Em atualização de dados divulgada há uma semana pela Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP) pode-se verificar um crescimento importante de 12% nos casos de feminicídios no Estado, sendo que este número saltou para 29% quando se trata das cidades do interior. Uma expressão desse aumento está na série de casos ocorrida há pouco mais de uma semana, quando 4 mulheres foram assassinadas em cidades do interior paulista. Em Campinas houve em 2017 o registro de 12 casos com o agravante “feminicídio”, entretanto, 9 destes aconteceram na mesma chacina do réveillon, no terrível caso de Isamara e suas familiares, que repercutiu no país e internacionalmente. Já os registros de 2018, até agosto somam já 11 casos.
O número crescente de morte de mulheres no Estado e em diversas regiões do país não é mero acaso. Em meio ao processo eleitoral mais conturbado das últimas décadas, Jair Bolsonaro com seu discurso de choque contra os direitos das mulheres é o candidato com maior intenção de votos. Sua postura é reforçada pelos setores mais conservadores da política e igrejas, que justificam a retirada de direitos, violências e os assassinatos contra as mulheres com sua defesa de um silenciamento dos debates de gênero. Para Bolsonaro e seus impulsionadores existe uma “ideologia de gênero” que precisa ser calada com o projeto Escola Sem Partido. Essa hipocrisia quer abafar os debates que as mulheres impuseram nos meios sociais e nas ruas, para defender seu direito à vida que é ameaçado todos os dias pela estrutura machista que é um dos alicerces da nossa sociedade de exploração e opressão.
É repudiável o crescimento dos feminicídios. Esse fenômeno se soma ao crescimento da hostilização e violência também contra as pessoas LGBTs e negras, que são, junto às mulheres, trabalhadores e pobres, os alvos dos ataques que um eventual governo Bolsonaro prepara. E ele não está sozinho, antes de tudo quer ser um fiel representante dos grandes empresários internacionais, prometendo arrancar todos os direitos essenciais, continuando de maneira violenta os ataques que o golpista Temer iniciou. Trata-se de uma situação que será ainda mais propícia para os feminicídios e todo o tipo de violência contra as mulheres.
Contra o que representa Bolsonaro as mulheres deram uma mostra de sua potencialidade ao organizarem por todo o país duas marchas de milhares nas ruas. Essa é a saída mais confiável diante das ameaças que estão colocadas: a organização. Não é possível esperar que a Justiça ou a Polícia deem uma resposta aos feminicídios e ofensiva contra as mulheres que está colocada pelos setores de extrema direita que estão com Bolsonaro. O caso de Marielle, a impunidade e brutalidade que revela é emblemático nesse sentido. Inclusive essa Justiça e sua Polícia estão a serviço dos mesmos ataques contra os trabalhadores e setores oprimidos que pretende rezar Bolsonaro, por isso veio manipulando e arbitrando desde o golpe institucional e em meio às urnas, atentando contra o direito ao voto de milhões, prendendo Lula arbitrariamente, ignorando o caixa 2 de Bolsonaro e um longo etc.
Diante da excepcionalidade dessas eleições manipuladas pelo Judiciário e tuteladas pelas Forças Armadas, acompanhamos a vontade das mulheres, jovens e trabalhadores que querem derrotar Bolsonaro também nas urnas, votando criticamente em Haddad, mas os desafios colocados mostram que é necessário construir uma força profunda, que inclusive possa superar toda a paralisia e estratégia judicialista do PT, que se mostrou impotente e permitiu o avanço dessa extrema-direita conservadora. Para a defesa da vida das mulheres, a defesa contra as ameaças bolsonaristas e seus ataques crescentes, e também para defender direitos que foram arrancados pelas reformas ou estão nos planos de novos ataques do próximo governo, é preciso que as mulheres sejam parte ativa dos comitês de defesa e organização das lutas em seus locais de trabalho e estudos. Que toda a energia que se demonstrou desde as lutas contra o feminicídio de anos passados sejam parte da chama dessa organização e combate.
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