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IGREJA E ESTADO
Bolsonaro, obscurantismo da bancada da Bíblia, e a urgente separação da Igreja e do Estado
Redação

Em nova postagem nas redes sociais Bolsonaro publicou um vídeo de um pastor defendendo-o sob a alegação de que ele seria um político "estabelecido por Deus" para guiar o país. Na tentativa de insuflar sua base social, Bolsonaro recorre à velha cartada da religião para legitimar seu acuado governo.

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Ao divulgar a carta de autoria desconhecida, culpabilizando supostas “corporações” por fazer do país uma nação “ingovernável” por fora dos conchavos, Bolsonaro declarou guerra aos demais poderes institucionais. Num movimento de bonaparte, o presidente busca elevar-se acima dos demais poderes, buscando semear a falácia de que ele não seria desde sempre defensor das corporações. Entretanto, para isso precisa, inicialmente, dar demonstrações de força. Esse foi o motivo para a convocação dos atos do dia 26/05, ao tentar reunir as tropas bolsonaristas e movimentar a base social que o presidente possui. Mas num momento em que segundo as pesquisas Bolsonaro conta com a pior aprovação no período inicial de um governo, isso mesmo entre todos os presidentes anteriores, qual seria essa suposta base social?

Desde as eleições pela primeira vez o índice de desaprovação de Bolsonaro supera o de aprovação Na pesquisa divulgada pelo El País 36% afirmam que seu governo é ruim ou péssimo, enquanto 28% avaliam positivamente, sendo que Bolsonaro foi eleito com 55% dos votos. Entretanto, o presidente conta com o apoio cativo e ativo de dois eleitorados: as diferentes categorias de agentes das forças de repressão (policiais civis e militares, além dos soldados) e a cúpula dos multimilionários pastores-políticos evangélicos. Foi em direção a esse último setor que Bolsonaro buscou se apoiar, para que esses mobilizem sua base, ai compartilhar um vídeo em sua rede social de um pastor que defende o presidente como um político “estabelecido por Deus” para guiar o país.

Para a vitória do ultradireitista o eleitorado evangélico, orientado por uma cúpula de pastores capitalistas, teve papel destacado. Em seu palanque contou com o apoio de todas as figurinhas carimbadas da bancada da bíblia – Silas Malafaia, Marcos Feliciano, Magno Malta...-, além do providencial apoio de Edir Macedo, magnata que colocou à disposição sua Igreja e sua emissora a serviço da campanha, aliança que segue vigente tendo a Record recebido a maior fatia da verba publicitária por parte do governo.

Bolsonaro, que já era intitulado de “mito” por seus apoiadores, busca agora através dos magnatas da bancada evangélica insuflar sua base social de evangélicos reforçando a retórica religiosa, e colocando-se como um “predestinado”. Na legenda do vídeo, Bolsonaro escreveu que: “Não existe teoria da conspiração, existe uma mudança de paradigma na política”. Somente na lógica invertida de Bolsonaro que a aliança entre a Igreja e o Estado representa uma “mudança de paradigma”, nada mais antiquado e reacionário do que essa aliança.

A bandeira da separação entre o Estado e a Igreja é uma demanda democrática elementar, que remonta à Revolução Francesa e seu levante contra os resquícios do Antigo Regime e a ordem feudal. Trata-se de uma conquista democrática que deve ser defendida como um dos mais importantes legados de um tempo em que o combate era dado pela nascente burguesia do século XVIII, portanto ainda progressista, contra os monarcas absolutistas que também alegavam que sua dominação se justificava por serem “enviados de deus”. Diante dessa relação entre a cúpula da bancada evangélica, que usa a religião para se favorecer, e a política, há setores da esquerda que preferem rebaixar seu programa, para “dialogar” com as lideranças evangélicas. Em uma publicação recente o deputado do PSOL Marcelo Freixo afirma que a bancada evangélica hoje é de direita, porque a esquerda não disputa. Em seus governos, Lula e Dilma não hesitaram em abrir concessões às lideranças evangélicas em nome do seu apoio e da governabilidade, concessões que custaram o direito de milhões de pessoas, como a legalização do aborto e o combate à homofobia. Ainda assim, essas mesmas lideranças tomaram participação ativa no processo do golpe, onde votaram de forma unânime a favor do impeachment de Dilma, sob o mote de “Deus e a família”.

Como assinala Simone Ishibashi, editora do suplemento Ideias de Esquerda, “Em pleno século XXI se coloca novamente a necessidade de defender o Estado laico, em uma ampla campanha como parte de avançar deste para a conquista de uma sociedade livre da exploração e de toda opressão, contra a influência reacionária da Igreja de todos os tipos, incluindo pentecostais e neopentecostais, sobre o Estado. A defesa do ataque de Israel e sua política colonialista, a retirada dos direitos democráticos das mulheres, negros e LGBTs, o ataque ao conhecimento e a ciência e todo conservadorismo que se dissemina através da cúpula de magnatas pastores-políticos estão a serviço de seus interesses de enriquecimento pessoal e privilégios cada vez mais ampliados contra o povo. Marcelo Freixo diz que a esquerda não disputa os evangélicos, mas o problema é que não há disputa por fora de um enfrentamento frontal contra qualquer um desses pastores da bancada evangélica que atentam contra os trabalhadores, as mulheres, negros, LGBTS e o próprio Estado laico. Isso é democrático e básico. Mas que hoje frente ao avanço dos capitalistas que são os líderes da bancada evangélica, a defesa do Estado laico toma outra significação, ainda mais importante. Querem colocar que quem se opõe a Bolsonaro está contra uma suposta ‘vontade divina’. Em nome disso atacam a ciência, as universidades, e inclusive a própria base evangélica. Sabemos que um amplo setor dos evangélicos é parte da classe trabalhadora, que será ainda mais excluída de cursar a universidade pública, e literalmente morrerá trabalhando, caso não derrotemos Bolsonaro. Justamente por isso a chave não é rebaixar o programa para dialogar com a agenda conservadora dos milionários pastores, como Edir Macedo que acima de tudo integram a classe capitalista com um império de mídia e indústria cultural que movimenta bilhões, e que defendem privatizar universidades e aprovar a reforma da previdência, como está claramente posto no manifesto da Frente Parlamentar Evangélica. Mas acima de tudo organizar os trabalhadores, exigindo que as centrais sindicais atuem efetivamente, e não apenas de palavras enquanto por baixo desmobilizam, para unir-se à luta em defesa da Educação adiantando a greve do dia 14/6 para o dia 30/5. A trajetória da derrota à qual as alianças petistas fez com esta cúpula já deveria ser a demonstração do resultado desse caminho, que precisa ser superado radicalmente".

 
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