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ELEIÇÕES GRECIA
Direita vence eleições na Grécia, e Syriza desmorona por ter aplicado os ajustes neoliberais
Marie Castañeda
Estudante de Ciências Sociais na UFRN

O Syriza, coligação de Alexis Tsipras que governa a Grécia desde 2015, sofreu uma rotunda derrota por ter aplicado os duríssimos planos de ajuste da Alemanha contra os trabalhadores gregos, com 30% dos votos e 85 cadeiras.

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A população grega decidiu quem serão os 300 membros do parlamento heleno, em uma eleição nacional convocada antecipadamente pelo primeiro ministro do Syriza, Alexis Tsipras, após a derrota da sua coligação nas eleições estaduais e também ao parlamento europeu. Estas foram lideradas pelo Partido Nova Democracia, direta tradicional grega que já teve 11 primeiros-ministros e que emplacou o próximo, Kyriakos Mitsotakis, magnata de família tradicional.

As urnas fecharam às 19 horas deste domingo na Grécia e a vitória do Nova Democracia é retumbante, primeira maioria absoluta no parlamento desde 2009, com 40% dos votos e 160 cadeiras. O Syriza, coligação de Alexis Tsipras que governa a Grécia desde 2015, sofreu uma rotunda derrota por ter aplicado os duríssimos planos de ajuste da Alemanha contra os trabalhadores gregos, com 30% dos votos e 85 cadeiras.

A Grécia, país que já ocupou o lugar de epicentro da crise capitalista que se abriu em 2008, sofre as consequências da submissão aos planos da Troika (Comissão Europeia, Banco Europeu e FMI), que com três resgates garantiu a implementação de um violento plano de austeridade, precarizando ao máximo a educação e saúde gregas. A dívida externa que provocou o estourar da crise, se incrementou em 280 bilhões de dólares desde 2010. O PIB caiu 30% em 8 anos e a taxa de desemprego é altíssima: 18% entre toda a população e estarrecedores 40,4% entre a juventude.

Este cenário, somada a implementação de altos impostos direcionados a toda população, e em especial à classe média, provocou a derrota retumbante por 9,5% dos votos nas eleições para o parlamento europeu, o que obrigou Tsipras, primeiro-ministro há quatro anos, a convocar as eleições com três meses de antecedência.

O Partido Nova Democracia não tem absolutamente nada de novo, já foi maioria do parlamento e teve membros seus na posição de primeiro-ministro 11 vezes, representante pleno da direita tradicional grega. Kyriakos Mitsotakis é filho de Konstantino Mitsotakis, primeiro-ministro grego nos anos 90, ou seja, herdeiro de uma das famílias de políticos mais poderosas do país. Apresenta um perfil tecnocrático, como antigo CEO do Banco Nacional Grego, já tendo atuado em outros bancos, já foi integrante do parlamento heleno, sendo o mais votado na história do Partido Nova Democracia e também Ministro de Reforma Administrativa e E-Governance, responsável pelo desmonte dos serviços públicos naquele momento. A retórica de Mitsotakis se concentra em quatro eixos: emprego, redução de impostos, rendimento líquido e segurança. Suas defesas estão em torno da redução dos serviços públicos, redução de impostos e redução de gastos governamentais e regulamentações, assim como privatização dos serviços públicos como tratamento da água em Atenas e Tessalônica, defesa de punições mais severas a crimes, e contrário a quaisquer direitos da população LGBT, e também maior integração com a União Europeia, cuja atuação política Mitsotakis enxerga com grande qualidade.

O xenófobo Kyriakos Mitsotakis é representante do avanço da direita internacional, cujo máximo representante é Donald Trump, aliado de Bolsonaro e outros partidos da nova direita europeia.

