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DEBATE
Bernie Sanders contra as fronteiras abertas
Tatiana Cozzarelli

O candidato democrata Bernie Sanders, apoiado pela DSA, a maior organização autoproclamada socialista nos EUA, declarou ser contrário às fronteiras abertas. O que significa essa posição para os socialistas revolucionários?

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Este artigo foi publicado originalmente no site da revista internacional Left Voice (http://www.leftvoice.org/), parte da Rede Internacional do Esquerda Diário

A imigração aos Estados Unidos é produto direto das políticas do imperialismo estadunidense e das inúmeras intervenções militares levadas a cabo por esse país ao redor do mundo, organizadas contra líderes elegidos democraticamente. Na América Latina, esses golpes em países como Nicarágua, El Salvador e Honduras, ou as tentativas de golpe ou intervenção em lugares como na Venezuela e Cuba, tem o objetivo de impor medidas de austeridade e estabelecer condições mais favoráveis para que as empresas estadunidenses continuem explorando à população e os recursos naturais da América Latina, como fazem há séculos.

A dinâmica entre a imigração e a intervenção estadunidense ficou evidente na recente caravana de migrantes, que levou milhares de pessoas à fronteira estadunidense em Honduras. Em 2009, o governo Obama apoiou um golpe de estado contra o presidente hondurenho Juan Manuel Zelaya, que havia aumentado os salários, as pensões e se aliado a outros países dos chamados governos pós-neoliberais como Venezuela, Equador e Argentina, assim como Cuba. O golpe da direita impulsionou as piores condições de vida para a classe trabalhadora e condições mais favoráveis para as corporações estadunidenses e a “Guerra contra as drogas”. Isso assegurou aos Estados Unidos um ponto de apoio na América Latina naquele período, aumentando a pobreza e a violência, que levou a que milhares de famílias realizaram uma longa e tortuosa viagem desde Honduras até os Estados Unidos a pé. Histórias como essa se repetem de um país a outro na América Latina: a imigração é um produto do imperialismo estadunidense, da austeridade e da intervenção.

Muitas pessoas, enojadas pelos comentários de Sanders, o acusam de ocupar-se exclusivamente dos trabalhadores estadunidenses. Porém, uma política contrária às fronteiras abertas não é uma política que favorece a classe trabalhadora dos Estados Unidos, é uma política para os capitalistas. As divisões entre trabalhadores “com documento” e “sem documento” são úteis aos capitalistas, não ao proletariado, reduzindo os salários de todos os trabalhadores. Como propuseram Jimena Vergara e Luigi Morris no artigo Nagle, está equivocado, não há justificação de esquerda contra as fronteiras abertas: “Os trabalhadores que emigram de seus países de origem às metrópoles imperialistas integram-se ao mercado de trabalho como cidadãos de segunda classe: sem direitos, sem benefícios, sem nada. Isso permite aos empregadores, por um lado, ter acesso a uma mão de obra barata, e faz com que a organização dos trabalhadores seja extremadamente difícil e perigosa. Por outro lado, essa mão de obra barata e sem direitos reduz os salários da classe trabalhadora nativa”.

É enormemente rentável manter certos grupos de trabalhadores em condições trabalhistas superprecárias e de superexploração, que por sua vez reduz os salários para todos os trabalhadores. Vemos isso o tempo todo. Por que um capitalista contrataria um trabalhador “com documento” se poderia obter uma mão de obra “sem documento” mais barata? Está é a razão pela qual a classe capitalista, tanto democrata como os republicanos, vem trazendo tais políticas xenófobas contra os 11 milhões de imigrantes “sem documentos” nos Estados Unidos.

No que diz respeito aos capitalistas, as fronteiras abertas são para produtos, não para as pessoas. É por isso que os acordos, como o NAFTA, são incrivelmente rentáveis: enquanto que não permitem aos mexicanos cruzarem aos EUA, os produtos baratos feitos pelos mexicanos nas maquiladoras cruzam aos EUA com facilidade.

Por outro lado, alguns defensores de Sanders estão argumentando que pronunciar-se a favor de uma política de fronteiras abertas acabaria com suas possibilidades de obter uma vitória presidencial e que, por isso, não tem escolha senão se opor a elas. Porém, esta resposta é apenas uma manobra cínica para encerrar a discussão e a indignação pelo nacionalismo e xenofobia entre os partidários de Bernie Sanders. Esta resposta termina sendo funcional também à naturalização do nacionalismo e da xenofobia da administração Trump.

As opiniões de Sanders sobre a imigração estão criando contradições incomodas para os milhares de jovens que o seguem e que, por sua vez, apoiam aos imigrantes “sem documentos”, a abolição da ICE (Agência de migração) e inclusive as fronteiras abertas. Também já está criando tensões entre a base da maior organização autodenominada socialista do país, a DAS (Socialistas Democráticos da América), que tem organizado previamente mobilizações pela abolição do ICE e para apoiar a caravana de migrantes; tem impresso inúmeros panfletos a favor da abertura das fronteiras, e muitos estão indo a Tijuana para apoiar os migrantes. Como pode essa mesma organização, que apoia as fronteiras abertas, fazer campanha por alguém que está contra?

Se bem que ninguém deveria estar surpreso pelas declarações de Sanders, deveríamos sim esperar que todos os que se reivindicam socialistas rechacem as mostras de xenofobia e nacionalismo e se perguntem se tem sentido estar associados a um político que fala e vota contra o que creem e pelo que lutam.

Na medida que se aproximam das eleições primárias, é provável que Sanders continue girando mais ao centro em temas como a imigração e a política exterior, com o fim de mostrar-se como um progressista responsável. É por isso que o Left Voice tem publicado artigos contra o apoio a Sanders: não apenas porque vá contra os princípios socialistas, senão porque se choca com o nosso movimento. Se vamos organizar gente para votar, bater nas portas e falar sobre socialismo, deveríamos fazê-lo por um candidato socialista independente que tenha como centro o anti-imperialismo.

A luta pelo socialismo não pode construir-se sobre as costas dos mais oprimidos e explorados. Nossa resposta deve ser a de construir um movimento socialista que lute por unir a classe operária nacional e internacional contra o nosso inimigo comum: os capitalistas que nos exploram e nos oprimem no país e no estrangeiro.

Tradução: Ítalo Garcia

 
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