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DESEMPREGO
Recorde de desemprego da juventude é fruto da agenda golpista de reformas neoliberais
Redação

Se não já bastassem os números alarmantes divulgados pelo IBGE em meados desse mês (18) sobre o avanço do número total de desempregados no Brasil, a situação se agrava ainda mais entre a juventude. Devido a um alto nível de desemprego entre os jovens, seus sonhos e anseios são amputados pela vontade feroz e desumana dos capitalistas por maiores lucros com o aprofundamento da crise através das reformas neoliberais.

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Segundo dados divulgados pelo IBGE, a taxa de brasileiros com idade entre 18 e 24 anos que estão desempregados avançou para 27,3% no primeiro trimestre de 2019. De forma espantosa, a taxa está acima do dobro da taxa média nacional, que é de 12,7%. O quadro piora quando aprofundamos a análise. Ainda segundo os mesmos dados do IBGE, entre a categoria dos “subutilizados” (escolha oficial para definir o grupo de trabalhadores que são empregados de forma temporária e que possuem mais disponibilidade de tempo para trabalhar formalmente, isto é, com carteira assinada e em oito horas semanais), os jovens entre 18-24 anos representam 41,8% no primeiro trimestre. Em números absolutos, são 7,337 milhões de jovens brasileiros nessa condição de vida e trabalho, o maior número registrado desde o início da série histórica em 2012.

O crescimento da subocupação entre a juventude, desde 2012 até 2019, também é um dado de forte preocupação, pois em comparação com o aumento a nível nacional, entre os mais jovens o crescimento foi mais acelerado. O número total dos subocupados cresceu de 20,9% para 25% em todo o país, enquanto que entre a juventude o aumento foi muito maior, passando de 30,1% para 41,8%. Nenhum estado do Brasil fica de fora desse quadro de calamidade social. Até mesmo em Santa Catarina, onde se registra o menor número de desemprego entre aqueles na faixa etária entre 18-24 anos, a taxa ainda permanece alta, chegando a 14,5%.

Esse contexto econômico proporcionou um quadro social mais duro e opressivo para a juventude. Níveis de desemprego tão grandes entre os mais jovens têm consequências de longo prazo na economia, geralmente o agravamento de sua deterioração. Em primeiro lugar, a subutilização do trabalho da juventude é um fenômeno estrutural e histórico de nossa economia, porém, nos momentos de crise, essa permanente tendência se agrava porque os jovens são os trabalhadores com menos experiência e com menos requisitos exigidos pelo mercado de trabalho, isto é, por capitalistas e todo tipo de patrão. Portanto, são mais vulneráveis aos períodos recessivos da economia. E é isso o que está em curso no Brasil e no mundo. A maioria dos jovens que completaram 18 anos entre 2014-2016 alcançou a possibilidade de estarem empregados formalmente num contexto de recessão e estagnação econômicas, tendo assim maiores dificuldades de experimentarem o primeiro emprego ou até mesmo a manutenção em um quando conseguem. Isso abala os sonhos de qualquer jovem que pensa constantemente na sua independência financeira seguida de autonomia política e social, almejando sair da aba de suas famílias na maioria dos casos. E a proletarização é a única saída para quem vive numa sociedade dividida em classes e que precisa de uma vaga de trabalho oferecida por um patrão ou empresa qualquer para ter dinheiro e continuar vivendo.

No entanto, mesmo entre os jovens considerados “subutilizados” e desempregados, há uma clivagem de raça e classe. Embora os jovens de todos os níveis de formação sejam afetados por esse traço estrutural de nossa economia, quem mais sofre com a piora econômica são aqueles com nível educacional básico e primário. Os dados do IBGE mostram que a população de jovens com ensino superior completo têm as menores taxas de desemprego. E sabemos bem que são os filhos das classes trabalhadoras das categorias mais precárias que saem primeiro da escola para trabalhar mais cedo, sobretudo daqueles vindos de famílias negras e de migrantes nordestinos para as áreas industriais do Sudeste. E até mesmo na formação do ensino superior, são os filhos e filhas das famílias negras que enfrentam mais dificuldades de ter acesso à universidade pública devido ao filtro social chamado vestibular, e também em concluir seus estudos na graduação.

