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VENEZUELA
Venezuela: impasse político após semanas de tentativas golpistas e de agressão imperialista
Milton D’León
Caracas

A situação política do país parece entrar num impasse, onde nenhuma das forças acaba se impondo, após dois meses de intervencionismo imperialista e tentativas golpistas da direita local.

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Mais de dois meses se passaram desde uma forte tensão política na Venezuela, marcada por uma descarada ingerência imperialista e pela tentativa de forçar um golpe de Juan Guaidó e da direita local, com o apoio da direita regional.

A situação atual parece estar entrando em um impasse, onde nenhuma das forças acaba se impondo, e as Forças Armadas continuam a ser o fator chave tanto para o apoio de Maduro quanto para a tentativa de golpe da oposição.

A direita não atingiu seu objetivo de derrubar Maduro por não conseguir romper as Forças Armadas, o pilar fundamental do regime. Maduro se manteve, justamente, não por causa do apoio das massas, mas porque os militares cerraram fileiras e não se observaram divisões nem nos altos comandos nem nos oficiais intermediários nos quartéis.

Ainda que a oposição tenha anunciado novas manifestações, como a deste sábado, que se mostrou fraca, praticamente desde a chegada de Guaidó ao país do seu falido “Dia D” em 23F e de sua turnê de vários países, não tem prevalecido um aumento força da direita local nas ruas que pudesse se expressar em grandes manifestações que fizessem o governo de Maduro tremer.

Tudo isso em uma situação em que os apagões prolongados continuam, e junto com eles a incerteza, que nada faze além de aumentar a angústia e a privação de todo um povo. O governo de Maduro continua argumentando que se trata de ataques e sabotagem ao sistema elétrico e especialmente à principal represa hidrelétrica, a Guri. Nada pode ser descartado em um quadro de agressão do imperialismo, com a avançada golpista que este vem apoiando.

Mas, como explicamos artigos recentes, nota-se que, no meio de um colapso e descalabro econômico, é possível que os constantes blackouts, que mantêm no escuro grande parte do país, sejam devido à acentuada deterioração de todo o parque de geração de eletricidade e da falta de investimento em todo o sistema. Por muitos anos essa situação tem sido alertado, tanto pelos próprios trabalhadores quanto por técnicos e especialistas, e até mesmo ex-funcionários do governo.

Venezuela no jogo geopolítico da Rússia e dos Estados Unidos

Este cenário foi acompanhado por tensões geopolíticas, em que a Venezuela se tornou uma peça no xadrez político internacional. Se até uma semana atrás se reuniam em Roma altos representantes políticos da Rússia e os Estados Unidos para discutir sobre a Venezuela, mais recentemente a chegada de dois aviões russos com militares e equipamento tem vindo a aumentar a tensão entre os dois países, que anteriormente tinham atritos em outro partes do globo, mas não por causa de suas atuações na Venezuela.

O governo de Maduro procura passar a imagem que a presença russa cada vez mais ativa no país fosse um "contrapeso" para os Estados Unidos e como um apoio russo a sua própria gestão, a fim de buscar a sobrevivência. Mas é mais do que claro que se trata de um aproveitamento da Rússia da situação venezuelana. Mais do que apoio decidido à gestão de Maduro, Putin usa a Venezuela para aproveitar sua posição geográfica do ponto de vista geopolítico. E não é nenhum segredo que, para a Rússia, a importância política da Venezuela é a sua localização perto dos Estados Unidos, seus recursos naturais e a oportunidade de lucrar em negócios realizados no país, como tem feito no setor de petróleo.

Uma situação que conduz a Venezuela, sob a mão de Maduro, a uma crescente dependência da Rússia, e como tem sido feito com a China no domínio econômico, com quem a Venezuela têm uma enorme dívida e hipotecou uma grande parte da produção de petróleo dos próximos anos. Maduro procura mostrar que tem um aliado político de peso internacional, mas Putin o utiliza para melhorar sua posição em sua disputa com os Estados Unidos.

Neste contexto, é que John Bolton, o conselheiro de Segurança Nacional de Trump, insistiu esta sexta em “denunciar" o envio de pessoal e equipamento militar à Venezuela pela Rússia, dizendo que "Nós vamos continuar a considerar este tipo de ações provocativas como uma ameaça direta à paz e à segurança internacional na região", assegurando que os EUA "defenderão e protegerão" seus interesses nas Américas. Além de "alertar" qualquer "ator externo" contra a implantação de "ativos militares" na Venezuela ou em qualquer outra área do continente.

Mas todos estes acordos do governo venezuelano para tentar conter a espiral da crise apenas não fortalecem Maduro, mas o tornam cada vez mais dependente dos militares no campo interno, da China no campo econômico externo e da Rússia na política externa. Este é o caminho de Maduro, a frente de um governo em franca decomposição política e que mergulhou nas piores catástrofes de sua história recente.

A desqualificação de Guaidó e as discussões do Grupo de Contato

Elvis Amoroso, o controlador-geral nomeado pela governista e fraudulenta Assembleia Constituinte, anunciou quinta-feira a desabilitação de Guaidó a cargos públicos por 15 anos, observando que "presume-se" que Guaidó tenha "ocultado ou falsificado" informações en sua declaração de patrimônio, e que por sua vez "recebeu dinheiro de instâncias internacionais e nacionais sem justificação".

