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ARGENTINA
O PTS propôs "um grande partido unificado da esquerda, dos trabalhadores e dos socialistas"
Lucho Aguilar

Um grande ato da esquerda argentina, organizado pelo PTS (organização irmã do MRT na Argentina) na Frente de Esquerda e dos Trabalhadores, lotou o estádio Argentino Juniors em Buenos Aires, e outros locais em 6 cidades do interior do país. Myriam Bregman abriu o ato, que foi encerrado por Nicolás Del Caño. Também fizeram saudações dirigentes do Partido Obrero e da Izquierda Socialista, integrantes com o PTS da Frente de Esquerda.

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Minutos antes das 17h, o estádio “Malvinas Argentina” estava lotado. O mesmo acontecia em anfiteatros e clubes de Córdoba, Neuquén, Jujuy, Mendoza, Bahía Blanca e Tucumán. Uma transmissão moderna, inédita para a política argentina, permitia unir aqueles que participavam em cada um dos atos. Os principais discursos foram vistos simultaneamente do Norte do país até a Patagônia.

Além desta importante convocatória e o novo ato simultâneo, uma das notícias mais importantes da tarde foi a audaz proposta que deixou Nicolás Del Caño, deputado federal do PTS-Frente de Esquerda, em seu fechamento: “Convocamos os milhares que enfrentam o ajuste a sério, os que vem apoiando a Frente de Esquerda e dos Trabalhadores em todo o país; os setores de esquerda do movimento de mulheres e da juventude; os estudantes; os partidos com os quais conformamos a Frente de Esquerda e todo o restante das forças políticas que se reivindicam operárias e socialistas, a que demos um passo em comum para a construção de um grande partido unificado”.

Mas antes, nos atos se haviam escutado os discursos dos principais referentes do PTS-Frente de Esquerda. Seus deputados e deputadas revolucionários, os dirigentes operários classistas, o movimento de mulheres e os estudantes. Junto a eles, haviam subido ao cenário referentes do sindicalismo classista, do feminismo socialista no movimento de mulheres, do movimento estudantil combativo.

Também os deputados do PTS-Frente de Esquerda no Congresso Nacional e na legistatura de Buenos Aires, além de filhas de desaparecidos políticos durante a ditadura, e referentes dos direitos humanos.

Myriam Bregman: "Apenas a esquerda luta consequentemente pelo direito ao aborto”

Myriam Bregman havia despertado a primeira ovação da tarde. Myriam começou denunciando as ameaças que ela e Nicolás del Caño sofreram nessas últimas semanas, “mas junto a vocês, neste estádio, dizemos que não vão nos deter, não vão nos deter”, deixou claro. Denunciou que os setores “fascistas” estavam se sentindo “valentes” por conta da própria perseguição do governo Macri contra a esquerda e os lutadores.

Contou ainda, que há poucos dias havia estado no Brasil: “me assombrou profundamente como praticamente todos tratam de esconder que são eleições fraudulentas, realizadas sob um golpe institucional, com o principal líder da oposição, Lula, preso sem fundamentos jurídicos firmes, impedido de dar entrevistas e votar”. Mas denunciou a estratégia do PT frente ao golpe, para o qual abriu caminho ao assimilar a corrupção própria dos capitalistas, governar com a direita que protagonizou o golpe e iniciar os ajustes contra os trabalhadores. “O Brasil nos demonstra que não se trata de esperar sentados outubro de 2019, para que venha algum salvador ou salvadora, como nos propõe o kirchnerismo. O que não se ganha com a luta das massas, nos debilita de uma forma tal que não pode solucionar nenhuma magia eleitoral”.

Como as referencias do feminismo socialista que foram parte da “maré verde”, Myriam denunciou o papel que cumpriram o Senado e a Igreja para roubar o direito ao aborto legal a milhões de mulheres. “Também ficou claro que todos os partidos tem compromissos com a igreja. Por isso só a esquerda é consequente na luta pelos direitos das mulheres!”.

Nesse momento todo o estádio Malvinas gritou numa só voz: “aborto legal, e os padres à trabalhar”. Outro dos momentos mais emotivos foi quando Myriam gritou bem forte o nome de Santiago Maldonado, Rafael Nahuel e depois e Marielle Franco. O estádio respondeu com um grito de “Presente!”.

Myriam denunciou o ajuste de Macri e do FMI, e os pactos com o peronismo. E insistiu com a proposta que vem fazendo o PTS. “Defendemos frente a esse regime antidemocrático, a necessidade de lutar por uma assembleia constituinte, livre e sobrenada, sem restrições e pactos preexistentes, que permita discutir os grandes problemas do povo trabalhador, das mulheres e da juventude”.

Raúl Godoy: “Um fio vermelho nos atravessa”

Enquanto isso, a 1200 km, subia ao cenário Raúl Godoy, operário de Zanon e deputado estadual do PTS-FIT. Ao vê-lo desde a tela gigante, desataram os gritos, “aqui estão, estes são os operários sem patrões”. Raúl estava acompanhado por operários de distintas fabricas ceramistas, têxteis, madeireiras e de outros setores.

