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EDUCAÇÃO
Future-se: veja o caminho de Weintraub para destruir as universidades
Mateus Castor
Cientista Social (USP), professor e estudante de História

Abraham Weintraub, um ex-CEO, ex-banqueiro, seguidor de Olavo de Carvalho e defensor da reforma da previdência, foi escolhido por Bolsonaro para cumprir uma determinada missão: passar o trator por cima da educação pública federal e entregá-la para o capital financeiro.

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Veja mais sobre o passado de Weintraub: Conheça a trajetória do ministro que deseja entregar a educação pública ao capital financeiro.

Assim como seu amigo de profissão, o também banqueiro Paulo Guedes, deseja fazer com a reforma da previdência, Weintraub deseja fazer com o Future-se. Um verdadeiro banquete de gala do capital financeiro.

Veja abaixo, as principais medidas, escândalos e ações tomadas pelo agente do mercado financeiro posto da liderança do MEC. Desde a sua estréia com o corte de 30% nas federais em Abril, que fez a juventude sair aos milhões às ruas em defesa da educação, até seu plano ambicioso da completa privatização.

1. Abrindo o terreno: os cortes de 30% nas universidades e institutos federais

Com este ataque, após meses de passividade, explodiu uma gigantesca manifestação pelo Brasil em defesa da educação no dia 15 de Maio. Assembleias gigantescas tomaram as universidades e se expressaram milhares de jovens indo às ruas com toda sua energia para barrar os cortes da educação. A primeira grande manifestação contra o governo protagonizada sobretudo pela juventude, deixou Bolsonaro e Weintraub recuados e na defensiva. 15 dias depois, 30 de maio foram importantes dias de mobilização, com um limite tão ou mais importante: as direções majoritárias do movimento estudantil, especialmente da União Nacional dos Estudantes, como a UJS e a juventude petista atuaram para impedir que essa enorme energia confluísse com o movimento operário e a luta contra a Reforma da Previdência.

Neste momento, golpeado, o governo teve de fazer um recuo tático, demonstrando como a força das ruas poderia derrotar este projeto. Mais tarde, em julho, com o fôlego renovado graças a combinação de aprovação da reforma da previdência na Câmara e novamente o papel de controle das direções do movimento estudantil, e também do movimento de trabalhadores, especialmente entorno da paralisação do dia 14 de junho. Foi através dessa divisão entre juventude luta por educação e trabalhadores lutam pela previdência, que as direções conseguiram manter ambas as lutas limitadas e ressurgiram as condições para um ataque ainda mais brutal, o Future-se.

2. Escondendo-se, mas nem tanto: Os ataques autoritários contra a autonomia universitária

Em parceria com a ABiN (Agência Brasileira de Inteligência), CGU (Controladoria Geral da União) e o GSI (do general Augusto Heleno), MEC e Bolsonaro analisarão a “vida pregressa” de estudantes e professores com base em dados sigilosos. Além desta medida, Weintraub nomeou uma reitoria interventora na UFGD, atropelando a autonomia universitária e escolherá os diretores das universidades. Esse avanço autoritário contra a autonomia universitária se deu através de manobras realizadas pelo MEC com decretos. Diante do foco total do governo na reforma da previdência, fora dos holofotes por um tempo, Weintraub veio preparando o terreno de perseguição e repressão, buscando desarmar estudantes, professores e funcionários para realizar os ataques, sintetizados agora no Future-se.

3. O desmonte da pesquisa brasileira em serviço ao imperialismo

Desde o governo Temer, as bolsas de pesquisa e estudo vêm sofrendo cortes, Bolsonaro mostra ainda mais agressividade nesse quesito. Na prática, essa medida acaba por ser o fim da renda de muitos estudantes que sobrevivem com o montante de suas bolsas, como a CNPq e Capes. A pesquisa brasileira historicamente foi desvalorizada, tal medida do governo transforma num deserto a nossa capacidade de produção científica e pesquisas, que mesmo em condições ruins, destacam-se por seus resultados. Grande parte da produção de artigos científicos (72%) são assinados por mulheres no Brasil, este governo representa o mais nojento do patriarcado, a produção científica se torna um entrave para o domínio obscurantista, olavista e cristão por trás do projeto bolsonarista.

Não por acaso, este projeto encaixa perfeitamente com o Future-se, porque não se trata apenas de um “projeto de educação”, mas sim de um projeto de país, baseado em entregar nossas riquezas naturais e criar uma tripla dependência do país, cada vez mais com sua economia reprimarizada e sem qualquer produção de conhecimento. Assim se preenche o vazio da produção científica com uma verdadeira fábrica de Coachs. Sai o fantoche do “marxismo cultural” e domina soberana a “ideologia empreendedora”, uma discurso mentiroso do governo que coloca no mesmo barco os milhões de “microempreendedores” pelo Brasil que sofrem do desemprego junto com os verdadeiros ganhadores dessa medida, o mercado financeiro, seus banqueiros e especuladores, muitos deles, bilionários imperialistas.