O resultado desse caldo de precarização do trabalho foi o agravamento da concorrência entre os próprios trabalhadores pelas escassas vagas de emprego, sobretudo entre trabalhadores mais velhos e experientes com os mais jovens. O motivo que gerou isso foi o poder dos imperativos econômicos sobre os trabalhadores mais velhos, que para continuar a viver estão aceitando exercer suas atividades profissionais por salários mais baixos. Os capitalistas só agradecem. E ainda por cima comemoram esse fato como vitória da narrativa pela aprovação da reforma da previdência, já que os mais velhos começam a ser forçados a trabalhar até morrer e o regime de previdência social solidária (o atual), diante desse cenário e com o desemprego crônico entre a juventude, “necessita” ser derrubado para a imposição do regime de capitalização (poupança individual do trabalhador para a sua previdência no futuro) baseado no discurso mentiroso vendido pela grande mídia de “equilíbrio das contas do Estado”. E o pior é que os capitalistas preparam esse terreno social há tempos, pois segundo dados da consultoria iDados, a população mais jovem diminuiu sua contribuição para a Previdência Social na série histórica desde 2012, passando de 36,5% para 28,5% no final de 2018.

E é esse projeto que se aprofunda desde o golpe de 2016, passando pelo governo Temer e culminando atualmente no governo Bolsonaro. Apesar das diferenças entre as distintas alas desse governo e entre aquelas forças sociais que o apoia (como a grande mídia), a contradição termina na aprovação das reformas estruturais pró-patronais, dentre elas a implantação da draconiana reforma previdenciária sob o regime de capitalização. Isso complementa a passada aprovação da reforma trabalhista, que abriu caminho institucional para a precarização total das relações de trabalho, regularizando a subocupação, a tendência de diminuição dos salários e a retirada dos direitos trabalhistas. Tudo em nome da preservação dos lucros dos patrões e dos bancos nesse período de crise e estagnação econômicas provocadas por eles mesmos, e que agora tentam empurrar goela abaixo o “sacrifício” que todos devem fazer, menos eles, para que se aceite consensualmente as medidas impopulares em cima das costas do trabalhador, especialmente entre a juventude, enquanto o pagamento da dívida pública, um dos motores fundamentais que explicam o corte nas áreas sociais do Estado, não é tocado e nem sequer questionada pelos parlamentares e membros do governo que projetam e lidam com o encaminhamento das reformas.

É por esse motivo que a luta contra os cortes da educação e contra a “mãe de todas as reformas”, a previdenciária, não estão separadas, muito pelo contrário. A máxima “trabalhar até morrer” já está deixando de ser um discurso e virando realidade. O presente que se esboça entre os trabalhadores mais experientes hoje é o futuro que querem impor à juventude no futuro. E mesmo assim, o presente vivenciado pelos jovens atinge patamares alarmantes de tragédia social e falta de perspectiva. E a resposta para um cenário tão sombrio para a classe trabalhadora em sua totalidade (jovens e mais velhos) é a luta contra todas as reformas, inclusive contra a reforma “desidratada” proposta pelos governadores da suposta oposição de esquerda representada pelo PT e o PCdoB.

Essas reformas não se negociam e precisam ser enfrentadas com independência de classe através de uma aliança entre os estudantes e trabalhadores. Esse tipo de aliança costuma proporcionar um ânimo de combate e uma maior politização na própria classe trabalhadora, já que, historicamente, são os estudantes, e, portanto a juventude, os setores mais propensos a combater inicialmente a opressão do Estado e a ecoar antecipadamente os conflitos políticos que serão travados pela população trabalhadora, apesar de suas reivindicações específicas, no nosso caso, a defesa da educação pública e de qualidade.

