude não se colocou com toda a sua força nesse novo ato? Ao contrário do que declarou alguns dias atrás, o presidente do PT, não chegamos até aqui simplesmente porque a classe trabalhadora, ou a juventude, não quis lutar. Protagonizamos atos massivos, realizamos assembleias e atividades em nossas escolas e universidades, nossos professores, das mais diversas redes e níveis da educação protagonizaram greves e paralisações expressivas contra a reforma da previdência, desde o ano passado. Um exemplo disso foi a greve de professores municipais de São Paulo. Para cada medida da extrema direita sempre teve uma resposta seja nas redes sociais, seja nas ruas, por vezes essa resposta foi insuficiente, mas ela mostrava que existe disposição. Mas falta um projeto claro pelo qual possamos lutar. Bolsonaro, Moro, a extrema direita e os empresários tem o seu projeto: nos fazer pagar com nossas vidas se for necessário, para que eles sigam lucrando, descontando a crise em nossas costas. E o nosso projeto qual deve ser?

As manifestações desta terça escancaram o nosso impasse: seguir realizando atos totalmente controlados pelas burocracias das entidades e ir gradualmente se desmoralizando pelas batalhas não dadas, ou superar a estratégia de conciliação das suas direções majoritárias do PT e PCdoB, transformando sua disposição de luta em força organizada ao lado da classe trabalhadora, contra cada ataque de Bolsonaro e da extrema direita?

Um balanço estratégico do papel das direções nas lutas da juventude contra Bolsonaro

Quando Weintraub e Bolsonaro anunciaram um corte de mais de 30% no orçamento das universidades federais, com certeza, não esperavam o levante que colocou mais de um milhão de pessoas nas ruas no dia 15 de maio e que se repetiu com força no dia 30 desse mesmo mês, apesar do maior controle das burocracias estudantis e sindicais. A juventude assumiu a linha de frente da oposição ao governo, com milhares de assembleias pelo país e mostrou, pela primeira vez, que poderíamos encontrar um caminho para parar a extrema direita que subiu ao poder como herdeira do golpe institucional e das eleições manipuladas. Essa energia e disposição foi um suspiro de alívio para amplos setores da classe trabalhadora. E nos permitiu impor um recuo parcial do governo frente aos cortes. Mas quando poderíamos mostrar a força da união entre a juventude e a classe trabalhadora parando o país na chamada greve geral do dia 14 de junho, a traição se fez presente. Enquanto trabalhadores reais de uma categoria estratégica como o metrô de SP paralisaram de forma corajosa, se enfrentando com Dória e Bolsonaro, as centrais desmontaram a greve na base dos trabalhadores e a UNE não construiu as assembleias estudantis com a força necessária. Pior ainda, CUT, CTB, Intersindical e até a CSP-Conlutas assinaram juntas com a UGT e a Força Sindical um balanço embelezado da greve, sem dizer nada sobre a traição que especialmente essas centrais patronais e golpistas impuseram aos trabalhadores.

Desde o início, o próprio Bolsonaro mostrava como a reforma da previdência e os cortes da educação estavam totalmente vinculados, não por acaso o dinheiro usado para comprar os parlamentares na aprovação da reforma da previdência saiu da educação. Sempre se tratou de uma só luta contra os cortes na educação e contra a reforma da previdência, mais do que isso, sempre se tratou de uma disputa fundamental entre o projeto dos capitalistas para o nosso país e a necessidade de construir uma alternativa da juventude e dos trabalhadores que pudesse dar uma resposta anticapitalista e questionasse profundamente esse sistema de misérias.

