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AEROVIÁRIOS
Entrevista: “Os aeroviários enfrentarão mais terceirização e perda de direitos com Bolsonaro: devemos nos organizar”
Redação Guarulhos - SP

O Esquerda Diário organiza uma série de entrevistas com trabalhadores de diversas categorias para dar voz aos que já vinham sofrendo com os ataques das reformas de Temer e que se preparam, pois os ataques se agravarão sob o governo de Bolsonaro. Nesta entrevista, abrimos espaço para o aeroviário de Guarulhos Charles Leão, trabalhador dessa categoria estratégica na sociedade, na qual relata como vêm sofrendo com perdas de direitos, com a terceirização, demissões em massa e com o imobilismo dos sindicatos. Mas ele aponta os caminhos para reverter a situação, apostando na mobilização e na unidade dos trabalhadores.

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Fotos: Acervo ED - ©

Esquerda Diário: Muitos trabalhadores votaram no Bolsonaro por frustração com o papel que o PT cumpriu nos últimos anos, em que várias vezes o partido optou pelos velhos métodos dos partidos corruptos e governou para os banqueiros e os ricos, traindo ou deixando de travar várias lutas através de sua influência nos sindicatos. Como você acha que podemos ajudar os trabalhadores sinceros, porém desiludidos e frustrados com o petismo, a avançarem com consciência de classe e enxergando que o Bolsonaro representa um governo violento contra os trabalhadores e seus direitos?

Charles: Primeiro, temos que dialogar com as trabalhadoras e os trabalhadores mostrando que ele, Bolsonaro, representa uma ameaça a toda a classe. Bolsonaro enganou o povo com um discurso de que seria diferente, que faria uma política nova, contra a corrupção e com um discurso antipetista, mas está claro em seus discursos o seu plano de governar para os ricos, com a terceirização, privatização, etc.

Encurrala os trabalhadores dizendo que ou “temos direitos ou temos empregos’’. Assim, o pai e a mãe de família que estão desesperados, ameaçados no trabalho ou desempregados aceitarão qualquer tipo de salário para poder sobreviver, mesmo que precariamente.

Acredito que nos aproximando desses trabalhadores e se nos organizarmos contra os ataques vindos do governo, das empresas, da polícia e do sistema, mostraremos resistência e força, assim ajudamos uns aos outros. Não vejo outra forma de ajudar se nesse momento não tivermos empatia e soubermos que o próximo pode ser qualquer um de nós.

Devemos mostrar para os trabalhadores os números: caíram 37% dos processos trabalhistas, porque hoje, graças à reforma trabalhista, as empresas estão ganhando os processos e o funcionário demitido ainda tem que pagar as contas desse processo.

Esquerda Diário: Nos conte sua visão sobre o processo de terceirização que vem ocorrendo com força nos aeroportos do país. Como isso vem afetando os trabalhadores, que, em sua maioria, antes eram trabalhadores efetivos das empresas aéreas?

Charles: Daqueles que ainda estão empregados, vejo medo por conta da instabilidade, a sensação é de insegurança total, pois as terceirizações estão acontecendo de uma hora para a outra e, para piorar, com a nova lei, o empregado não pode ser contratado pela empresa terceirizada por pelo menos 18 meses, sendo assim é desemprego na certa.

É isso que a terceirização causa, desemprego e redução de salários, como trabalhadores não deveríamos aceitar esses ataques, perdemos muitos amigos e companheiro de trabalho este ano na LATAM, foram mais ou menos 1.300 demissões, até agora muitos não conseguiram emprego ainda.

Devo alertar também que os funcionários terceirizados estão ganhando em média 60% a menos que os funcionários efetivos das companhias aéreas. A intenção é sempre visando o lucro da companhia e precarizar e sugar ainda mais os funcionários.

Esquerda Diário: A gente viu várias categorias de trabalhadores se mobilizando em Abril de 2017 contra as reformas de Temer, inclusive realizando uma paralisação nacional no dia 28 daquele mês. Pelo que você se lembra, o que faltou por parte dos sindicatos para que a mobilização continuasse com força e avançasse para vencer de fato os ataques de Temer? Esses métodos são uma saída para barrar os ataques já anunciados por Bolsonaro?

Charles: Sem duvidas, o único jeito de resistirmos aos ataques que começaram com o Temer e não irão acabar com o Bolsonaro é a união dos trabalhadores. Precisamos defender nossos empregos e direitos, sabendo da força que temos, e é isso que temos que mostrar para aqueles que ainda não reconhecem neles mesmos essa força.