Raúl contou como o PTS lutou por “colocar a disposição e em prática nosso programa e nossa militância, que se transformaram numa força vital em Zanon e demos uma batalha que fez história, que é parte dos fios do movimento operário argentino e mundial”.

Reivindicou “o fio vermelho” que nos atravessa: "a militância operária e socialista que se funde com os setores mais avançados do movimento operário. Frente a isso os convoco, companheiros e companheiras, à militância, à tomar nossos destinos em nossas mãos junto a nós”.

Mas o ato de 6 de outubro não foi só um ato nacional, graças a criatividade e utilização das mais modernas técnicas, houveram saudações de todos os grupos irmãos da Fração Trotskista Quarta Internacional.

Protagonistas da rebelião estudantil

Um dos grandes protagonistas dos atos, desde Neuquén a Jujuy, foram os estudantes que vieram encabeçar as ocupações e mobilizações contra o ajuste a educação pública. Das universidades, aos secundaristas de escolas de todo o pais Desde Córdoba, pelo telão gigante, chegaram as palavras de Noel Argañaraz, ativista estudantil de Córdoba: “uma juventude esta surgindo na cena política nacional”. “Se nos unimos aos trabalhadores podemos ser uma força social para que o ajuste de Macri e do FMI não consiga passar”. Se escuta no anfiteatro de Luz e Fuerza repleto, mas também em todas Malvinas Argentinas, que cantavam “vai acabar, vai morrer a burocracia estudantil”.

Em Buenos Aires, falaram outras referencias dessa luta que comoveu as aulas e as escolas: Brenda Hamilton, presidenta do Centro de Estudantes de Filosofia e Letras, e Irene Gamboa da Universidade nacional de Rosario. Juntas contaram que “há uma geração que esta se levantando”. Denunciaram a atuação das burocracias docentes kirchneristas e as burocracias estudantis. “Temos que recuperar as melhores tradições do movimento estudantil organizado. Uma juventude anticapitalista, que veja a classe trabalhadora como sua aliada”.

Milhares de jovens cantaram “universidade dos trabalhadores, e aqueles que não gostem, que se danem!”.

A saudação da Izquierda Socialista e do Partido Obrero

No ato teve um momento para ler adesões do Poder Popular, Eduardo Gruner e outros referentes da esquerda. Também estiveram presentes docentes e intelectuais como Pablo Bonavena, Lucas Rubinich e "Pancho" Langieri.

Um dos momentos mais emocionantes dessa parte foi a saudação de Martin “Ruta 8”. Militante do PTS, com 85 anos e décadas de militância revolucionária, Martín reivindicou as melhores lutas dos últimos anos que havia participado junto ao partido.

Logo subiram ao cenário as referencias da Esquerda Socialista e do Partido Obrero, que foram convidados a falar. Laura Marrone, docente e dirigente da IS, destacou “as lutas que temos dado unidos este ano. Temos como desafio derrotar esse governo, mas também as falsas opções peronistas. Para isso a Frente de Esquerda e nossa ferramenta mais poderosa”. E gritou “Frente de Esquerda, e a patronal que vá a merda!”.

Marcelo Ramal denunciou a “classe social que perpetuou este esvaziamento hoje desfila por Comodoro Py. Os exploradores não tem autoridade nem política, nem moral para nos dizer que paguemos a crise”. Frente a “crise do regime, temos que luta por uma saída de poder. E temos um instrumento, a Frente de Esquerda”, e destacou ainda, a proposta de uma assembleia constituinte, e a necessidade de uma greve geral para derrotar os ajustes.

Uma tribuna para os lutadores

Pelo ato passaram algumas das lutas mais emblemáticas dos últimos meses. Subiram os trabalhadores de Telam, do Hospital Posadas, os mineiros do rio Turbio, C5N, entre outros.

Esteban Giachero, delegado de Telam agradeceu o apoio nesses 103 dias de greve e ocupação. “Dezembro marcou um caminho: a greve e sair as ruas”. Luis Sucher, lutadora do Hospital Posadas e da Agrupação Marrón, disse que “não só lutamos contra as demissões, mas também em defesa da saúde pública, um direito elementar para milhões”. Também tomou a palavra Iván Zurita, delegado de base dos mineiros do Rio Turbio que lutaram contra as desvalorizações de Macri. “Estamos fortes, nos sentimos acompanhados. Obrigado a todos pelo apoio”.

E gritaram “unidade dos trabalhadores, e aos que não gostem, que se danem”, que atravessou o estádio.

Entre essas lutas, subiu no palco José Montes, histórico dirigente do PTS e do Estaleiro Río Santiago. Não subiu sozinho, levava nos seus braços um dos seus netos, e estava acompanhado de 30 trabalhadores do ARS. Eles foram os que contagiaram a todos com seus cantos de luta: "hoje viemos ver o Estaleiro todos unidos / ainda que não tenhamos dinheiro, o Estaleiro sempre seguimos / de coração eu venho a ver-te, te sigo até a morte”.

