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BERNIE SANDERS
Bernie Sanders apóia o endurecimento da segurança nas fronteiras, apesar de se colocar como uma oposição progressista

Bernie Sanders foi notavelmente um dos poucos progressistas no Congresso que votaram
a favor do recente projeto de lei do orçamento federal para manter o governo aberto.
Fazendo isso, ele fracassou em lutar pelos interesses dos imigrantes e dos servidores
federais.

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Na última quinta-feira (14), no Congresso, democratas e republicanos concordaram em fechar um orçamento governamental que inclui 1.375 bilhões de dólares para financiar a construção de uma cerca na fronteira do Texas com o México, com fundos adicionais para contratação de agentes policiais e aquisição de tecnologia para aprimorar a segurança. O orçamento passou no Senado por 83 votos a favor e 16 contra, enquanto na Câmara dos Representantes passou por 300 votos a favor e 128 contra, com amplo apoio dos partidos democrata e republicano.

Dos 128 votos contra, apenas 16 vieram dos democratas, especialmente de novas figuras como Alexandria Ocasio-Cortez, Ilhan Omar e Rashida Tlaib. Praticamente todos os candidatos democratas para as eleições de 2020 – alguns deles têm votado recentemente junto com os conservadores quando o assunto é imigração, como Kirsten Gillibrand – votaram contra o orçamento, visando se distanciar das políticas xenófobas de Donald Trump e preparar, cada um, as suas propostas para a Casa Branca.

Essa resistência ao financiamento governamental para um muro fez todos estes
candidatos mais notáveis do que Bernie Sanders, considerados por muitos como uma estrela da esquerda antissistema no Congresso e candidato para a presidência, que votou em favor do acordo para este orçamento, o qual legitima o alarmismo racista de Trump sobre uma suposta “crise” na fronteira. Enquanto inúmeros políticos considerados à direita de Sanders votaram contra tal financiamento, tais como Kamala Harris e Cory Booker, o velho democrata ficou ao lado da vasta maioria do establishment que apoiou a votação do orçamento no Senado.

Sanders explicou sua decisão na noite do voto, twittando: “Ainda tenho preocupações sobre esse financiamento, eu o apoiei porque eu não consigo dar as costas para os dois milhões de servidores federais e privados que estariam forçados novamente a trabalhar sem pagamento. Eu estou preocupado também com os milhões que teriam seu acesso negado aos serviços do governo”. Em outras palavras, para Sanders, votar a favor do financiamento foi a melhor saída para evitar outro fechamento do governo (“shutdown”), porém, a conseqüência de tal ato se constitui como uma expansão dos recursos para o sistema de imigração dos Estados Unidos.

Sanders disse que votando contra o acordo, a fim de evitar outro fechamento do governo, seria uma traição aos trabalhadores norte-americanos. Mas, o que dizer sobre virar as costas para milhares de trabalhadores e famílias que estão esperando por um asilo ou aqueles que se arriscam sendo mortos pelas polícias de patrulha da fronteira ao tentar passar para os EUA? E sobre o que dizer sobre virar as costas para os imigrantes que já vivem no país, que continuarão a ser presos e forçados à detenção penitenciária sobre condições abomináveis enquanto esperam por seus casos serem julgados?

A maneira como Sanders articula o problema do gasto federal coloca os interesses dos trabalhadores norte-americanos e dos imigrantes uns contra os outros, como se opor ao acordo que coloca em risco as vidas de trabalhadores e famílias tentando passar para os EUA fosse o mesmo que abandonar os trabalhadores que já vivem no país. Ou seja, isto significa que há de se fazer uma escolha entre proteger os imigrantes ou os servidores federais dos Estados Unidos.

Isso é uma falsa dicotomia. Os interesses dos trabalhadores de um país estão inextricavelmente interconectados com os interesses de todos os trabalhadores do mundo. A ameaça que representa às vidas das pessoas que chegam aos Estados Unidos para trabalhar e sustentar suas famílias de um fundo governamental que aloca recursos para a segurança da fronteira é inseparável das condições dos trabalhadores norte-americanos ameaçados também por uma perspectiva de trabalho sem pagamento e sem acesso aos serviços do governo. Ambos estão sujeitos aos caprichos das classes dominantes e ambos sofrem com o fortalecimento das medidas de segurança na fronteira. Elas apenas servem aos interesses dos capitalistas em avançar as políticas xenófobas que financiam cercas e muros, separando e colocando em perigo vários trabalhadores e famílias. Votar a favor do
projeto de gasto federal é seguir contra os interesses tanto dos trabalhadores que chegam aos Estados Unidos quanto dos que já vivem aqui, perpetuando uma concepção nacionalista limitada do que seria a classe trabalhadora norte-americana.

Além disso, esse projeto de lei do orçamento federal nem é de interesse imediato dos dois milhões de trabalhadores que Sanders está tentando proteger. Oorçamento não aloca nenhum recurso para o pagamento de milhares de servidores federais mal remunerados que perderam um mês de salário durante o fechamento do governo. Esse voto não providencia nenhuma garantia de que Trump não irá fechar novamente o governo e pôr pressão nos servidores federais para que sua luta pelo financiamento do muro continue. Certamente isso não impediu Trump de declarar estado de emergência, pelo qual ele espera conseguir 8 bilhões de dólares para financiar o tal muro, um movimento que dificilmente melhorará as vidas dos trabalhadores que moram e trabalham nos Estados Unidos.

Sanders votou a favor do orçamento a fim de evitar outro fechamento do governo, porém fortalecer as políticas racistas da administração Trump não é o caminho que garantirá que os servidores federais sejam pagos e que tenham seus interesses de classe protegidos.

Nesse sentido, chamamos a todos os trabalhadores que dêem suas próprias soluções na perspectiva de outro fechamento do governo, e que não envolva dar as costas para os imigrantes e suas famílias. Apenas mobilizações independentes que lutem fortemente contra as políticas xenófobas para a imigração e contra o fechamento do governo é que mostrarão a Trump e à Washington que os trabalhadores não irão tolerar estes últimos ataques aos seus interesses de classe.

 
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