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FUNK E A REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL
“Vou falar dos menor bolado…” Um pouco do funk e da redução da maioridade penal
José Carlos, trabalhador da indústria de alimentos

Para defender a vida e a liberdade de milhares de jovens da classe trabalhadora encontramos muita poesia no “funk da capital”, variante local do “funk carioca”. Apesar de em geral o funk ser conhecido e criticado pelas letras machistas e de sexo explícito, ou de exaltação da criminalidade (proibidão), ou da riqueza expressa em roupas de marcas etc. (ostentação), existem muitos elementos de consciência e crítica social no “funk dos 2000”, dando continuidade, em menor escala, ao papel do “rap dos 90”, conhecido por ser crítico à sociedade. É o “funk consciente”.

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Há mais de 20 anos vemos setores da classe dominante empenhando esforços na redução da maioridade penal, veja mais aqui e aqui.

Para defender a vida e a liberdade de milhares de jovens da classe trabalhadora encontramos muita poesia no “funk da capital”, variante local do “funk carioca”. Apesar de em geral o funk ser conhecido e criticado pelas letras machistas e de sexo explícito, ou de exaltação da criminalidade (proibidão), ou da riqueza expressa em roupas de marcas etc. (ostentação), existem muitos elementos de consciência e crítica social no “funk dos 2000”, dando continuidade, em menor escala, ao papel do “rap dos 90”, conhecido por ser crítico à sociedade. É o “funk consciente”.

A mente do menor entra em colapso

A parceria entre Mc Daleste e Mc Neguinho da V.U., música chamada Menor sem opção traduz brilhantemente, não só nas palavras, mas no som “frenético”, a imensa confusão e angústia que dominam a mente de um jovem na “encruzilha da vida”, para qual foi empurrado pelo desemprego e demais contradições que o capitalismo impõe:

“Já tá na mente, cicatrizes, feridas no meu coração/ ninguém entende a revolta de um menor sem opção/ sua mãe sem trampo/ o seu pai tá nas drogas/ ele não consegue entender/ porque a vida é assim/ eu não pedi pra nascer/ pra ser sincero nego, eu já tentei parar/ mas seja firme e forte, que essa dor vai passar/ passar o que, a alma não se regenera/ não pense assim, dê tempo ao tempo, seja esperto espera/ vou me jogar na louca vida, me entrego nas mãos de deus/ foi desse jeito, vários amigos se perdeu/ (...)/ eu vou sorrir pra não chorar/ é mais um dia da minha vida/ vamos cantar pra não pensar/ nos problemas da vida.”

O desemprego estrutural na juventude trabalhadora é uma pressão material imensa para que se deixe de ser um trabalhador (desempregado, rotativo ou precário) e passe a viver “do crime”, podendo assim desfrutar dos avanços do capitalismo. Na música Muleque doido, Mc Zoio de Gato já combatia, “e na favela ele quer ser considerado/ conceito mesmo é trabalhar, se tá ligado”. O mesmo debate também foi feito por Mv Bill, no rap “Soldado do morro”:

“(...) fila grande, eu e mais 300, depois de muito tempo, sem vaga no momento/ a mesma história todo dia é foda, é isso tudo que gera revolta/ me deixou desnorteado, mais um maluco armado/ eu to ligado, bolado, quem é o culpado?/ que fabrica a guerra e nunca morre por ela/ distribui a droga que destrói a favela/ fazendo dinheiro com a nossa realidade, me deixaram entre o crime e a necessidade (...).”

Cada vez mais menor

Mesmo com os anos de crescimento econômico no governo Lula, o PCC seguiu uma trajetória de fortalecimento nos presídios e periferias de São Paulo, em seus 20 anos de existência completados em 2014. A contratação da mão de obra “dos menor” é uma alternativa econômica interessante para a empresa do tráfico, é mais barato. Reduzir a maioridade apenas é uma forma de inserir nesse mercado mais fortemente um novo contingente de mão de obra barata, agora “mais menor ainda”. Ou seja, aqueles de 16 a 18 anos passariam a cumprir papel de adultos, sendo substituídos por outros mais novos, no papel de “menor”. Esse movimento já foi apontado pelo Expressão Ativa, grupo de rap evangélicos, na monstruosa música Anjo sem asas (ASA):

“(...) no meu tempo já existiam, mas as chances eram poucas/ de ver o moleque com arma na mão e um baseado na boca/ devendo pras bocas, infelizmente hoje é assim/ crianças mal tratadas viram adolescentes tão ruins/ (...) eu fui um desses aos 9 anos, hoje em dia a maioria começa aos 7 (...)”

Até mesmo do ponto de vista militar, dentro da divisão do trabalho na empresa do tráfico, a questão “dos menor” tem seu espaço, como mostra a música “Bonde dos menor”, do Mc Daleste, que com seus destacados 6 minutos narra de forma densa um episódio de enfrentamento entre tráfico e polícia, no qual um batalhão formado só por “menor bolado” espanta a ameaça. O desfecho “positivo” dessa música, contudo, não é de longe conhecido como regra, pelo contrário, aquela mesmo do Mc Zoio de Gato já concluía, “(...) e nóis sabe, oi, qual é o final/ ele morto, estirado no hospital (...)”.

Entre a fábrica e a Fundação Casa

Denunciando centralmente o sistema carcerário, ao qual os políticos e partidos da redução da maioridade querem empurrar setores ainda mais jovens, a música “Pensamentos trancados”, parceria de Mc Daleste e Mc Dimenor DR é bastante completa:

“(...) aqui tem vários abalados psicologicamente/ se abateu pela pressão da opressão inteligente/ torturados, espancados, dor e sede, frio e fome/ vamos mudando pra pior, contrariando as leis/ palavras chaves eu sei: veneno, ódio, dor e trauma/ abusos de poder, cicatrizes na minha alma/ (...)/ corpo aprisionado, maus tratos, ignorância/ por causa do sistema, adolescentes não tiveram infância/ revolta vai e vem, para aqui no meu coração/ são os índices negativos da população/ discriminados, excluídos da sociedade/ é tanta injustiça nessa grande cidade/ liberdade está distante, nem fui sentenciado/ o juiz me condenará, por deus serei julgado/ eu errei eu sei, preferia a pena de morte/ confinado, vigiado, entrei para o big brother/ cometi crimes e crimes, meu ódio tomou fermento/ podem prender meu corpo, mas jamais meu pensamento/ (...).”

Em fábricas da grande São Paulo é comum encontrar jovens negros que foram enquadrados e até apanharam da polícia, lá pelas 5h da manhã, quando estão indo trabalhar. Eles contam isso com raiva e um pouco de naturalização. Nessa hora, é comum que a polícia pergunte, “tá vindo do funk?”. “E se tivesse, qual é o problema?”, é a resposta que não podem dizer, só se a raiva domina e você está na disposição de levar umas porradas. A repressão policial e os efeitos terríveis da redução da maioridade penal são medidas do Estado e da classe dominante contra os trabalhadores e seus filhos, que aumentarão enormemente a superlotação dos presídios, assim como as mortes por auto de resistência, nesse caso jogando drasticamente a faixa etária para baixo. O funk, como expressão artística dessa juventude mais atacada, é poesia para fugir das atrocidades da classe dominante.

 
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