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ATAQUES À CULTURA
Bolsonaro quer fazer da Funarte órgão de propaganda e indica Roberto Alvim para direção
Débora Torres

Apoiado pelo Ministro da Cidadania, Osmar Terra, o diretor de teatro Roberto Alvim planeja a criação de uma Companhia Nacional de Teatro e a criação de uma Escola de Teatro e através de um mapeamento de "artistas conservadores", criar a tal máquina de guerra cultural.

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Alvim estava cotado para o cargo desde que mostrou-se alinhado com as ideias de Bolsonaro, declarando-se um "olavista" convicto e expondo apoio a Bolsonaro desde antes da eleição. Não é de agora no entanto que o diretor busca a todo custo estar sob os holofotes da mídia. Repudiado pelos coletivos, artistas, produtores e espaços culturais, vai rastejando oportunamente atrás da extrema direita, radicalizando o teor de seu discurso para se encaixar nos planos bolsonaristas de combate ideológico à esquerda, ao comunismo e ao que denominam "doutrinação marxista".

Foi publicada uma espécie de convocatória solicitando o engajamento de "artistas conservadores" para criar uma "máquina de guerra cultural". Sua intenção é criar um banco de dados de artistas para seus futuros projetos: "Estamos montando um grande banco de dados de artistas de teatro conservadores para aproveitamento em uma série de projetos".

Em outro post, fez comentários sobre "arte de direita" de "arte de esquerda". "Arte de esquerda é doutrinação de todos os espectadores; arte de direita é emancipação poética de cada espectador."

Como resposta, os próprios trabalhadores da FUNARTE publicaram uma carta de repúdio dirigida ao Presidente da Fundação Nacional de Artes, à comunidade das Artes Cênicas e da arte como um todo, às cidadãs e aos cidadãos brasileiros. Na carta, a Associação de Servidores da Funarte manifesta seu repúdio à indicação de Alvim para o cargo de direção do Centro de Artes Cênicas e afirmam: "As recentes declarações feitas a veículos de imprensa pelo diretor de teatro indicado para o cargo, Sr. Roberto Alvim, causam espanto. Em sua atuação, esta instituição prima pelo respeito à pluralidade e liberdade das manifestações artísticas, princípios coerentes com a natureza múltipla e variada das culturas que constituem a nossa cultura nacional. Preocupa-nos, portanto, que a cruzada "conservadora" que este senhor diz querer empreender afronte os direitos e garantias instituídos pela Constituição Federal Brasileira, que determina: ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política. Preocupa-nos que um aspirante a cargo público manifeste intenção de favorecimentos ou discriminações desta ordem (prática jamais observada na atuação da Funarte em toda a sua história) e que afronte o objetivo primeiro do Plano Nacional de Cultura: o de reconhecer e valorizar a diversidade cultural brasileira".

Veja a carta na íntegra: Trabalhadores da Funarte divulgam carta de repúdio à indicação do Roberto Alvim

Tal investida em tornar a FUNARTE um órgão de propaganda da extrema direita obviamente não está desligada do projeto nefasto de silenciar as iniciativas artísticas que se colocam contra os ditames reacionários da direita. Como exemplo, vale relembrar a série de ataques à exposição Queermuseu, censura à peças, e artistas e diversos cortes de programas de incentivo, tais quais o congelamento da lei de fomento ao teatro.

Um dos pontos fortes do discurso de Bolsonaro contra os artistas foi a "denúncia" da "mamata" da Lei Rouanet, discurso este que como todos os outros, foi calcado em mentiras e sob a leitura rasa e infantil sobre o que de fato significa a lei e suas diversas contradições. O que fica evidente agora é que o intuito de Bolsonaro e de sua corja era a repressão aos artistas que não se alinham à sua ideologia. E agora, como mais uma etapa desse projeto, arquiteta um esquema de cooptação de artistas que se disponham a ganhar financiamento estatal para fazer propaganda de extrema-direita, no qual o Alvim é o primeiro e o exemplo de quão asqueroso e hipócrita é o discurso de Bolsonaro e daqueles que lambem suas botas.

Por isso agora mais que antes urge que a luta de classes seja o chão para os coletivos, grupos, artistas e trabalhadores da cultura . É essencial que os movimentos, cooperativas e o Sated (Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos e Diversões do Estado de São Paulo) organizem assembléias e reuniões tendo como ponto de partida não somente este ataque isoladamente, mas que a partir de uma leitura de conjuntura consequente, que a categoria se organize desde a base em aliança com o conjunto dos trabalhadores.

Em nota, Dorberto Carvalho, presidente do Sated SP (Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos e Diversões do Estado de São Paulo) afirma: "O Club Noir não faliu porque foi “atacado pela esquerda” como o Alvim precisa fazer crer para pegar algum dinheiro público das mãos de Bolsonaro, mas faliu em decorrência de um ataque conservador sistemático contra os artistas no Brasil, a inversão de valores incentivados pela extrema direita com conivência da mídia e a própria incapacidade do Club Noir de se aproximar da realidade do público de teatro nesse novo contexto do país. Como presidente de um sindicato de artistas defendo veementemente que todos tenham LIBERDADE DE EXPRESSÃO ARTÍSTICA contra qualquer censura, liberdade inclusive para quem queira fazer “teatro conservador”, seja lá o que isso signifique, mas entendo e compartilho da mesma indignação dos artistas do Estado de São Paulo ao ver Roberto Alvim aliar-se a uma matriz ideológica que propugna a intolerância e vender-se a um governo que desrespeita as pessoas por sua orientação sexual, desrespeita mulheres e negros, desrespeita indígenas e ambientalistas, e mais, desrespeita o próprio Congresso Nacional". E finaliza: "Quanto ao que se anuncia, como o aparelhamento de recursos e equipamentos do estado brasileiro para que Roberto Alvim possa fazer um teatrinho de propaganda ideológica, tal qual um pequeno Goebbels tupiniquim, isso ainda será assunto de assembleia no SATED e possíveis denúncias de inconstitucionalidade aos organismos competentes".

Não é de hoje que Alvim coloca as asinhas oportunistas de fora. Após declarar publicamente apoio a Bolsonaro, as portas começaram a se fechar . O Sesc Mariana, em São Paulo, cancelou a estreia peça “Aurora”, cursos esvaziaram e o espaço de Alvim, o Club Noir, se viu jogado às traças. O diretor então, assim como seu mestre, logo esbravejou contra a esquerda, como se também os grupos , coletivos e espaços "de esquerda" não estivessem vivendo um dos períodos mais brutais de escassez e ataques profundos por parte justamente da direita e da extrema direita que Alvim tanto defende!

Nós do Esquerda Diário repudiamos a indicação de Roberto Alvim ao cargo e sobretudo, defendemos que a Funarte não seja órgão de propaganda ideológica da extrema direita!

 
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