E Montes começou reivindicando essa tradição histórica de luta do estaleiro. Contudo também reivindicou as “novas gerações de jovens do estaleiro. Havia visto, com que energia essa nova geração de lutadores vão a frente, na defesa do estaleiro. E também nossas companheiras mulheres”.

Montes colocou os desafios do classismo. “A Marrón tem o desafio de fortalecer uma corrente classista que busque recuperar os sindicatos, recuperar a melhor tradição de luta. E essas tradições transformar em força material e agrupações militantes.”

Mas, ainda denunciou a tentativas de todas as variantes do sindicalismo peronista, de levar a raiva dos operários às urnas em 2019. “O caminho é a greve geral, com piquete e mobilização, para que a crise não seja paga nem mais uma vez pelos trabalhadores.”

Deputados dos trabalhadores!

Com este grito foi recebida a imagem de Alejandro Vilca, gari e deputado estadual. Estava acompanhado por trabalhadores dos engenhos de acúcar Ledesma, La Esperanza e La Mendieta, professores, da construção, servidores públicos, da construção, operários do aço de Zapla.

Vilca denunciou a Jujuy reacionaria, dos Blaquier e a Igreja. “Mas existe também outra Jujuy. É a Jujuy operaria e popular, que como em todo Noroeste tem ricas experiências de luta. Desta Jujuy profunda, como legítima expressão, está emergindo uma nova força política de classe que é o PTS e a Frente de Esquerda", disse Alejandro.

Então colocou a necessidade de "um partido que obviamente consiga novos mandatos, mas sobretudo organize a classe trabalhadora para recuperar seus sindicatos, para coordenar as lutas, para unir o que o governo e a burocracia dividem, aos terceirizados e efetivos, aos ativos dos desempregados, aos nativos dos imigrantes”.

O discurso de Vilca desatou outro dos cantos da tarde: "E vai acabar, vai acabar, a burocracia sindical!".

Noelia Barbeito: “Igreja e Estado, assuntos separados”

A penúltima oradora foi Noelia Barbeito, que se transformou na principal representante da Frente de Esquerda em Mendoza. Noelia reivindicou a luta das mulheres dos últimos anos. "Aqui como em todas as partes nasceu a luta de No Uma Menos, que logo deu lugar à maré verde que luta pelo aborto legal. Hoje a obscurantista Igreja Católica se opõe à Educação Sexual Integral." "igreja e Estado, assuntos separados", gritou todo o Estádio.

Noelia também denunciou que "assim como o capitalismo não pode acabar com a exploração de milhões de pessoas, tampouco pode acabar com o trabalho doméstico não remunerado", colocando a saída que defende o PTS para a opressão às mulheres. "Nos inspiramos na tradição festas enormes mulheres que lutaram pelo socialismo. Viva a luta das mulheres, abaixo o patriarcado, abaixo o capitalismo", terminou Noé com uma evasão que unificou Mendoza com o estádio de Buenos Aires.

Nicolás del Caño: uma proposta aos lutadores e à esquerda revolucionária

Nicolás del Caño, deputado federal e último candidato a presidente da Frente de Esquerda, foi responsável por encerrar o ato. Nico denunciou que "os capitalistas declararam uma guerra contra as maiorias nacionais, e existem duas perspectivas: ou este crise é resolvida com a concretização de um novo saque ao povo trabalhador ou pagam os ajustadores. Se esperamos até 2019, como defende a oposição peronista, a política do FMI se imporá". Foi aí que anunciou a nova e audaz proposta do PTS para " colocar de pé um grande partido unificado da esquerda, dos trabalhadores e das trabalhadoras, e socialista . Convocamos os milhares que enfrentam seriamente o ajuste, aos que vem apoiando a FIT em todo o país; os setores de esquerda do movimento de mulheres e da juventude; os estudantes; os partidos com os quais conformamos a Frente de Esquerda e o restante das forças políticas que se reivindicam operárias e socialistas, para dar passos em comum pela construção de um grande partido unificado que se coloque à frente da luta contra o saque, um partido com uma estratégia e um programa para vencer e derrotar o plano do Governo Nacional e os governadores comandados pelo FMI".

O PTS lançou está proposta para abrir um debate profundo entre as forças de esquerda e os representantes das lutas que despertaram nos últimos anos.

Mas também colocou tarefas concretas para as próximas semanas. "Pretendem votar o orçamento do saque com a inestimável ajuda que lhes vem prestando os legisladores do PJ (inclusive do kirchnerismo) e os governadores. No dia 24 de Outubro, quando se tentará votar na Câmara de Deputados, temos que ser milhões nas ruas, e os sindicatos que se pronunciaram contrários tem que chamar uma paralisação ativa, com mobilização, que seja o começo de um verdadeiro plano de luta para derrotar o plano de Macri e do FMI."

O discurso era acompanhado, simultaneamente, nos 6 atos que se realizavam nos Estados. Também de cada um deles, de Neuquen a Jujuy, se terminou a jornada cantando o hino mundial dos trabalhadores: a Internacional.

 
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