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SEGUIDORES DE BOLSONARO
Fukuyama, filósofo neoliberal, critica Bolsonaro e seus seguidores o chamam de comunista
Sergio Araujo
Professor da rede municipal de São Paulo e integrante do Movimento Nossa Classe Educação

Seguidores de Bolsonaro protagonizam mais uma vergonha nas redes sociais: depois da tentativa de mostrar que nazismo é de esquerda, agora chamam o filósofo neoliberal, Francis Fukuyama, mentor intelectual de figuras importantes do neoliberalismo como Margareth Thatcher, de comunista por se posicionar contra Bolsonaro. Uma prova de que desconhecem o programa econômico de seu candidato.

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Nestes últimos meses de campanha eleitoral, partidários de Bolsonaro protagonizaram nas redes sociais além episódios racistas, machistas e homofóbicos, situações completamente esdruxulas. Em meados de setembro a embaixada alemã divulgou um vídeo explicando e contrapondo-se ao nazismo após manifestações de grupos neonazistas na cidade alemã de Chemnitz. Na Alemanha, manifestações que fazem alusão ao nazismo são consideradas crime e neste vídeo feito pela embaixada o nazismo foi definido como um regime autoritário de direita. Internautas brasileiros de direita reagiram ao vídeo com a tentativa de ridicularizar e “explicar” para a embaixada alemã que o nazismo era de esquerda. A tentativa foi simplesmente registrada como uma “besteira completa” pelo embaixador alemão no Brasil, transformando o episódio em uma chacota nacional.

Após as repercussões internacionais do resultado das eleições no último domingo, os seguidores de Bolsonaro protagonizaram mais um absurdo: dessa vez o alvo foi o filósofo estadunidense Francis Fukuyama.

Fukuyama se tornou célebre filósofo mundialmente conhecido no final dos anos 80 e 90 por sua famigerada obra “O Fim da História e o Ultimo Homem”. Nessa obra ele defendeu a ideia de que após a derrocada da União Soviética, o mundo admitiria que a economia de mercado e o modelo das democracias ocidentais eram as melhores opções ao alcance da humanidade. Assim definia que a partir daquele momento o mundo entraria em uma fase de "paz neoliberal" infinita.

Ele é reconhecido como um dos mentores intelectuais de figuras notórias do neoliberalismo mundial como Margareth Thatcher e Ronald Reagan, ou seja, não é preciso muito mais para situar seu pensamento no campo da direita. Por mais que nos últimos tempos, particularmente após a vitória de Trump nos EUA, Fukuyama venha demonstrando preocupação com a saúde da ordem liberal e da democracia nos moldes burgueses por conta da ascensão do que chama de líderes populistas nacionalistas (entre os quais ele recentemente incluiu Jair Bolsonaro), não há simplesmente nada novo em suas ideias que o aproximem da esquerda.

Grande entusiasta e defensor da democracia liberal, Fukuyama foi chamado de “comunista” por eleitores de Bolsonaro após publicar em sua conta no Twitter um editorial do New York Times demonstrando preocupação com a democracia brasileira dada a aprovação de Bolsonaro por milhões de eleitores e pelo próprio mercado financeiro. Fukuyama ironizou os eleitores brasileiros afirmando que chegar ao ponto de ser considerado um comunista é fruto da intensa polarização política vivida pelos brasileiros.

Fukuyama: "Muitos brasileiros parecem pensar que eu sou comunista porque estou preocupado com a presidência de Bolsonaro. E você acha que os americanos são polarizados..."

Além do absurdo de chamar um dos principais ideólogos do neoliberalismo vivo de comunista, chega a ser patético que essa parcela do eleitorado de Bolsonaro seja incapaz de identificar a proximidade político-ideológica entre a principal figura econômica de seu potencial futuro governo, Paulo Guedes, e Fukuyama. Paulo Guedes realizou mestrado e doutorado na universidade de Chicago, berço do Neoliberalismo, e defende exatamente as políticas econômicas do guru neoliberal do “fim da história”. Guedes é um defensor da desregulamentação intensa da economia, desmonte do estado e privatizações, além de políticas fiscais que beneficiam os mais ricos e sobretaxam os trabalhadores como acenou quando sugeriu a recriação da CPMF, imposto sobre transações financeiras, mas deixando claro que excluiria as transações da bolsa de valores. Defende também a implementação de uma alíquota única de imposto de renda de 20% para trabalhadores e empresas e o fim da contribuição patronal previdenciária sobre a folha salarial.

Essa parcela dos eleitores de Bolsonaro que afirma que o nazismo é de esquerda, que um guru neoliberal como Fukuyama é um comunista ou que se choque com o cantor Roger Waters, ex-Pink Floyd, faça um rechaço à Bolsonaro em seu show e sugere não compreende a própria música pode, de fato, se identificar com seu candidato quando este afirmou que “não entende nada de economia”.

Por trás de uma máscara de radical que Jair Bolsonaro ostenta, atacando mulheres, LGBTs, negros e indígenas, há também uma aliança evidente com setores da burguesia, como ele próprio disse em reunião com grandes empresários que eram eles os verdadeiros patrões, e não o governo. Um programa neoliberal, de ajustes e ataques, que fazem de Jair Bolsonaro uma candidatura contra as minorias, mas também profundamente anti-trabalhador e anti-pobre.

 
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