Nos movimentos de maio de 1968, em quase todos os países que vivenciaram aquelas convulsões pré-revolucionárias, a juventude foi um fator fundamental para a dinâmica dos conflitos. Na França, foi o impulso dos estudantes pela derrubada do regime autoritário do então general De Gaulle que estimulou os trabalhadores entrar em cena posteriormente, realizando inúmeras greves com ocupações de fábricas e manifestações de ruas pela derrubada do regime. No Brasil de 1968, foram os estudantes os primeiros a ocuparem as ruas massivamente pela derrubada do regime militar. Meses depois, massivas greves operárias ocorreram em Minas e em São Paulo, fortalecendo entre a ala mais dura da ditadura a solução autoritária de fechamento total do regime e dos direitos políticos e individuais com o AI-5.
Aqui no Brasil, no período do processo do golpe não foi muito diferente. Já no governo Temer de 2016, os estudantes universitários começaram a ocupar as universidades contra a PL da reforma da educação e pela renúncia do presidente golpista, entoando o “Fora Temer” para o país inteiro. Esse ânimo e influência impactou a classe trabalhadora, que chegou a abril de 2017 a realizar uma paralisação de proporções de massa que não se via desde o fim da década de 1980. O governo não caiu, mas aquela mobilização foi decisiva para frear a reforma da previdência e as principais que se seguiriam, transformando a presidência de Temer num “governo zumbi” até a chegada de Bolsonaro no cargo.

Nesse sentido, não restam dúvidas que a juventude é nesta crise atual a maior expressão da resistência ao governo Bolsonaro, ao Congresso e aos capitalistas que querem a exploração do nosso trabalho até a última gota de suor. A energia revigorante do movimento estudantil não pode ser canalizada para negociações sobre qual será a forma mais ou menos atenuante do mesmo projeto: nos fazer trabalhar até morrer. E é essa a política atual da União Nacional dos Estudantes (UNE), dirigida pelas juventudes do PT e do PCdoB, seguindo as centrais sindicais no mesmo caminho, sem ter nenhum plano de luta concreto e sem organizar pela base os estudantes e os trabalhadores, através dos locais de estudo e trabalho, contribuindo para controlar e conter o potencial de luta do movimento. No final das contas, essas direções usam essa energia potencial para dar aval a uma reforma previdenciária “alternativa”.

Não precisamos de nenhuma reforma da previdência. É preciso impor o não pagamento da fraudulenta dívida pública, uma verdadeira bolsa-banqueiro que contrai o orçamento nacional, garantindo o repasse da maior parte do dinheiro público para a manutenção do lucro dos grandes empresários e bancos. O próprio Bolsonaro declarou abertamente que corta da educação e ataca a aposentadoria para pagar a dívida pública. Ao mesmo tempo, o enfrentamento à dívida deve ser acompanhado de um plano para combater o desemprego, que afeta principalmente a juventude, com obras públicas e repartição das horas de trabalho sem redução de salários. Por outro lado, a luta em defesa da educação precisa se ligar à necessidade de voltar as universidades aos interesses dos trabalhadores e da maioria da juventude, que é barrada de estudar nas instituições públicas, por isso a importância da luta pelo fim do vestibular, pela estatização das universidades privadas e pela abolição completa do trabalho terceirizado.

Por isso que nós do Esquerda Diário e da Juventude Faísca Anticapitalista
e Revolucionária defendemos o desenvolvimento da mobilização operário-estudantil, levantando um programa democrático-radical, contra as privatizações e ajustes neoliberais pró-imperialistas como parte das tarefas de uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana que leve os setores oprimidos para um governo dos trabalhadores de ruptura com o capitalismo. São essas ideias marxistas anti-burocráticas, anticapitalistas e revolucionárias que defendemos como única saída para a crise.

 
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