Pouco interesse realmente tem o governo sobre ocultações de recursos em “declarações de patrimônio", justamente um governo cheio de casos de corrupção em todos os níveis e que se enriqueceu recorrendo a todos os tipos de métodos e formas de governo. É um novo movimento político para manter fora da cena política este dirigente da Voluntad Popular, como tem feito com Henrique Capriles e outros líderes da oposição, assim como a inabilitação descarada de partidos políticos por deixar de se apresentar a tal ou qual eleição política.

Guaidó representa a face mais suja da direita venezuelana e se tornou um fantoche de Washington quando se autoproclamou "presidente encarregado" da Venezuela, em uma tentativa golpista. Mas isso não implica endosso ou apoio a essas medidas de Maduro, que através de um bonapartismo obsceno tira do jogo político o que ele quer por meio de manobras hipócritas. Se Maduro o faz com esses políticos que representam grupos de poder e contam até mesmo apoio internacional, o que ele não fará (ou faz) com as organizações populares e operárias que resistem a suas medidas anti-operárias e antipopulares?

Vemos que com anúncios simples se apagam conquistas históricas da classe trabalhadora contidas nos acordos coletivos, enviam à prisão trabalhadores pelo simples direito de protestar e chegam ao ponto de demitir dirigentes sindicais simplesmente por pensarem de forma diferente, conforme o caso recente da Cancillería, e avança em medidas entreguistas além de continuar descarregando esta catástrofe brutal sobre a população. Estas são medidas que são e serão implementadas duplamente contra os trabalhadores.

A desabilitação de Guaidó busca apenas, depois de uma negociação eventual, fruto de muitas reuniões a portas fechadas que certamente estão sendo feitas, que se possa ir a algum tipo de eleições, e não ter como candidatos este direitista que se apresenta como uma nova cara frente aos já desgastados líderes que antes conformavam a Mesa da Unidade Democrática (MUD). E ao mesmo tempo enfraquece esse personagem dependendo de seus objetivos.

É por isso que, no assim chamado Grupo de Contato com a Venezuela, que busca uma solução negociada e convocar eleições, condenou esta quinta-feira em Quito a decisão da Controladoria-Geral de desabilitar Guaidó. Este grupo é composto pelo Equador, Costa Rica e Uruguai (do lado latino-americano) e entre outros por França, Alemanha, Itália, Holanda, Portugal, Espanha, Suécia e Reino Unido (pela União Europeia). Em sua primeira reunião em Montevidéu, no Uruguai, em 7 de fevereiro, eles concordaram com um prazo de 90 dias para cumprir o objetivo das eleições presidenciais que estão sendo realizadas na Venezuela.

Um impasse com grandes tensões em que as pessoas continuam sofrendo as consequências

Tomando mais de conjunto, e como foi dito no início, ainda não há uma definição na correlação de forças depois de mais de dois meses, em uma extensão de tempo que parece jogar a favor de Maduro. Até agora, um impasse relativo é prenunciado pelo fracasso em romper as Forças Armadas, centro nervoso de Maduro.

Os Estados Unidos disseram que, por enquanto, uma intervenção militar direta não conta com o apoio de seus parceiros latino-americanos, após a declaração do grupo de Lima. Nesse sentido, poderia apontar mais para o aprimoramento das sanções econômicas "severas" para buscar um maior estrangulamento econômico. Ainda não foram anunciadas medidas mais rigorosas, além daquelas já aplicadas.

O tempo permitiu a Maduro avançar em seu relacionamento com a Rússia, e uma nova reunião entre os dois países está planejada. Embora o governo faça este fato aparecer como um ponto forte de uma nação soberana, de fato, se Maduro se mantém, é nada mais que uma fraqueza, aumentando sua dependência da Rússia, porque em uma negociação de longo prazo entre os Estados Unidos e este país, a Venezuela não é mais que uma ficha no xadrez político internacional. Nesta situação, Guaidó não mostrou vitalidade ou iniciativa como em 23 de Janeiro e 23 de Fevereiro, fazendo apenas afirmações genéricas que as próximas mobilizações apontariam para Miraflores para ocupar a cadeira presidencial, um fato que não aconteceu. Este sábado foi medíocre, com Guaidó falando em uma cidade menor, como Los Teques, que fica a uma hora de Caracas.

Esta situação no momento não significa que a variante golpista está fora da arena política, mas os tempos se prolongando podem apontar para a busca de soluções negociadas, em que o imperialismo pressione cada vez mais Maduro por meio de estrangulamento econômico. As medidas ofensivas do imperialismo continuam o seu curso e acabam caindo sobre o povo, aumentando as calamidades já existentes. Os trabalhadores têm que rejeitar qualquer tipo de agressão imperialista que, pela mão da direita local, implicará apenas mais submissão, isso não implica nenhum apoio político para Maduro.

Alertamos também que não será se apoiando na Rússia que pode vir algo progressivo, de quem a única coisa que se pode esperar é a dependência e a submissão ao país para jogo político internacional, especialmente para a burocracia estatal chavista procurar uma sobrevivência. Mas, ao mesmo tempo, dizemos que qualquer solução negociada que seja acordada será em detrimento das pessoas, conforme proposto pelo chamado Grupo de Contato. A única saída progressiva só pode vir dos trabalhadores encabeçando a luta contra a agressão imperialista e a miséria a que estão sujeitos.

 
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