Não precisamos esperar a diretoria do sindicato para começarmos a lutar. Sabemos que a direção do sindicato dos aeroviários é pelega e burocrata. Lembro que chegaram a falar de paralisação naquele dia 28, porém simplesmente não apareceram nos portões dos terminais, não houve piquete de fato, não houve panfletagem preparando e, quando questionados, colocaram a culpa nos trabalhadores que “não se organizam”.

É inaceitável a posição do sindicato dos aeroviários, estamos sofrendo muitos ataques, principalmente nos últimos 2 anos, e nada é feito.

Esquerda Diário: Você acha que os sindicatos dos aeroviários pelo país podem vir a se tornar ferramentas efetivas de resistência para lutar contra a terceirização, as reformas trabalhista e da previdência e impedir a perda de direitos? Como poderíamos transformar os sindicatos em ferramentas de luta que hoje se transformaram em espaço de paralisia dos velhos dirigentes, o que gera grande desconfiança por parte dos trabalhadores nos sindicatos?

Charles: Como mostrei acima, infelizmente, não há confiança nos sindicatos e ele são responsáveis por isso, já que não fizeram absolutamente nada para barrar as demissões e as terceirizações, nem contra a reforma trabalhista ou a reforma da previdência que vem aí. Não há vitórias há anos, só temos visto derrota aos trabalhadores da aviação.

Esses dirigentes antigos que comandam o sindicato não dialogam com os trabalhadores, ainda assim devemos exigir que se movam! Se um dia essa ferramenta for organizada por trabalhadores que lutam de verdade, a história provavelmente será outra. Mas hoje não. Estou há quase 10 anos na aviação e nunca vi uma convocação para eleições sindicais, assembleias são raras e esvaziadas por falta de preparação, não me lembro de piquetes nos terminais, somente reuniões para conseguir novos associados. Isso precisa urgentemente mudar!

Inacreditavelmente, no primeiro dia após a terceirização e a demissão em massa dos funcionários de GRU da LATAM, fizeram reuniões com trabalhadores para adquirirem novos associados, quando deveriam, no mínimo, convocar todos para resistir sobre o ocorrido com a terceirização.

Somente com a participação dos trabalhadores aeroviários no sindicato as coisas iriam mudar, temos que nos unir e organizar para lutar por isso.

Esquerda Diário: Já relatamos diversas lutas dos aeroviários anos atrás. Embora não tenha havido resistência organizada pelo sindicato contra essas demissões dos 1.300 funcionários da LATAM quando a empresa decidiu terceirizar, como você acha que deveria ter sido a organização dessas categorias tão fundamentais para a sociedade, para que se mobilizassem pela defesa do emprego e de seus direitos diante do imobilismo das direções sindicais?

Charles: Primeiro, como aeroviário, quero agradecer ao ED que, por vezes e cada vez mais, tem se posicionado contra os abusos escandalosos sofridos pelos trabalhadores da aviação, não só pelo aeroviário, mas também denunciando venda da ex-estatal Embraer. Vocês do ED vieram panfletar e dialogar com os trabalhadores de Rampa quanto ao processo de terceirização, chamando a se organizarem. Muitos ficaram felizes e dispostos pela luta, pena que foi tarde demais. Mas os sindicatos sabiam muito antes e não fizeram absolutamente nada.

Hoje não vejo o sindicato como uma proteção ao trabalhador, não tenho esperança nos sindicatos e organizações lideradas pelo PT, com o Bolsonaro piorará a situação e ainda estão imóveis.

Vemos alguns setores se organizando (metroviários e professores, principalmente), e na Argentina tem um movimento de aeroviários, “Aeronauticos El Despegue”, que é muito forte e que se organizam e faz greve contra demissões, contra os direitos retirados etc... tudo isso, muitas vezes, eles fazem como representantes independentes do sindicato. É claro que as empresas aéreas recuam, pois reconhecem a força que os trabalhadores unidos têm.

É isso que devemos buscar hoje em nossa organização, os companheiros que estão dispostos a lutar pelo seu emprego e direitos, já que estão cada dia mais ameaçados. Aconselho aos trabalhadores da aviação a se organizarem. Devemos nos unir nos organizando e participando de reuniões, paralisações, pressionando as empresas aéreas, empresas terceirizadas e os próprios sindicatos, pois patrões e governantes estão nos atacando como querem sem nenhum tipo de resistência.

 
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