A calamitosa situação da classe trabalhadora grega é resultado da completa submissão das condições de vida da população aos mandos do FMI, determinada por Alexis Tsipras. Apesar de ter sido eleito com um discurso "antineoliberal" (sem questionar o capitalismo) e como expressão das aspirações das massas, que já haviam protagonizado 32 Greves Gerais contra os planos de austeridade, traiu até mesmo o plebiscito convocado por si mesmo, onde 60% da população votou contrária ao plano de austeridade da Troika. O projeto do Syriza foi amplamente bem-recebido por boa parte esquerda internacionalmente (como o MES/PSOL no Brasil, e outras correntes desse partido), colocando a confiança das massas gregas e da vanguarda internacional em um programa sem qualquer vestígio de independência de classe, cujo aumento de expressão eleitoral se deu em proporção inversa às medidas de luta impostas, buscando um caminho de negociação com os imperialismos europeus, que dependia do esvaziamento da luta de classes.

Os resultados são evidentes quando é eleito um perfeito representante da direita grega, que promete trabalhar para garantir crescimento econômico da burguesia local e imperialista às custas da classe trabalhadora, assim como até mesmo ajudar a fechar ainda mais as fronteiras europeias, prometendo mandar de volta às suas terras de origens os mais de 16.500 refugiados que vivem em acampamentos em território grego, a espera de seu asilo político.

Fracasso do Syriza e a necessidade de um programa para que os capitalistas paguem pela crise

A trágica experiência do Syriza, que apesar de ter sido fundado em 2004, ganhou enorme relevância nacional a partir do estouro da crise na Grécia, defensor de um programa de "humanização do capitalismo", sem uma base operária forte como teve o reformismo clássico da socialdemocracia, se mostrou completamente inofensivo frente aos planos da Troika, com o imperialismo alemão à frente, transformando-se em implementador dos ajustes neoliberais mais atrozes contra as massas gregas. As marcas que o Syriza deixou são uma reforma trabalhista que destruiu os escassos direitos, uma reforma sanitária que impõe riscos à saúde da população, a diminuição das aposentadorias, demissões de médicos e enfermeiros, entre outras medidas.

O Syriza se enfrentou abertamente contra todos os setores da classe trabalhadora grega, que protagonizaram inúmeras greves no país: greves de professores, de trabalhadores da saúde, dos setores público e privado, greves gerais contra a reforma trabalhista e as inúmeras privatizações (do setor energético ao porto do Pireu) e protestos contra o brutal tratamento do governo aos refugiados, em que o Syriza adotou a postura da direita xenófoba da ANEL - partido membro de sua coalizão de governo.

O que foi reivindicado como atuação responsável e realista, sem ruptura com a burguesia e seus órgãos internacionais, foi o que trilhou e aprofundou o caminho de miséria e de fortalecimento da direita tradicional. Para defender os direitos da classe trabalhadora, da juventude e dos setores oprimidos e enfrentar os planos da burguesia e seus mecanismos imperialistas internacionais, essa experiência mostra que o único caminho possível é ultrapassar os limites permitidos pelo regime burguês e atacar os capitalistas, fazendo com que os grandes empresários, latifundiários e banqueiros paguem pela crise. Um programa anticapitalista e socialista, que seja capaz de mobilizar os setores mais explorados e oprimidos em função da reorganização de toda a economia mediante um governo dos trabalhadores de ruptura com o imperialismo europeu.

Um programa dessa natureza vemos atualmente no caso exitoso da Frente de Esquerda e dos Trabalhadores (FIT), encabeçada pelo PTS, estruturada com militantes operários e estudantis em centenas de locais de trabalho e estudo, com mais de 40 deputados federais, estaduais e vereadores em todo o país, e que já alcançou mais de 1 milhão e 200 mil votos. Ao contrário do Syriza, a FIT-Unidade se enfrenta abertamente contra os ajustes propostos pelo FMI e aceitos por todos os partidos burgueses tradicionais, inclusive pelo kirchnerismo; busca se enfrentar com os capitalistas colocando em primeiro lugar os interesses da esmagadora maioria, dos trabalhadores, das mulheres e da juventude.

Isso não pode ser conquistado com organizações neorreformistas como o Syriza (ou o Podemos, em franco declínio do Estado espanhol): é necessário construir partidos operários com forte inserção nos locais de trabalho e estudo, que a partir de fomentar a auto-organização possam responder com um programa e uma estratégia de independência de classe.

 
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