Uma refeição completa, cujo valor nutritivo para os capitalistas é arrancado de nossas vidas e de nosso futuro. Sem formação, sem acesso ao ensino, desempregados, na informalidade, a reforma da previdência se torna a pena capital para nos fazer trabalhar até morrer.

4. Reforma da Previdência e Future-se, juntos para acabar com nosso futuro

Não só a nossa velhice fará parte do cardápio do capital, as universidades e instituições de ensino estatais, que já desde os governos do PT sofriam com estruturas precárias e falta de verbas, assim como vestibulares elitistas e excludentes, serão a deliciosa sobremesa. Chama-se Future-se o prato que dá água na boca dos especuladores e banqueiros.

O representante do mercado financeiro - falo do ministro da educação, não de Guedes - planeja transformar o sistema educacional federal de maneira profunda. Um dos maiores, se não o maior ataque contra a educação nos últimos anos. Por trás do discurso mentiroso sobre modernização, inovação, empreendedorismo, ou nem tão por trás assim, há o objetivo de fazer do MEC uma bolsa de valores especializada em especular e lucrar inclusive com verba pública. Uma expropriação total do aparato educacional federal para o mercado financeiro que deseja elitizar ainda mais o ensino superior e subordiná-lo totalmente ao lucro dos especuladores e banqueiros estrangeiros.

É possível derrotar o Future-se se unificarmos a juventude com a classe trabalhadora

Para derrotar este ataque ao nosso futuro, é preciso olhar para o passado. Como Letícia Parks coloca no artigo O dia 13 deve unificar a luta contra a Reforma à luta contra o Future-se, organizado pela base

“Nada disso poderia ser feito repetindo o erro das jornadas de 15 e 30 de maio e da greve geral de 14 de junho, que infelizmente trataram separadamente o drama da educação sob ataque de Bolsonaro e a brutal e draconiana reforma da Previdência. Uma só luta, esse é o caminho da vitória.”

Infelizmente, o 57º Congresso da UNE ocorreu justamente no momento em que este caminho construído pelas direções se concretizava. No primeiro dia do Congresso, aprova-se a Reforma da Previdência e logo em seguida anunciavam o Future-se. Sem tirar nenhuma lição de como chegamos até esta situação, coube a Juventude Faísca - Juventude Anticapitalista e Revolucionária denunciar fortemente o papel vergonhoso dos governadores do PT e PCdoB do Nordeste que apoiaram a Reforma da Previdência.

Tirar lições do enfraquecimento das lutas quando atuamos de forma dividida é o primeiro passo para podermos encarar verdadeiramente esta batalha contra os inimigos da educação. Não serão atos isolados e midiáticos que terão força para barrar o projeto, mas sim a construção desde as bases, por isso a necessidade de que se convoquem assembleias em cada escola, universidade e local de trabalho. E desde aí, organizar um plano de luta unificado que permita com que o movimento estudantil em aliança estratégica com a classe trabalhadora possa enfrentar o projeto de país de Bolsonaro. Esse é o papel das direções do movimento estudantil e também do movimento operário.

As lideranças estudantis como UJS (dirigida por PT e PCdoB) e a juventude petista se restringem ao constante “diálogo” com os golpistas, e por este caminho nós vamos continuar pagamento pela crise que os capitalistas geraram. Precisamos do completo oposto, precisamos confiar unicamente nas nossas próprias forças e na nossa organização, ajudando aos novos jovens ativistas a entender o papel nefasto que cumpre a burocracia estudantil, na sua tentativa de controle e freio da nossa luta. É por isso que fazemos um chamado à oposição de esquerda da UNE para conformarmos um polo antiburocrático que auto organize os estudantes e seja alternativa à burocracia.

Concluindo, se queremos derrotar o Future-se de Weintraub, é preciso ter claro que este ataque gigantesco contra a educação só ocorre graças ao andamento da reforma da previdência na Câmara. Tal fato impulsionou o governo para avançar com o projeto privatista das universidades e institutos, mas não só, também avançam o pacote anti-crime de Moro, a MP da liberdade econômica, a reforma tributária, etc. Somente uma forte unidade com a classe trabalhadora, a auto-organização dos estudantes e da juventude de conjunto, dando exemplos de força na luta de classes, têm a força para barrar o future-se e os ataques contra a educação.

 
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