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CENTENÁRIO DA MORTE DE MEHRING
Franz Mehring: da democracia burguesa ao socialismo internacionalista
Gonzalo Adrian Rojas
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“O senhor ocupa faz décadas uma posição entre nós que nenhum, a não ser o senhor pode assumir: o senhor é o representante da verdadeira cultura intelectual em todo seu brilho e esplendor. Se na opinião de Marx e Engels o proletariado é o herdeiro histórico da filosofia clássica alemã, o senhor foi o executor desse legado. O senhor salvou do campo da burguesia o que ainda restava dos dourados tesouros da antiga cultura intelectual e os trouxe para nós no campo dos deserdados sociais (...) Com cada uma das linhas saídas de sua pluma maravilhosa o senhor educou nossos trabalhadores que o socialismo não é questão de ‘garfo e faca’ e sim um movimento cultural, uma grande e orgulhosa visão do mundo”.

(ROSA LUXEMBURG, Carta a Franz Mehring, Südende, 27 de fevereiro de 1916, no 70° aniversário de Franz Mehring)

Duas semanas após os assassinatos de Rosa Luxemburg e Karl LIebknetch, ainda no marco da derrota da revolução alemã e no contexto de brutal repressão contra o recentemente criado Partido Comunista da Alemanha (KPD), o coração do “velho” Franz Mehring parou de funcionar aos setenta e dois anos de idade, no dia 29 de janeiro de 1919. Sobre o assassinato dos dois revolucionários citados recomendamos a leitura desta matéria O assassinato de Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht, um crime da socialdemocracia.

Duas caraterísticas podemos destacar deste grande intelectual e dirigente do proletariado revolucionário alemão, em primeiro lugar seu transito e vínculo entre a primeira geração de revolucionários Karl Marx e Friedrich Engels e a geração da Revolução Russa, assim como seu trânsito desde seu inicial democratismo radical, cuja consequência o leva passando por um lassalismo inicial em referência ao líder do movimento operário alemã Ferdinand Lasalle pela sua preocupação pelo social, até sua vinculação ao marxismo em 1891 e a socialdemocracia com a idade de 45 anos, e posteriormente fazer parte de suas alas esquerdas até a criação do KPD. Segundo Lukacz em Franz Mehring 1846-1919 em contribuições á história da estética, o que diferencia Mehring de outros defensores de ideologias do campo burguês que passam as filas do proletariado é a honesta decepção com a democracia burguesa e seus limites, o que colocaria a Mehring no campo do movimento operário desde essa perspectiva em momentos que a socialdemocracia maioritária inicia uma idealização desta.

Em 1891, abandonando qualquer liberalismo, incorpora-se a redação da revista teórica da socialdemocracia alemã Die Neue Zeit, onde escreve um livro que o coloca no debate teórico do marxismo A lenda de Lessing em 1892.

Tão forte foi a repercussão que Franz Mehring recebe do próprio Friedrich Engels, que já havia elogiado em 1892 seu livro numa carta a Agust Bebel, três cartas, explicando em primeiro lugar que não havia respondido as duas cartas anteriores dele enquanto estavam em vigor as leis antissocialistas, leis apoiadas por Mehring antes de defender o marxismo, pela situação política e por esse momento estar em trincheiras diferentes, para depois, em 1893 enviar duas cartas elogiando a importância de seu livro A lenda de Lessing desmitificando a história prussiana oficial e destacando a importância de realizar um bom estudo além da estrutura as mediações da ideologia e as representações na mesma trincheira de luta.

Em outro conjunto de escritos sobre o materialismo histórico, Mehring responderá algumas das críticas realizadas ao livro A lenda de Lessing.

Na universidade operária de Berlin ministra História e em 1897 e 1898 escreve uma História da Socialdemocracia Alemã.

Uma vez integrado a socialdemocracia se coloca na esquerda em todos os debates políticos, seja contra o revisionismo de Eduard Berstein, depois rompendo em 1912 com Karl Kautsky defendendo as posições de Rosa Luxemburg e abandonando Die Neue Zeit e se colocando contra o militarismo e a guerra na Primeira Guerra Mundial, fazendo parte da Liga Spartacus e o do Partido Comunista da Alemanha.

Hugo Eberlein, no seu relatório sobre o trabalho clandestino da Liga Spartacus, coloca a Mehring como um dos sete participantes de uma reunião na casa de Rosa Luxemburg um dia depois da aprovação dos créditos de guerra pela socialdemocracia oficial e da decisão de continuar a luta contra a guerra e o militarismo. Decidem enviar duzentas cartas para solicitar assinaturas para um manifesto contra a guerra, mas só conseguem muito poucas entre elas a do próprio Mehring e Clara Zetkin.

Em relação a isto podemos destacar um artigo escrito em julho de 1914, a classe operária e a guerra mundial e fundamentalmente que preocupado pela situação de guerra e militarismo é um dos marxistas que incorpora o estudo do general prussiano Karl von Clausewitz. De forma sintética compara o Anti-Duhring de Engels com Da Guerra de Clausewitz, destacando a importância do primeiro para o materialismo histórico e tomando a relação entre economia e guerra, mas destacando também a relação entre guerra e política, defensiva e ofensiva realizados pelo general prussiano, colocando Mehring que a guerra entre nações eram enfrentamentos num segundo plano em relação as contradições de uma guerra civil entre as classes no marco de um determinado território.

A partir da guerra torna-se um dos principais dirigentes da ala esquerda da socialdemocracia alemã. Em 1915 funda junto com Rosa Luxemburgo o jornal dos socialistas internacionalistas, Die Internacionale. Preso em 1916 por sua atividade antimilitarista e por realizar atividades de propaganda contra o imperialismo e a guerra. Será eleito deputado pela Dieta prussiana de 1917 até 1918, onde realiza uma política parlamentar revolucionária, nas trilhas de Karl Liebknecht. Sobre Karl Liebknecht recomendamos a leitura desta matéria, e esta outra sobre o parlamentarismo revolucionário na atualidade.

Apoiador da Revolução Russa de outubro de 1917, em 1918 publica sua famosa biografia de Marx e tem tanto impacto político que o próprio Karl Kaustky escreve no mesmo ano Franz Mehring e a socialdemocracia alemã. Uma contribuição sobre a história da socialdemocracia alemã conhecida como o anti-Mehring.
Fundador da Liga Spartacus e o Partido Comunista Alemão (KPD), junto a Rosa Luxemburgo, mesmo não conseguindo participar de seu congresso pelo seu delicado estado de saúde, é uma referência central da corrente socialista revolucionária internacionalista. Sobre Rosa Luxemburgo recomendamos a leitura do suplemento especial Rosa Luxemburg: Águia da revolução organizado por este jornal no centenário de sua morte.

Há cem anos de sua morte, como bem afirma Rosa Luxemburgo, é importante recuperar suas obras para que o movimento operário e a juventude possam fazer do comunismo não só uma mudança do modo de produção, como pretenderam fazer acreditar os stalinistas, poderíamos acrescentar, senão uma vida que valha a pena ser vivida. Para isso intelectuais revolucionários como Franz Mehring e seu legado, independentemente de certos elementos de suas interpretações teóricas com as quais podemos ter diferenças, são indispensáveis.

 
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