Em cada assembleia e ato, nós da juventude Faísca buscamos fazer essa discussão com os milhares de jovem se colocavam na linha de frente da oposição ao governo, porque nossa batalha é para que nossa energia e disposição militante esteja a serviço de derrotar cada ataque de Bolsonaro, mas para também construir um projeto muito maior, que possa responder aos nossos anseios. Discutimos com cada jovem e trabalhador sobre a importância de unificar as nossas lutas, sobre como a estratégia levada adiante pela direção da UNE, da CUT e CTB, ambas entidades dirigidas pelo PT e PCdoB, era de separação das pautas. Não por uma dificuldade de articular as demandas dos trabalhadores e da juventude, mas única e exclusivamente por colocar em primeiro lugar seus interesses políticos para manter seus privilégios, como ficou claro na negociação pela manutenção do imposto sindical, enquanto uma burocracia, que por estar legitimada perante setores importantes da população, se viu a vontade para impedir a auto-organização dos trabalhadores e da juventude. Enquanto na Câmara dos Deputados, seus parlamentares aparentavam combatividade com a estratégia de obstrução parlamentar na votação da reforma e no questionamento sobre os ataques a educação, na base dos estudantes e trabalhadores não organizavam de fato com assembleias e um plano de lutas que fosse além dos atos. E para piorar os governadores do PT e PCdoB defenderam a inclusão dos seus estados na reforma da previdência que Bolsonaro aprovou na Câmara dos Deputados. Por isso desde o início propunhamos a necessidade de nos auto-organizarmos, com um comando nacional de delegados eleitos nas assembleias, fomentando a massificação e deixando o controle da nossa luta nas mãos dos estudantes, inclusive para determinar as pautas e o calendário dos dias de luta. Já que as manifestações dispersas definidas pelas cúpulas das direções sindicais e estudantis, serviam mais para descomprimir a pressão da base pela mobilização, já que na prática as direções sindicais e estudantis foram atuando para que as assembleias tivessem cada vez menos importância.

Um dos momentos mais escandalosos dessa traição, foi quando o Congresso da UNE, que reuniu parte importante da vanguarda estudantil do país, acontecia em Brasília no mesmo momento que os parlamentares corruptos comprados por Bolsonaro votavam a aprovação a reforma da previdência e não se falava absolutamente nada sobre isso na abertura do congresso. Intervimos ali novamente debatendo como um congresso que poderia ser histórico marcando uma inflexão profunda na rearticulação do movimento estudantil nacionalmente, acabou não cumprindo esse papel pela postura das suas direções.

Confira o balanço da juventude Faísca sobre o Conune: Entre os que preparam nossa derrota e os desafios de um movimento estudantil que pode vencer

Nas manifestações de ontem também se destacou a discussão sobre o resultado das primárias argentinas, em que Mauricio Macri, o aliado de Bolsonaro, sofreu uma derrota acachapante nas urnas, num claro recado do povo daquele país contra a subordinação ao FMI,o aumento das tarifas, a inflação e o projeto ultraneoliberal da extrema direita para nosso continente. Essa derrota despertou a ira de Bolsonaro, mas também deu esperança a juventude e a classe trabalhadora, numa expressão distorcida da correlação de forças, já que o programa defendido pela Frente de Todos de Alberto Fernandez e Cristina Kirchner não se propõe a romper com o FMI e vai deixando a população argentina sofrer com os ajustes, sem organizar nada desde as centrais sindicais e estudantis que dirige, pois seu maior interesse é o resultado eleitoral e não verdadeiramente dar uma resposta frente a crise. Por isso é tão importante que em meio a esse cenário, a Frente de Esquerda e dos Trabalhadores Unidade (FIT-Unidade) se consolide como quarta força nacional em base a um programa de independência de classe. Com uma campanha muito dinâmica construída especialmente entre a juventude trabalhadora, e com grande protagonismo das mulheres que estiveram na linha de frente da maré verde pelo direito ao aborto. Mais do que um resultado nas urnas, essa campanha representa a capacidade que a esquerda pode ter para chegar a amplos setores da classe trabalhadora e da juventude, se estiver armada com um programa e uma estratégia que busque de fato ser uma alternativa aos planos de ajustes e privatizações da extrema direita, sem cair na ilusão da conciliação reformista dos kirchineristas e petistas. Uma inspiração para pensarmos nossos desafios no Brasil na construção de um polo de independência de classe e combate às direções burocráticas e reformistas.

Para saber mais: As eleições na Argentina são um duro revés para Bolsonaro

Organizemos nossa energia e disposição para a construção de um projeto anticapitalista e revolucionário para lutar pelo comunismo

Retomamos esse balanço pois acreditamos que cada estudante e trabalhador, que se colocou em luta nas últimas manifestações e viu Bolsonaro passar tantos ataques, não pode se desmoralizar pensando que a classe trabalhadora está derrotada e que não adianta lutar porque eles sempre serão mais fortes. Pelo contrário, queremos que cada jovem e trabalhador veja como nossa força que pode ser imparável se organizada de forma consciente. A burguesia teme ver nossa classe organizada, por isso precisa nos atacar ainda mais, não somente aumentando as taxas de exploração com reforma da previdência, reforma trabalhista e precarização do trabalho, nos condenando ao desemprego ou a precarização extrema como são os empregos por aplicativos, com os quais a juventude, especialmente os negros, arriscam suas vidas em jornadas que podem chegar a 24 horas. Eles tentam nos tirar até os direitos mais básicos como educação, saúde e moradia. Aprofundam as misérias que o capitalismo produz, dividindo nossa classe com o racismo, o machismo, a LGBTfobia, a xenofobia. Essa extrema direita que agora está no poder representa a face mais odiosa desse sistema e desses interesses, mas justamente porque são interesses irreconciliáveis, a estratégia que as direções reformistas do PT e PCdoB levam adiante são impotentes para derrotá-las. Porque frente a crise capitalista trata-se de uma escolha entre eles, os empresários e políticos que se sentem donos do país, ou nós, a classe trabalhadora, as mulheres, os negros, LGBTs, indígenas e todos aqueles que são oprimidos por esse sistema. E para isso precisamos discutir qual o projeto que nós defenderemos. Uma discussão que vai muito além do importantíssimo debate sobre como lutar, mas diz respeito ao pelo que lutamos.

Reforçamos nosso chamado para a construção de um polo anti burocrático da esquerda, que fosse impulsionado por organizações como PSOL e seus parlamentares, PCB, Unidade Popular (UP), PSTU, pelas entidades sindicais e estudantis, pelos movimentos sociais, de mulheres, negros, LGBTs e por toda juventude que se coloca no campo da oposição de esquerda ao petismo. Um polo que pudesse organizar plenárias em todos os estados do país debatendo um balanço profundo das últimas mobilizações, da estratégia levada adiante pelas burocracias da UNE, da CUT e CTB. Um polo como esse poderia entrar também na discussão sobre qual o programa é necessário para superar essa estratégia de conciliação de classes do petismo. Para que dessa forma possamos apresentar um plano de lutas concreto, tendo em vista que o próximo ato foi chamado para 7 de setembro, um sábado de feriado. Especialmente nas universidades federais que estão no centro do ataque do Future-se, e é onde esses setores possuem muito peso, dirigindo importantes DCEs, Diretórios e Centros Acadêmicos em todo país, e poderiam desde agora articular um chamado a um encontro nacional dos estudantes, professores e trabalhadores dessas universidades, reunindo todos aqueles que não querem esperar até o próximo dia de calendário da UNE para se organizar. Batalhando para que esse plano de luta seja tomado pelos estudantes e trabalhadores de cada escola, universidade e local de trabalho que estamos exigindo que as burocracias que dirigem a ampla maioria das entidades sindicais e estudantis do nosso país rompam com sua estratégia de conciliação e organizem desde a base a nossa luta. Radicalizar a luta neste momento é batalhar para unir todas as forças que se colocam no campo à esquerda do PT e PCdoB para unir esforços por organizar setores na base capazes de ser uma alternativa à condução burocrática das direções. Radicalizar é levantar um programa e uma estratégia para vencer e uma política para massificar as mobilizações, com o PSOL, e nas universidades a UP e PCB cumprindo um papel alternativo para avançar na organização do ME. Isso é o que permitirá radicalizar inclusive nos métodos contra Bolsonaro, avançando em organizar atos combativos, greves e ocupações.

Mas, em um momento que a extrema direita coloca com tanta centralidade seu projeto de país e de sociedade em cada proposta que apresentam, em cada discurso que fazem, acreditamos ser fundamental que a juventude e a classe trabalhadora se organize desde uma perspectiva anticapitalista e revolucionária. Fazemos um convite a todos aqueles que concordam com esse balanço e com nossas ideias, a todos aqueles que não aguentam mais as notícias das crianças e jovens assassinadas pelas mãos da polícia militar, que não suportam mais perder suas vidas num trabalho precário, que se levantam contra o machismo, o racismo, a LGBTfobia e os discursos de ódio dessa extrema direita, chamamos todos aqueles que querem mudar os rumos da história, para que se organizem conosco na juventude Faísca - Anticapitalista e Revolucionário e no Movimento Revolucionário dos Trabalhadores. Defendendo um outro projeto de sociedade, que nos prepare para lutar contra os ataques em curso e por um programa para que sejam os capitalistas que paguem pela crise, levantando o não pagamento do roubo da dívida pública e a divisão da horas de trabalho com salário mínimo do Dieese para que todos possam estudar e ter um emprego digno, lutando juntos pela reconstrução de um partido revolucionário internacional da classe trabalhadora e por uma sociedade comunista.

Conheça o Vídeo manifesto da juventude Faísca - Anticapitalista e Revolucionária

 
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